UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM PSICOBIOLOGIA

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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM PSICOBIOLOGIA Analise da Escala de Inteligência Emocional Schutte em jovens estudantes e idosos Elisângela Ferreira da Silva Orientador: Dr José Aparecido Da Silva Dissertação apresentada a Faculdade de Filosofia Ciência e Letras de Ribeirão Preto/USP, como parte das exigências para obtenção do título de mestre em Ciências, área: Psicobiologia Ribeirão Preto 2007

2 FICHA CATALOGRÁFICA Silva, Elisângela Ferreira 53 p. : il. ; 30cm Análise da Escala de Inteligência Emocional Schutte em jovens estudantes e idosos. Ribeirão Preto, Dissertação de Mestrado, apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP Área de concentração: Psicobiologia. Orientador: Da Silva, José Aparecido. 1. Inteligência Emocional. 2. Analise de Componentes Principais. 3. Age

3 DEDICATÓRIA Dedico esta dissertação aos meus pais, irmãos e namorado pelo amor e compreensão, por fazerem-se presentes mesmo quando longe fisicamente. Muito Obrigada Amo vocês

4 AGRADECIMENTOS A Deus pela vida. Ao Professores Dr. José Aparecido da Silva por todo conhecimento e atenção a mim disponibilizado. As minhas companheiras de república Vivian, com sua calma admirável, e Clarissa, com sua rebeldia pelos momentos agradáveis, pelas conversas e desabafos. Aos colegas de laboratório Alessandra, Júnior, Catarina, Claudinha e Kátia pelos momentos de discussão, risos e fúrias, onde com certeza aprendi muito. A Hélle Nice pela amizade e força em todos os momentos. Aos companheiros de ingresso no laboratório Márcio e Paola pela amizade e companheirismo. Espero que essa amizade ultrapasse a barreira da Faculdade. A Regina por toda a ajuda e pela amizade lhe adoro. Ao Igor pelo suporte técnico e momentos de descontração.

5 Sumário Lista de figura...i Lista de tabela...ii Resumo...iii Abstract...iv Introdução...01 Definições de Inteligência Emocional...02 Modelo de Inteligência emocional de Mayer e Salovey...05 Evidências Neurológicas para existência de uma Inteligência Emocional...08 Estudos Relacionados em Inteligência Emocional e outras variáveis...11 Instrumentos de mensuração da Inteligência emocional...13 Escala de Inteligência Emocional Schutte...16 Inteligência Emocional e Idade...19 Objetivos...22 Justificativa...22 Matérias e Métodos...24 Resultados...26 Discussão...45 Conclusões...46 Referências Bibliográficas...47 Anexos...53

6 Lista de Figura Figura 1: Gráficos de freqüência de cada item...26 Figura 2: Gráfico de Sedimentação (Scree Plot)...36 i

7 Lista de tabela Tabela1: Medianas e Percentis...31 Tabela 2: Comunalidades...33 Tabela 3: Total de Variância Explicada...34 Tabela 4: Matriz de componentes obtida pelo método de Componentes Principais e Rotação Varimax...35 Tabela 5: Total de variância explicada...37 Tabela 6: Matriz de componentes obtida pelo método de extração de componentes principais e rotação varimax...38 Tabela 7: Alfas de cada componente principal...40 ii

8 Resumo A inteligência emocional foi definida por Mayer e Salovey em 1990, como a capacidade de perceber, administrar e utilizar as emoções. O termo se popularizou com a publicação do best-seller de Golemann em 1995, contudo passou a ser duramente criticado em relação a sua validade científica. Na busca de consolidar os conhecimentos sobre inteligência emocional, vários instrumentos foram criados a fim de mensurá-la. Neste estudo procurou-se investigar a diferença entre a inteligência emocional de jovens e idosos, através da escala de auto-relato de inteligência emocional de Schutte e se a estrutura da mesma no Brasil é similar às estruturas de análise encontradas em outros países. Para tanto, foi utilizada a Escala de Inteligência emocional criada por Nicola S. Schutte, John M. Malouff, Lena E. Hall, Donald J. Haggerty, Joan T. Cooper, Charles J. Golden e Liane Dornheim (1998). O grupo de voluntários jovens da pesquisa tinha idades entre 17 anos a 33 anos e eram estudantes da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto ou do curso pré-vestibular na Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto (Universidade de São Paulo); o grupo de idosos da pesquisa tinha entre 49 e 79 anos e faziam parte dos grupos de terceira idade do CEFER. Foi feita análise da consistência interna da escala a qual se mostrou adequada através dos cálculos do alfa de Cronbach. Além disso, através do método de extração dos componentes principais, pôde-se verificar a existência de cinco componentes principias. Quanto à comparação entre os grupos de jovens e idosos podemos verificar que o grupo de idosos demonstrou melhor performance, que os jovens. Palavras Chaves: Inteligência emocional, análise de componentes principais, iii

9 Abstract Emotional intelligence was defined by Mayer and Salovey in 1990, as the capacity to perceive, to manage and to use emotions. The term was popularized with the publication of the bestseller of Golemann in 1995, however it was hardly criticized in relation to its scientific validity. With the purpose of consolidate the knowledge on emotional intelligence; some instruments had been created in order to measure it. In this study, it was intended to investigate the difference in the emotional intelligence of young and elderly people, through the Emotional Self-Relate Scale Schutte and if the structure of this scale in Brazil is similar to the structures of analyses found in others countries. Thus, the Emotional Intelligence Scale created by Nicola S. Schutte, John M. Malouff, Lena And Hall, Donald J. Haggerty, Joan T. Cooper, Charles J. Golden and Liane Dornheim was used (1998). The group of young volunteers of the research had ages between 17 and 33 years old and they were students of the Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto or preparatory course in the Faculdade de Econômia e Administração de Ribeirão Preto (University of São Paulo); the group of elderly volunteers of the research had between 49 and 79 years old and they were part of the groups of third age of the CEFER. The analyses of the internal consistency of the scale showed adequate value of the Cronbach s alfa. Moreover, through the method of extraction of the principal components, it can be verified the existence five principal components. Regarding the comparison between elderly and young groups, we can verify that the elderly demonstrated better performance than young groups. Key words: Emotional Intelligence, Schutte Scale, Principal components analysis iv

