EFEITOS DO PROGRAMA DE TREINAMENTO FÍSICO DO NÚCLEO DE APOIO A SAÚDE DA FAMÍLIA NO PACIENTE DIABÉTICO TIPO 2

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1 EFEITOS DO PROGRAMA DE TREINAMENTO FÍSICO DO NÚCLEO DE APOIO A SAÚDE DA FAMÍLIA NO PACIENTE DIABÉTICO TIPO 2 VLADIMIR GUEDES DE OLIVEIRA LUIS GUILHERME DA FONSECA Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Educação Física e Desportos Pós-Graduação Atividade Física em Saúde e Reabilitação Cardíaca vladimirpds@yahoo.com.br RESUMO INTRODUÇÃO: Estudos apontam que a diabetes melito afeta aproximadamente 171 milhões de indivíduos em todo o globo. Pensando nesta política de prevenção o Ministério da Saúde criou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família. OBJETIVO: O objetivo deste estudo é avaliar a eficiência de um programa de exercícios físicos associado a recomendações nutricionais no controle do diabetes tipo 2. METODOLOGIA: Para o estudo foram selecionados 21 indivíduos portadores do diabetes tipo 2, divididos em três grupos. O primeiro grupo exercício mais nutrição, realizou atividade física 2 vezes por semana com orientação nutricional uma vez ao mês. O segundo grupo nutrição, recebeu orientação uma vez ao mês e o terceiro grupo controle, não sofreu nenhuma intervenção. Foram avaliadas glicemia, índice de massa corporal, peso corporal, pressão arterial sistólica e diastólica, pré e pós intervenção. Para a análise das possíveis diferenças entre os grupos no período pré, foi realizado a teste t de student para amostras independentes. Para as possíveis diferenças entre pré e pós intervenção, foi realizado teste t de student para amostras dependentes. RESULTADOS: O grupo exercício mais nutrição, apresentou significativa redução nos valores glicêmicos, pré 184,8 ± 37,9 pós 136,2* ±18,4. *p<0,05 vs Pré. O grupo nutrição não apresentou alterações significativas nos valores glicêmicos, pré 190,1 ± 70,0 pós 202,4 ± 49,2. O grupo controle apresentou aumento nos valores glicêmicos pré 187,4 ± 80,7 pós 281,4* ± 68,1. *p<0,05 vs Pré. CONCLUSÃO: Os resultados comprovam que o grupo exercício mais nutrição obteve significativa redução nos valores glicêmicos. Palavra-chave: Diabetes Melito. Exercício físico. Glicemia. Tratamento.

2 ABSTRACT INTRODUCTION: Diabetes Mellitus affects approximately 171 million people all over the world. OBJECTIVE: Evaluate a physical exercise program associated to nutritional recommendations in diabetes treatment. METHODS: 21 type 2 diabetes individuals were selected and divided into three groups. RESULTS: The group exercise plus nutrition, significantly reduced the glucose levels, pre- 184,8 ±37,9 and post-exercise 136,2*±18,4. *p<0,05 vs pre-exercise. The nutrition group didn t present any changes in glucose levels; the control group showed an increase in glucose level. CONCLUSION: The results indicate that the group exercise plus nutrition significantly reduced glucose levels. Keywords: Diabetes Mellitus. Exercise. Glycemia. Treatment

