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Transcrição

1 ps. \ He Little Door é \l um adorável e pequeno restaurante francês, situado na West 3rd Street L, em LÁ. Já chegou a ter o título de Melhor Restaurante Romântico de LA, com a sua entrada de tarte com figo e queijo de cabra de morrer. E, como pode esperar de um atarefado restaurante em Hollywood, é frequentado pelos mais ricos e famosos. Como Jim Carrey, por exemplo. Amigo dos donos, o atar estava a ter um jantar calmo no The Little Door no último outono, quando foi apresentado a um grupo de franceses, que estavam na cidade a trabalhar num curioso filme: uma película muda a preto c branco chamada O Artista. Carrey cumprimentou o protagonista, Jean Dxyardin, que ainda mantinha o seu bigode aprumado, quando Dujardin fez algo estranho. "Disse, 'Tenho uma prenda para ti'," lembra Dujardin, sentado com a Empire uns meses depois num hotel em Londres. Inclinando-se para a frente, contorceu a cara, fez o lábio de cima deslizar para baixo, enchendo as suas bochechas e cruzando levemente os olhos. E o movimento de assinatura de Dujardin, uma careta que ele apelida de Le Chameau, ou O Camelo. Sem perder nada, Carrey com as suas feições criou o "seu" Camelo. Dujardin esforçou-se um pouco mais; Carrey atacou de novo com urna nova mutação. "Ele arrasou o meu Camelo'', diz Dujardin rindo-se. "'Não sei o que as outras pessoas do restaurante pensaram - era só eu e ele naquele momento!" A Batalha Dos Camelos começou tão depressa como acabou, mas assim que Carrey voltou à sua refeição, reparou que Dujardin estava incrédulo. "Tu'', disse, "és muito perigoso..."

2 É seguro dizer, que depois dessa noite, Jirri Carrey não esquecerá o nome de Jean Dujardin tão depressa. Depois de O Artista, nenhum de nós esquecerá. /~~\ Árvore da Vida / \ de Terrence ff\ \ Malick pode ter ff \ \ conseguido /' ' \ a Palma de I \ \ Ouro -S^~ -^ \ em Carmes este ano, mas houve um sentimento entre muitos de que o filme não foi adorado na generalidade, e que Malick podia ter aparecido com uma animação feita com rabiscos e ter saído com o maior prémio na mesma. Ao invés, o filme que dominou as conversas na Croisette pelas noites dentro do festival, que conquistou os corações dos muitos que o viram e que teve o prémio para o Melhor Ator para Dujardin e a Palma de Cão para o protagonista canino, Uggy. foi O Artista. É a história de George Valentin (Dujardin), um ídolo dos filmes mudos que devido à inépcia para mudar com os tempos, especialmente com a introdução dos diálogos sonoros, vê o seu sucesso cair rapidamente, o seu casamento desintegrar-se e a sua fortuna a desaparecer. Ao mesmo tempo que isso acontece, a mulher que ele verdadeiramente - ama a nova c ingénua Peppy Miller (Berenice Bejo) ascende espetacularmentc, O Artista tem uma realização e interpretações fantásticas, é emocionalmcnte poderoso, tematicamente rico, muito mais do que um exercício de estilo - é uma comédia muito leve que se torna lentamente um melodrama e que depois volta ao que era; um hino ao poder e possibilidades do cinema. Vai estar na lista dos melhores do ano e. graças ao seu silêncio universal, tem todas as hipóteses de ser um favorito aos Óseares. Se isso acontecer, será um prémio justo para os envolvidos, desde o realizador Michel Hazanavicius à brilhante e cativante Bejo. No entanto, o filme pertence a Dujardin e à sua maravilhosa atuação modelada, com um estilo e brilho à Douglas Fairbanks e um sorriso de estrela na primeira hora do filme, abrindo caminho a uma luta interna cheia de desespero na segunda parte, tudo misturado com um charme raro, graça e um controlo impressionante da linguagem corporal. Deveria fazer de Dujardin - o maior talento mantido em segredo pela França - uma grande estrela internacional, como Gérard Depardieu e Jean Reno antes dele. "Agora, posso fazer o que quiser", diz o atraente ator, numa trapalhada de francês a sair da sua boca enquanto o seu intérprete fala a mil à hora. F. quase como se, depois de fazer um filme mudo, quisesse lembrar ao mundo que sabe falar. "Em França, posso iniciar projetos c produzir. F muito confortável para mim. Não preciso de mais atenção. O meu ego está ótimo. Sou muito sortudo." Depois repete a última frase, em inglês. "Fm very lucky." Porque é que, interroga-se a Empire, está ele a aprender inglês se não está a planear fazer alguns papeis falados em inglês? "Se tiver boas ofertas, porque não?" sorri. "É um desafio. Não podia nunca imaginar participar num filme americano, mas estou curioso. E preciso de aprender inglês só porque sim - para ser um bom turista!' Talvez esteja a aprender inglês só no caso de precisar dizer algo a uma audiência global de biliões em fevereiro de Quer dizer, se repetir, em Hollywood, o prémio de melhor protagonista que conseguiu em Carmes, pode sempre fazer o discurso de agradecimento com mímica. Dujardin ri-se da ideia, mas não parece assim muito comprometido com essa possibilidade. "Sc as pessoas gostarem do filme, já será muito bom", diz, voltando ao seu francês. "'As coisas estão a passar-se mais rápido do que poderíamos imaginar, por isso estou a deixar-me ir na onda. As mãos de Deus estão envolvidas de alguma maneira nem sequer era suposto ir a Carmes. Este filme nào devia existir." s*y facto de existir deve-se a / / I \ / \ Hazanavicius, I I que antes \ / dirigiu \ l / / Dujardin \q o^ e Bejo, que se tornou a sua mulher, em Agente 117, de Foi enquanto trabalhava na sequela, quando falava casualmente com o seu ator-fetiche Dujardin, que deixou escapar que gostaria de cumprir um sonho de há muito e fazer um filme mudo. "Já há muito tempo que dizia isso ao Jean e à Berenice", diz Hazanavicius, fluente em inglês,