10 Introdução O interesse dos seres humanos na origem e natureza das habilidades intelectuais vem desde os antigos filósofos e muitas teorias a respeito da inteligência foram formuladas. Muitas destas teorias focavam as habilidades acadêmicas e defenderam a idéia de que há apenas um tipo de inteligência. Em contrapartida, E.L. Thorndike (1920) cunhou pela primeira vez o termo inteligência social, essa teoria foi a primeira a enfocar nas habilidades intelectuais aspectos de relacionamento humano, para ele a inteligência social era a habilidade de compreender e controlar os povos, e de acoplá-los em interações sociais adaptáveis, ou em suas palavras "pela inteligência social dá-se significado a habilidade de compreender, e controlar de homens e mulheres, meninos e meninas a agir sabiamente em relações humanas. Howard Gardner (1994) propôs a teoria das inteligências múltiplas, na qual também são enfocadas outras habilidades, segundo sua teoria existiria a princípio sete tipos de inteligências: lógico-matemática, verbal-lingüística, visual-espacial, musical, cinestésica-corporal, interpessoal e intrapessoal. Em um segundo momento, Gardner adicionou mais dois tipos de inteligência: espiritual e naturalística. As inteligências interpessoal e intrapessoal são mais relacionadas com a idéia da inteligência emocional, isto porque, a inteligência interpessoal é a habilidade de compreender e interagir satisfatoriamente com outras pessoas; por outro lado, a inteligência intrapessoal é a capacidade de discriminar e compreender os próprios sentimentos. Somente em 1985 o termo inteligência emocional surgiu nos meios acadêmicos no título da tese de doutorado de Wayne Leon Payne. Contudo, após cinco anos, em 1990, Mayer e Salovey, dois professores americanos, das Universidades de New 1

11 Hampshire e Yale, respectivamente, publicaram dois artigos em jornais e testes científicos para verificar as diferenças entre as habilidades pessoais na área das emoções. O termo inteligência emocional popularizou-se com o jornalista Daniel Goleman, no lançamento do best-seller Inteligência Emocional de Após a publicação do livro o tema inteligência emocional ganhou espaço em revistas e na mídia, entretanto Goleman recebeu muitas críticas, visto que o livro apesar de conter muitas informações, tratou o tema com certo entusiasmo, chegando a fazer afirmações que ainda não são comprovadas cientificamente. Atualmente pesquisadores científicos têm desenvolvido estudos a respeito do tema, como David Caruso e Peter Salovey ambos da Universidade de Yale e Mayer da Universidade de New Hampshire. Esse último pesquisador possui mais de 30 publicações sobre inteligência emocional desde a década de 90 em livros e revistas científicas conceituadas como a Personality and Individual Differences e Intelligence. Contudo a vertente mais popular do tema inteligência emocional, representada por Goleman, ainda tem uma ampla divulgação e tem gerado muita discussão entre os cientistas a respeito da existência ou não deste tipo de inteligência. Definições de Inteligência Emocional Como mencionado acima, existem vários estudos sobre a inteligência emocional, por conseguinte, existem muitas discussões a respeito da natureza e definição de inteligência emocional. John Mayer e outros pesquisadores acreditam que a inteligência emocional é uma habilidade intelectual e que seu estudo deve ser feito de forma a medir a 2

12 capacidade de perceber e raciocinar utilizando as emoções; contudo há autores, como Bar-On, os quais creditam que a inteligência emocional é um traço de personalidade, que apresenta certa correlação com estudos envolvendo personalidade e instrumentos que mensuram esse atributo, por outro lado. Para Hedlund e Sternberg (2002) a primeira posição é mais restrita, na qual esse atributo seria a capacidade cognitva ou aptidões distintas de personalidade, que será discutida através da teoria de Mayer e Salovey. E a segunda posição incluiu quase tudo que está associado com o sucesso, como assertividade e controle de impulsos, as quais não são habilidades cognitvas. Esse modelo será explicado através de Golemann, entretanto, é o modelo mais criticado no meio científico, exatamente por incluir quase tudo relacionado ao sucesso. Segundo Hedlund e Stenberg, há ainda o modelo misto, o qual mescla aptidões mentais, como a solução de problemas; e traços de personalidade, como o otimismo, esse modelo é representado pela teoria de inteligência emocional de Bar-On (2002). Será apresentada a seguir uma breve descrição de cada modelo e após, discutiremos mais profundamente o modelo de Mayer e Salovey, o qual fundamentou a criação da escala que será utilizada no presente estudo. Mayer e Salovey (1990) foram os primeiros a definir inteligência emocional. Eles foram influenciados pelos estudos das inteligências múltiplas de Gardner (1994) e pela teoria de Weschler (1955), as quais defendem a existência várias habilidades específicas, que podem ou não estar relacionadas dependendo do autor. Mayer e Salovey utilizaram-se ainda, da concepção de que emoções fazem parte da esfera afetiva do funcionamento mental e de que cada sinal fisiológico das emoções comunica uma informação da avaliação individual e reações motivacionais para o relacionamento. (Mayer & Salovey 1997; Mayer, Salovey & Caruso, 2004). 3

