MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO

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1 599 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DA 17ª VARA DO TRABALHO DE CURITIBA PARANÁ. Autos (CNJ: ) Autor: SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DO TERCEIRO GRAU PÚBLICO NA CIDADE DE CURITIBA, REGIÃO METROPOLITANA E LITORAL DO ESTADO DO PARANÁ (SINDITEST/PR) Réu: SINDESC-SINDICATO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE DE CURITIBA E REGIÃO; FUNPAR - FUNDAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ e SENALBA-PR- SINDICATO DOS TRABALHADORES EM ENTIDADES CULTURAIS, RECREATIVAS, DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, DE ORIENTAÇÃO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO ESTADO DO PARANÁ MANIFESTAÇÃO DOS FATOS Trata-se de ação reclamatória trabalhista de representatividade sindical com pedido de antecipação de tutela ajuizada pelo SINDITEST - Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público na Cidade de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral do Estado do Paraná em face do SINDESC - Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Curitiba e Região. Pugna o requerente pela declaração judicial, com a concessão antecipada dos efeitos da tutela de mérito, para que O SINDITEST-PR seja o representante legal dos trabalhadores do Hospital Maternidade Victor Ferreira do Amaral e em consequência possa exercer todos os direitos constitucionais e internacionais decorrentes da representação sindical, tais como representar os trabalhadores em juízos, firmar convenções e acordos coletivos de trabalho, etc. Apresentadas as contestações dos réus SINDESC, SENALBA- PR e FUNPAR (fls.329/337, 391/401 e 450/473) foi concedido prazo (fl.574) para que as partes dissessem se pretendiam produzir outras provas, sob pena de ser designada audiência de encerramento da instrução processual. O SINDITEST-PR impugnou as contestações (fls ). A FUNPAR apresentou requerimentos (fl.564) e o SENALBA-PR informou ao Juízo que não pretendia produzir prova oral porque entendia se tratar de matéria exclusivamente de direito (fl.565).

2 600 Realizada a audiência de instrução (fls. 573), a tentativa de conciliação restou infrutífera. Na ocasião, foi concedido o prazo para que as partes apresentassem as razões finais. O autor e os réus expuseram as suas razões finais. A r. decisão de fls.594/595 converteu o julgamento em diligência e determinou intimação do MPT para manifestação. DA LIVRE ASSOCIAÇÃO SINDICAL Propedeuticamente, é de importância medular para o caso em tela esclarecer o posicionamento do judiciário nacional sobre o tema da representação sindical. Concisamente, é possível afirmar que o poder constituinte da Magna Carta de 1988 fez opção pelo modelo Unicista Sindical, atribuindo monopólios territoriais de atuação e contribuição compulsória aos sindicatos, conforme pode ser observado no Art. 8º, incisos II e IV da Carta Maior. Todavia, é pacificado pela doutrina e jurisprudência um posicionamento mais próximo ao previsto na Convenção 87 da OIT, que, embora ainda não ratificada, tem exercido notória influência sobre a Constituição de 88 e o saber jurídico nacional, vide o disposto nos artigos 5º, inciso XX 1 e artigo 8º, V 2 da CRFB 88. Estes instrumentos preveem a livre associação sindical do trabalhador individual, possibilitando a procura daquele sindicato que lhe seja mais adequado e benéfico. Neste viés, o professor Sergio Pinto Martins leciona que foi estabelecida em âmbito constitucional a liberdade sindical individual: a pessoa pode filiar-se ou desligar-se do sindicato, dependendo exclusivamente de sua vontade (art. 8º, V da CF/88). Tal fato aproximou nosso sistema sindical, neste aspecto, da Convenção nº87 da OIT, que trata da liberdade positiva e negativa do indivíduo de se filiar ao sindicato 3 Justiça: No mesmo sentido, tem decidido o Superior Tribunal de PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. ASSOCIAÇÃO. ASSEMBLEIA. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. INEXISTÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR E ILEGITIMIDADE DO PEDIDO DO SINDICATO. LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO SINDICAL. ART. 8º, II E V, DA CF. DIREITO DE PRIMEIRA E SEGUNDA DIMENSÕES. 1 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; 2 Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: V - Ninguém será obrigado a filiar-se ou manter-se filiado a sindicato; 3 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 26 ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 721

