ESTADO DE GOIÁS TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS

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1 EXCELENTISSÍMO SENHOR CONSELHEIRO PRESIDENTE DO DO ESTADO DE GOIÁS URGENTE (medida cautelar) (Art. 150, V e VI, do Regimento Interno do TCM/GO) O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art. 94, I, da Lei Orgânica do TCM/GO (Lei Estadual nº /07) e pelo art. 115, I, do Regimento Interno do TCM/GO (Resolução Administrativa n 73/09), vem à presença de Vossa Excelência oferecer REPRESENTAÇÃO, nos termos do art. 207 do RITCM/GO, pelos fatos e fundamentos a expostos seguir. I FATOS E DIREITO Foi publicado no Diário Oficial do Município de Goiânia, Edição nº (anexo), aviso de licitação, na modalidade pregão, para a contratação de serviços de auditoria em saúde para o Instituto de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais de Goiânia (IMAS), com sessão marcada para o próximo dia 28/03. O edital da licitação, Pregão Presencial nº 20/2014, encontra-se disponível no sítio da Secretaria Municipal de Administração de Goiânia, órgão municipal que conduz procedimento, e segue anexo a esta petição inicial, na forma publicada. Ocorre que este Tribunal, mediante o AC-MC nº 0007/14, de 12/02/2014, determinou à Presidente do Instituto que se abstenha de executar contrato firmado em 2013, por dispensa de licitação, com o objeto de terceirização de atividades de auditoria no âmbito do IMAS, entendendo não somente tratar-se de dispensa indevida, mas também terceirização ilícita, porquanto destinada a transferir atividades finalísticas da entidade, bem como por ser claro contrato de fornecimento de mão-de-obra, em detrimento da regra de acesso pela via do concurso público. O referido acórdão foi mantido por decisão posterior do Tribunal, AC nº 01330/2014, de 19/03/2014, que desproveu recurso apresentado pela entidade. A leitura do edital recém-publicado evidencia que pretende-se a mesma terceirização reputada ilícita, em juízo perfunctório, pelos acórdãos supracitados. 1

2 Observa-se, assim, o desprestígio à decisão desta Corte e indicativo de conduta de má-fé, na medida em que insiste-se, agora mediante procedimento de licitação, na terceirização de atividades finalísticas do IMAS, a despeito da ciência quanto à ilicitude apontada pelo Tribunal e discutida no Processo nº /13. Em se tratando, porém, de um novo procedimento de licitação em curso, este Ministério Público de Contas promove a presente representação, de modo autônomo, com vistas à suspensão e à posterior anulação do procedimento, tendo em vista a falha relativa à terceirização e outros vícios que maculam a licitação. Segue-se na discussão das questões que contaminam o Pregão nº 20/2014. a) Ilegalidade de terceirização dos serviços de auditoria em saúde O IMAS é autarquia municipal criada pela Lei nº 8.537/07, resultante da transformação do antigo Instituto de Seguridade Social dos Servidores Municipais. Nos termos do art. 1º do seu Regimento Interno (Decreto nº 2.099/07): Art. 1º O Instituto de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais IMAS, estruturado pela Lei n 8.537, de 20 de junho de 2007, que alterou as Leis nº 7.747/97 e a nº 8.095/02, é uma autarquia municipal com personalidade jurídica de direito público interno e autonomia administrativa, financeira e patrimonial nos termos legais, que tem por finalidade a gestão do Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores Municipais de Goiânia, juntamente com o Plano de Assistência à Saúde e o Fundo Assistencial, objetivando a prestação de serviços nas áreas médica, hospitalar, ambulatorial, laboratorial, odontológica, psicológica, fonoaudiológica, fisioterápica, nutricional, farmacêutica e de assistência social aos servidores públicos municipais e seus dependentes, diretamente ou mediante credenciamento e convênios com terceiros, nos termos da Lei nº 8.011, de 05 de setembro de 2000, alterada pela Lei n 8.095, de 26 de abril de Em termos mais claros, o IMAS atua como operador de plano de saúde para servidores e dependentes, na forma da Lei Municipal nº 8.537/07, verbis: Art. 24. O Instituto de Seguridade Social dos Servidores Municipais ISM, criado pela Lei n 7.747, de 13 de novembro de 1997, passa a denominar-se Instituto de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais de Goiânia IMAS, competindo-lhe a gestão do Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores Municipais de Goiânia, juntamente com o Plano de Assistência à Saúde e o Fundo Assistencial destinado à cobertura de programas assistenciais, específicos a prestação de serviços de assistência