13 Mayer e Salovey(1990) definiram inteligência emocional como sendo a habilidade de perceber emoções; para alcançar e gerar emoções ajudando ao pensamento e compreensão de emoções e o conhecimento emocional; e para regular reflexivamente emoções para promover o crescimento emocional e intelectual. Nesta definição aparecem três dimensões do conceito: 1. Perceber ou detectar emoções, 2. usar emoções para ajudar ao pensamento e 3. controlam emoções. Através de pesquisas e estudos, Mayer e Salovey (2005) redefiniram inteligência emocional como o potencial para sentir, usar, comunicar, reconhecer, relembrar, aprender, administrar e entender as emoções. Já Goleman (1995), responsável pela grande popularização da inteligência emocional, definiu o conceito de inteligência emocional como a habilidade de autocontrole, persistência e de automotivação. Para Goleman seu modelo continha as seguintes áreas práticas: conhecer emoções, administrar emoções, motivar-se a si próprio, reconhecer emoções nos outros e outras habilidades mais específicas. Outra definição de grande impacto é a do pesquisador Bar-On (1997), o qual criou o Inventário de Inteligência Emocional Bar-On, para ele "a inteligência emocional é uma disposição de potencialidades não cognitivas, competências, e habilidades que influenciam a habilidade em lidar com as demandas e as pressões ambientais". O inventário de Quoeficiente Emocional (EQ-i) criado por ele avalia cinco áreas: Intrapessoal (consciência), habilidades interpessoal (relacionamentos), administração do stress, adaptabilidade (tolerância ao stress), e humor geral (felicidade). Para Mayer & Salovey (1990) a inteligência emocional é uma habilidade intelectual de raciocinar sobre emoções, logo esses autores acreditam que inteligência emocional é uma habilidade. Por outro lado, nas definições de Goleman e Bar-On pode- 4

14 se perceber que a inteligência emocional é considerada não cognitiva, para esses autores a inteligência emocional é um traço de personalidade. O Modelo de Inteligência Emocional de Mayer e Salovey Nesta seção será apresentada de forma mais clara e detalhada a teoria de Inteligência Emocional de Mayer e Salovey (1990), pois, essa teoria, como já citamos, é a teoria a qual norteia os trabalhos de construção da escala de Inteligência Emocional Schutte a ser analisada neste trabalho. Como já foi dito neste trabalho Mayer e Salovey (1990) foram os pioneiros na definição de inteligência Emocional como a habilidade de perceber e avaliar emoções, administrar emoções e utilizar emoções. Contudo em 1997 Mayer e Salovey redefiniram a inteligência Emocional como a habilidade de perceber emoções; para alcançar e gerar emoções ajudando ao pensamento; para compreender emoções e o conhecimento emocional; e para regular reflexivamente emoções promovendo o crescimento emocional e intelectual. Dentro de cada subdivisão apresentada no modelo Mayer e Salovey (1990) foram descritas as habilidades relacionadas, desta forma a inteligência emocional tem três subdivisões: 1. perceber e avaliar emoções, 2. administrar emoções e 3.utilizar emoções Apresentaremos a seguir um conhecimento maior das habilidades envolvidas em cada um destas subdivisões: 1. Perceber ou detectar emoções: esta subdivisão contém por sua vez mais quatro subdivisões, as quais estão relacionadas com a habilidade de percepção a expressão acurada das emoções em si e nos outros; 5

15 A. Reconhecer as próprias emoções: habilidade para identificar as próprias emoções, estados físicos, sentimentos e pensamentos, descrevendo-as em palavras. B. Expressar de forma não verbal as próprias emoções: habilidade de comunicação dos sentimentos a outras pessoas através de expressão corporal. C. Reconhecer as emoções dos outros: habilidade de reconhecer dicas não verbais, que expressam as emoções de outras pessoas, tais como expressão facial, tom da voz. D. Empatia: habilidade de compreender as emoções de outras pessoas relacionando-as à própria experiência. 2. Administração das emoções: habilidade de analisar e compreender as emoções e utilizar esse conhecimento para controlar os sentimentos; A. Administração dos próprios estados emocionais: controle dos próprios estados emocionais, principalmente quando situações que geram emoções. B. Administração das emoções de outras pessoas: administrar as emoções de outras pessoas, principalmente quando em situações que geram emoções. 3. Utilização das emoções para promover crescimento emocional e intelectual; A. Planejamento flexível: habilidade de utilizar emoções para alcançar objetivos de vida, baseando as decisões em sentimentos sobre a lógica. B. Pensamento criativo: utilizar emoções para facilitar o pensamento. 6

16 C. Atenção dirigida à mudança de humor: interpretar emoções fortes usualmente negativas a luz de emoções positivas para compreender a si mesmo. D. Motivar-se através de emoções: utilizar emoções para motivar-se a perseguir um objetivo. Em 1997 Mayer e Salovey redefiniram inteligência emocional, como já foi citado anteriormente e desta ampliaram o leque de subdivisões da inteligência emocional para quatro: 1. Perceber a Expressar Emoções, 2. usar emoções para ajudar ao pensamento, 3. compreende as emoções e 4. administração de emoções. As quais apresentariam as seguintes subdivisões: 1. Percepção a expressão das emoções; A. Identificar a expressar estados emocionais. B. Identificar as emoções nos outros 2. Utilizar emoções para ajudar no pensamento; A. Priorizar emoções que levem os pensamentos produtivos. B. Gerar emoções que auxiliem o julgamento e a memória 3. Compreender as emoções; A. Habilidade para compreender emoções complexas e sentimentos simultâneos. B. Habilidade para compreender cadeias mudança de emoções. 4. Administração de emoções; A. Habilidade de estar aberto aos sentimentos. B. Habilidade de monitorar e controlar emoções para promover o crescimento emocional e intelectual. 7

