18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas Transversalidades nas Artes Visuais 21 a 26/09/ Salvador, Bahia
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- Rachel de Abreu Meneses
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1 CARTOGRAFIAS COLABORATIVAS NA ARTE Tiago Franklin Rodrigues Lucena i Mestrando em Artes Arte e Tecnologia - Universidade de Brasília Resumo: este artigo procura elucidar mais sobre a modalidade das cartografias colaborativas no campo da arte. Através de diversos exemplos de projetos nacionais e internacionais procuramos pensar nas qualidades intrínsecas a esta modalidade que se insere no campo das mídias locativas e da mobile art. Demos especial atenção aos trabalhos desenvolvidos no Laboratório de Pesquisa em Arte e Realidade Virtual da Universidade de Brasília. Palavras-chave: cartografias colaborativas, arte, mídias locativas e mobile art. Abstract: This article tries to explain more about the collaborative cartography in art. Through several national and international projects we can think of the intrinsic qualities of this mode of art inside the field of locative media and mobile art. We pay particular attention in works at the Laboratory of Research in Art and Virtual Reality of Brasilia University. Key words: collaborative cartography, art, locative media and mobile art. A fase do acesso aos meios de comunicação digitais pelos usuários e artistas passa por um momento bastante interessante que re-configura as práticas artísticas. A democratização dos meios de produção possibilita que artistas trabalhem em sintonia com seus espectadores, criando composições visuais em colaboração nos usos das ferramentas computacionais. Nos últimos anos, vimos um esforço para tornar as interfaces gráficas mais intuitivas e naturais aos usuários. Internalizamos metáforas e ações que são traduções de uma série de cálculos que a máquina opera. O computador passou gradativamente de ferramenta auxiliar no trabalho para plataforma de entretenimento e de arte. Para além da interface humano-máquina que possibilita, entre muitas coisas, o intercâmbio de informações entre seres de natureza diferentes, mais precisamente entre máquinas e seres humanos, as máquinas passaram a operar com estruturas lógicas que expandem o sentido de máquina restrita a funções. Os softwares, tais estruturas lógicas, reprogramam o 1270
2 computador para este desempenhar as mais variadas funções, inclusive no campo artístico. As máquinas passam, depois da interconexão entre si, a mediar contatos entre pessoas que podem estar distantes fisicamente. É justamente deste compartilhamento de experiências que reside diversas experiências artísticas em modalidades como webarte, performance em telepresença, mundos virtuais compartilhados e gamearte. Neste espaço aberto pela interconexão mundial dos computadores, vê-se aglutinados indivíduos que estabelecem relações com outros que não estão necessariamente próximos fisicamente: a relação com o outro se dá por interesses comuns. Esta desvinculação entre espaço e tempo, antecedido por tecnologias tais como os telefones e o fax podem, no entanto, desqualificar a importância que o local tem nas diversas instâncias comunicacionais. Imersos no ciberespaço que se apresenta ali em nossa tela, não podemos desconsiderar a importância do espaço ao redor de nós. O local condiciona inclusive as informações que selecionaremos nesta tela, lembrandonos que a Internet pornográfica invade os ambientes de trabalho, mas somente é acionada quando o individuo se sente consideravelmente seguro para realizar tal navegação. As poéticas das práticas e usos de dispositivos móveis como ferramentas de localização em relação ao espaço urbano colocam, neste momento, a questão da importância e vivência do local na experiência artística. Lembramos que o processo de desmaterialização da obra de arte vinha sendo experenciado em categorias como Arte Telemática e Arte Comunicacional (KAC, 2008). Estas modalidades não excluíram a atenção dada ao local, ao mundo material e físico que nos cerca. No entanto os novos artistas telemáticos estavam mais preocupados em estabelecer relações com outros indivíduos distantes do que efetivamente a comunicação entre dois espaços consideravelmente próximos. O local parecia existir somente no encontro entre dois espaços que deviam ser o mais distante possível.interessavam em construir um outro local que existia na interseção entre o espaço físico e o espaço virtual. 1271
