TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 fls. 1 SENTENÇA Processo nº: Classe - Assunto Ação Penal - Procedimento Ordinário - Parto Suposto Autor: Justiça Pública Réu: Claudio Rogerio Oliveira Euzebio Juiz(a) de Direito: Dr(a). Davi de Castro Pereira Rio VISTOS. CLÁUDIO ROGÉRIO OLIVEIRA EUZÉBIO e LUCIETE BERTOLDO DA SILVA, devidamente qualificado nos autos, foram denunciados e estão sendo processados como incursos nas penas cominadas no artigo 242 do Código Penal, porque, segundo relata a denúncia, no dia 26 de fevereiro de 2003, na sede do Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais de Mogi das Cruzes/SP, situado na Avenida Vereador Narciso Yague Guimarães, nº 766, Mogi das Cruzes/SP, registrou como sua a filha de outrem. Recebida a denúncia (fls. 100/101), o réu Cláudio foi regularmente citado e notificado (fls. 109), tendo sido então apresentada resposta à acusação (fls. 134). A acusada Luciete Bertoldo da Silva foi citada por edital, razão pela qual, foi decretada a suspensão do processo e do curso do prazo prescricional, nos termos do artigo 366 do Código de Processo Penal (fls. 147) e, posteriormente, desmembrado o processo (fls. 149). Em audiência de instrução, foi ouvida uma testemunha arrolada pela acusação (fls. 151) e, ao final, foi realizado o interrogatório do réu (fls. 152) lauda 1

2 fls. 2 Encerrada a fase de instrução, o i. representante do Ministério Público, em sede de alegações finais, pleiteou a extinção da punibilidade pelo perdão judicial. A Defesa, por sua vez, apresentou alegações finais às fls. 161/163, oportunidade em que, após analisar as provas produzidas em Juízo, pleiteou o reconhecimento da prática do crime por motivo de reconhecida nobreza com a concessão do perdão judicial. É o relatório. DECIDO. A pretensão punitiva estatal é totalmente procedente. A materialidade do delito ficou devidamente comprovada pelos documentos de fls. 04/05, pela certidão de fls. 21, bem como pelas demais provas produzidas em Juízo. A autoria do delito é incontroversa. O próprio acusado em seu interrogatório judicial confessou a prática do delito, afirmando que registrou a criança como sendo sua filha, mesmo ciente de que não era, pois pretendia ficar com a criança e ajudá-la, inclusive para colocá-la como dependente em seu convênio médico. Ainda, disse que a genitora da criança Luciete não tinha intenção de ficar com ela, razão pela qual teria entregado o bebê para ele e seu companheiro, mas, no entanto, impôs a condição para Luciete de que a criança fosse registrada em seu nome. Por fim, disse que não sabia que a sua atitude era crime e asseverou que seu único intuito era ajudar a criança. No caso em tela, a prova existente nos autos comprovam integralmente as alegações apresentadas na denúncia, não havendo como se cogitar da presença de qualquer lauda 2

3 fls. 3 causa excludente de ilicitude, bem como da suposta alegação de que praticou o crime por motivos nobres. Ora, o que de fato se extrai do caso vertente é que o acusado agiu com o único e claro intuito de registrar a criança como sendo sua filha, agindo de maneira egoísta e com visível intenção de burlar o cadastro nacional de adoção. Cogitar-se de que o réu agiu imbuído de motivos nobres é, no mínimo, fugir-se à realidade que salta aos olhos e dar costas ao óbvio. A testemunha Adinaldo Pinheiro Motta, agora com o nome de Dinah Idelfonso Motta, ouvida em Juízo, relatou que na época dos fatos era companheira de Cláudio oportunidade em que conheceram Luciete. Alegou que tomaram conhecimento que Luciete não queria ficar com a criança, pois não tinha condições de criá-la e, como tinha um sonho de ser mãe e Cláudio de ser pai, resolveram de comum acordo conversar com Luciete para doar a criança. Afirmou que Cláudio registrou a criança como pai, mas não sabiam que a conduta era crime. Por fim, esclareceu que a criança está morando atualmente em sua residência, embora a guarda tenha sido deferida a Cláudio. Deveras, Luciete Bertoldo da Silva prestou depoimento na seara inquisitiva (fls. 83/84), ocasião em que afirmou de maneira categórica que em razão de não conseguir emprego entregou a sua filha ao casal para estes criarem, pois não tinha condições de ficar com sua filha. Assim, conforme se extrai do próprio depoimento da genitora, ela entregou a criança ao acusado em razão de não ter condições econômicas de criá-la, que a registrou como sendo pai dela. Por fim, destaco que ficou sobejamente comprovado o dolo do acusado em registrar a criança como sendo a sua filha, mesmo sabedor que tal situação não era lauda 3

4 fls. 4 condizente com a realidade dos fatos. Dessa forma, comprovadas a autoria e a materialidade do delito, a condenação do acusado, nos exatos termos em que pleiteados na denúncia, é medida de rigor. Passo, então, à fixação da pena. Com fundamento no artigo 59 do Código Penal, levando-se em conta as circunstâncias do delito, em especial o fato de ter se valido da hipossuficiência econômica da genitora da menor, que asseverou tê-la entregado somente por não possuir condições econômicas de sustentá-la, fixo a pena-base aumentada em um terço, isto é, pena de 02 (dois) anos e 08 (oito) meses de reclusão. Na segunda fase de fixação da pena, reconheço a circunstância atenuante da confissão espontânea, razão pela qual reduzo a pena em um sexto, fixando-a em 02 (dois) anos, 02 (dois) meses e 20 (vinte) dias de reclusão. modificadoras. Torno essa pena definitiva, à míngua de outras circunstâncias Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE a ação penal e condeno o réu CLÁUDIO ROGÉRIO DE OLIVEIRA EUZÉBIO, com fundamento no artigo 242, caput, do Código Penal, à pena de 02 (dois) anos, 02 (dois) meses e 20 (vinte) dias de reclusão. Substituo a pena originalmente imposta ao réu por prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas, a ser indicada pelo Juízo da Execução, pelo mesmo prazo da pena, bem como à prestação pecuniária no valor correspondente a um salário mínimo lauda 4

5 fls. 5 Na hipótese do parágrafo 4º do artigo 44 do Código Penal, ou seja, de descumprimento injustificado da restrição, a pena restritiva de direitos será convertida em pena privativa de liberdade e poderá ser cumprida, inicialmente, em regime aberto. Custas na forma da lei. Oportunamente, expeça-se guia de recolhimento. P.R.I.C. Mogi das Cruzes, 10 de outubro de lauda 5