17 Em sua definição de 1990 Mayer e Salovey descreveram mais detalhadamente as habilidades relacionadas à percepção das emoções, entretanto em 1997 sua redefinição deu um maior detalhamento à compreensão das emoções. Após realizar essa descrição da definição a ser utilizada nesse estudo, faz se necessário demonstrar as evidências neurológicas da existência da inteligência emocional, segundo os autores desta mesma definição. Evidências Neurológicas para existência de uma Inteligência Emocional Segundo Mayer (2002) as descobertas e a teoria formulada por António Damásio no livro o Erro de Descarte (1996) indicam a existência de uma inteligência emocional, desta forma será apresentada aqui uma síntese das descobertas e teorias encontradas no livro. Neste livro, Damásio começa estudando um famoso caso nos estudos de neurologia, o de Phineas Gage, um capataz da construção civil, que após um acidente sofreu uma lesão cerebral grave. Após a recuperação, Gage passou a apresentar erros de adequação no ambiente social, no planejamento e tomada de decisão para o futuro. Desta forma, Gage que era um ótimo empregado antes da lesão, não conseguiu se manter empregado após a lesão, entretanto suas habilidades intelectuais estavam aparentemente intactas, ou seja, habilidades numérica, verbal-lingüística, etc. Atualmente através de reconstituição computacional feita por Hanna Damásio conseguiu-se determinar o local exato da lesão no cérebro, assim ficou claro que a área pré-frontal ventromediana era a região lesada no caso de Gage. E através de um levantamento de outros pacientes mais atuais, António Damásio pode perceber que as alterações eram sempre as mesmas neste tipo de lesão. 8

18 Ficou determinado que lesões nesta região e áreas afins como a amígdala levam os pacientes a um comprometimento consistente tanto no planejamento e tomada de decisão como das emoções e sentimentos. Diante disto, Damásio criou uma teoria denominada a hipótese do marcadorsomático, segundo a qual ao vivenciarmos uma emoção, essa gera no organismo uma reação biológica, a qual é registrada pelo organismo e que frente a decisões em eventos futuros semelhantes é disparada levando o organismo a uma resposta mais adequada e evitando respostas que já tenham sido vivenciadas como desagradáveis. Para testar a hipótese do marcador somático Damásio e colaboradores submeteram pacientes com lesão pré-frontal a testes de solução de problema, através dos quais puderam verificar que essa habilidade estava preservada, contudo na busca de uma compreensão da influência da lesão na mudança da tomada de decisão sem afetar outras habilidades intelectuais e buscando comprovar a hipótese do marcador somático Damásio e colaboradores submeteram seus pacientes lesionados a um teste que ficou conhecido como teste do baralho. O teste do baralho consistiu em submeter os pacientes a um jogo de cartas, no qual os pacientes podem comprar as cartas de quatro baralhos diferentes, entretanto dois baralhos A e B davam um ganho fictício maior, contudo em longo prazo comprando destes baralhos os pacientes teriam perdas maiores que o ganho. Por outro lado, comprando dos baralhos C e D o ganho era menor, contudo a perda não superava o ganho e em longo prazo os pacientes tinham algum ganho, o que não acontecia com os baralhos A e B. É importante lembrar que apenas os experimentadores sabiam quais eram os baralhos que trariam o ganho maior ou menor futuro. Quando confrontados os dados de pacientes com lesão pré-frontal e dados de pessoas saudáveis pode-se verificar, que os pacientes lesionados compravam mais dos 9

19 baralhos com maior risco de perda e as pessoas normais dos baralhos com menor risco de perda, contudo quando questionado a respeito do que acreditavam que estava acontecendo em relação aos baralhos pessoas com lesão pré-frontal conseguiam dizer qual eram os baralhos mais arriscados, todavia não paravam de comprar cartas deles, alegando que gostariam de ver se alterava a regra de reforçamento ou davam desculpas semelhantes a esta. Realizando testes com aparelhos para medir a resposta galvânica da pele, ou seja, condução elétrica, foi verificado que após algum tempo de exposição ao jogo e as contingências de reforçamento, pessoas normais apresentavam um aumento na condutância da pele antes de comprarem dos baralhos mais arriscados; o que ocorre por conta do aumento de suor, que por sua vez aumenta da condutância elétrica, pois contem eletrólitos. Por outro lado, pessoas com lesão pré-frontal não demonstravam tal alteração. Desta forma os autores concluíram que a emoção gerada frente à perda da compra aos baralhos mais arriscados (punição) levava o organismo a gerar um sinal biológico de previsão em evento semelhante futuro, o que não ocorria com pessoas com lesões nas áreas pré-frontais. A inteligência Emocional como definida por Mayer et al(1990) englobariam os aspectos da percepção e compreensão das emoções, as quais segundo o modelo do marcador somático de Damásio causam alterações fisiológicas, que formam o marcador e contribuem para avaliação e tomada de decisão, as quais compreenderiam as duas dimensões restantes da inteligência emocional definida por Mayer et al (1990): utilizar e administrar emoções. 10

20 Estudos Relacionando Inteligência Emocional e outras Variáveis Além dos estudos sobre o conceito da inteligência emocional e sua mensuração há também vários estudos relacionando a inteligência emocional e bem estar subjetivo, estresse, desempenho no trabalho e na escola, alexitimia, entre outros. Em seu artigo Austin, Saklofske e Egan (2005) encontraram através de um estudo com 204 canadenses e 500 escoceses, que a inteligência emocional esta negativamente relacionada com consumo de álcool e a alexitimia; e positivamente relacionado com a satisfação e qualidade de vida e com o grupo social. Também neste estudo, Austin e seus colaboradores verificaram que a inteligência emocional esta mais fortemente associada à personalidade do que ao grupo social, apesar de também apresentar associação com esta última. Também nesta linha Palmer, Donaldson e Stough (2002) realizaram um trabalho relacionando a inteligência emocional e a satisfação com a vida. Os autores avaliaram 107 participantes, os quais responderam a o MSCEIT de Mayer e Salovey (1995) e a escala de satisfação com a vida SWLS de J. Pers.(1985), foi encontrada relação positiva apenas para o item clareza das emoções e satisfação de vida. Em 2002 Nicolas Schutte também escreveu em estudo relacionando o bem estar subjetivo e a inteligência emocional utilizando a Escala de Inteligência Emocional, neste estudo Schutte(1998) et al encontraram que a inteligência emocional elevada esta relacionada positivamente com auto-estima, um componente do bem estar subjetivo. Em seu artigo Ciarrochi, Deane, e Anderson (2002) afirmam que a inteligência emocional pode contribuir para a compreensão da relação entre desesperança, depressão e ideação suicida. Neste estudo participaram 302 estudantes universitários, os quais 11

