A C Ó R D Ã O CÍVEL COMARCA DE TRAMANDAÍ Nº (N CNJ: ) Vistos, relatados e discutidos os autos.
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- Denílson de Figueiredo Gentil
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1 RECURSO INOMINADO. TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL COM DESTINO À INDONÉSIA. COBRANÇA DE TAXA EXTRA PELO TRANSPORTE DE PRANCHAS DE SURFE. LEGALIDADE DO VALOR COBRADO NÃO DEMONSTRADA, ÔNUS QUE INCUMBIA À RÉ, NOTADAMENTE EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE NORMAS ESPECÍFICAS DE REGULAMENTAÇÃO, VARIÁVEIS CONFORME OS LOCAIS DE PARTIDA E DESTINO DOS VOOS. DIREITO À RESTITUIÇÃO DO VALOR, DE MODO SIMPLES. NÃO APLICAÇÃO DO ART. 42, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CDC, DIANTE DA EXISTÊNCIA DE NORMA DO SERVIÇO AÉREO INTERNACIONAL PREVENDO A COBRANÇA. DANOS MORAIS INOCORRENTES NO CASO CONCRETO. AUSÊNCIA DE QUALQUER EXCEPCIONALIDADE NA SITUAÇÃO VIVENCIADA. MERO DISSABOR COTIDIANO. INDENIZAÇÃO AFASTADA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. RECURSO INOMINADO Nº (N CNJ: ) TAM LINHAS AEREAS S/A QATAR AIRWAYS HUMBERTO LUCAS ROCHA ANDERSON GRANVILLA SEGUNDA TURMA RECURSAL CÍVEL COMARCA DE TRAMANDAÍ RECORRENTE RECORRIDO RECORRIDO RECORRIDO A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. 1
2 Acordam os Juízes de Direito integrantes da Segunda Turma Recursal Cível dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do Sul, à unanimidade, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DRA. VIVIAN CRISTINA ANGONESE SPENGLER (PRESIDENTE) E DR. ROBERTO BEHRENSDORF GOMES DA SILVA. Porto Alegre, 16 de julho de DR. ALEXANDRE DE SOUZA COSTA PACHECO, Relator. R E L A T Ó R I O (Oral em Sessão.) V O T O S DR. ALEXANDRE DE SOUZA COSTA PACHECO (RELATOR) Insurge-se a demandada contra a sentença que, julgando parcialmente procedente a ação, a condenou à restituição em dobro da taxa por bagagem especial, no total de R$ 697,92, bem como ao pagamento de reparação por danos morais no valor de R$ 4.000,00 para cada autor, corrigidos. O recurso merece parcial provimento. A determinação de restituição do valor deve ser mantida, pois a cobrança da taxa não encontra amparo na legislação que regula o serviço de transporte aéreo internacional. Na realidade, em contestação a recorrente sequer fez referência às regras que norteiam a matéria, embora exista regulamentação 2
3 específica e detalhada acerca da cobrança de bagagem. Restringiu-se a trazer alegações infundadas, referindo que uma prancha de surfe não pode ser considerada como uma bagagem normal, tendo em vista as suas dimensões e o espaço físico que vem a ocupar nos porões de uma aeronave, referindo que para voos internacionais (...) é permitido a cada passageiro despachar até duas malas pesando 23 Kg (...). Sendo que alguns utensílios e equipamentos não estão inclusos nesta franquia, como pranchas. De qualquer sorte, a questão já foi analisada em outras demandas, e a ausência de prova da regularidade da cobrança é evidente. A fim de evitar tautologia e considerando a especificidade da controvérsia, colaciono voto proferido no julgamento da apelação n , de relatoria do eminente Des. Luiz Roberto Imperatore de Assis Brasil, julgado em pela 11ª Câmara Cível do TJ/RS: O art. 38 da Portaria nº 676/GC-5, de 13 de novembro de 2000, que estabelece as condições gerais de transporte, dispõe que Nas linhas internacionais, o franqueamento de bagagem será feito pelo sistema de peça ou peso, segundo o critério adotado em cada área e na conformidade com a regulamentação específica. Para o caso em exame, a regulamentação aplicável está disposta na Norma de Serviço Aéreo Internacional NOSAI nº CT-012, que determina a observância obrigatória, pelas companhias aéreas, do sistema de peso. Este regramento estabelece as franquias de bagagens despachadas permitidas pelo peso, sem fazer qualquer distinção no que diz com os volumes e suas dimensões. Tampouco prevê a possibilidade de cobrança de tarifa específica para o transporte de pranchas de surfe (fls. 60/63). 3