3 quando a Em pire o encontra em Londres. ""Mas podia dizer-lhes que queria fazer um wcstern ou um filme de Mosqueteiros, ou um filme de ficção científica, e eles teriam dito..." Lie adopta uma postura desinteressada. "'OK, Michel... podes passar-me a manteiga?"' A fantasia persistiu, no entanto, embora fosse apenas isso: unia fantasia. Ninguém no seu perfeito juízo, pensou Hazanavicius, quereria fazer um filme mudo a preto-e-branco nos dius de hoje. Isso foi até conhecer o produtor Thomas Langmann, que o contactou para realizar um remake do clássico francês Fan tomas, acerca de um anti-herói de moral dúbia. "Ele pediu-me umas SOO vezes", lembra Hazanavicius. "e eu disse "não' umas 800 vezes." Mas depois teve uma ideia centrar-se na época em que o livro foi escrito, em Esta era a sua oportunidade de realizar 0 seu grande desejo. "Liguei-lhe e disse, 'Posso lazer Fantòmas, mas vai ser o meu Fantòmas. e isso significa preto-e-branco, e silêncio.'" Langmann disse nào - não podia entregar um Fantòmas a preto-e-branco aos seus investidores. Mas como ficou marcado com o brilho nos olhos úo realizador, concordou em dar a 1 lazanavicius o seu filme mudo. Surpreendido, Hazanavicius afastou-se para trabalhar numa ideia, desenvolvendo uma personagem de herói mascarado ao estilo de Fantômas (os resíduos podem ser vistos no início, no filme dentro do filme), e uma história de amor/melodrama que formaria a base do guiào chamado Beauty