3 INTRODUÇÃO A incidência do Diabetes Melito do tipo 2 (DM2) se faz muito presente em nossa realidade atual, e é resultante da soma entre predisposição genética, estilo de vida e má alimentação. O DM2, geralmente se instala de forma insidiosa, e resulta na redução da produção de insulina pelo pâncreas e/ou pela resistência insulínica, isto é, as células não conseguem absorver e metabolizar suficiente a glicose da corrente sanguínea. Em outras palavras, a insulina não consegue exercer adequadamente seus efeitos no organismo (1,2). O Diabetes Melito (DM) é uma doença crônica extremamente presente, estudos apontam que a DM afeta aproximadamente 171 milhões de indivíduos em todo o globo e com projeção de alcançar 366 milhões de indivíduos até o ano de 2030 (3). Estima-se que entre os tipos de DM, o DM2 é o mais freqüente, sendo responsável por 90% dos casos. Acometendo indivíduos com idade > 45 anos, com obesidade central, histórico de doença cardiovascular, parentes em primeiro grau com diabetes, dislipidemia, hipertensão, sedentarismo e portadores de intolerância à glicose ou glicemia de jejum alterada (2,3,4). O diagnóstico correto e precoce da doença é extremamente importante, pois permite que sejam adotadas medidas que proporcionem maior qualidade de vida em indivíduos diagnosticados, retardando o aparecimento de complicações provenientes da doença (2,3). O diagnóstico da diabetes é expresso em valores de glicose plasmática de jejum de oito horas 126 mg/dl; ou glicemia plasmática 2h após sobrecarga oral de 75g de glicose 200 mg/dl (5). Por meio de medidas relativamente simples, podemos reduzir de forma significativa a incidência de complicações associadas ao diabetes. Estudos recentes vêm demonstrando o benefício que um programa de exercícios físicos estruturado com intensidade moderada, associado a uma alimentação balanceada, apresentou melhora no controle glicêmico, pressão arterial, redução da frequência cardíaca de repouso, melhora em níveis de lipídios plasmáticos, redução de medidas antropométricas e redução no Índice de Massa Corporal (IMC), em pacientes portadores de DM2 (6,7,8). Pensando nesta política de prevenção a complicações associadas ao DM, o Ministério da Saúde criou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), mediante a Portaria GM nº 154, de 24 de janeiro de 2008(9). Implantado no Município de Paraíba do Sul em 20 de janeiro de 2009 o NASF é entendido como uma potente estratégia para ampliar a abrangência e a diversidade das ações das ESF (Equipes Saúde da Família), promovendo educação em saúde e desenvolvendo ações que possibilitem uma maior qualidade de vida aos seus usuários. Composto por uma equipe com profissionais de diversas áreas do conhecimento, envolvendo: Assistência Social, Nutrição, Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Farmácia, Psicologia, Terapia Ocupacional e Ginecologia (10,11). O trabalho do NASF deve ser sempre priorizando o atendimento compartilhado e interdisciplinar, com troca de saberes, capacitação e responsabilidades mútuas, gerando experiência para todos os profissionais envolvidos, mediante amplas metodologias, tais como estudos e discussão de casos e situações, projetos terapêuticos, orientações e atendimentos em conjunto (10,11,12). O objetivo deste estudo é avaliar a eficiência de um programa de exercícios físicos (PEF) associado a recomendações nutricionais (RN) no controle do DM2. Apesar de estar bem estabelecido que a prática regular de um PEF e RN melhora o controle glicêmico (1,2,3,4,6,7,8), nenhum estudo avaliou um grupo de pacientes pertencentes ao programa NASF.