3 601 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PRINCÍPIO DA ESTABILIDADE OBJETIVA DO PROCESSO. RECURSO PROVIDO. 1. A liberdade de associação profissional ou sindical espelha, no contexto dos direitos e garantias fundamentais de primeira e segunda dimensões neste caso, dado o caráter social do interesse constitucionalmente assegurado, o caminho delineado pela República Federativa do Brasil na determinação da dignidade da pessoa humana como um dos seus fundamentos. 2. A reunião e a assembleia constituem instrumentos para concretização da liberdade de associação, permitindo aos servidores ou empregados de determinada categoria conhecer a entidade que pretenda promover sua representação. 3. Não há interesse de agir da recorrida para pleitear a declaração de nulidade da assembleia realizada pela ora recorrente, pedido, consequentemente, ilegítimo, em face da liberdade de associação sindical. 4. Saber, nessa fase recursal, se o sindicato recorrente tem ou terá legitimidade para defender os interesses da associação é tema estranho e que excede os limites do pedido, caracterizando verdadeira alteração objetiva da demanda, sem qualquer aditamento da inicial, hipótese não permitida no ordenamento processual pátrio (princípio da estabilidade objetiva do processo). 5. Recurso especial provido para restaurar a sentença de primeiro grau. 4 No caso em tela, o direito à livre escolha sindical pleiteado pelos funcionários da FUNPAR e que prestam serviços na Maternidade Victor Ferreira do Amaral, descrito pelo autor às fls. 10, foi fundamentado no fato do SINDESC atuar de forma deficitária, e pela nova configuração que obteve a MVFA a partir da resolução 19/09 COPLAD/UFPR, no qual, como hospitalescola, os trabalhadores FUNPAR/MFVA se sentiam em igualdade de direitos com os trabalhadores FUNPAR/HC. Desta forma, o Ministério Público do Trabalho entende pela liberdade dos funcionários da Maternidade Victor Ferreira do Amaral para que escolham aquele sindicato que melhor os represente. DA LEGITIMIDADE SINDICAL É notório na exordial dos presentes autos que a diferença entre ambos os sindicatos se encontra em sua especialidade. Com efeito, o sindicato autor, SINDITEST, é focado na defesa dos trabalhadores que prestam serviços em instituições de ensino do terceiro grau público, englobando, inclusive, os funcionários que exercem suas atividades no Hospital de Clinicas de Curitiba, Hospital-Escola da Universidade Federal do Paraná -UFPR. Tautocróno, o sindicato réu, SINDESC, é mais amplo no seu exercício, defendendo os trabalhadores dos estabelecimentos de serviço de saúde da cidade de Curitiba, isto é, também englobando os funcionários que laboram em hospitais. 4 Orgão: STJ, Primeira Turma Processo: REsp SP 2003/ Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA Data de Julgamento: 28/09/2010. Grifo nosso.

4 602 Em apertada síntese, é argumentado pelo sindicato réu que embora os funcionários estejam exercendo suas funções dentro de uma maternidade administrada pela UFPR, eles ainda estariam enquadrados dentro do rol a que o SINDESC objetiva proteger, conforme defende às fls Porém, se faz mister destacar que a Maternidade Victor Ferreira do Amaral, mais do que simplesmente administrada pela Universidade Federal do Paraná, integra o sistema hospital-escola da Universidade. Essa informação é levantada pelo sindicato autor na peça vestibular da presente ação (fls. 07/09). Esse fato é de fácil reconhecimento através do site do Ministério da Educação MEC, no qual a Maternidade Victor Ferreira do Amaral está vinculada ao Hospital das Clinicas através do Aplicativo de Gestão de Hospitais Escola AGHE, que objetiva aprimorar o atendimento e o ensino dos estudantes da universidade. A Maternidade inclusive é apresentada com destaque: Os primeiros módulos do AGHU foram implantados em agosto de 2010, na Maternidade Vitor Ferreira do Amaral, de Curitiba, Paraná. Pouco a pouco, novos módulos vão sendo implantados e mais instituições ingressam no grupo de hospitais que dispõem do AGHU 5 Adicionalmente, o seu funcionamento fático é reconhecido em reportagem vinculado no Site do jornal Gazeta do Povo intitulada Cara a Cara com os pacientes, que trata dos hospitais-escola em funcionamento nesta Capital. Nessa reportagem é contextualizada a relação da UFPR com a Maternidade Victor Ferreira do Amaral no seguinte parágrafo: A maternidade Victor Ferreira do Amaral também é um hospital universitário vinculado à UFPR. Por lá passam tanto alunos de graduação quanto de residência, mas só na área de ginecologia e obstetrícia. 6 Destarte, seria da mais clara lógica afirmar que a Maternidade Victor Ferreira do Amaral é um hospital-escola vinculado ao Hospital das Clinicas, e que, naturalmente os trabalhadores de ambas as instituições estariam em igualdade de condições, resultando aberrante qualquer tipo de distinção. DO ENQUADRAMENTO SINDICAL Encontra-se pacificado pela doutrina e jurisprudência trabalhista nacional que a matéria sindical deve ser regida pelos princípios orientadores do direito trabalhista. Em especial, o princípio da Primazia da 5 Disponível em < 6 Cara a Cara com os Pacientes, vinculada em 24 de Março de Disponível em <