3 Hoje, práticas artísticas que usam de ferramentas como GPS, mapas e satélites e em sintonia com a nova geração dos telefones celulares estão colocando para a arte questões pertinentes a noção de lugar-território-espaço e tempo. As obras aqui selecionadas procuram elucidar mais o termo Cartografias Colaborativas na Arte, Mobile Art - por nós reduzidos para m-arte e da arte que se vale das mídias locativas. Acreditamos que os artistas são sempre visionários no que diz aos usos das tecnologias, são eles (nós) que resignificamos muitos objetos e ferramentas tecnológicas colocando-os em favor da arte. Não seria diferente neste momento da web 2.0, da cultura, da mobilidade e da computação Ubíqua e Pervasiva. Geotags subjetivas: Trivialidades do ser urbano No compartilhar de experiências em conjunto com outras pessoas, podemos citar sites como o Wikimap e o Googlemaps, que incorporam representações do espaço urbano, são fotografias de satélite, mapas ou ilustração do terreno. Neles os usuários podem submeter anotações sobre locais, comentando a respeito de certos espaços ou ainda uploadeando fotos e vídeos. Este processo de tageamento, chamado de geotags, pode ainda ser acessado por outros usuários que desejam saber mais sobre determinados locais. Interessante pensar nestes sites como ambientes de colaboração, onde podemos inserir conteúdos e acionar outros. A cartografia virtual do mundo, em mapas fixos, é para Marc Tuters e Kazys Varnelis (2006), como se a Terra estivesse sendo etiquetada. O ato de colocar etiquetas, geotagging, foi denominado pelos autores de mapeamento anotativo. Estas informações sobre determinados locais podem ser de dois tipos: geotags comerciais e geotags subjetivas. Geotags como um tipo de mídia locativa tem como objetivo o de agregar informação digital em "mapas (LEMOS, 2008). As geotags comerciais visam fornecer a um potencial consumidor informações a respeito da localização do serviço que a empresa ou 1272
4 entendida se presta. Shoppings, lojas, escritórios e consultórios podem se valer destes meios como facilitadores no acesso de seus consumidores. Assim quando digitarmos no mapa, a palavra pizzaria, o sistema pode estabelecer uma relação daquelas mais próximas ao ponto em que você está, ou ao ponto em que demarcou. Geotags subjetivas podem ser consideradas aquelas onde o usuário estabelece uma relação pessoal e íntima com o item e local tageado. Esta categoria foi usada por nós no trabalho Trivialidades do ser urbano (fig. 1). Partindo de uma poética do trivial e assim mesmo do banal e do cotidiano, mas nem por isso menos importante, começamos a tagear em nossa região e usando o wikimap, os locais onde fatos fictícios aconteceram. Os nomes atribuídos aos fatos fictícios são os de: meu sobrinho caiu de bicicleta, local onde meu cachorro fez coco, mamãe falou pra prestar atenção quando for atravessar aqui. Procuramos versar sobre esta prática contemporânea de exposição do íntimo, condicionada pelas redes sociais que pululam a cada momento. Neste espaço de divulgação das atividades individuais, usamos as geotags para marcar e assim compartilhar as trivialidades do cotidiano nesta cidade (Brasília). Os locais escolhidos e os comentários sobre eles sempre dizem respeito a alguma qualidade do mesmo, reconhecível para um morador e/ou visitante daquela região tageada. Figura 1 - "Trivilialidades do ser urbano": cartografia usando Wikimapia com geotags subjetivas de coisas-lugares triviais e cotidianos. Estes trabalhos trazem a tona conceitos como os de mídias locativas. Mídias locativas referem-se às tecnologias relacionadas à localização e podem ser analógicas ou computacionais. Os mapas computacionais, principalmente, permitem a colaboração entre diferentes pessoas no mundo, 1273