21 foram submetidos às escalas de estresse de vida e auto-relato da inteligência emocional e um teste de saúde mental. A análise de regressão dos dados obtidos revelou que o estresse estava associado ao auto-relato de depressão, desesperança e ideação suicida para pessoas com alta percepção emocional quando comparados com outros, e com ideação suicida naqueles com baixa capacidade de manejo das emoções dos outros. Os autores encontrar através dos dados que ambas as percepções emocionais e capacidade de manejo das emoções dos outros mostram se estatisticamente diferentes para outras medidas relevantes, sugerindo que inteligência emocional se distinguiu do conceito de bem estar subjetivo importante para relação entre estresse e saúde mental. Gohm, Corser e Dalsky (2005) fizeram uma pesquisa com 158 estudantes do primeiro ano relacionando a inteligência emocional e o estresse (sentimentos da inabilidade controlar eventos de vida), os achados indicaram que para alguns estudantes havia uma correlação positiva entre os itens, entretanto para outros estudantes essa relação não era significativa. Há também muitos trabalhos na área das organizações como o estudo de Freshman e Rubino (2002), neste artigo os autores discorrem sobre a importância da inteligência emocional para profissionais da área de saúde. Eles concluem que elementos da inteligência emocional como autoconsciência, auto-regulação e automotivação são os de maior importância no desempenho das atividades de cuidado em saúde. Nesta mesma linha há também um artigo teórico de Pardini (2002), no qual a autora aborda a importância do desenvolvimento da inteligência emocional dos alunos, frente a outras dimensões das escalas, as quais se têm dado muita importância como à biblioteca e outras tecnologias. 12

22 No Brasil alguns pesquisadores também vêm desenvolvendo pesquisas com inteligência emocional. Em seu estudo Bueno e Primi (2003) investigaram variáveis como perceber emoções em expressões faciais, músicas, quadros e relatos pessoais (histórias), as quais segundo os autores estão relacionadas com a inteligência emocional e relacionando-as a variáveis como personalidade (16FP) e inteligência (BPR-5) buscando dessa forma a validade discriminante e validade convergente. Esses autores encontraram correlação significativa entre as variáveis de inteligência emocional e traço de praticidade, com o estilo de resposta administração da imagem, e com raciocínio espacial. Foram voluntários nessa pesquisa 76 alunos de psicologia com idades entre 21 e 50 anos. Instrumentos de mensuração da Inteligência emocional Como este estudo também tem por objetivo o estudo da Escala de Inteligência Emocional Schutte foi realizada neste capítulo uma síntese dos instrumentos de mensuração da inteligência emocional existentes. Com base nas definições já citadas de inteligência emocional e postas às evidências fisiológicas da existência de uma inteligência emocional, fazem-se necessárias construções de instrumentos psicométricos capazes de detectar e quantificar a Inteligência Emocional. Os testes de Inteligência Emocional em estudo, que veremos a seguir, são recentes e como o próprio construto de inteligência emocional é também recente, muitas pesquisas estão sendo realizadas e muitas discussões têm sido apresentadas. Os instrumentos para medir a inteligência emocional podem ser classificados em dois tipos de acordo com a classificação empregada por Tett e Fox(2006) os autores da 13

23 área de estudo da inteligência emocional, que desenvolveram escalas que seguem a definição de inteligência Emocional como uma habilidade cognitva avaliável e treinável compreende que a melhor forma de medir este atributo é através de questões de certo ou errado, contudo autores que acreditam em definições de inteligência emocional como uma inclinação ou propensão estável utiliza escalas de auto-relato. Serão apresentados a seguir os instrumentos mais conhecidos em estudo: Inventário de Quoeficiente Emocional EQ-I (1996) foi inventado pelo psicólogo Reuven Bar-On e testado em mais de indivíduos. O inventário é um auto-relato, que consiste em 133 itens breves divididos em 5 escalas e 15 sub-escalas. Os participantes respondem a cada item em uma escala Likert de cinco pontos, desde muito raro ou não ocorre comigo até muito freqüente ou freqüente para mim. As escalas e sub-escalas são: - Intrapessoal (auto-respeito, autoconsciência emocional, assertividade, independência e auto-realização), - Interpessoal (compreensão empatia, responsabilidade social e relacionamento interpessoal), - Adaptabilidade (compreendendo teste de realidade, flexibilidade e resolução de problemas), - Administração do estresse (compreendendo tolerância ao estresse, controle de impulsos), - Humor Geral (otimismo, felicidade). Segundo Bar-On (2002) o EQ-I apresenta intercorrelação média entre as 15 sub escalas de 0,50, consistência interna média das escalas de 0,76; o coeficiente de confiabilidade da estabilidade da escala para uma amostra de 39 jovens adultos da África do sul, os quais foram submetidos ao re-teste quatro meses depois, é de 0,73(Bar- 14

