PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO: A APROPRIAÇÃO DA PLANICIE DE INUNDAÇÃO DO RIO MARANGUAPINHO EM FORTALEZA-CEARÁ.
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- Victor Gabriel Batista Bentes
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1 PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO: A APROPRIAÇÃO DA PLANICIE DE INUNDAÇÃO DO RIO MARANGUAPINHO EM FORTALEZA-CEARÁ. Denis Melo da Silva Universidade Estadual do Ceará UECE. Bolsista do Programa de Educação Tutorial em Geografia - PETGeo denisgeografouece@hotmail.com João Paulo Lopes Rodrigues. Universidade Estadual do Ceará UECE. Bolsista do Programa de Educação Tutorial em Geografia - PETGeo jp.lopes123@hotmail.com Profa. Dra. Claudia Maria Magalhães Grangeiro Professora Orientadora Universidade Estadual do Ceará claudia.mgr@gmail.com. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem o intuito de analisar brevemente o Brasil urbano suas contradições no que diz respeito à produção do espaço e discutir os processos de produção do espaço urbano nas áreas de planície de inundação do rio Maranguapinho Fortaleza-Ce. Diferente das abordagens adotadas em grande parte dos trabalhos científicos que tem a região sul-sudeste como principal objeto da caracterização deste Brasil urbano, o presente artigo, irá ser desenvolvido a partir de uma abordagem cujo à ênfase se dará sobre a região do nordeste brasileiro e no caso especifico da cidade de Fortaleza, pois a mesma encontra-se fortemente inserida na lógica de produção capitalista do espaço urbano. A partir de um resgate histórico no que diz respeito à década de 1970, sabese que houve uma aceleração da industrialização, uma industrialização considerada tardia, que segundo Milton Santos (1993) colaborou para a proliferação de cidades médias e as formas como espaços foram apropriados demonstram a ideologia materializada na cidade. Sabe-se que a inserção de Fortaleza na economia mundial se
2 deu primordialmente através do comércio de algodão, haja vista que a Inglaterra estava sem seu principal fornecedor de matéria prima, os Estados Unidos, este que se encontrava em guerra civil. (Costa, 1998). Com isso a antes vila de Fortaleza da Assunção, agora sob a categoria de cidade, conquista sua autonomia, já que a mesma era dominada politicamente por Pernambuco. O crescimento da cidade se acelerou com a chegada dos retirantes da seca, muitos desses eram utilizados em serviços públicos, nas construções de equipamentos para a cidade, esses mesmos retirantes, eram direcionados para se instalarem em campos de concentração que posteriormente viriam a originar bairros, como por exemplo, o bairro do Pirambú. Deste modo, a cidade vai aos poucos se expandindo e tendo como reflexo imediato dessa expansão, a ação dos agentes produtores do espaço, principalmente do poder publico que colaborou para as primeiras implantações dos planos urbanísticos como o de Silva Paullet e do pernambucano Adof Webster, pois o crescimento da cidade ocorreu para além do quadrilátero do primeiro plano de Diante do exposto, observa-se que a produção do espaço urbano brasileiro é contraditória e que a industrialização tardia favoreceu para a formação de cidades precarizadas. Uma contradição, no que diz respeito à produção do espaço urbano de Fortaleza, apresenta-se com maior ênfase e merece ser dissertada a seguir: As áreas antes consideradas insalubres pela elite econômica como dunas, margens de rios e franjas próximas às linhas férreas, hoje se caracterizam como espaços de resistência da população de baixa renda (ver foto 01), tendo em vista que se tornaram alvos dos especuladores imobiliários, um exemplo concreto desse processo é o caso das comunidades situadas na planície de inundação do rio Maranguapinho em Fortaleza-CE. Ocupação nas margens do rio Maranguapinho. Fonte: Secretaria das Cidades do Ceará, 2012.
3 Esta população buscou essas áreas suscetíveis devido aos baixos valores, hoje estão sendo vítimas do processo de higienização da cidade promovidas pelas obras de (re)estruturação derivado do Projeto Maranguapinho, a exemplo desse fato, são as construções de conjunto habitacionais (ver foto 02). Dessa forma, observou-se que estas áreas são novos alvos dos agentes donos do Capital Imobiliário. Foto do conjunto habitacional construídos para retirar a população das margens do rio Maranguapinho. Fonte: Secretaria das Cidades do Ceará, 2012.