5 conectadas em redes através de seus celulares e computadores. Neste trabalho, estaremos nos referindo basicamente às mídias locativas digitais. Algumas práticas porém costumam mixar estes dois tipo de anotações: analógicas e computacionais. O projeto Yellow Arrow (seta amarela) propõe-se a tagear o espaço urbano mostrando áreas de acesso livre a banda larga. Uma seta amarela é colocada em postes, nas ruas, para avisar aos conhecedores do projeto que ali se pode conectar a rede wi-fi sem problemas com rede protegida com senhas (fig. 2). O projeto também indica computacionalmente, partindo de um mapa na rede os pontos onde estas setas estão colocadas. Trata-se antes de tudo de um projeto colaborativo e que busca ampliar as áreas de acesso para os indivíduos. Figura 2 - Projeto Yellowarrow (seta amarela): geotags analógicas e computacionais. Dividindo o espaço com stickers na rua. Estas anotações urbanas analógicas aproximam este tipo de ação do sticker e do grafite que propõem-se a tomar as paredes do espaço urbano na veiculação e apreciação da obra. Lembramos então, que as novas práticas artísticas nascem em sintonia com as modalidades artísticas que as antecederam. Sites como Wikimap e Googlemaps começam a ter suas lógicas subvertidas por artistas que se apropriam da estrutura técnica e da rede formada pelos seus usuários em diversas experiências de arte, algumas delas inseridas no campo da cartografia colaborativa. Trata-se, no campo artístico, de uma nova modalidade que surge da relação entre a participação de colaboradores na construção de poéticas cartográficas e da composição de mapas (visuais, íntimos, políticos, topográficos), valendo-se muitas vezes das 1274
6 representações de mapas presentes no ambiente virtual da web. Os colaboradores participam na inserção de dados que são linkados a certos locais do processo que chamamos de tageamento. Assim esta informação não diz respeito a qualquer lugar, mas sim àquele em que o usuário designa como tal. Trata-se também de práticas simbólicas de anotações já que efetivamente tais vídeos, fotos ou dados não se encontram no espaço físico real, mas na convergência do lugar virtual que representa o lugar físico. Do espectadoricionismo para o participarismo A transformação deste usuário consumidor, numa outra lógica em que ele se torna o produtor e a democratização do acesso condicionam uma reconfiguração da própria arquitetura dos sites. Os novos arquitetos da informação buscam facilitar o trabalho do usuário que é agora o conteudista. Com a web 2.0 os conteúdos gerados pelos usuários são disponibilizados em escala global: é o user generated free content (KEEN, 2007). Blogs, videoblogs, moblogs, podcast têm seus conteúdos gerados pelos usuários e hoje são sucessos na Internet. Sites como o Twitter e Youtube comprovam esta febre do contemporâneo. Não por menos, a Internet também se tornou um espaço de visibilidade e de acontecimento para diversas práticas artísticas, trabalhos e eventos que ocorrem em hibridizações do ciberespaço com o espaço urbano. Esta participação ativa dos espectadores na cultura em geral caracteriza-se como um elemento da cibercultura. A liberação do pólo de emissão como dito por André Lemos (2003) e a mass self communication por Manuel Castells (2006) são todas qualidades que dizem respeito a este tipo de produção descentralizada, generalizada e sem mediadores. Mass self communication, cunhado por Castells, diz respeito ao conteúdo gerado pelo usuário e que pode ser acessado por várias pessoas que ainda se comportam como espectadores passivos. Esta produção por parte dos usuários, sem mediação, ou sem uma interferência maior como nos mass media, é vista por 1275
