Assunto: Relatório de Inspeção Ordinária. Escola Técnica Federal de Química no Estado do Rio de Janeiro/RJ.

Transcrição

1 Tribunal de Contas da União Dados Materiais: Decisão 624/94 - Plenário - Ata 47/94 Processo nº TC /92-3. Interessado: Diretor-Geral Manoel Virgilio Pimentel Cortes. Órgão: Ministério da Educação e Cultura, atual Ministério da Educação e do Desporto. Relator: Ministro-Substituto Lincoln Magalhães da Rocha. Representante do Ministério Público: não atuou. Órgão de Instrução: SECEX/RJ. Especificação do "quorum": Ministros presentes: Élvia Lordello Castello Branco (Presidente), Carlos Átila Álvares da Silva, Homero dos Santos, Paulo Affonso Martins de Oliveira, Iram de Almeida Saraiva; e os Ministros Substitutos Bento José Bugarin e Lincoln Magalhães da Rocha (Relator). Assunto: Relatório de Inspeção Ordinária. Escola Técnica Federal de Química no Estado do Rio de Janeiro/RJ. Ementa: Inspeção Ordinária. Escola Técnica Federal de Química RJ. Pessoal. Contratação de serviços advocatícios. Professor submetido ao Regime de Dedicação exclusiva exercendo cargo de direção e função gratificada. Pagamento de Gratificação de Regência de Classe sem observância do número de horas-aulas ou em gozo de licença prêmio. Cessão informal de docente. Fixação de prazo para regularização da acumulação de cargos. Determinada a observância da legislação para as demais impropriedades. Data DOU: 24/10/1994 Página DOU: Data da Sessão: 05/10/1994

2 Relatório do Ministro Relator: GRUPO II - CLASSE III - Plenário TC / Relatório de Inspeção Ordinária. - Escola Técnica Federal de Química - RJ. - Período de abrangência: a Responsável: Diretor-Geral Manoel Virgilio Pimentel Cortes. - Ementa: Irregularidades verificadas na área de pessoal. Ocupação por professores em regime de dedicação exclusiva de cargos de direção e função comissionada. Sobrestamento por 120 dias. Contratação de advogado, sem licitação, por entidade que possui quadro próprio de profissionais do Direito. Recomendações. As irregularidades apuradas por ocasião da inspeção ordinária na Escola Técnica Federal de Química - RJ, realizada no período de a , dizem respeito a procedimentos administrativos e de natureza formal na área de pessoal. Em resposta ao Ofício IRCE/RJ nº 731 de , o responsável, Diretor-Geral Manoel Virgilio Pimentel Cortes, mediante o Of. nº 464/GAB, de , justifica algumas falhas apontadas e admite a ocorrência de outras, expondo as providências já adotadas quanto a estas. As principais impropriedades verificadas e que ocasionaram a proposta de recomendação por parte da IRCE/RJ são: - emissão de nota de empenho após comprovação, no verso da fatura ou da nota fiscal, do serviço prestado ou da entrega do bem adquirido, infringindo o disposto no art. 60 da Lei nº 4.320/64, "caput" e î 2º; - contrato firmado entre a Escola e a Sociedade Italiana de Beneficência e Mútuo Socorro - Hospital Italiano, para prestação de serviços médicos e hospitalares, sem licitação, utilizando-se adjudicação direta, o que afronta o disposto no Decreto-lei nº 2.300/86 e alterações posteriores (vigente à época da prática dos atos inquinados). - pagamento de Gratificação de Regência de Classe, sem observância do número mínimo de horas-aula, conforme Portaria MEC nº 475/87, art. 10, î 3º; - pagamento da mesma gratificação durante período em que docente esteve afastada por motivo de licença-prêmio por assiduidade, o que fere a orientação normativa SAF/DRH nº 057/91; e