social, médica, hospitalar, laboratorial, odontológica, psicológica, fonoaudiológica, fisioterapêutica, nutricional e farmacêutica aos servidores públicos municipais e seus dependentes, diretamente ou mediante credenciamento e convênios com terceiros, na forma regulamentada pela Lei n 8.095, de 26 de abril de 2002, alterada pela Lei n 8.347, de 1 de dezembro de Assim, a atividade finalística da entidade é essencialmente a operação de plano de saúde, com vistas a propiciar, direta ou indiretamente, serviços aos filiados. O já citado regimento interno do IMAS impõe a um órgão da própria entidade manter as atividades de auditoria dos serviços de saúde, nos seguintes termos: Art. 19. A Diretoria de Atendimento à Saúde é a unidade do IMAS que tem por finalidade a programação, coordenação, controle e auditoria dos serviços de 2

3 saúde, prestados aos usuários do Plano de Assistência à Saúde, nas áreas médico/hospitalar, odontológica, psicológica, fonoaudiológica, farmacêutica, fisioterápica e nutricional, competindo-lhe especificamente: Parágrafo único. A Diretoria de Atendimento à Saúde deverá manter e organizar os serviços de perícia e auditoria interna/externa em saúde, cabendo aos profissionais de auditoria, as seguintes competências específicas: I realizar auditoria clínica inicial, final e de acompanhamento e liberar guias de atendimento a usuários, nos limites fixados pela Diretoria; II promover a inspeção de consultórios, clínicas, laboratórios, hospitais e outros estabelecimentos de saúde credenciados, solicitados pela Diretoria de Atendimento à Saúde, com vistas a avaliação da qualidade dos serviços prestados; III realizar auditoria analítica das faturas apresentadas pelos prestadores credenciados e em processos de ressarcimento e pagamentos diversos, cumprindo o cronograma, estabelecido pela Presidência do IMAS; IV decidir, de acordo com os critérios estabelecidos, sobre a necessidade de tratamentos, internações e procedimentos solicitados pelos prestadores; V participar e realizar de auditorias especiais, quando solicitado; VI realizar auditorias de acompanhamento, nos casos de tratamentos em série, visando avaliar a sua permanência, nas áreas fisioterápica, fonoaudiológica, mental, médico-hospitalar, odontológica e farmacológica; VII - comunicar e apresentar relatórios sobre quaisquer irregularidades observadas; VIII - participar da proposição de normas para a prestação de serviços credenciados e critérios para a análise técnica das faturas apresentadas; IX prestar informações aos segurados e seus dependentes sobre o atendimento prestado pelo Instituto, quando for o caso; X assessorar o Instituto no desenvolvimento de programas e projetos na área de saúde; XI - exercer outras competências correlatas às suas atividades e de coordenação de auditorias, que lhes forem delegadas pela Diretoria; Trata-se de dispositivo que reforça a essencialidade das atividades de auditoria para o IMAS, ao atribuir a sua execução a órgão componente da própria estrutura da entidade, as quais competem, por conseguinte, ao seu pessoal próprio. Ora, se é possível a intermediação na prestação dos serviços aos filiados ao plano de saúde, é consectário lógico que a entidade não pode prescindir de núcleo de controle e fiscalização dessa prestação mediata dos serviços. Admitir-se a terceirização das atividades essenciais de auditoria significa esvaziar a entidade da sua razão de ser, significa retirar-lhe o que justifica a sua própria existência. Uma leitura mais atenta do termo de referência (anexo) indica que a ilicitude vai além da terceirização de auditoria. Pretende-se também a delegação de funções de coordenação e planejamento, as quais são atribuições da Diretoria de Atendimento à Saúde do IMAS, nos termos do já citado art. 19 do seu regimento. Nesse ponto, não se pode deixar de evidenciar o que dispõe o Decreto- Lei nº 200/67, que estabelece princípios e diretrizes inspiradores de toda a administração pública gerencial. A referida norma reforça no seu art. 10 a indisponibilidade das atividades de planejamento, coordenação e controle, nos seguintes termos: 3

