O LÚDICO NA APRENDIZAGEM: CANTIGAS INFANTIS E SUA CONTRIBUIÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS
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- Mirella Natal Borba
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1 O LÚDICO NA APRENDIZAGEM: CANTIGAS INFANTIS E SUA CONTRIBUIÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS Elisângela da Silva França -Professora da Rede Estadual/MT COEDUC/UNEMAT Joeli Auxiliadora França Ramos -Professora da Rede Estadual/MT Este texto apresenta um projeto de pesquisa educacional em andamento, com início em abril previsto para concluir em dezembro de Tem como tema de estudo e intervenção, a cultura infantil na compreensão do jogo e da ludicidade, como eixo do processo de ensino-aprendizagem, atendendo crianças dos dois primeiros anos do primeiro ciclo da Educação Básica, realizado em Cáceres-MT. Como expressão do processo de colonização português, as cantigas de roda são uma importante memória da cultura lúdica do povo brasileiro e trazem em si o lugar e pertence da criança e do adulto. A cultura infantil é privilegiada pelas cantigas de roda, uma vez que estas são, além de possibilidades do desenvolvimento da linguagem corporal, importantes instrumentos de trabalho para o desenvolvimento da leitura e escrita. Como expressão da fase atual da pesquisa, com contribuições dos estudos e das estratégias metodológicas utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa. PALAVRAS- CHAVE: Ludicidade, Cantigas de Roda, Crianças. O trabalho a ser apresentado teve início em abril e previsão para concluir em dezembro de Tem como tema de estudo e intervenção, a cultura infantil na compreensão do jogo e da ludicidade, como eixo do processo de ensino-aprendizagem, atendendo crianças dos dois primeiros anos do primeiro ciclo da Educação Básica, realizado em Cáceres-MT. Caracteriza-se como um projeto de pesquisa-ação construído pelo coletivo de professores, equipe pedagógica e crianças da Educação Básica, da primeira e segunda fase do primeiro ciclo da Escola Estadual Desembargador Gabriel Pinto de Arruda em Cáceres, MT. Tem como objetivo compreender a significativa contribuição das cantigas tradicionais infantis para a formação pedagógica no desenvolvimento infantil e para o processo de ensino-aprendizagem na alfabetização. Possibilitar nesta fase do desenvolvimento, o acesso ao acervo cultural evidenciado nas cantigas, uma vez que, dinamizam as aulas, tornando-as mais agradáveis e possibilitam aos alunos que se expressem e transformem-se em personagens das histórias nelas identificadas, com alegria e prazer. Para isso, tais cantigas são cantaroladas inúmeras vezes pelos alunos até que todos conheçam a letra e a melodia. As cantigas são individualmente trabalhadas,
2 interpretadas e organizadas em cartazes que permanecerão anexados às paredes das salas, e este acervo tende a aumentar na medida em que são trabalhadas. O objetivo deste acervo é facilitar o desenvolvimento das futuras atividades de leitura, escrita e interpretação de textos. O educando por sua vez, ao compreender e reconhecer a seqüência da cantiga e sua leitura está apto a realizar tais atividades. Ainda que este não leia fluentemente, reconhece a melodia, entonação e letra, identificando e decodificando as palavras automaticamente. Os alunos são envolvidos no contexto da cantiga, isto é, na compreensão da letra, no significado das palavras, sucessivamente das frases, para finalmente compreenderem a cantiga como um todo. Tendo em vista que as cantigas de roda foram introduzidas no Brasil pelos Portugueses, durante muito tempo as cantigas ou as brincadeiras de roda foram as principais atividades lúdicas das crianças. Partimos do pressuposto de que a criança aprende melhor quando tem domínio e conhecimento do assunto com o qual a escola busca introduzi-la no processo de alfabetização. Quando nos referimos às cantigas buscamos compreende-las no universo lúdico infantil, e recorre a elas considerando sua contribuição para uma aprendizagem ativa, no sentido de que a criança não se submete as imagens, mas aprende a manipulá-las e transformá-las. Essa cultura lúdica não é composta apenas pelas brincadeiras e manipulações, mas ela é também simbólica, suporte de representações. O fato de contar uma história, cantar uma cantiga, dramatizar, insere-se os saberes escolares às atividades que compõe o universo lúdico infantil e que possibilitam ao aluno imaginar e criar novos conceitos de valores. Por isso, os alunos demonstram maior afinidade e interesse pelo trabalho desenvolvido em sala de aula. A Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedagógico expõe que: Na Educação infantil, a música ao ser trabalhada, valida o conhecimento da proposta das áreas da música e movimento atendendo os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Além disso, por atender os referenciais das crianças desta faixa etária, possibilita um aprendizado formal, de maneira informal e prazerosa. No Ensino Fundamental, as cantigas de roda e música infantil envolvem os alunos com aspectos sociais e culturais pertinentes,