24 On, 1997); esses índices comprovam uma boa consistência interna e confiabilidade da estabilidade. A análise fatorial confirmatória da escala apresentou dez fatores nomeados pelo autor como: auto-respeito, relacionamento interpessoal, controle de impulsos, resolução de problemas, autoconsciência emocional, flexibilidade, teste da realidade, tolerância ao estresse, assertividade e empatia. Ainda segundo estudos de Bar-On(2002) a escala se correlaciona positivamente com outras medidas chamadas inteligência emocional e negativamente com escalas que medem indicadores de psicopatologias, como depressão, esquizofrenia, etc; o que segundo Bar-On sustenta a noção de que a inteligência emocional e social é uma variedade de aptidões emocionais, pessoais e sociais que afetam a capacidade global do indivíduo em lidar com emoções. Apesar da escala ter validade para diferentes países, o autor evidencia a necessidade de mais estudos sobre a validade discriminativa e preditiva desta escala (Bar-On, 2002). Um segundo instrumento de medida para inteligência emocional é a escala Multifatorial de Inteligência Emocional (MSCEIT) dos psicólogos Mayer, Salovey e Caruso (2002), como esses autores entendem a inteligência emocional em termo de habilidade de perceber emoções, de alcançar e gerar emoções ajudando ao pensamento e compreensão de emoções, conhecimento emocional e regular emoções promovendo o crescimento emocional e intelectual (Mayer & Salovey, 1997), o MSCEIT é composto de uma série de tarefas para avaliar habilidades da pessoa de perceber, identificar, compreender, e trabalhar com emoção. Segundo Mayer, Caruso e Salovey foi encontrada uma consistência interna de 0,96 para escala como um todo, após serem retiradas algumas sub-escalas que tinha menor consistência interna. Esta escala apresenta também relação com escala de inteligência verbal, entretanto os autores consideram que há independência entre as escalas. 15

25 O terceiro instrumento de avaliação mais conhecido é o Inventário das Competências Emocionais ECI, desenvolvido por Goleman (1998), baseado em num questionário mais antigo chamado Self-Assessment, que foi desenvolvido por Boyatzis(1994). O ECI mede competências em quatro grandes áreas: autoconsciência (autoconsciência emocional, auto-estima, autoconfiança); auto-gerenciamento (autocontrole, adaptabilidade, iniciativa e orientação para realização); consciência social (empatia, consciência organizacional); habilidades sociais (como liderança, influência, comunicação, etc). Outra medida mais recente é a escala de Schutte e Malouff (1998), baseada no modelo teórico de Inteligência Emocional de Mayer e Salovey (1990), a qual será descrita mais detalhadamente e que será utilizado no presente trabalho. Escala de Inteligência Emocional Schutte Como já foi citada anteriormente a escala Self-Report Emotional Intelligence (SSREI) de Schutte e cols (1998) foi desenvolvida a partir do modelo de Mayer e Salovey. Os participantes utilizam uma escala de cinco pontos do tipo Likert, onde 1 representa discordo fortemente e 5 representa concordo fortemente para responder a 62 itens baseados na teoria já citada. Através de uma aplicação em 346 participantes os autores puderam verificar a variância de construto relevante e a clareza da mesma. Uma análise fatorial das respostas destes participantes sugeriu a criação de uma escala dos 33 itens unidimensional (Anexo I). Em um re-teste foram confirmados a confiabilidade e boa consistência interna dos itens da escala. Os estudos de validação mostraram que a escala de 33 itens 16

26 correlacionava-se com a teoria de Mayer e Salovey, a alexitimia, a atenção aos sentimentos, à claridade dos sentimentos, o reparo do modo, o otimismo e o controle do impulso. Foram verificadas pelos autores diferenças entre grupos, por exemplo, a maior pontuação foi obtida pelos alunos do primeiro ano de faculdade que responderam à escala. Era também significativamente mais elevada a pontuação para terapeutas do que para clientes da terapia ou para prisioneiros. A consistência interna obtida através do alfa de Cronbach pelos autores no estudo foi de 0,90, o re-teste mostrou uma confiabilidade de 0,78. A validade preditiva da escala foi medida da comparação com o desempenho final de acadêmicos em um ano uma validade preditiva significante. A validade convergente e validade discriminante de SSREI foram avaliadas correlacionando-se com resultados obtidos em teste SAT, tido pelos autores como uma avaliação da inteligência dos participantes; e de personalidade NEO Personality Inventory, respectivamente. A SSREI não apresentou relação significativa com o teste de SAT e também não apresentou relação significativa com quatro das cinco dimensões da personalidade mesuradas no teste NEO Personality Inventory, entretanto apresentou uma correlação significativa com sub-escala de Extroversão (0,54 para p<0,009), o que segundo os autores não é suficientemente alto para tornar redundante a SSREI. A análise fatorial feita por Schutte e et al (1998) demonstrou que a escala é unifatorial, entretanto outros estudos da estrutura da Escala Schutte de Inteligência Emocional não encontraram o mesmo resultado, esses serão apresentados a seguir. Austin, Saklofske, Huang e McKenney (1998) em seu estudo sobre a estrutura fatorial da escala tiveram como voluntários 500 estudantes canadenses de graduação, encontraram uma consistência interna de 0,84, contudo o estudo da escala apresentou 17

27 apenas três fatores, os quais segundo os autores correspondiam a avaliação e percepção das emoções, regulação das emoções e utilização das emoções. Já Petrides e Furnham (2000), com 260 participantes, encontraram quatro fatores realizando uma análise fatorial confirmatória com rotação varimax e rotação obliqua. Em ambas as análises o critério para encontrar quatro fatores foi à variância explicada de 40,4%, o que indicaria uma escala multidimensional. Entretanto quando utilizado o critério de autovalor maior que 1 (critério de Kaiser) neste mesmo estudo foram encontrados 10 fatores. Gignac, Palmer, Manocha, e Stough, (2005) também realizaram um estudo com a Escala de Inteligência Emocional de Schutte. Em seu estudo esses autores tiveram como participantes 367 voluntários, contudo esse estudo foi um pouco diferente, pois esses autores realizaram uma analise fatorial confirmatória, na qual pré determinaram dois modelos. O primeiro com 6 fatores os quais segundo eles corresponderiam às sub dimensões da teoria de Mayer e Salovey (1990) e os quais seriam: regulação das próprias emoções, expressão das emoções, regulação das emoções dos outros, avaliação das emoções dos outros, avaliação das próprias emoções e utilização das emoções para resolver problema. Na avaliação da estrutura da escala nesse estudo os autores não encontraram fatores relacionados à expressão das emoções e regulação das emoções dos outros, contudo as outras quatro subdimensões foram localizadas pela análise fatorial, dentro dos cinco fatores encontrados por Gignac et al(2005). O segundo modelo, que os autores pré determinaram para análise fatorial foi um modelo de quatro fatores, que segundo os autores corresponderiam a otimismo, avaliação, utilização e social, contudo esse modelo foi julgado pelos autores do estudo como não adequado, pois na analise dos fatores otimismo e utilização das emoções foram encontrados vários itens com cargas negativas, indicando uma possível 18