4 "Toda Spot, nomeado assim depois da marca distinta posta na bochecha de Peppy Miller por George. Langmann adorou, e deu a Beauty Spot a luz verde, com apenas uma estipulação menor: teria que mudar o nome para O Artista, inspirado por uma referência apagada do guião. "Não sei o que significa", riu-se Hazanavicius, "'mas é um bom titulo!" Com o novo título e Dujardin e Bejo para quem Hazanavicius escreveu os papéis de George e Peppy ("A personagem é a minha fantasia acerca de Jean, e Peppy é a minha fantasia acerca de Berenice", diz. "É a maneira como os vejo") -já a bordo, Hazanavicius e companhia partiram para LA para filmar, usando uma equipa americana e juntando um elenco de caras familiares como John Goodman, James Cromwell, Missi Pyle, Malcolm McDowell e Ed Lauter ("As pessoas conhecem a sua cara - estamos em Hollywood quando o Ed Lauter entra num filme nosso!"), todos orgulhosos por estarem envolvidos numa carta de amor á época dourada. Filmar em LA era imperativo, e também muito útil. Além dos ocasionais encontros com Jim Carrey, a sensação do peso da história de Hollywood era uma enorme ajuda. "Tinha uma linda casa com piscina e um motorista todas as manhãs para me levar aos estúdios", diz Bejo, rindo-se. "Estava a viver o que Peppy estava a viver - estava a gravar na casa de Mary Pickford. fazia sapateado na minha garagem à frente do letreiro de Hollywood e até fizemos ensaios de dança nos estúdios da Debbie Reynolds. Estás onde é suposto estares. Estava 24 horas por dia na atmosfera do filme." Também ajudou Hazanavicius, que estava certo que o filme não deveria apenas repetir o que se tinha feito nos anos 20, como City Girle Sunrise; filmes esses em que mergulhou durante o processo de escrita. "Existe uma armadilha," afirma Hazanavicius a. gente quer imitar o que se passava na época. Todos conhecemos os anos 20 esse não éo objetivo. Temos uma história para contar se tivermos que pedir emprestado algo dos anos 50 ou até 70, quem quer saber?" O que explica porque podemos reconhecer a escadaria que vemos numa cena crucial onde Peppy e George tem uma conversa cheia de subtexto ela está a subir, ele a descer. "É a mesma escada de Blade Rwmer" rindo-se. "Que não é um filme mudo!'' I I diz Hazanavicius. /*> "C\ brilho cjoie I I \ de vivre \ de O Artista \ / performances \ l /de Dujardin \ia = íi/ e Bejo, mas ] vem das nenhum filme em pertence tanto ao seu realizador. Os filmes do Agente 117 são divertidos, ligeiros e por isso não preparam o salto gigante que vemos Hazanavicius dar com O Artista. Depois de trocar algumas palavras com ele, não é difícil constatar que isso é de facto verdade. "Os meus anteriores filmes eram muito irónicos, e com algum cinismo", admite. "No processo que nos levou a este, sabia que não existiria nenhum tipo de ironia. Era a única maneira de ter o tipo de emoção que queria ter. A ideia de fazer um filme mudo era um desafio formal, e queria realmente partilhar a experiência de ver um filme mudo, o que é muito específico e especial, e muito sensual." Era uma aposta enorme do realizador - potencialmente destinada às prateleiras dos distribuidores, sem ser visto nem amado. "Na verdade, foi mais uma aposta para o produtor," diz,

5 rindo-se. "Teve que confiar no que ia na minha cabeça c tivemos que o fazer com o que tinha no bolso. Ele apostou. Mas, na verdade, conheci uma data de realizadores desde que o fiz, e todos eles disseram que tinham inveja porque queriam fazê-10. É a forma mais pura de um realizador contar uma história." Se isso significa que estamos prestes a ser inundados com uma série de filmes mudos, sejam a preto-e-branco ou a cores, é o que resta saber. É certo que o drama de ficção cientifica Gravity de Alfonso Cuarón é suposto ter diálogos residuais (há uma distinção, claro), enquanto Edgar Wright está a ir pelo mesmo caminho com o seu futuro projeto chamado Babv Dnver. Muito dependerá do destino de O Artista nos Prémios da Academia, e isso implica mencionar que o famoso Harvey Weinstein comprou o filme para distribuição nos Estados Unidos. Dujardin, já percebemos, recusa-se a ir por esse caminho, c o seu marido mas Bejo não estão tão circunspectos. "Quando fizemos o filme, a equipa americana pensou nisso", refere Bejo enquanto ri. "Eles diziam, 'Vocês vão chegar aos Óscares!' E eu penso que o filme devia ter algumas nomeações, com certeza. Tem um realizador, um argumentista e uma história muito especiais." "Mesmo no início", diz Hazanavicius. "não levei essa questão a sério, porque pensei que era ridículo. Mas agora todas as pessoas dizem que vamos calhar lá estaremos.. a jogo, por isso se 'CH

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