TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO ALVES DA SILVA

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO ALVES DA SILVA DECISÃO MONOCRÁTICA MANDADO DE SEGURANÇA N /001 RELATOR : Desembargador João Alves da Silva IMPETRANTE : Lauro Alves Barbalho (Adv. Martinho Cunha Melo Filho) IMPETRADO : Secretário de Estado da Educação e Cultura MANDADO DE SEGURANÇA. LICENÇA PARA CAPACITAÇÃO. PROFESSOR. ATO ATRIBUÍDO AO SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DO ESTADO. DECISÃO A CARGO DO SECRETÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. ACOLHIMENTO. INAPLICABILIDADE DA TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO DA AUTORIDADE COATORA E DE DÚVIDA RAZOÁVEL. DENEGAÇÃO ORDEM. LEI N /2009, ART. 6, Não tendo a autoridade coatora atribuição para a correção do ato tachado de ilegal, há de se reconhecer a sua ilegitimidade passiva. 2. Impossível adotar a teoria da encampação quando inexiste dúvida razoável e a autoridade coatora não defende o ato impugnado. Cuida-se de mandado de segurança impetrado por Lauro Alves Barbalho contra ato supostamente ilegal praticado pelo Secretário de Estado da Educação e Cultura. Em suas razões, afirma que é ocupante do cargo de professor em "educação básica 3 B I", lotado na Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Paraíba. Nesta condição, aduz que requereu à Secretaria titularizada pelo impetrado licença remunerada para realizar curso de mestrado em Ciências da Educação pela "Universidad Politécnica Y Artistica Del Paraguay". Argumenta que, dada a proximidade do início do curso, efetuou a matrícula e participou da sua primeira etapa (10 a 22 de janeiro), sendo, já

2 durante a segunda fase do mestrado (09 a 18 de julho), surpreendido com a negativa da administração. Assevera que firmou compromisso no sentido de permanecer em atividade junto à unidade escolar em que leciona por período igual a do afastamento necessário para o curso, não decorrendo daí, qualquer prejuízo para a Administração. Alerta para o fato de que o Estado da Paraíba já autorizou a licença a outros servidores, inclusive para o mesmo curso e universidade por ele pleiteado. Alega que o parecer que indeferiu o pedido de licença se baseou na virtual possibilidade dos títulos adquiridos na universidade apontada não serem revalidados por instituições nacionais. Garante que os documentos juntados comprovam a revalidação dos títulos ofertados pela universidade por instituições de renome nacional, como a USP e UFPE. Lembra que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação "assegurou a promoção e valorização dos profissionais da educação, concedendo-lhes, inclusive, o direito de aperfeiçoamento profissional com licença periódico remunerado para essa finalidade". Ao final, pede que seja concedida a segurança, a fim de que seja autorizado o gozo da licença pleiteada, uma vez que preenche os requisitos para tanto. Notificada, a autoridade coatora não prestou informações. O Ministério Público não opinou sobre o litígio. É o relatório. VOTO Através da presente demanda, tenciona o impetrante a concessão da segurança para que lhe seja autorizada licença para participar das fases complementares de curso de aperfeiçoamento (mestrado) em universidade localizada no Paraguai. Em que pese toda a argumentação exposta na inicial, penso que o julgamento de mérito do presente mandamus encontra óbice de natureza processual intransponível, materializado na ilegitimidade passiva do Secretário de Estado da Educação. É que restá claramente demonstrado que o ato contestado não foi praticado