28 inexistência desses fatores em relação ao fator geral. Desta forma o estudo de Gianc et al (2005) concluíram que apesar de não encontrar as subdimensões expressão das emoções e regulação das emoções dos outros o 1º modelo é mais adequado que o segundo modelo de analise da escala. Essa escala foi escolhida para o presente trabalho por ser uma escala de Inteligência Emocional mais curta e de fácil compreensão, na qual o participante faz um auto-relato. Inteligências e Idade Neste estudo além da analise da Escala de Inteligência Emocional Schutte, também será realizada uma comparação entre o desempenho de jovens e idosos em resposta a escala, por isso foi feita uma revisão sobre estudos de inteligência em idosos e teoria afim. Horn e Cattell (1966) definiram dois tipos de inteligência: a fluída, relacionada à capacidade de se adaptar a novas situações; e a inteligência cristalizada, mais relacionada ao conhecimento adquirido durante a vida. Ainda segundos Horn e Cattell a inteligência fluida diminui com a idade, contudo a inteligência cristalizada que engloba o conhecimento geral, o vocabulário e o conceito de linguagem, pode até crescer e desenvolver-se mais com os anos. Outro importante teórico da inteligência foi Wechsler (1995), que desenvolveu as escalas Wechsler, as quais são compostas por testes que medem diversos tipos de habilidades, desta forma trazem diversas contribuições para o estudo da inteligência, entre esses a idéia de que a inteligência muda conforme a idade. A divisão da escala 19

29 Wechsler em diversos testes, que medem várias habilidades tornou aparente o fato de que o desempenho em alguns testes piorava com a idade e outros não. Birren, Cunningham e Yamamoto (1983) fizeram uma divisão dos testes das escalas de Wechsler em dois tipos. Um grupo de testes independentes da idade (constantes e/ou permanentes): os de conhecimento verbal geral como, compreensão geral, vocabulário e habilidade de linguagem, e os de execução, formação de figuras e complementação de figuras; e outros testes dependentes da idade (variáveis com a idade, declináveis, não permanentes): memória numérica, inteligência aritmética e semelhanças e símbolos numéricos, e os de execução: ordenação de figuras, teste mosaico. O conceito de Inteligência de Wechsler (1939) embasa a definição de inteligência emocional proposta por Mayer e Salovey. Também o conceito de Gardner (1986) no qual inteligência é a habilidade ou capacidade para solucionar problemas ou para confeccionar produtos que são valorizados dentro de um ou mais arranjos culturais influenciou Mayer e Salovey. Ambos os autores propõem teorias em que a inteligência compreende várias habilidades. Segundo Mayer, Caruso e Salovey (2000a) há vários critérios que uma inteligência deve ter para ser considerada cientificamente legitima: deve ser capaz de ser operacionalizada como um conjunto de habilidades deve ter alguma correlação com inteligências já existente, mostrar uma variância única e, as habilidades devem se desenvolver com a idade e experiência. Assim, de acordo com o último critério a inteligência emocional deve se desenvolver com a idade para ser considerada como uma inteligência e sendo assim quanto mais velho, maior deve ser a inteligência. 20

30 Pode se notar que essa concepção de inteligência de Mayer et al (2000) pode ser classificada como inteligência cristalizada de Carroll (1993) e também esta de acordo com as teorias de que a inteligência apresenta um modelo multidimensional. O modelo de Mayer e Salovey(1997) descreve quatro dimensões como já citadas: perceber emoções, compreender emoções, administrar emoções e utilizar emoções, o que satisfaz o primeiro critério para ser considerada uma inteligência emocional. Neste estudo, Mayer et al (2000), provam que a Escala Multifatorial de Inteligência Emocional (MEIS) tem correlação positiva com escalas de vocabulários Weschler, as quais medem inteligência verbal, contudo outras escalas de inteligência emocional também apresentam tal correlação. Por fim, no estudo de Mayer et al (2000) e no estudo de Rooy, Alonso e Viswesvaran (2005) foram encontradas diferenças nos escores de jovens e idosos, na qual jovens adultos apresentaram escores maiores que adolescente e os idosos apresentaram maiores escores que jovens adultos respectivamente em cada estudo. Como já foi dito neste estudo estamos interessados em verificar se há diferenças entre os pontos obtidos na Escala de Inteligência Emocional Schutt entre jovens e idosos no Brasil, visto que Rooy, Alonso e Viswesvaran (2005) em seu estudo encontraram interações significativas entre idade e o escore total, isto utilizando a Escala de Schutte et al (1998). 21