7 Andrew Keen como algo maléfico a cultura em geral já que todos estão preocupados em divulgar a si mesmos sem, no entanto, escutar os outros; favorece-se, a seu ver, uma cut-and-paste online culture e cleptomaníacos intelectuais. Para o autor é dando permissão para esta geração do conteúdo livre por parte dos usuários que se geram conteúdos dúbios de fontes muito vezes anônimas e que colocam em crise as já estabelecidas estruturas de divulgação de música, vídeo e texto. Para o autor, a Web 2.0 é uma das grandes responsáveis pela perda de empregos em jornais e televisão e este culto do amador pode ainda provocar sérios danos a economia mundial. Assim como Andrew Keen, alguns artistas se veem prejudicados e ameaçados, com esta divulgação e participação dos espectadores. Vemos que com a Internet os estatutos que validavam certas modalidades artísticas começam a ser questionados. Discussões em torno da autoria, meios de validação, espaços museológicos passam a ser questionados na medida em que estes mapas, por exemplo, estão potencialmente em qualquer monitor. Tomamos, porém, uma visão contrária ao autor, mais otimista quanto a este produção de conteúdo por parte dos usuários, vemos como benéfico inclusive para o mundo da arte e incluímos aqui a discussão sobre softwares livres como questão importante na produção de arte e tecnologia na atualidade. Contar com a participação do usuário também não é uma tarefa fácil para o artista que necessita da colaboração para sua obra se valer. Permitir que os usuários postem comentários, fotos e participem na construção do conteúdo do processo artístico é correr o risco de que ninguém pode fazê-lo. A cartografia colaborativa tem no compartilhamento e participação a poética de muitos trabalhos. Assim o espectador e usuário se comporta como conteudista e participe das experiências e eventos artísticos, criando os sentidos daquela e alimentando com informações seguindo uma lógica que rege a cibercultura (SEARLS, 2008) transformamos o espectador em participador do projeto. Neste momento, a presença do espectador nas cartografias colaborativas se faz em dois principais momentos: 1) o espectador das obras em cartografias coletivas pode se comportar passivamente apenas navegando no mar de informações postado por outros usuários. Poeticamente ele pode se 1276
8 reconhecer em algum post e comentário, portanto sem interesse em postar conteúdo (qualidade de um segundo tipo de espectador), verifica a proposta do artista e a resposta do coletivo. 2) num segundo momento, tocado pela proposta do grupo que construiu a cartografia pode sentir a necessidade de contribuir com seu post, usando assim os meios técnicos do espaço. Esta contribuição, no entanto, é apenas sugerida e mesmo se ele não participasse a obra existiria. No segundo nível de participação é do indivíduo que vivencia a cartografia aciona sua participação ao navegar entre os dados informacionais. Os mecanismos de leitura desta navegação presentes na arquitetura do site fornecem ao artista e criadores uma noção da visitação, audiência e participação do usuário. Estes dados podem ser interpretados pelos seus criadores na verificação da visibilidade do projeto. Como esta colaboração pode ser vivenciada em escala global, a dimensão e visibilidade do projeto se tornam fundamental na construção do objeto artístico. Esta instância, porém, não indica que as cartografias colaborativas necessitem de publicização, com práticas de marketing que visam a tornar o objeto vendável ou conhecido. Mas como todas as redes devem operar em meio a grupos que não sejam necessariamente aqueles mais próximos ao criador. Perder o controle e não conhecer pessoalmente aquele que contribui no projeto pode ser uma interessante característica nestes projetos. Valorizando a questão da rede e do potencial comunicador da Internet. artísticas Cartografias Colaborativas ou Coletivas e novas práticas Segundo Suzete Venturelli ii, cartografia é um termo latino e significa charta, chártes, carta + graph, de gráphein, escrever. É ao mesmo tempo a arte e a ciência de compor cartas geográficas ou topográficas. Colaborativa diz respeito a qualidade aberta deste tipo de produção que permitem a postagem e inserção de conteúdo por parte dos usuários. Difere-se de coletivo por estar em instancia diferenciada. Um projeto artístico de tal 1277