4 Art. 10. A execução das atividades da Administração Federal deverá ser amplamente descentralizada 7º Para melhor desincumbir-se das tarefas de planejamento, coordenação, supervisão e contrôle e com o objetivo de impedir o crescimento desmesurado da máquina administrativa, a Administração procurará desobrigar-se da realização material de tarefas executivas, recorrendo, sempre que possível, à execução indireta, mediante contrato, desde que exista, na área, iniciativa privada suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar os encargos de execução. Quanto à delegação de atividades de gestão, o Tribunal de Contas da União - TCU com base no dispositivo supracitado, já decidiu pela impossibilidade. Cita-se: [Auditoria. Serviços terceirizados. Mesmo que a execução de seus serviços de tecnologia da informação seja transferida mediante contrato ou outro acordo a outra organização pública, como as empresas públicas prestadoras de serviços de tecnologia da informação, as atividades de gestão (planejamento, coordenação, supervisão e controle) de TI devem ser acometidas a pessoas integrantes do quadro permanente, ou, excepcionalmente, a detentores de cargo em comissão, da organização contratante, não podendo ser delegadas a pessoas direta ou indiretamente ligadas à contratada. Assim, a contratação de empresas públicas prestadoras de serviços de tecnologia da informação não afasta a necessidade de a organização contratante manter estrutura de governança de TI própria, que direcione e controle a gestão desses contratos. Determinação] (AC /12-P. Sessão: 23/05/12. Grupo: I. Classe: V. Relator: Ministro AROLDO CEDRAZ - Fiscalização - Auditoria de Conformidade). O Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais também entende indevida a terceirização de atividade-fim na Administração Pública: [Terceirização lícita. Atividades meio] A terceirização é lícita quando envolve, apenas, serviços ligados à atividades-meio, tais como: vigilância, limpeza, conservação, transporte, informática, copeiragem, recepção, reprografia, telecomunicação e manutenção de prédios públicos. Assim, a transferência para terceiros de atividade fim da Administração é irregular, pois, além da subcontratação de mão de obra para o exercício de funções permanentes constituir lesão à exigência de concurso prévio estabelecido no art. 37, II, da Constituição Federal, é indispensável a profissionalização dos servidores públicos como garantia da prestação de serviços inerentes ao Estado. Como se vê, não é possível a terceirização de serviços que constituem atividade-fim ou atribuições típicas de cargos permanentes, como também não é razoável colocar tais atividades administrativas sob controle de terceiros (Consulta n Rel. Cons. Moura e Castro. Sessão do dia 23/02/2005). Cita-se também medida cautelar adotada pelo TCU, em que se determinou a suspensão de licitações para terceirização de atividades finalísticas de supervisão pretendidas pela Fundação Nacional de Saúde: Representação de unidade técnica apontou possíveis irregularidades em várias concorrências promovidas pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) com objetivo de contratar empresas de consultoria de engenharia para assistir e subsidiar a Funasa na supervisão de obras de implantação, ampliação ou reforma de sistemas de abastecimento de água e de sistema de esgotamento sanitário em municípios de todos os estados da federação. Entre as supostas ilicitudes, a unidade técnica considerou indevida a realização de licitação para contratação indireta de pessoal, com infringência do art. 37, inciso II, da Constituição Federal; art. 1º, caput e 2º, do Decreto 2.271/1997 e do artigo 9º, da Instrução Normativa MPOG 2/2008, visto que as atividades contempladas no edital deveriam ser 4

5 executadas por seus próprios servidores. Observou que, de acordo com o Estatuto da Funasa, o acompanhamento e análise de projetos de engenharia relativos a obras financiadas com recursos da Funasa é função atribuída a seu Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp). Acrescentou que as atividades de acompanhamento e análise de tais projetos de engenharia competem especificamente aos engenheiros da entidade, consoante atribuições extraídas do último edital de concurso público lançado pela Fundação para provimento de cargos de engenheiro (Edital 01/2009). Anotou, também, que os respectivos termos de referência fazem uso de expressões como apoiar e auxiliar, no intuito de demonstrar a subsidiariedade das atividades contratadas em relação às atribuições da Funasa No entanto, compulsando o TR dos editais, observa-se que as atividades licitadas ultrapassam esses limites e abrangem as atribuições inerentes à supervisão das obras. Ressaltou, a partir de avaliação preliminar, que devem ser realizadas por servidores da entidade - e não por empresa contratada -, as seguintes tarefas: averiguar o cumprimento das especificações técnicas, quando da execução dos serviços; analisar, sempre que ocorrer medição na obra, os quantitativos dos serviços realizados, com vistas a emitir opinião, no relatório mensal de acompanhamento, sobre a efetividade dos