4 Apenas destaco, pela pertinência no momento, que o item 1. APLICAÇÃO da NOSAI nº CT-012 é expresso ao dispor que os procedimentos estabelecidos na regulamentação são aplicáveis para o transporte de bagagem pelo sistema de peso, exceto para os trechos em que a NOSAI nº CT-011 prevê a adoção do sistema de peças. A respeito do sistema de peso em voos internacionais, a ANAC, conforme documentação carreada na petição inicial, não impugnada pela ré, assim se manifestou (fls. 34/35): O Sistema de Peso aplicável às linhas internacionais é similar ao das linhas domésticas, não havendo, também nesse caso, qualquer restrição relativa às dimensões máximas ou ao tipo de objeto a ser despachado, explicitamente previsto na norma aplicável (CT/012). Cumpre ressaltar que as Normas de Serviços Aéreos Internacionais NOSAI, são de aplicação obrigatória por todas as empresas, brasileiras e estrangeiras, em todos serviços internacionais partindo do Brasil. Face ao exposto, nas linhas internacionais em que se aplique o Sistema de Peso, do mesmo modo que nas linhas domésticas, esta Gerência Geral entende que as restrições impostas pelas empresas para a franquia de bagagem não têm respaldo na regulamentação em vigor, bem como não foi objeto de aprovação pelo Órgão Regulador. Por outro lado, a Lei nº /2005, que criou a Agência Nacional de Aviação Civil ANAC, assim estabeleceu em seu art. 49: Art. 49. Na prestação de serviços aéreos regulares, prevalecerá o regime de liberdade tarifária. 1º No regime de liberdade tarifária, as concessionárias ou permissionárias poderão determinar suas próprias tarifas, devendo comunicálas à ANAC, em prazo por esta definido. (...) 4
5 3º A ANAC estabelecerá os mecanismos para assegurar a fiscalização e a publicidade das tarifas. (grifei) Assim, a cobrança de tarifa pelo transporte de bagagem especial pranchas de surfe nos voos operados pela companhia aérea até o Peru dependia de prévia aprovação da ANAC, o que, ante a ausência de prova em contrário, não ocorreu no caso em tela. Enfim, pela prova carreada aos autos, não estava a empresa transportadora autorizada a realizar a cobrança de taxa especial para o transporte das pranchas de surfe, o que, inclusive, está em desacordo com o sistema de peso regulamentado pela NOSAI nº CT-012, que possibilita apenas a cobrança de tarifa para a bagagem que exceder o peso da franquia respectiva. Com efeito, pelo regramento vigente na época dos fatos, em relação ao voo em questão, a companhia aérea somente estava autorizada a cobrar tarifa pelo peso da bagagem que excedesse a franquia. Ou seja, não estava ela autorizada a cobrar taxa extra pelo transporte das pranchas, porquanto as mesmas deveriam ser computadas na franquia da bagagem despachada. De outra banda, a companhia aérea não logrou comprovar que restou ajustada contratualmente a cobrança de taxa extra para o transporte especial das pranchas, ônus que lhe cabia, nos termos do art. 333, II, do CPC. (...) A prova testemunhal carreada aos autos evidencia que a empresa aérea despendeu tratamento desigual para os seus passageiros, cobrando de cada um diferentes valores pelo transporte dos mesmos equipamentos desportivos (fls. 188/189 e 207/209). 5
