DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA, O PRIMEIRO MINISTRO
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- Thais Castilhos Marques
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1 DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA, O PRIMEIRO MINISTRO Senhora D. Maria José Ritta, Presidente da Comissão Nacional para o Ano Internacional dos Voluntários, Ms. Sharon Capeling, Senhoras e Senhores congressistas e convidados, é com enorme prazer que estou hoje aqui depois de ter podido presenciar também o momento de arranque dos trabalhos deste ano internacional dos voluntários. E esse prazer vem em primeiro lugar da constatação do excepcional trabalho que foi desenvolvido e penso que devemos reconhecer todos o mérito do extraordinário empenhamento da sua presidente, da S. D. Maria José Ritta, bem como de todos e de todas aqueles que se envolveram com grande entusiasmo, com sentido de voluntariado na expressão própria do termo para tornar um êxito esta manifestação nacional do Ano Internacional dos Voluntários, contribuindo de forma decisiva para despertar nas portuguesas e portugueses a consciência da importância que decorre de ter uma causa na vida e de consagrar parte do nosso tempo e na nossa vida a essa mesma causa. Recordo-me, tive ocasião já de o dizer na sessão do Tivoli, que para mim, este ano tem um significado particularmente relevante, uma vez que a própria vida que eu vim a ter, a vocação que veio a orientar os meus passos, enquanto cidadão, decorreu de uma experiência de voluntariado enquanto estudante universitário em bairros de lata de Lisboa, fundamentalmente, na curraleira. Tive aliás a surpresa a grata surpresa, aqui há 2/3 semanas, de saber que a CML tinha destruído as últimas barracas da curraleira e é no entanto significativo que tendo porventura desaparecido a causa que justificava a acção de voluntariado que me motivou no tempo, continue a multiplicar-se, em Portugal e por esse mundo fora, tantas e tantas curraleiras que justificam causas, causas que chamam ao voluntariado, nos mais diversos domínios da acção social, ambiental, cultural ou de solidariedade internacional. E isso é particularmente relevante na medida em que em minha opinião o voluntariado para além daquilo a que corresponde na
2 solução ou na ajuda da solução de problemas concretos das pessoas, dos países, do próprio universo, o voluntariado tem hoje nas sociedades modernas um papel decisivo em minha opinião para um reforço da coesão dessas mesmas sociedades e para vencer dois défices verdadeiramente preocupantes, um défice de vida comunitária e um défice de cidadania. Em primeiro lugar o défice de vida comunitária, nós tendemos a viver cada vez mais em sociedades atomizadas, em sociedades em que a lógica da comunidade, da partilha da vida num espaço comunitário se tem vindo a perder. Em sociedades em que se perdem raízes, identidades e em que cada um no seu espaço individual ou familiar tende a viver cada vez mais isolado dos outros. Esse é um problema extremamente sério e é um problema extremamente sério com as mais graves consequências quer ao nível do funcionamento da sociedade quer ao nível da própria realização individual e da felicidade de cada um. O voluntariado é uma forma privilegiada de vencer essa atomização das sociedades modernas, de vencer esse défice de vida comunitária, porque é ele próprio gerador de vida comunitária, é ele próprio gerador do reforço do sentido comunitário na nossa vida. Depois um défice de cidadania. Fala-se muito e é profundamente verdadeira a conciência de uma separação cada vez mais nítida entre a vida política e a sociedade civil. De uma crise de representação da sociedade política em relação à sociedade civil. Mas por outro lado sente-se também que ao nível da expressão de cidadania há um défice que atravessa a própria sociedade civil naquilo que é a vida colectiva dos tempos modernos. Ora o voluntariado é uma forma privilegiada de expressão da cidadania no que ela tem de mais nobre, visto que o faz no empenhamento por uma causa, uma causa de serviço público, de serviço colectivo, de dedicação aos outros e nesse sentido corresponde a um dos instrumentos mais importantes que temos para vencer esse défice de cidadania, factor de ausência de coesão.