quantitativos executados; verificar as adequações das especificações de materiais e equipamentos.... Observou que a jurisprudência do Tribunal é pacífica no sentido de que não se admite terceirização de serviços concernentes à área finalística dos órgãos e entidades da administração. O relator também em face desse motivo e por considerar caracterizado o fumus boni iuris e o periculum in mora, decidiu, em caráter cautelar, suspender o andamento das 26 concorrências conduzidas pela Funasa e promover sua oitiva a respeito do indício de irregularidade acima destacado e de outros. Precedentes mencionados: Acórdãos nºs /2005, 1.520/2006, 607/2008, 32/2010, 1.466/2010, todos do Plenário. Comunicação de Cautelar, TC /2012-2, rel. Min. Walton Alencar Rodrigues, Além da pretensão de transferir atividade-fim, o objeto do pregão ora combatido também é irregular porque representa burla à regra do concurso público (art. 37, II, da Constituição Federal). A licitação objetiva a contratação indireta de pessoal, caracterizando, em verdade, contrato de fornecimento de força de trabalho. Assim a lição de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, para quem a terceirização para fornecimento de mão-de-obra é ilícita, ante o citado art. 37, II, da Constituição: No âmbito da Administração Pública, a terceirização, como contrato de fornecimento de mão de obra,, não tem guarida, nem mesmo com base na Lei nº 6.019, que disciplina o trabalho temporário, porque a Constituição, no art. 37, inciso II, exige que a investidura em cargos empregos e funções se dê sempre por concurso (Parcerias na Administração Pública: concessão, permissão, franquia, terceirização, parceria público-privada e outras formas. 8 ed., p. 219). A leitura do termo de referência da licitação (anexo) não deixa dúvida quanto à real natureza da contratação pretendida. É flagrante o seu caráter de mero fornecimento de mão-de-obra, já que o dimensionamento do objeto dá-se não por serviço, procedimento ou atividade, mas por quantidade de profissionais disponibilizada, a exercerem a maior parte das atividades nas próprias dependências do IMAS, obedecendo, ademais, a certa carga horária, como se servidores fossem. Ressalta-se, ademais, que o IMAS, nos exercícios de 2012 e anteriores, adotava a prática de contratar diretamente profissionais para serviços de auditoria, sem concurso (anexo), o que não deixa dúvidas de que a presente licitação destinase tão somente à disponibilização de mão-de-obra por pessoa jurídica interposta. Nesses termos, certo que o Pregão Presencial nº 20/14 não pode prosperar. 5

6 b) Risco de violação da Lei de Responsabilidade Fiscal Em se tratando de licitação para o fornecimento de mão-de-obra, é importante ressaltar que as despesas decorrentes do contrato deverão ser consideradas despesas com pessoal para efeito de verificação dos limites fixados no art. 20, III, b, da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme art. 18, 1º, dessa lei: Art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como despesa total com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência. 1º Os valores dos contratos de terceirização de mão-de-obra que se referem à substituição de servidores e empregados públicos serão contabilizados como "Outras Despesas de Pessoal". Observa-se, porém, que o IMAS tem contabilizado as despesas com as contratações anteriores de idêntico objeto de modo a excluí-las do cômputo da despesa total com pessoal (anexo), ao utilizar a classificação (Serviços Técnicos Profissionais), em vez de (Outras Despesas de Pessoal decorrentes de Contratos de Terceirização), nos termos do Anexo II da IN nº 15/12. Ainda assim, o Relatório de Gestão Fiscal do Município de Goiânia relativo ao 3º quadrimestre de 2013 (Processo nº 02151/14) indica que o Poder Executivo superou o percentual limite dessa despesa (54%), tendo comprometido 54,96% da sua receita corrente líquida com pessoal, a despeito do subterfúgio contábil relatado. Com efeito, a licitação impugnada não pode resultar em contratação na forma pretendida, sob pena de violação ao disposto no art. 22 da LRF, que veda a contratação de pessoal a qualquer título quando superados os limites, podendo configurar também as infrações previstas no art. 5º, III e IV, da Lei nº /00 1. c) Risco de antieconomicidade da contratação Destaca-se também que a interposição de pessoa jurídica prestadora de serviços de auditoria acrescenta os custos da remuneração da empresa. E uma vez que a interposição pretendida é ilícita, a presente licitação rende ensejo a despesas desnecessárias, havendo assim risco de antieconomicidade na futura contratação. 