4 MÉTODOS Para este estudo foram avaliados 21 indivíduos com Diabetes Melito do tipo 2 (DM2) participantes do programa NASF do município de Paraíba do Sul - RJ. Para a participação na pesquisa, os pacientes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Os critérios de inclusão no estudo foram: 1) diagnostico de DM2, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (5); 2) tempo de diagnostico clinico superior a 10 anos; 3) ambos os sexos; 4) pressão arterial (PA): sistólica 160 mmhg e diastólica 100 mmhg; 5) ausência de complicações crônica do DM que pudessem prejudicar ou serem prejudicadas pelo programa de exercício físico. Todos os pacientes incluídos no estudo fazem uso continuo de metformina ou glibenclamida e anti-hipertensivo, podendo variar em propanolol, atenolol, enalapril e captopril. Os pacientes estudados foram divididos em três grupos, cada grupo foi composto por sete indivíduos, sendo seis mulheres e um homem. Grupo Controle (GC) este grupo não realiza qualquer tipo de atividade orientada, e se apresenta resistente a orientação nutricional e a prática de exercícios, realizando apenas os exames de glicemia na Unidade Básica de Saúde (UBS); Grupo Nutrição (GN) este grupo recebe orientação nutricional em reuniões realizadas pela nutricionista na UBS uma vez por mês; Grupo Exercício mais Nutrição (GEN) este grupo recebe orientação nutricional igual ao Grupo Nutrição, em reuniões realizadas pela nutricionista na UBS uma vez por mês e realizam uma prática de exercícios físicos estruturados, na UBS do bairro Niágara no município de Paraíba do Sul - RJ, duas vezes por semana, com duração de 50 minutos, sob orientação de um profissional de educação física. O programa de exercícios físicos é dividido em quatro estágios: 1) aquecimento (10 minutos): exercícios de alongamento; 2) trabalho aeróbico (20 minutos): caminhada na quadra da UBS; 3) trabalho resistido (10 minutos): exercícios resistidos para membros inferiores e superiores; 4) relaxamento (10 minutos): exercícios de alongamento e relaxamento. A intensidade do programa de exercícios foi de 60 a 70% da freqüência máxima dos pacientes (FC Máx) predita para a idade (220 idade), foi utilizada a percepção subjetiva do esforço para controlar a intensidade da caminhada e do exercício resistido, com o nível de intensidade mantido entre 4 a 6 orientado pela Escala de Borg adaptada- Vivacqua, Para o exercício resistido foi utilizado material alternativo garrafas pet de 600 ml, cheias com areia ou água como carga de trabalho. Foi avaliada no estudo a Pressão Arterial Sistólica (PAS), Pressão Arterial Diastólica (PAD) em coleta de dados no prontuário dos pacientes na UBS. Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado pela fórmula: peso corporal/altura². Peso corporal e estatura foram feitos por uma balança Filizola na UBS. A coleta da glicemia foi feita através de exames laboratoriais de glicemia de jejum de oito horas; todos os dados foram coletados pré e pós intervenção com um intervalo entre eles de quatro meses, todos os dados estão registrados em prontuário na UBS. ESTATÍSTICA Os dados são expressos em média ± desvio padrão. Para análise das possíveis diferenças entre os grupo no basal foi realizado a teste t de student para amostras independentes. Para análise das possíveis diferenças entre pré e pós intervenção foi realizado teste t de student para amostras dependentes.

5 RESULTADOS Na avaliação das características iniciais, não houve diferenças entre os grupos com relação à idade, peso, glicemia, IMC, PAS, PAD, os dados serão apresentados na tabela 1. Os dados de peso, IMC, PAS, PAD e glicemia pré e pós intervenção serão apresentados na tabela 2. DISCUSSÃO Os resultados do presente estudo demonstram que os indivíduos do Grupo Exercício mais Nutrição (GEN) apresentaram redução estatisticamente significativa nos valores da glicemia, enquanto o Grupo controle (GC), o qual apresentou aumento expressivo nos valores glicêmicos comparados com o GEN. O grupo Nutrição (GN) não apresentou alterações estatisticamente significativas nos valores glicêmicos, isto é, o GN manteve os valores glicêmicos, que representa um controle da glicemia. O Estudo não apresentou alterações estatisticamente significativas nos valores de peso, IMC, PAS, PAD em nenhum dos três grupos estudados. Estes achados podem ser justificados no GEN pela freqüência do programa de exercícios ser de apenas duas vezes por semana, isto devido à disponibilidade de tempo dos pacientes. No entanto a variável avaliada foi a glicemia, que apresentou uma redução expressiva. Os achados do presente estudo estão de acordo com literatura, Silva e cols. (8) realizaram estudos em indivíduos diabéticos melito tipo 2 durante 10 semanas, sendo 4 sessões por semana de 60 minutos cada. As sessões eram compostas por exercícios aeróbicos e resistidos, com intensidade de leve a moderada (50% a 80% da Freqüência cardíaca máxima), este estudo encontrou significativa redução nos valores da glicemia de jejum e capilar. Zinker e cols. (13) avaliaram três grupos de indivíduos diabéticos, onde o primeiro grupo fez exercícios físicos de maneira estruturada, enquanto o segundo e terceiro grupo fizeram uso de fármacos. Identificou que o grupo que fez exercícios físicos de maneira estruturada foi o que apresentou melhor índice na sensibilidade a insulina. Monteiro e cols. (7) realizara um estudo com 11 idosas diabéticas tipo 2, elas foram divididas em dois grupos. O primeiro grupo realizou 13 semanas de trabalho aeróbico e o segundo grupo foi submetido apenas a orientações educativas. O estudo demonstrou redução significativa da glicemia em ambos os grupos. Tais achados neste estudo podem ser justificados pela translocação das vesículas de GLUT4 para a membrana da célula muscular, captando glicose por uma via intracelular e que não depende a ação da insulina, sendo responsável por grande parte da captação de glicose muscular durante o exercício, pois sabe-se que o individuo com diabetes apresenta diminuição na síntese e na secreção de insulina. É possível que esta via esteja potencializada durante o exercício. Outro fato que justifica a redução na glicemia no GNE é o fator dieta, que associado a prática de exercício físico é um dos tratamentos mais recomendado e reconhecido no tratamento para o DM2 (1,2,4,5). CONCLUSÃO Os resultados do presente estudo demonstram que o Grupo Exercícios mais Nutrição (GEN) do Programa Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) do Município de Paraíba do Sul RJ, apresentou redução nos valores glicêmico pré e pós intervenção em um período de quatro meses, em indivíduos diabéticos tipo 2.