9 natureza, uma cartografia, pode ser criado por um número x de pessoas que unidas formem um coletivo. Coletivos em artes não são algo recente nestas práticas artísticas que usam da Internet, ainda que alguns dos coletivos utilize da rede virtual na troca de contatos e de criação artística. Destacamos no verbete cartografia, os mapas computacionais elaborados interativamente e veiculados em meios de comunicação, como redes de computadores, nas quais duas categorias principais são apresentadas em função de suas características específicas: os mapas desenhados a partir do deslocamento de sujeito e os mapas fixos, nos quais informações são enviadas e apresentadas. Torna-se necessário aqui então, discutir o conceito de cartografias colaborativas ilustrando com produções brasileiras e outras estrangeiras. Tracemap se insere na proposição de Karla Brunet (2008, p. 171) na categoria de mapeamentos fluídos, quando percursos realizados pelos usuários, equipados com equipamentos digitais como palms e GPS fazem deste percurso a criação de um mapa. O objetivo deste tipo de prática é percorrer o espaço urbano com a finalidade de criar uma visualização dos dados deste percurso. Em Tracemap no caso, o trajeto criado pelos usuários com PDA e software do projeto criavam mapas de lugares com acesso wi-fi ou não. Os mapas criados podiam ainda ser visualizados de várias formas. Figura 3 artsatbr.unb.br : segundo a artista "a terra como interface. Se insere no contexto das artes, do ativismo e das mídias locativas. 1278
10 O projeto Artsatbr (artsatbr.unb.br), coordenado por Suzete Venturelli, Mario Maciel e programação de Sidney Medeiros, foi desenvolvido no Laboratório de Pesquisa em Artes e Realidade Virtual do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília (fig. 3). Os usuários em qualquer lugar do mundo podem enviar em tempo real imagens vídeos, sons e texto sobre a situação do planeta Terra e do meio ambiente. O site destaca cinco categorias, colocadas como ícones em um menu na barra superior: queimadas, desmatamento, poluição, miséria e pastos irregulares. Estes ícones buscam facilitar o usuário na inserção de conteúdo em uma navegação mais intuitiva. Pelo artsatbr podemos também ver em tempo real imagens das principais queimadas que ocorrem no planeta, estas informações são enviadas por um satélite. A informação e os dados imagéticos e sonoros podem ser enviados também pelo celular, desde que um programa seja instalado no dispositivo. A possibilidade de acesso aos dados e de inseri-los via celular procura neste momento o de ampliar as opções para os usuários das tecnologias móveis. Assim, desenvolvemos pesquisas especificas para dotar a tela pequena do aparelho em um espaço de navegação e controle da informação (fig. 4). Recorremos ao celular, como uma ferramenta interessante também do usuário não necessitar postar o local de onde registrou a foto da cena para artsatbr, já que as ferramentas técnicas de localização, presente nestes aparelhos, podem assim o fazê-lo. A idéia inicial é a de usar aparelhos equipados com GPS e que permitem saber a exata localização do aparelho no momento do registro e do post. Figura 4- Projeto de interface para artsatbr para os celulares. Projeto em andamento no Laboratório de Pesquisa em Arte e Realidade Virtual da Universidade de Brasília. 1279
11 o site está aberto a comunicação, num espaço-tempo de circulação de saberes e de saber fazer, como uma zona autônoma onde pode-se convergir e combinar as culturas do ativismo com praticas de contra-informação, da produção e do software livre, assim como, movimentos sociais combinados com a criatividade dos interatores de diferentes comunidades da rede. O netarte/webarte artsatbr.unb.br realiza a mistura de experiências, de hibridição de identidades da transversalidade das reflexões e da prática. O site busca, também, que ocorra a cooperação produtiva entre as realidades múltiplas da constetação e da inovação social que pode existir na realidade. (VENTURELLI, MACIEL, MEDEIROS,2008, p. 302). O ArtSatBr foi desenvolvido em PHP utilizando o framework Cakephp. Nas janelas da interface foi utilizada a classe Prototype Window, baseada no framework Javascript Prototype. Os mapas usados são da API do Google Maps, assim como algumas das funcionalidades disponíveis. Os dados do mapa são gerados no formato KML, que é um formato usado para