3 O voluntariado é assim algo que importa á sociedade, que importa aos voluntários, mas que importa também aos responsáveis políticos e nesse sentido gostaria de dizer que é com a maior expectativa que eu próprio acompanharei os trabalhos deste congresso e as suas conclusões, na medida em que temos consciência que há muitas coisas a aperfeiçoar quer ao nível da legislação enquadradora da actividade voluntária sem de maneira nenhuma permitir que alguma vez ela possa ser confundida com uma qualquer profissionalização e há também porventura mecanismos a aperfeiçoar na forma de representação dos voluntários, no seu enquadramento participativo na sociedade civil e nos contributos que podem dar para a sociedade política no nosso país. É queria portanto afirmar aqui, à Senhora D. Maria José Ritta, a total disponibilidade minha e do governo no sentido de encarar com o maior interesse e com o maior empenhamento as conclusões deste congresso, estando certo que neste congresso não deixarão de ser analisadas em profundidade as questões que hoje se põem ao voluntariado em Portugal, as dificuldades, os obstáculos que encontra, o tipo de apoios que se torna indispensável sem quebrar a sua lógica e a sua pureza e ao mesmo tempo as formas de representação mais adequadas para a expressão dos seus interesses nas diversas instancias da vida do nosso país, interesses que não são verdadeiramente interesses uma vez que são verdadeiramente causas. Uma última palavra, nós temos hoje em Portugal, como sempre tivemos, uma expressão muito significativa de solidariedade e uma acção voluntária muito intensa na sociedade portuguesa nomeadamente nos mecanismos de solidariedade. Sociedade em muitos aspectos pouco desenvolvida, atrasada e injusta é aliás, inteiramente justificável que as causas da justiça social e da solidariedade tenham inspirado e inspirem um conjunto não apenas de organizações da sociedade civil, mas de tantas e tantas mulheres, homens e jovens que se empenham dedicadamente a esse tipo de causas. Mas Portugal tem
4 um défice muito significativo de solidariedade no plano internacional, um défice muito significativo de acção voluntária no plano internacional, e porventura uma parte desse défice decorre também da ausência de mecanismos de apoio para essa forma mais complexa de exercer a actividade voluntária. A presença aqui da representante do secretario geral da NU faz-nos chamar a atenção para a enorme importância no mundo em que de uma forma que arrepia a consciência humana, uma parte significativa da população está completamente arredada não apenas dos benefícios, mas da própria globalização das economias, dos mercados, da comunicação e da cultura. Basta olhar para o continente africano para termos uma consciência bem viva do que é essa profunda injustiça que marginaliza completamente da vida mundial uma percentagem tão significativa da sua população com consequências trágicas ao nível do sofrimento e até da própria morte. Mas o mundo internacional que vive também ele próprio enormes problemas e enormes questões que se prendem com a sustentabilidade do seu desenvolvimento. Este ano irão realizar-se 2 conferências muito importantes das NU uma em monterey no México sobre o financiamento do desenvolvimento, outra em Joanesburgo sobre o desenvolvimento sustentável. São causas que naturalmente mobilizam os poderes políticos, mas são causas que tem que ver também com um conjunto profundo de injustiças que subsistem á escala mundial e com os problemas do ambiente e de desenvolvimento sustentável que ainda hoje deixam subsistir enormes ameaças ao futuro do nosso planeta e enormes injustiças, portanto, na relação desta geração com as gerações futuras. São áreas privilegiadas de acção voluntária e são áreas onde temos que reconhecer a sociedade portuguesa tem estado no quadro internacional insuficientemente presente e por isso se manifestei e manifesto o nosso profundo empenhamento em procurar acompanhar os vossos trabalhos e a seguir as vossas conclusões gostaria de vos pedir em particular uma reflexão sobre como ajudar a
5 desenvolver em Portugal meios que permitam e formas que despertem consciências para uma mais activa presença dos voluntários portugueses no cenário internacional. Penso que é um défice que temos que colmatar. Quantas e quantas vezes tenho verificado andando um pouco por todo o mundo e até em países de expressão portuguesa uma presença muito viva e muito significativa de cidadãos e cidadãs de outros países com um défice relevante de presença de voluntários portugueses. É um desafio que me parece está hoje colocado à sociedade portuguesa visto que se a cidadania e a ausência de vida comunitária são razões que tornam imperioso o desenvolvimento do voluntariado no interior da nossa sociedade, as injustiças que existem no mundo e os problemas de sustentabilidade do seu desenvolvimento são razões imperiosas para o desenvolvimento do voluntariado à escala global. Muito Obrigado.
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