4 Neste sentido, partiu-se de uma análise crítica sobre as formas de apropriação e a supervalorização do solo urbano na cidade de Fortaleza a partir da década de 1970, que se desenvolve, notadamente, em decorrência do aumento populacional, influenciado por vários fatores, tendo como destaque a intensificação das migrações. Segundo Castro (1987) A expansão da cidade passava a conhecer novas diretrizes, não apenas no simples alastramento do casario, mas começava a evidenciar uma organização social fortemente diferenciada, com o aparecimento dos bairros dos ricos, dos remediados, dos pobres e dos muito pobres, iniciando-se um processo de segregação hoje tão marcado (CASTRO. 1987, p.234). Levando-se em consideração que o espaço urbano é produzido a partir das relações de seus agentes (poder público, setor privado e atores sociais), embora tal produção seja dialética, ela tende a refletir as intenções dos agentes que pertencem a determinados grupos dominantes. Dessa forma, a produção costuma seguir determinados interesses e relações de poder que se estabelecem entre os agentes
5 produtores do espaço. Em consequência essa apropriação do espaço urbano se dá de forma desigual, o que pode ser facilmente observado na morfologia da cidade. Segundo Villaça (2001), Uma das características mais marcantes da metrópole brasileira é a segregação espacial dos bairros residenciais das distintas classes sociais, criando-se sítios sociais muito particulares. (...) Tal como aqui é entendida, a segregação é um processo segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros da metrópole (VILLAÇA 2001, p.141),. Seguindo essa perspectiva, o Estado atua como produtor do espaço e regulador da ocupação na cidade, cabendo-lhe papel principal na modelação da cidade a partir das intervenções de obras de reestruturação urbana por meio de medidas e ações, como por exemplo, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II). O processo de uso e ocupação do rio Maranguapinho reflete o contexto da produção do espaço urbano de Fortaleza, em um primeiro momento os preços dos loteamentos urbanos na planície de inundação do rio eram desvalorizados, pois se tratava de áreas insalubres. No entanto, a propagação do discurso de escassez da natureza e sua mercantilização, implicou uma valorização do solo, deste modo, o Estado passa a reorganizar a ocupação do leito daquele rio. Neste sentido, através da Secretaria das Cidades foram incentivadas políticas de remoção da população ribeirinha com a indenização e doação de apartamentos em conjuntos habitacionais que estão inseridos na Região Metropolitana de Fortaleza, segregando ainda mais a população de baixa renda e promovendo uma nova reformulação do tecido intra-urbano da cidade. OBJETIVO Compreender o processo de produção do espaço urbano da cidade de Fortaleza a fim de entender a atual configuração socioespacial da planície de inundação do rio Maranguapinho é o principal objetivo desta pesquisa.
6 METODOLOGIA Para a efetivação da pesquisa a Metodologia consistiu em: revisão bibliográfica e documental a respeito da temática relacionada a Geografia urbana; trabalhos em campo, a fim de levantar dados; visitas aos órgãos públicos e instituições de ensino e pesquisa; confecção de relatório e a realização de questionários temáticos, com vistas a gerar dados primários. Enfatiza-se que o processo de apropriação do espaço urbano, no tocante a planície de inundação do Rio Maranguapinho, proporcionou uma análise sobre as diferentes formas de uso e ocupação situadas nas áreas sob a influência do corpo hídrico, colaborando para uma reflexão sobre o direito a cidade, questionamentos referentes à segregação urbana e a formação de novas áreas de especulação imobiliária a partir do consumo dos corpos hídricos. A presente pesquisa encontra-se em fase inicial. RESULTADOS PRELIMINARES De acordo com Villaça (2001), por via da segregação, as camadas de alta renda dominam o espaço urbano, não só produzindo suas zonas residenciais nas áreas mais agradáveis e bem localizadas, mas também atuando sobre toda a estrutura urbana segundo seus interesses e devido ao inchaço da cidade. Áreas desvalorizadas de Fortaleza favoreceram o processo de segregação socioespacial, onde estas são desprezadas pelas camadas mais abastardas por se localizarem em áreas próximas a rios e a canais. No caso do rio Maranguapinho o projeto abre uma nova faixa de expansão do capital imobiliário, através de obras de urbanização e replantio da mata ciliar do rio que favorece e valoriza o espaço, principalmente com o advento das ideologias verdes e a apropriação do discurso