3 - cessão informal de professor à Escola Técnica Federal de Santa Catarina sem confirmação de vaga, imprescindível à efetivação da transferência pretendida. Mereceram realce no relatório da Equipe de Inspeção: a contratação direta de serviços advocatícios particulares para defender os interesses da Escola e o exercício de funções de confiança por parte de docentes em regime de Dedicação Exclusiva. Quanto ao 1º tópico, em sua conclusão, a equipe considera a necessidade de definição para o impasse criado nas entidades autárquicas quando os seus procuradores, incumbidos da defesa dos interesses das autarquias na justiça, são parte em ações trabalhistas movidas contra as respectivas entidades. O 2º item - docentes em regime de Dedicação Exclusiva que percebem função gratificada - motiva solicitação de reexame do entendimento deste Tribunal quanto à inadmissibilidade do exercício de função de confiança por docentes naquele regime, pois "não há nas leis que disciplinam o assunto dispositivo que estabeleça tal proibição". O Diretor da 3ª Divisão, quanto às falhas verificadas, endossa a proposta de recomendação e adita três outras: juntada às contas da unidade, relativas ao exercício de 1992, para exame em confronto; que a escola solicite parecer jurídico da Consultoria Jurídica do Ministério da Educação e/ou da Procuradoria-Geral da União, relativamente à contratação de advogado particular e que seja sustado o pagamento de FG a docentes em regime de Dedicação Exclusiva. A SECEX/RJ, concluindo, aquiesce às recomendações da equipe de inspeção e, quanto àquelas acrescidas pela 3ª Divisão Técnica, propõe: juntada à prestação de contas, exercício de 1992, para análise em conjunto e em confronto; que se ouça o Ministério Público quanto às questões trabalhistas e, no que concerne ao exercício de docência com dedicação exclusiva e função gratificada, evidencia sua expectativa quanto ao contido na Decisão nº 377/92, Plenário, TC nº / Ata nº 35/92, Sessão de , que acena com futura decisão definitiva sobre a matéria. Voto do Ministro Relator: Dois aspectos ressaltam na presente inspeção: 1º - o exercício de cargo de Direção ou Função Gratificada por parte de docentes submetidos ao regime de Dedicação Exclusiva e 2º - a contratação direta de serviços advocatícios particulares para

4 defender os interesses da Escola. O 1º tópico foi objeto de acurado exame na Sessão de Plenário, quando esta E. Corte apreciou o Aviso nº 826/94, formulado pelo Exmº Sr. Murilio de Avellar Hingel, Ministro de Estado da Educação e do Desporto. O mencionado aviso deveu-se ao fato da situação aflitiva em que se encontra aquela pasta, diante das reiteradas decisões desta Corte em considerar irregular a ocupação por docentes submetidos ao regime de Dedicação Exclusiva, de cargos de direção e funções gratificadas das instituições federais de ensino. Naquela assentada, o insigne Ministro Bento Bugarin, relator do brilhante Voto, teceu os seguintes comentários, em face da restrição imposta: "Diante de tal posição, chamamos a atenção deste Plenário, em oportunidades anteriores, para as dificuldades operacionais com que teriam que se defrontar as escolas e universidades federais em decorrência do entendimento esposado por este Tribunal, eis que a extinção do regime de tempo integral da carreira de magistério superior e o reduzido número de docentes de 1º e 2º graus trabalhando em tal regime inviabilizaria a ocupação das funções e cargos em questão na forma determinada, comprometendo o funcionamento das instituições de ensino mantidas pela União a ponto de inviabilizar sua administração." Dando provimento parcial, assim concluiu seu Voto o ilustre par: "Em face da gravidade do quadro surgido, vem o Exmº Sr. Ministro de Estado da Educação e do Desporto requerer desta Corte o sobrestamento do exame de processos e da execução de decisões relativas ao assunto por cento e vinte dias, prazo considerado suficiente por aquela autoridade para implementação das sugestões de mudança no ordenamento jurídico relativo à matéria encaminhadas, por intermédio da Secretaria de Administração Federal, ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República." Quanto ao enfocado no 2º tópico, nos esclarece o Sr. Vice-Diretor da Escola Técnica Federal de Química do Rio de Janeiro, pelo Ofício nº 480/GAB/DRH, enviado ao meu gabinete e anexado ao processo (fls. 12/14) que: "A Chefe da Procuradoria Jurídica, Drª Lea de Souza Ferreira, foi designada através da Portaria nº 25, de , publicada no D.O.U. de , substituindo o Procurador anterior aposentado desde ,

5 justificando desta forma a contratação dos serviços profissionais de um advogado, uma vez que, aquela IFE não poderia deixar de se representar em juízo, nos casos que surgiram contra a Escola naquele lapso temporal ( a ), conforme demonstrado pela Nota de Empenho que acompanha o ofício". Os dados trazidos à colação (fl. 14) revelam que a ETFQ/RJ, naquele período, estava sendo acionada na justiça perante a 26ª Junta de Conciliação e Julgamento, em ação trabalhista movida por Irapuan da Silva Faro, razão pela qual foi contratada a advogada particular, Drª Mônica Castro Feijó. Cabe, no entanto, discutir da necessidade ou não de licitação à luz do dispositivo legal e regulamentar que disciplinava a matéria (Decreto nº 2.300/86, revogado pela Lei nº 8.666/93). Por oportuno, em reforço da tese, cabe invocar precedente deste Tribunal (TC / Sessão de Plenário), pelo qual o insigne Ministro Bento José Bugarin expôs com brilho o assunto, "verbis": "O Estatuto das Licitações trata do certame para contratação de serviços nos seguintes artigos, entre outros: 'Art. 2º - As obras, serviços, compras e alienações da administração, quando contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas neste Decreto-lei. Art. 5º - Para os fins deste Decreto-lei, considera-se:... II - Serviço - Toda atividade destinada a obter determinada utilidade concreta de interesse para a administração, tais como demolição, fabricação, conserto, instalação, montagem, operação, conservação, reparação, manutenção, transporte, comunicação ou `trabalhos técnicos profissionais'; (grifei)... Art Para os fins deste decreto-lei, consideram-se serviços técnicos profissionais especializados os trabalhos relativos a:... V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;... Art é inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em essencial:

6 ... II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 12, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização'." Posteriormente, ao relatar o TC nº /93-6, na Sessão de , do E. Plenário, o ilustre Ministro Carlos Átila, ao voltar-se diretamente "à contratação de advogado, por entidade ou órgãos públicos que contem com quadro próprio de profissionais do Direito", declinou o entendimento hoje prevalecente neste Tribunal sobre a matéria, "verbis": "1º - a circunstância de entidade pública ou órgão governamental contar com quadro próprio de advogados não constitui impedimento legal a contratar advogado particular para prestar-lhe serviços específicos, desde que a natureza e as características de singularidade e de complexidade desses serviços sejam de tal ordem que se evidencie não poderem ser normalmente executados pelos profissionais de seus próprios quadros, justificando-se portanto a contratação de pessoa cujo nível de especialização a recomende para a causa; 2º - o exame da oportunidade e da conveniência de efetuar tal contratação compete ao administrador, a quem cabe analisar e decidir, diante da situação concreta de cada caso, se deve promover a contratação de profissional cujos conhecimentos, renome ou grau de especialização sejam essenciais para a defesa do interesse público que se lhe cabe resguardar, e que não encontrem paralelo entre os advogados do quadro de pessoal da entidade sob sua responsabilidade; 3º - a contratação deve ser feita entre advogados pré-qualificados como os mais aptos a prestar os serviços especializados que se pretende obter; 4º - a contratação deve ser celebrada estritamente para prestação de serviço específico e singular, não se justificando portanto firmar contratos da espécie visando à prestação de tais serviços `de forma continuada'". (grifei) Atente-se para o fato, como o fez o Ministro Carlos Átila em seu percuciente Voto, de que, embora o diploma legal vigente à época em que os fatos ocorreram não fosse ainda a Lei 8.666/93, as análises então efetuadas permanecem válidas, pois os dispositivos do Decreto-lei nº 2.300/86 que então regulavam a matéria, diferem pouco dos artigos com o qual o atual estatuto das licitações passou

7 a disciplinar a mesma matéria, no que interessa ao caso sob exame. Pelo exposto, na linha adotada nos precedentes invocados, voto por que seja adotada a Decisão que submeto a este E. Plenário. Decisão: O Tribunal, por seu Plenário, ao acolher as conclusões do Relator, DECIDE: 1 - fixar a data de como termo final do prazo para que a Escola Técnica Federal de Química no Estado do Rio de Janeiro suspenda, salvo na hipótese de superveniência de norma legal autorizadora, o exercício de cargos de direção e funções gratificadas por professores submetidos ao regime de Dedicação Exclusiva, nos termos da Decisão nº 503/94, referente ao TC /92-3, Ata nº 37/94, Plenário, Sessão de 03/08/94; 2 - determinar à Escola Técnica Federal de Química/RJ que: evite a prática de empenho "a posteriori", de acordo com o parágrafo 2º do art. 60 da Lei nº 4.320/64; atente para o disposto na Lei nº 8.666/93 e alteração posterior, quando da realização de licitações para prestação de serviços médico-hospitalares; observe o número mínimo de horas-aulas exigido pela Portaria nº 475-MEC/87, art. 10, parágrafo 3º para a concessão da Gratificação de Regência de Classe; observe o contido na Lei 8.112/90, quanto à cessão de servidores para outro órgão ou entidade dos poderes da União, dos Estados ou do Distrito Federal; observe os preceitos da Lei nº 8.666/93 quando na contratação de serviços advocatícios for verificada a impossibilidade de competição, promovendo a pré-qualificação dos profissionais, aptos à prestação dos serviços que se deseja contratar, e adote sistemática objetiva e imparcial de distribuição das causas entre os interessados pré-qualificados, de forma a resguardar o respeito aos princípios da publicidade e da igualdade; e 3 - determinar a juntada do presente processo à prestação de contas da entidade - exercício de 1992, para que sejam examinadas em conjunto e em confronto. Indexação:

8 Inspeção Ordinária; Escola Técnica Federal de Química do Rio de Janeiro; Pessoal; Instituição Federal de Ensino; Assessoramento Jurídico; Professor; RETIDE; Acumulação de Cargos; Cargo em Comissão; Gratificação de Regência; Cessão de Pessoal; Contrato; Prazo; Magistério; Professor;