3 pela referida autoridade. Com efeito, o exame dos autos revela que embora a apontada como coatora tenha opinado pela negativa da licença, a decisão pelo Secretário de Administração do Estado da Paraíba, conforme se pode documento de fl. 17. auto foi tomada conferir no Veja-se, pelo próprio trâmite do processo administrativo, que a manifestação do Secretário de Educação é meramente opinativa, restando ao Secretário de Administração, após o parecer da assessoria jurídica, a decisão acerca da concessão da licença. Como bem afirma o Ministro Ari Pargendler, "a autoridade coatora desempenha duas funções no mandado de segurança: a) uma, internamente, de natureza processual, consistente em defender o ato impugnado pela impetração; trata-se de hipótese excepcional de legitimidade ad processum, em que o órgão da pessoa jurídica, não o representante judic. 1 desta, responde ao pedido inicial; b) outra, externamente, natureza executiva, vinculada à sua competência administrativa; ela é quem cumpre a ordem judicial. A legitimação da autoridade coatora no mandado de segurança deve ser aferida à base das duas funções acima descritas; só o órgão capaz de cumpri-las pode ser a autoridade coatora." O Colendo Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, já decidiu que "a autoridade coatora é aquela competente para corrigir ilegalidade impugnada por meio do mandado de segurança, ou seja, a autoridade que dispõe de meios para executar a ordem emanada no caso de concessão da segurança". 2 Assim, quem tem o poder de cumprir eventual decisão judicial no sentido de conceder a licença para capacitação não é o Secretário da Educação, mas o Secretário de Administração, subscritor do ato impugnado. Outrossim, importa anotar que não se trata de caso em que se possa adotar a teoria da encampação, uma vez que, segundo jurisprudência da Corte Superior, a aplicação dos seus postulados fica sujeita ao preenchimento de certos requisitos. Senão, veja-se: "Também não cabe invocar a Teoria da Encampação. A Primeira Seção, ao apreciar o MS n DF, em , traçou os requisitos mínimos para a sua aplicação. Ficou esclarecido, na oportunidade, que a tese somente incide se: 2 PARGENDLER, Ari. Autoridade coatora no mandado de segurança e competência administrativa. BDJur, Brasília, DF, 18 jan Disponível em: < >. STJ - RMS / SP Rel. MM. João Otávio de Noronha T2 - DJ 10/10/2005 p. 269

4 (a) houver vínculo hierárquico entre a auto i. de erroneamente apontada e aquela que efetivamente pratic o ato ilegal; (b) a extensão da legitimidade não modificar regra constitucional de competência; (c) for razoável a dúvida quanto à legitimação passiva na impetração; e (d) houver a autoridade impetrada defendido a legalidade do ato impugnado, ingressando no mérito da ação de segurança". 3 Neste caso, entendo que ausente dois requisitos: dúvida razoável quanto à legitimidade passiva e ausência de defesa do ato pela autoridade impetrada. irice ui 170.."N "-?'if De fato, a ausência de dúvida razoável sobre a autoridade coatora já restou sobejamente demonstrada anteriormente, já que o ato foi efetuado por autoridade diversa. Por outro lado, a autoridade dita coatora não efetuou a defesa do ato. Por esta razões, no caso, resta impossível a aplicação da já referida teoria. Examinando caso semelhante, o Superior Tribunal de Justiça assim decidiu: "PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURAN ILEGITIMIDADE DA AUTORIDADE COATORA INAPLICABILIDADE DA TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. MANIFESTA INCOMPETÊNCIA DO STJ. 1. Cuida-se de mandado de segurança impetrado contra suposto ato do Ministro de Estado da Fazenda, consubstanciado em Ato Declaratório Executivo, que impossibilita ao impetrante desempenhar a atividade de despachante aduaneiro. 2. Nos termos do art. 76, 8Q Lei n , de 2003, a competência para aplicar as penalidades previstas na legislação aduaneira aos intervenientes nas operações de comércio exterior é do Chefe da Unidade da Secretaria da Receita Federal do Brasil. 3. O ato de descredenciamento foi praticado pelo Inspetor-Chefe da Alfândega da Receita Federal do Brasil do Porto de Itajaí, sendo manifesta a ilegitimidade passiva do Ministro de Estado da Fazenda, o que afasta a competência do Superior Tribunal de Justiça para o julgamento da demanda, conforme dispõe o art. 105, inciso I, alínea "b", da Constituição Federal. 4. Inaplicabilidade da teoria da encampação, porquanto a autoridade tida por coatora não defendeu o mérito do ato administrativo. Precedentes: EDcl no MS /DF, Rel. Ministra Eliana Calmon, Primeira Seção, DJe 25/05/2009. Segurança denegada. Agravo regimental prejudicado". 4 "PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ICMS. INSURGÊNCIA CONTRA A COBRANÇA DE TRIBUTO 3 STJ - RMS / RJ - Rel. MM. Castro Meira T2 - DJe 17/06/2009 STJ - MS DF - Rel. MM. Humberto Martins Si j. 09/11/ DJe 22/11/2011.