1 Art. 5 o Constitui infração administrativa contra as leis de finanças públicas: III deixar de expedir ato determinando limitação de empenho e movimentação financeira, nos casos e condições estabelecidos em lei; IV deixar de ordenar ou de promover, na forma e nos prazos da lei, a execução de medida para a redução do montante da despesa total com pessoal que houver excedido a repartição por Poder do limite máximo. 1 o A infração prevista neste artigo é punida com multa de trinta por cento dos vencimentos anuais do agente que lhe der causa, sendo o pagamento da multa de sua responsabilidade pessoal. 2 o A infração a que se refere este artigo será processada e julgada pelo Tribunal de Contas a que competir a fiscalização contábil, financeira e orçamentária da pessoa jurídica de direito público envolvida. 6

7 d) Falhas no Termo de Referência da Licitação O regime de execução eleito para o futuro contrato é o de empreitada por preço unitário. Porém, o termo de referência (Anexo I do Edital documentação anexa) falha em detalhar o objeto de modo compatível com tal regime. Nos termos da Lei nº 8.666/93, art. 6º, VIII, b, a empreitada por preço unitário é adequada quando se contrata a execução da obra ou do serviço por preço certo de unidades determinadas. Contudo, o termo limita-se a prever quantitativo de profissionais e carga horária, nada dispondo quanto a quantidade de procedimentos ou resultados. A forma adotada não somente deixa flagrante, frisa-se mais uma vez, a natureza de simples fornecimento de mão-de-obra do futuro contrato, como também dificulta a formulação de propostas, já que a ausência de individualização e quantificação dos serviços ou dos resultados torna difícil e mesmo temerária a definição dos preços. Isso também representa indício de falha no planejamento e de ausência de referencial de preço adequado. O fato de a Administração não detalhar e quantificar os serviços ou produtos dos serviços no termo é indicativo de que sequer conhece os custos unitários da prestação que pretende contratar. Ademais, considerar profissional por carga horária como unidade determinada, na forma expressa no termo de referência, significa contratar a disponibilização do profissional por tempo determinado, independentemente dos resultados que produzir, o que não se afigura nem eficiente, nem econômico, além de indicar embaraço ao controle da execução. A jurisprudência do TCU consolidou-se quanto à irregularidade de contratações nesses termos, conforme se extrai da decisão que se transcrita: [Denúncia. Terceirização de serviços de informática. Adoção indevida de contratação com pagamento por hora trabalhada ou por posto de serviço. Anulação do contrato. Procedimento licitatório para remuneração dos serviços em função dos resultados obtidos. Multa aos responsáveis] [ACÓRDÃO] 9.3. aplicar aos Srs. [responsáveis 1, 2 e 3], individualmente, a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, no valor de R$ 5.000,00 [...]; 9.4. determinar ao Incra/PB que: adote providências, caso ainda não tenha feito, para, no prazo de 30 (trinta) dias, anular o Contrato nº 3/2008, firmado com a empresa [omissis]., originário do Pregão nº 9/2007, para a contratação de empresa especializada na área de informática, por se tratar de mera locação de mão de obra, com pagamento por hora trabalhada ou por posto de serviço, ao arrepio do art. 4º, incisos II e IV, do Decreto nº 2.271, de 1997, do Enunciado nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho e da consolidada jurisprudência do TCU, a exemplo dos Acórdãos 786/2006, 1.329/2007, 1.238/2008, 1.453/2009, 265/2010 e 2.746/2010 do Plenário; adote, em procedimento licitatório na área de tecnologia da informação, a remuneração dos serviços em função dos resultados obtidos, abstendo-se, por conseguinte, de prever mera locação de mão de obra e pagamento por hora-trabalhada ou por posto de serviço, sempre que a prestação do serviço puder ser avaliada por determinada unidade quantitativa de serviço prestado ou por nível de serviço alcançado, em observância art. 3º, 1º, do Decreto nº 2.271, de 1997, c/c os arts. 6º e 14, inciso II, alínea "i", e 2º, da Instrução Normativa SLTI nº 4, de 19 de maio de 2008; Nesses termos, tem-se a inadequação do termo de referência do pregão ora 7