3 favorecendo a ampliação do volume da escrita, dentre outras competências. (CENAP, 2007, p. 4). Com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), é fundamental que educadores articulem sua prática pedagógica de modo a dialogar com a cultura popular vigente, para alcançar os objetivos propostos em cada área do conhecimento, situação esta, que valoriza ainda mais o trabalho com as cantigas de roda tradicionais. A criança, um ser social dotado de capacidades afetivas, cognitivas e emocionais, possui o desejo de estar próxima de outras e interagir com o ambiente de modo a compreendê-lo e influenciá-lo. Ampliando suas relações sociais, interações e forma de comunicação, as crianças sentem-se cada vez mais seguras para se expressar, podendo aprender, nas trocas de sociais com diferentes crianças e adultos cujas percepções e compreensões da realidade também são diversas. (BRASIL, 1998, p. 21). A capacidade de memorização da criança torna-se visível através das cantigas e assim, possibilita-nos atrair a atenção da criança para outros temas, com a mesma intensidade e entusiasmo. Afinal, quem se lembra da melodia e da letra de Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar...? Acreditamos que esses versos singelos e significativos ficaram gravados por anos e anos na memória de dos nós brasileiros que tivemos a chance de conhecê-los. E se cantássemos O cravo brigou com a rosa? Que tal O sapo não lava o pé? Ou ainda, A linda rosa juvenil? Estes são pequenos exemplos de cantigas que foram vivenciadas a partir da voz doce e suave de nossas mães ou avós, das professoras que atuam na educação de crianças (6 e 7 anos) do primeiro e segundo ano do Ensino Fundamental e que compõe um rico acervo cultural brasileiro. Embora estejamos trabalhando com as séries do Ensino Fundamental, estaremos neste trabalho recorrendo as orientações curriculares e também aos teóricos que fundamentam a Educação Infantil, por considerarmos que muito recentemente as crianças de seis anos passaram de um nível de ensino para outro, e ainda são relevantes as orientações da Educação Infantil, para pensarmos o primeiro ano do Ensino Fundamental. Esta referência se faz necessária em virtude dos documentos orientadores
4 que na Educação Infantil tratarem da especificidade do jogo e do lúdico no desenvolvimento da criança. As cantigas de roda que oportunizaram o surgimento de inúmeras brincadeiras e que, ao mesmo tempo, ajudaram a melhorar a expressão e a comunicação, nos ajudam a entender um pouco do lugar onde se vive ou mesmo a escrever e ler com maior precisão e qualidade. E as novas gerações de famílias e professores, tem conhecimento dessas cantigas? Será que as nossas escolas de educação infantil e ensino fundamental ainda utilizam tais músicas? Quantas dessas canções são ainda cantaroladas para e pelas nossas crianças em sala de aula? Essas cantigas e muitas outras que nos foram transmitidas oralmente, através de inúmeras gerações, são formas inteligentes que a sabedoria humana inventou para nos prepararmos para a vida adulta. Tratam de temas tão complexos e belos, falam de amor, de disputa, de trabalho, de tristezas e de tudo que a criança enfrentará no futuro, queiram seus pais ou não. São experiências de vida que nem o mais sofisticado brinquedo eletrônico pode proporcionar. (NOGUEIRA, 2003, p. 6). Por isso esse saber caracteriza-se em saber fazer. É o intitulado jogo do saber. O papel da escola torna-se semelhante ao da escada, onde cada degrau prepara para o degrau seguinte e assim sucessivamente. Os alunos são iniciados nas atividades primeiramente por meio das palavras, logo em seguida pelas frases e finalmente logo estão lendo toda a letra da cantiga. Por isso, falar do jogo do saber é tentar recuperar o caráter lúdico do processo ensino/aprendizagem. Dessa forma, nunca é demais lembrar que a palavra ludos em sentido próprio, significa jogo, divertimento e, por extensão, escola, aula. A criança vive mergulhada em um ambiente carregado de sons. Logo, quando bebê já passa a ter contato com os diversos deles e passa a se relacionar com o meio com sua comunicação lúdica. À medida que se vai socializando, interioriza e assimila a linguagem e cultura do seu grupo social, além das palavras, evidencia também a sua entonação, melodia, sotaque, ritmo, e finalmente seus sentidos. Para Huizinga (1990), O que a linguagem poética faz é essencialmente jogar com as palavras. Ordena-as de maneira harmoniosa, e injeta mistério em cada uma delas, de modo tal que cada imagem passa a encerrar a solução de um enigma (1990, p.149).