5 SUPOSTAMENTE INCIDENTE SOBRE MERCAD DESTINADA AO EXTERIOR. ATO ATRIBUÍDO SECRETÁRIO DE ESTADO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. PRELIMINAR ACOLHIDA. 1. Recurso ordinário em mandado de segurança impetrado com o objetivo de obter provimento judicial que determine ao Secretário da Receita do Estado da Paraíba a suspensão da cobrança de ICMS sobre frete de mercadoria destinada à exportação. 2. Não compete diretamente ao Secretário de Estado indicado, mas, sim, aos Agentes Fiscais a fiscalização e a cobrança do tributo em comento. Inteligência dos arts. 72 e 105 da Lei estadual 6.379/96 e 4Q e 44, I, do Decreto / Impossível, na espécie, a aplicação da teoria da encampação, na medida em que, além de o Secretário não ter defendido o mérito do ato atacado, sua participação modificaria regra de competência jurisdicional disciplinada na constituição estadual. 4. Mantida a preliminar de ilegitimidade passiva acolhida pelo acórdão recorrido. 5. Recurso ordinário n provido". 5 Por fim, destaco que "não cabe ao magistrado corrigir de ofício a autoridade coatora equivocadamente indicada na exordial de mandado de 6, segurança. " impondo-se, portanto, a denegação da ordem buscada. No mesmo sentido, confira-se: PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. REGISTRO NO SIAFI, SUBSISTEMA CAUC - CADASTRO ÚNICO DE CONVÊNIOS. ILEGITIMIDADE PASSIVA DO MINISTRO DE ESTADO DA FAZENDA. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. 1. O Subsistema CAUC - Cadastro Único de Convênios é um mero cadastro informatizado onde são registradas as mais variadas pendências verificadas por diversos órgãos de origem. Sendo assim, o conteúdo das informações é de responsabilidade cio órgão que as envia e não do órgão que administra o sistema informatizado. 2. As únicas hipóteses de exceção ocorrem quando a inscrição se dá pelos códigos 208 (exigência constante do art. 25, IV, "a", da Lei de Responsabilidade Fiscal) e 501 (exigência constante do art. 51, da Lei de Responsabilidade Fiscal), onde o órgão que envia as informações coincide com o órgão que administra o sistema informatizado, qual seja, a Secretaria do Tesouro Nacional STN. 3. A inscrição se deu pelo código 501. Contudo, o mandado de segurança foi proposto contra o Ministro de Estado da Fazenda, não sendo este a autoridade coatora, pois não praticou pessoalmente o ato impugnado, mas sim autoridade pertencente ao organograma da STN. 4. Mandado de Segurança extinto, sem 5 6 STJ - RMS /PB - Rel. Min. Benedito Gonçalves Ti j. 06/09/ DJe 13/09/2011. STJ - RMS /RR - Rel. Min. Benedito Gonçalves Ti J. 02/12/2008 Dje 11/12/2008.

6 resolução do mérito, na forma do art. 267, VI, do CPC. 7 4t) ãv)s?ir 1,0 -O Expostas essas razões, reconheço a ilegitimidade passiva Secretário da Educação do Estado da Paraíba para figurar no polo passivo do presente mandamus, ao tempo em que, denego a ordem mandamental, nos termos do art. 6 2, 52, da Lei n /2009. Publique-se. Intimem-se. João 'Pessoa, 29 de n mbro de Desembargado Rei Alves da Silva 7 STJ - MS fDF - Rel. Min. Mauro Campbell Marques Si j. 09/02/ Dje 18/02/2011.

7 L3"! U 1\1 A E JUSfl Ç. judiciárj; :