31 Objetivos Esse estudo teve como objetivo a avaliação da Escala de Inteligência Emocional Schutte para em uma amostra jovens e idosos brasileiros. Objetivos específicos 1. Comparação entre o grupo de jovens e grupo de idosos 2. Descrever as características do instrumento frente a uma amostra de brasileiros 3. Comparação número de fatores encontrados na amostra de brasileiros e o citado pelos autores originais Justificativa A Inteligência Emocional é um tema que vem tendo um destaque na mídia, contudo vem sendo amplamente discutido e criticado no meio acadêmico, desta forma estudos a respeito de instrumentos de mensuração da inteligência emocional podem vir a consolidar ou demonstrar a fragilidade deste construto teórico. Desta forma, estudos sobre os instrumentos de medidas, que possam comprovar a existência da inteligência emocional são necessários. Segundo Mayer, Salovey e Caruso (2000a) um dos critérios padrões para legitimação científica de uma habilidade como inteligência, seria que esta habilidade deve desenvolver-se com a idade. Portanto, se a escala SSREI mede inteligência emocional as pessoas devem obter escores maiores conforme apresenta mais idade. 22

32 Por ser uma escala simples e de fácil entendimento a escala SSREI vem sendo muito pesquisada recentemente, contudo não há ainda um estudo desta escala em amostras da população brasileira. 23

33 Matérias e Método Participantes: Foram voluntários 173 universitários com idade entre 16 a 33 anos (19,82 ± 3,03) 57 homens e 116 mulheres estudantes da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto ou do curso pré-vestibular Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto, constituindo uma amostra de conveniência. O grupo de idosos era formado por idosos que freqüentavam os grupos de terceira idade do Centro de Educação Física Esportes e Recreação da USP/ Ribeirão Preto, constituindo uma amostra de conveniência. Foram voluntários neste grupo 30 pessoas com idades entre 49 e 79 anos (64,9 ±8,03), sendo 6 homens e 24 mulheres. Instrumento A Self-Report Emotional Intelligence (SSREI) de Schutte e cols (1998) (Anexo I) é uma escala de auto-relato no qual próprio voluntário relata o quanto acreditar apresentar em relação a cada item, portanto não há certo ou errado. A resposta ao instrumento é dada em uma escala likert, que vai de 1 discordo totalmente a 5 concordo totalmente A escala SSREI foi traduzida pelo professor de inglês Carlos Augusto Pantoni licenciado em letras e posteriormente foi feita uma verificação da adequação da linguagem por alunos de pós-graduação do laboratório de percepção e psicofísica do laboratório da FFCLRP/USP de Ribeirão Preto, juntamente com a verificação da clareza das instruções. 24

34 Procedimento O conteúdo da pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia Ciências e letras de Ribeirão Preto recebendo a aprovação (Anexo II), garantindo desta forma que o procedimento é ético e não trará prejuízos aos voluntários. Para tanto, todos os participantes tiveram sua participação na pesquisa consentida pela direção das Entidades mencionadas e pelos próprios participantes, através de carta de consentimento (Anexo III) em que foi assumido o compromisso de utilizar os dados exclusivamente para fins de pesquisa, seguindo os padrões éticos vigentes, e garantindo que em nenhum momento, divulgaremos a identidade dos voluntários. Todos os participantes, após a leitura das instruções (anexo IV) feita pelo experimentador, foram convidados a responder a Escala de Inteligência Emocional (anexo I) em pequenos grupos (no máximo 5 pessoas), sem comunicação, não foram tiradas dúvidas durante a resolução da tarefa, apenas feita a orientação de responder de acordo com o que o voluntário acreditasse ser a resposta mais próxima a seu pensamento. 25

35 Resultados As respostas dos voluntários em geral diante da Escala de auto-relato de Inteligência Emocional Schutte obtiveram mediana 4, primeiro, quartil 3 e o terceiro percentil 3. A freqüência das respostas em cada questão e pode ser visualizado nos gráficos abaixo: Frequência Frequência Item Item Frequência 40 Frequência Item Item Frequência Frequência Item Item6 26

36 Frequência Frequência Item Item Frequência Frequência Item Item Frequência Frequência Item Item13 27

37 Frequência Frequência Item Item Frequência Frequência Item Item Frequência Frequência Item Item19 28

38 Frequência Frequência Item Item Frequência 40 Frequência Item Item Frequência Frequência Item Item25 29

39 Frequência Frequência Item Item Frequência Frequência Item Item Frequência Frequência Item Item31 30

40 Frequência Frequência Item Item33 Figura 1: Gráficos de Freqüências dos Itens Para melhor compreensão dos gráficos de freqüência serão fornecidos na tabela a seguir as medianas e o terceiro percentil encontrado em cada item: Tabela1: Medianas e Percentis Item Mediana Terceiro Percentil , ,

41 Neste estudo foi utilizada a mediana de cada item nos cálculos por ser tratar de uma escala Likert, ou seja, uma escala de categorias, assim desta forma tem-se variáveis discretas. Através das analises dos gráficos pode-se notar que a freqüência de respostas dos participantes aos itens 13 e 33 mostra uma distribuição menos diferenciada o que pode ser confirmada através da análise da mediana (3) e percentil (1). Foram calculadas as correlações entre os itens da Escala, através do método de Spearmann (matrix de correlação de Spearmann Anexo V), através da qual se pode perceber que as correlações entre itens são em geral baixas, mesmo quando significativa sendo a menor 0,15 para p<0,05 e 0,49 para p<0,01. Antes de entramos em uma análise da estrutura fatorial da escala foi realizado o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov (Anexo VI), através do qual pode se concluir que a distribuição em todos os itens é diferente da normal. O calculo do Alfa de Cronbach mostrou que a consistência interna de escala é adequada 0,808. Como o teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov deflagrou uma distribuição diferente da normal e tendo em visto o que já foi dito, o método de análise de componentes principais foi escolhido para a extração dos componentes.principais Para justificar a utilização da analise pelo método de extração dos componentes principais pode observar o critério de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), o qual indica que os dados obtidos neste estudo são adequados para analise dos componentes principais. O valor encontrado neste estudo foi de 0,725. A analise das comunalidades indica a variabilidade de cada item explicado pelo método de analise dos componentes principais empregada. Desta forma, quanto mais próximos a 1 melhor explicação do item. Através da tabela 3 podemos verificar que a 32