5 603 Realidade, que adquire importância nuclear para esclarecer as relações trabalhistas no contexto nacional, onde é possível encontrar inúmeras funções diferentes e uma miríade de sindicatos dispostos a representá-las, muitas vezes conflitantes entre si. Corroborando com esta visão, em voto proferido pela M.M. Ministra Maria de Assis Clasing, do Superior Tribunal do Trabalho: (...) a Ré tem como ramo de atividade a exploração do ramo de comércio de refeições, lanches, refrigerantes, cigarros e bebidas alcoólicas e não alcoólicas. Todavia, em razão do princípio da primazia da realidade que informa o Direito do Trabalho, o que deve ser perquirido é se, de fato, ela se ativa no ramo das refeições rápidas.... No caso, em decorrência do modelo sindical único, o SINDIFAST, a partir do registro, passou a representar os empregados da Ré. A empresa Reclamada é uma franquia da conhecida rede" Kappa Sushi ", comercializando refeições padronizadas, em que cada restaurante é encontrado o mesmo cardápio, sendo grande parte de suas vendas realizadas por meio de entrega.... Por outro lado, analisando as normas contidas nos arts. 571, da CLT, e 8.º, inciso II, da CF, nota-se que é juridicamente possível a dissociação de sindicatos específicos, quando integrados com outros em uma mesma associação de categorias concentradas, para a constituição de uma representação específica. Ressalvado o princípio da unicidade sindical, inexiste qualquer restrição legal ao desmembramento que ensejou a criação do SINDIFAST, visto que a nova entidade resultou da autêntica manifestação do grupo profissional representado pelo recorrente, ao qual, segundo o princípio da autonomia privada coletiva, inserido na Carta Magna em vigor, compete eleger seu sindicato representativo. O ramo do Fast Food é uma modalidade especializada de restaurante, lanchonete etc, pois nele se tem as refeições rápidas. Trata-se de um ramo afim, mais especializado. No caso em tela, ficou claro que a atividade econômica preponderante da Ré está diretamente relacionada ao preparo e comercialização de alimentos no sistema Fast Food, razão pela qual é indevida a cobrança de contribuições sindicais e assistenciais pelo Autor, por não ser este o representante legítimo daquele. Nesse contexto, deve prevalecer a entidade sindical mais específica, em detrimento da entidade genérica, a qual manterá sua representatividade em relação às demais categorias não abrangidas pelo novel sindicato. 7 No presente caso, faz-se evidente a necessidade de analisar o enquadramento sindical superando a mera formalidade documental, dando 7 Agravo de Instrumento, Processo nº TST-AIRR Voto Proferido em 18 de Dezembro de TST, 4º Turma. Grifo nosso.

6 604 maior foco às condições e atividades que de fato os trabalhadores da Maternidade Victor Ferreira do Amaral fazem. CONCLUSÃO Posto isso, com base na documentação apresentada até o presente momento nos autos do processo em epígrafe, e nos entendimentos mais modernos da doutrina e jurisprudência trabalhista nacional em matéria sindical, tem-se por legítimo representante da categoria profissional que presta serviços na Maternidade Victor Ferreira do Amaral o Sindicato Dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público SINDITEST/PR. É o parecer. Curitiba, 26 de março de VANESSA KASECKER BOZZA Procuradora do Trabalho