6 Por todo o exposto, entendo que se mostrou abusiva a cobrança de taxa extra para o transporte das pranchas de surfe dos autores, sendo impositiva a restituição dos valores pagos a tal título. Nesse sentido, inclusive, já se manifestou a justiça gaúcha em relação ao transporte aéreo nacional, cujo sistema, entretanto, é similar ao sistema de peso que deveria ter sido observado pela demandada nos voos em análise (Porto Alegre/Brasil Lima/Peru). Cito: CONSUMIDOR. TRANSPORTE AÉREO NACIONAL. TAXA DE BAGAGEM ESPECIAL. PRANCHA DE SURFE. INVIABILIDADE DE COBRANÇA. PREVISÃO DE COBRANÇA DE TARIFA SOBRE "BAGAGEM ESPECIAL" QUE CONTRARIA REGULAMENTAÇÃO EXISTENTE. Hipótese em que, mesmo constando das condições do contrato, se mostra ilícita a cobrança, pois que em desacordo com expressa orientação da agência reguladora do setor. Exigência legal de que qualquer situação envolvendo tarifa relacionada a transporte aéreo seja submetida ao crivo da ANAC (Lei /2006, arts. 8º e 49, caput e 1º) Atual regramento vigente que permite cobrança de tarifa por excesso de peso, mas que não autoriza diferenciação pela espécie de bagagem transportada, salvo a atinente a animais. Regramento administrativo que, no caso, por se mostrar favorável ao interesse do consumidor deve ser aplicado. Necessidade de repetição do valor pago pelo consumidor. Dano moral não configurado, por não configurar ato atentatório à dignidade do autor. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO DO AUTOR, À UNANIMIDADE, E NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO DO RÉU, POR MAIORIA, VENCIDA A RELATORA. (Recurso Cível Nº , Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Heleno Tregnago Saraiva, Julgado em 08/03/2012) "CONSUMIDOR. TRANSPORTE AÉREO. TAXA DE BAGAGEM ESPECIAL. PRANCHA DE SURFE. 6
7 INVIABILIDADE DE COBRANÇA. PREVISÃO DE COBRANÇA DE TARIFA SOBRE "BAGAGEM ESPECIAL" QUE CONTRARIA REGULAMENTAÇÃO EXISTENTE. Hipótese em que, mesmo constando das condições do contrato, se mostra ilícita a cobrança, pois que em desacordo com expressa orientação da agência reguladora do setor. Exigência legal de que qualquer situação envolvendo tarifa relacionada a transporte aéreo seja submetida ao crivo da ANAC (Lei /2006, arts. 8º e 49, caput e 1º) Atual regramento vigente que permite cobrança de tarifa por excesso de peso, mas que não autoriza diferenciação pela espécie de bagagem transportada, salvo a atinente a animais. Regramento administrativo que, no caso, por se mostrar favorável ao interesse do consumidor deve ser aplicado. Necessidade de repetição do valor pago pelo consumidor e de forma dobrada. DERAM PROVIMENTO AO RECURSO." (ementa do RI n ) (Recurso Cível Nº , Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: João Pedro Cavalli Junior, Julgado em 05/09/2011) A questão, no âmbito do transporte aéreo nacional, cujo sistema, repito, se assemelha ao sistema de peso aplicável na espécie, já foi, inclusive, objeto de enfrentamento em Ação Coletiva de Consumo, assim ementada: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO COLETIVA DE CONSUMO. EXIGÊNCIA DE PAGAMENTO DE TARIFA PARA TRANSPORTE DE PRANCHAS DE SURF. TERMO DE RESPONSABILIZAÇÃO PELO CONSUMIDOR. ILEGALIDADE DO PROCEDIMENTO. PUBLICAÇÃO NA IMPRENSA DO RESULTADO DO JULGAMENTO. DETERMINAÇÃO QUE ENCONTRA AMPARO NO ART. 461, 5º, DO CPC. NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO DOS CONSUMIDORES DE SEUS DIREITOS. ART. 4º, INCISO IV, DO CDC. PROCEDÊNCIA DA DEMANDA. O Ministério Público Estadual é competente para propor ação coletiva de consumo, visando à proteção de interesse dos consumidores, genericamente considerados, diante de prática comercial abusiva, 7