modelar e armazenar elementos geográficos. O KML foi adotado como padrão internacional para compartilhamento de mapas em abril de 2008 pela OGC - Open Geospatial Consortium. O banco de dados utilizado para armazenar os dados coletados é o MySQL 5.0. Está sendo utilizado um servidor com a distribuição Debian do sistema operacional GNU/Linux. A interface programa - para o celular está sendo desenvolvido usando a linguagem de programaçãojava-j2me. Barcelona Acessible (fig. 5), do artista Antoni Abad, é outro projeto interessante de ser citado. Através da disponibilização de celulares com GPS a 40 cadeirantes da cidade de Barcelona a proposta do artista era o de formar uma cartografia com as fotografias destas pessoas, mostrando os pontos de inacessibilidade dos indivíduos que usam cadeiras de rodas. São diversos os obstáculos no espaço urbano que passam despercebidos aos pedestres que se locomovem com as pernas. Este banco de dados criado apartir da imagem dos próprios cadeirantes fornece no mapa, a ser acessado por qualquer um na Internet, uma representação visual dos desafios que estes devem enfrentar em sua locomoção. O mesmo projeto visa no entanto, ser uma voz crítica em 1280
12 relação ao governo que mesmo sendo uma cidade turística não permite acessibilidade de uma minoria de cadeirantes iii. Figura 5 - Imagem de Barcelona Acessible do artista Antoni Abad: geotags de pontos inacessíveis aos cadeirantes em Barcelona Mobilização e ativismo nas práticas da cartografia colaborativa Experiências como Artsatbr de Suzete Venturelli e Barcelona Acessible de Antoni Abad ressalta-nos o caráter político na apropriação deste tipo de tecnologia. A tecnologia que foi criada para uso militar é incorporada por estes artistas na critica e reflexão acerca da vigilância, controle e mobilização social ou ecológica. Assim subvertem o meio, criando poéticas que procuram refletir sobre uma questão do mundo. Confirma-se assim a nosso ver a visão de que o artista deve ser alguém que tem algo importante a dizer, e transmisitir para a sociedade, princípios estes de uma arte engajada em seu contexto político, social e econômica. Neste principio participativo e com ar de discurso político discutimos poeticamente a presença do excesso de torres de ERB Estação Rádio Base - no espaço urbano de Brasília. antirbsfrequency é uma cartografia colaborativa que se constrói com a participação dos usuários que postam as fotos usando capacetes que protegem da freqüência emitidas das torres destinadas a comunicação celular. Cientificamente o capacete, produzido com materiais caseiros, efetivamente não protege das emissões da torre. 1281
13 As ERB são as estruturas de ferro criadas para permitir a acessibilidade dos dispositivos móveis. O espaço plano da cidade de Brasília favorece a visibilidade destas torres de transmissão do rádio celular. O trabalho procura portanto oferecer um mapeamento do máximo possível das ERB na cidade, alertando para um alto grau de concentração, uma densidade que nem mesmo o Googlemaps consegue alcançar sem o tageamento destas: a imagem plana 2D, da fotografia do satélite não permite-nos perceber a presença da torre em certas localidades. Em alguns casos conseguimos apenas enxergar a sombra de suas estruturas projetada na superfície. AntiRBSfrequency possui a premissa é de que estas torres transformam a própria paisagem da cidade, tombada pelo patrimônio histórico. Ao colocar no título do projeto o prefixo anti propusemos reflexivamente pensar na presença destes equipamentos como algo maléfico a nossa saúde e no nosso espaço. No entanto o próprio título do projeto guarda uma contradição interessante de ser questionada. Ao aparentemente condenar a presença desta torres estaríamos ao mesmo tempo ignorando a acessibilidade de nossos celulares. Falar em mobilidade comunicacional pela cidade só é possível pela própria presença destas torres, eis então um preço a pagar caso queiramos continuar a usar os telefones celulares. Questão também bastante interessante em ser trabalhada pelos artistas se dá pela complicada relação política entre a exploração do Tantalum na republica democrática