8 impugnado e da modalidade de execução prevista, bem como indicativo de insuficiência de planejamento para a contratação e de referencial de preço confiável, em violação do art. 7º, 2º, I e II, da Lei nº 8.666/93, razões pelas quais o procedimento licitatório não merece prosperar. e) Necessidade de medida cautelar Em vistas das falhas supracitadas, suficientes para acarretar a nulidade da licitação impugnada e do contrato decorrente, constata-se a presença da fumaça do bom direito, a ensejar a paralisação imediata do Pregão Presencial nº 20/2014. O perigo da demora, por sua vez, também se faz presente e reside na iminência da sessão do pregão, marcada para ocorrer no dia 28 de março próximo. Preenchidos, assim, os requisitos para a concessão de medida de urgência, torna-se imprescindível determinar a suspensão cautelar do Pregão nº 20/2014. f) Legitimidade do Ministério Público junto ao TCM/GO O artigo 94, inciso I, da Lei Orgânica do TCM/GO (Lei Estadual n /07) dispõe sobre a atribuição dos Procuradores de Contas para promoverem a defesa da ordem jurídica, requerendo, perante o Tribunal de Contas dos Municípios, as medidas de interesse da Justiça, da Administração e do Erário. Já o artigo 208, inciso II, do RITCM/GO, ao tratar especificamente sobre os legitimados para representarem perante o Tribunal, estabelece que: Art Têm legitimidade para representar ao Tribunal de Contas dos Municípios: II Membros do Ministério Público de Contas junto a este Tribunal; Em face disso, é inequívoca a aptidão do autor para provocar o Tribunal. g) Competência do TCM/GO A Lei Orgânica do TCM/GO dispõe que compete a esta Corte de Contas exercer a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial das prefeituras e câmaras municipais demais entidades instituídas e mantidas pelo Poder Público Municipal (Art. 1º, inciso II, da Lei Estadual n.º /07). Além disso, a Lei Orgânica do TCM/GO autoriza, expressamente, a iniciativa desta Corte para realizar fiscalizações e auditorias, nos seguintes termos: Art. 1º Ao Tribunal de Contas dos Municípios, órgão de controle externo, compete, nos termos da Constituição Estadual e na forma estabelecida nesta Lei: V - realizar, por iniciativa própria ou da Câmara Municipal, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades 8

9 administrativas dos Poderes Legislativo e Executivo municipais e demais entidades instituídas e mantidas pelo erário municipal; Art. 19. O Tribunal exercerá a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial das unidades dos Poderes Municipais e das entidades da administração indireta, inclusive das fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público Municipal, na forma estabelecida no Regimento Interno, para verificar a legalidade, a legitimidade e a economicidade de atos, contratos, convênios, termos de parceria e outros ajustes, das aplicações das subvenções e renúncias de receitas, com vistas a assegurar a eficácia do controle que lhe compete e a instruir o julgamento de contas de gestão. Cita-se, também, a regra de competência específica em matéria de licitações e contratos trazida pela Lei nº 8.666/93, que segue transcrita: Art O controle das despesas decorrentes dos contratos e demais instrumentos regidos por esta Lei será feito pelo Tribunal de Contas competente, na forma da legislação pertinente, ficando os órgãos interessados da Administração responsáveis pela demonstração da legalidade e regularidade da despesa e execução, nos termos da Constituição e sem prejuízo do sistema de controle interno nela previsto. Explícita, assim, no caso, a competência do TCM/GO para a matéria. II - REQUERIMENTOS: Ante o exposto, este Ministério Público de Contas requer: a) de início, seja deferida medida cautelar, em caráter liminar, para determinar à Presidente do IMAS, senhora Cristina Laval, ao Secretário de Administração do Município, senhor Valdi Camarcio Bezerra, à pregoeira condutora do procedimento, senhora Lucíula dos Santos Ferreira, e ao Prefeito do Município de Goiânia, senhor Paulo Garcia, a imediata suspensão do Pregão Presencial nº 20/14, sob pena de aplicação de multa fundada no art. 47-A, X, da LOTCM, fixando-se o prazo de 05 dias para comprovação do cumprimento da ordem de suspensão; b) seja deferido o prazo de 15 (quinze) dias para que os agentes supramencionados se pronunciem a respeito das irregularidades apontadas na representação, consoante art. 246, 4, do RITCM, e art. 56, 3º, da Lei Estadual nº /07 (LOTCM); c) ao fim, confirmados os vícios apontados nesta representação, seja determinada a anulação do Pregão Presencial nº 20/2014, sob pena de multas pelas infrações previstas no art. 47-A, VIII, X e XVI, da LOTCM, bem como art. 5º, III e IV, da Lei Federal nº /00, sem prejuízo de apuração de outras infrações, aplicação de demais sanções legais e de débito por despesas irregulares decorrentes. Pede deferimento. Goiânia, 24 de março de Marco Aurélio JOSÉ GUSTAVO ATHAYDE Procurador de Contas 9