8 consistente na deficiência da prestação de serviço. Inteligência do art. 82, I do CDC. Precedentes jurisprudenciais. Agravo retido improvido. Não merece prosperar a prefacial de perda de objeto, pois o atendimento da demandada à solicitação ocorreu em data muito posterior a sua intimação administrativa e à citação na presente demanda, evidenciando a pretensão resistida. Demonstrado, no caso, a ilegalidade da exigência da tarifa especial para transporte de bagagem (prancha de surf) em vôo doméstico, bem como o termo de isenção de responsabilidade pela companhia aérea em relação aos eventuais danos ocorridos na bagagem, impõe-se a procedência da ação nos termos dos ditames previstos no CDC. Determinação de devolução em dobro da quantia indevidamente cobrada. Publicação na imprensa do resultado do julgamento, nos termos dp art. 461, 5, do CPC combinado com art. 4, inciso IV, do CDC. Apelo desprovido. (Apelação Cível Nº , Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Aurélio dos Santos Caminha, Julgado em 26/04/2012).. Portanto, somente restaria autorizada a cobrança de tarifa se demonstrado excesso de peso, o que não ocorreu no caso concreto, fazendo jus os autores à restituição do valor pago. A devolução, contudo, deve ocorrer de modo simples e não em dobro, como determinado pelo juízo de origem, já que a possibilidade de cobrança está prevista nas normas da aviação, sendo inaplicável o disposto no art. 42, parágrafo único, do CDC. A sentença comporta modificação, ainda, no tocante à reparação por danos morais, que deve ser afastada. Ainda que os autores afirmem que a cobrança do valor, discutida na ocasião em que as bagagens eram despachadas, tenham provocado angústia e constrangimento, não vislumbro a efetiva ocorrência de lesão a direito da personalidade. 8
9 A testemunha ouvida não relatou conduta grosseira e hostil pelos funcionários da ré, inexistindo prova de que os autores efetivamente tenham sido submetidos à situação vexatória. O simples desentendimento acerca da cobrança por bagagem é comum nas relações de transporte aéreo e não ultrapassa o mero dissabor. A situação resolve-se por completo na esfera patrimonial, mediante a devolução do valor indevidamente cobrado. Ante o exposto, voto por DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, para determinar a repetição simples do valor e afastar a reparação por dano moral concedida. Sem sucumbência, diante do resultado do recurso. DRA. VIVIAN CRISTINA ANGONESE SPENGLER (PRESIDENTE) - De acordo com o(a) Relator(a). DR. ROBERTO BEHRENSDORF GOMES DA SILVA relator. Após analisar os autos, chego à mesma conclusão do nobre Ainda que haja previsão para cobrança de taxa para o transporte aéreo internacional de prancha de surfe, conforme o regramento em anexo, não demonstrou a companhia aérea a composição do valor que cobrou do consumidor. Daí porque cabível a devolução na forma simples, e não em dobro, considerado que a cobrança, em tese era possível, somente não prevalecendo porque ignorada a composição do valor. 9
10 Acompanho o relator, portanto. DRA. VIVIAN CRISTINA ANGONESE SPENGLER - Presidente - Recurso Inominado nº , Comarca de Tramandaí: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME." Juízo de Origem: 1. VARA CIVEL TRAMANDAI - Comarca de Tramandaí 10
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