do Congo e a indústria de Baterias. Jon Agar (2003) nos lembra que a valorização deste material na região, material importante inclusive para que as baterias tenham o tamanho que possuem hoje, complicou a relação na região africana podendo ser umas das grandes responsáveis pela guerra civil ali instaurada. Possuir um celular hoje, ou vários dele, é de certa forma e ainda que inconscientemente contribuir para a indústria que explora tal material. Diante destas questões grupos de artistas desenvolvem eventos (mobilizações) na reflexão de algum tópico de interesse público: um dia sem celular da Eve Arpo & Riin Kranna-Rõõs, apresentado no MobileFest de 2008 no MIS em São Paulo podem ser citado com bom exemplo. É bastante perceptível os pontos de encontro entre a Mobile Art e os trabalhos em arte nas cartografias colaborativas. 1282
14 Experiências internacionais também são interessantes na criação de composições visuais com as cartografias colaborativas. Degree Confluence Project (confluence.org) tem por objetivo o de visitar todos os pontos de intersecções das coordenadas latitudinais e longitudinais do planeta, medidas em graus, tirar uma foto de cada lugar e enviar para um banco de dados. As imagens e as histórias de cada visita são contadas no site do grupo. O projeto apresenta uma representação imagética organizada do mundo. As pessoas, que visitam o site são convidadas a participar, caso se encontre perto das zonas de confluência indicadas no Google Maps. Todas as possíveis confluências foram separadas em três categorias: Terra (21.543), Água (38.409), ou Gelo (4.490). As confluências que estão em "Terra" são localizadas num continente ou uma ilha. Figura 6 imagem do projeto confluence.org: Outra forma de representação dos mapas. Pontos de confluência no Brasil. A interconexão mundial destas máquinas colocou-nos diante de possibilidades únicas de compartilhar o mesmo espaço de pessoas que estão distante fisicamente de nós. As práticas artísticas de hoje, que usam dos dispositivos móveis, as mídias locativas e de mapas virtuais inseridos na categoria das cartografias colaborativas colocam o ciberespaço em sintonia com o espaço urbano e físico, mostrando-nos que a disjunção entre espaço virtual e espaço físico já não existe mais. 1283
15 i Mestrando sob a orientação da Profa. Dra. Suzete Venturelli, integrante do Laboratório de Pesquisa em Arte e Realidade Virtual do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília. tiagofranklin@gmail.com ii Verbete da autora Cartografia Colaborativa ainda não publicado para o Itaú Cultural. iii Referencias Bibliográficas AGAR, Jon. Constant Touch: a global history of the mobile phone.cambridge: Icon Books, BRUNET, Karla Schuch. Mídia locativa, práticas artísticas de intervenção urbana e colaboração. VENTURELLI, Suzete (Org.). #7. Art. Arte e Tecnologia: para compreender o momento atual e pensar o contexto futuro da arte. Editora da Universidade de Brasília. Brasília: CASTELLS, Manuel. A era da intercomunicação, in: Lê Monde Diplomatique. In htto://diplo.uol.com.br/ ,a1379, 2006 KAC, Eduardo. Aspects of the aesthetics of telecommunications. Disponível em: Acessado em: novembro de KEEN, Andrew. The cult of the amateur: how today s internet is killing our culture. London: Nicholas Brealey Publishing, LEMOS, André. A. Mídias Locativas e Territórios Informacionais. In SANTAELLA, L., ARANTES, P. (ed), Estéticas Tecnológicas. Novos Modos de Sentir., São Paulo: EDUC, Cibercultura. Alguns pontos para compreender a nossa época. In: LEMOS, André ; CUNHA, Paulo. (Orgs.). Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre: Sulina, TUTERS, M. e VARNELIS, K. Beyond Locative Media. Networked Publics. Acessado Disponível em: media VENTURELLI, Suzete; MACIEL, Mário; MEDEIROS, Sidney. Artsatbr a luta pelo poder não acabou. In: VENTURELLI, Suzete (Org.). #7. Art. Arte e Tecnologia: para compreender o momento atual e pensar o contexto futuro da arte. Editora da Universidade de Brasília. Brasília: SEARLS, Doc. Or just remember where the money comes from. Em: Acessado em: novembro de
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