5 Vejamos a letra da música: O Cravo brigou com a Rosa O Cravo brigou com a Rosa, Debaixo de uma sacada, O Cravo saiu ferido, E a Rosa despedaçada. O Cravo ficou doente, A Rosa foi visitar, O Cravo teve um desmaio, A Rosa pôs-se a chorar. Ao analisarmos esta cantiga de roda, percebemos que o próprio texto, isto é a letra da música, mostra-nos uma característica do desenvolvimento infantil que é o animismo infantil. Atribuem vida a seres inanimados, passam a conceber as coisas como vivas e dotadas de intenção, sendo esta uma das particularidades da criança préoperacional (classificação definida por Emilia Ferreiro e Ana Teberosk, sobre as fases pela qual passam as crianças no processo de alfabetização, pautando-se na teoria piagetiana). Brincando e cantando a criança passa a compreender o mundo em que vive, o que lhe abre inúmeras possibilidades de tornar-se um adulto equilibrado, consciente, e seguro diante de certas limitações. Tendo em vista que a referida pesquisa encontra-se ainda em sua fase inicial, foi possível compreender até o presente momento que a ludicidade oferece à criança a possibilidade de criar, recriar, e esquecer o distanciamento existente muitas vezes entre ela e seus colegas, distanciamento em relação aos adultos, passando a construir sua inteligência e seu amadurecimento social e cultural. Através do lúdico a criança interioriza conceitos, demonstra anseios e desejos escondidos, sua visão de mundo e busca compreender as atitudes dos adultos através das brincadeiras lúdicas. Passa a conscientizar-se quanto a suas próprias responsabilidades diante dos acontecimentos. Na cantiga, a criança busca desenvolver seus pensamentos em relação ao que está sendo cantado, argumenta sobre o que é dito, proporcionando o processo da aprendizagem da leitura e da escrita.
6 A ludicidade torna-se então uma ferramenta indispensável, onde movimentos, como dar as mãos, cantar e ouvir, movimentando-se de diferentes formas, conforme propõe a representação das letras das cantigas, incentiva o desenvolvimento infantil, promovendo a valorização das relações interpessoais, o respeito mútuo e a socialização, colaborando para a conscientização do espírito de grupo. O brincar é condição saudável de todo processo evolutivo neuropsicológico, ele manifesta a forma como a criança está organizando a realidade e lidando com suas possibilidades, limitações e conflitos, já que muitas vezes, ela não sabe, ou não pode falar a respeito deles. Introduz a criança de forma gradativa, prazerosa e eficiente ao universo sócio-histórico-cultural, abre caminho e embasa o processo de ensino aprendizagem favorecendo a construção da reflexão da autonomia e da criatividade (OLIVEIRA, 2000, p.52). Quando utilizamos o termo brincar conduzimos a possível reflexão de que a cantiga utilizada em sala de aula é utilizada de forma lúdica e criativa, o que nos conduz a idéia de brincar, do movimentar-se, do expressar-se como criança. A infância deve ser pensada como sendo um momento de apropriação de imagens e representações diversas de modo que a brincadeira torna-se um processo de apropriação e produção cultural. Quando se fala em desenvolvimento, certamente pensamos nas potencialidades, daquilo que a criança já traz e do que o adulto proporciona como espaço educativo no qual ela transforma a realidade na qual se insere, desenvolvendo suas habilidades e competências, talentos capazes de lhe proporcionar sucesso e felicidade no futuro. Os primeiros resultados já são expressos na aprendizagem das crianças, na identificação que têm com a escola e na forma de organização do espaço pedagógico. Ao brincar e cantar suas cantigas, a criança enriquece seu vocabulário, expressa-se com criatividade os movimentos de imitação e dramatização do imaginário infantil, construindo referências novas sobre si e sobre os colegas, assim como interfere no meio social com mais segurança.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Educação e do desporto, Secretaria da Educação Fundamental Referência Curricular Nacional para a Educação Infantil. 3 V. Brasília : MEC/SEF COORDENADORIA DE ENSINO E APOIO PEDAGÓGICO (CENAP). Cantigas de Roda e música infantil: Educação Infantil/ Ciclos de Aprendizagem I e II - EJA. Ed. Atualizada de Salvador : CENAP, HUIZINGA, J.. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. Trad. João Paulo Monteiro. São Paulo : Perspectiva, NOGUEIRA, M. A. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez Acesso em 20 de julho de 2009, no sítio OLIVEIRA, B. de V. O brincar e a criança de zero a seis anos. Petrópolis : Vozes, 2000.
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