7 sustentável e com advento da busca por novas amenidades, neste sentido; Além de imprimir a uma determinada região geral da cidade um padrão ambiental e estético inexistente no restante do espaço urbano, através da aparência das ruas e edifícios, da arborização, etc., as burguesias implantam nessa região a melhor infra-estrutura da cidade, especialmente a viária. Finalmente, o espaço urbano é tecido de tal forma que o cotidiano daquelas camadas se desenrola predominantemente nessa região. Cada vez mais o próprio Estado para ela se transfere, e, ideologicamente, essa região passa a se identificar com a cidade, e o restante passa a ser encarado como subúrbio ou periferia, e considerado longe, por mais central que seja sua localização. Na verdade, torna-se longe mesmo. (Villaça, 2001: 326). A partir das discussões levantadas observou-se que a cidade de Fortaleza está inserida na lógica da produção capitalista do espaço, onde áreas como a planície de inundação do Maranguapinho é celeiro de uma nova fronteira para o avanço deste capital, que tem através do Governo do Estado do Ceará os meios técnicos e coercitivos para a remoção das populações de baixa renda, fazendo assim uma troca dos atores sociais, onde os removidos são direcionados para conjuntos habitacionais distantes do seu local de origem ou bordejando a região metropolitana. Observamos que a planície do rio é ocupada por empreendimentos como fabricas e postos de combustíveis, além das comunidades de baixa renda e o inicio da construção de condomínios fechados, demonstra o processo de mudança dos atores sociais. A contradição do direito a cidade é observada dialeticamente na apropriação e na produção do espaço na planície de inundação do rio Maranguapinho. BIBLIOGRAFIA
8 CARTAXO FILHO, Joaquim. A Cidade Fatual. Fortaleza, Imprensa Universitária, CARVALHO, Jáder. Aldeota. São Paulo, Livraria Exposição do Livro, CASTELLS, Manuel. A Questão Urbana. São Paulo, Paz e Terra, CASTRO, José Liberal de. Fatores de Localização e Expansão da Cidade de Fortaleza. Fortaleza, Imprensa Universitária, UFC, Arquitetura Eclética de Fortaleza, In: FABRIS, Annateresa (org.) Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo, Nobel / EDUSP, CORREA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo, Ática, COSTA, Maria Clélia Lustosa. Cidade 2000: Expansão Urbana e Segregação Espacial em Fortaleza. Dissertação (Mestrado em Geografia), USP-FFCLH São Paulo, FREITAS, Mirtes. A Cidade dos Clubes Modernidade e Glamour na Fortaleza de Dissertação (Mestrado em História), UFC Fortaleza, INSTITUTO DOS ARQUITETOS DO BRASIL / CEARÁ e Associação dos Docentes da UFC Carta de Fortaleza / Uma Cidade em Questão. Fortaleza, JUCÁ, José Gisafran Mota. Verso e Reverso do Perfil Urbano de Fortaleza. São Paulo Annablume, VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo, Studio Nobel, ALMEIDA, Lutiane Queiroz de. Vulnerabilidades Socioambientais de Rios Urbanos: bacia hidrográfica do rio Maranguapinho, Região Metropolitana de Fortaleza, Ceará/ Lutiane Queiroz de Almeida. Rio Claro, Tese (doutorado), Universidade Estadual Paulista. Instituto de Geociência e Ciência Exatas. ALMEIDA,Lutiane Queiroz de; CARVALHO, P.F. Representações, riscos e potencialidades de rios urbanos: análise de Um (des) caso histórico. Caminhos de Geografia Uberlândia v. 11, n. 34 jul/2010 p Página 145 BERNARDES, Júlia A. e FERREIRA, Fco P. de M. Sociedade e Natureza in CUNHA, Sandra Baptista e GUERRA, Antônio José Teixeira (orgs) A Questão Ambiental: diferentes abordagens. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2003.
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