6 REFERÊNCIAS 1- Pollock ML, Wilmore JH. Exercício na saúde e na doença: avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p Negrão CE, Barretto ACP. Cardiologia do Exercício do atleta ao cardiopata. 3ª Ed. Barueri, SP: Manole, p Lyra R, Oliveira M, Lins D, Cavalcanti N. Prevenção do Diabetes Mellitus Tipo 2. Arq Bras Endocrinol Metab. 50: ; Brasil, Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica: envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Mistério da Saúde, p Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Consenso brasileiro sobre diabetes: diagnóstico e classificação do diabetes melito e tratamento do diabetes melito tipo 2. Rio de Janeiro: Diagraphic Ed, Vancea DMM, Vancea JN, Pires MIF, Reis MA, Moura RB, Dib AS. Efeitos da Freqüência do Exercício Físico no Controle Glicêmico e Composição Corporal de Diabéticos Tipo 2. Arq Bras Cardiol. 92(1): 23-30; Monteiro LZ, Fiani CRV, Freitas MCF, Zanetti ML, Foss MC. Redução da pressão arterial, da IMC e da glicose após treinamento aeróbico em idosas com diabete tipo 2. Arq. Bras. Cardiol. 95(5): ; Silva CA, Lima WC. Efeito Benéfico do Exercício Físico no Controle Metabólico do Diabetes Mellitus Tipo 2 à Curto Prazo. Arq Bras Endocrinol Metab. 46(5): ; Diario Oficial da União. Portaria n 154, de 24 de janeiro de Brasil, Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica: Diretrizes do NASF Núcleo de Apoio a Saúde da Família. Brasília: Mistério da Saúde, Barbosa EG, Ferreira DLS, Furbino SAR, Ribeiro EEN. Experiência da Fisioterapia no Núcleo de Apoio a Saúde da Família em Governador Valadares, MG. Fisiter Mov. 23(2): ; Oliveira KPC, Vieira EL, Oliveira JD, Oliveira KR, Lopes FJG, Azevedo LF. Exercício aeróbio no tratamento da hipertensão arterial e qualidade de vida de pacientes hipertensos do Programa de Saúde da Família de Ipatinga. Rev Bras Hipetens. 17 (2): 78-86; Zinker BA. Nutrition and exercise in individuals with diabetes.clin Sports Med. 10(3): ; 1999.

7 TABELA 1- CARACTERÍSTICAS INICIAIS DOS GRUPOS BASAL GC GN GEN N Idade 50 ± ± ± 8 Peso 80 ± ± ± 9 Glicemia 187 ± ± ± 37 IMC 32,84 ± 4 30,01 ± 3 28,89 ± 4 PAS 132 ± ± ± 7 PAD 82 ± 5 80 ± ± 3 GC- grupo controle; GN- grupo nutrição; GEN- grupo exercício mais nutrição; N- números de indivíduos; IMC índice de massa corpórea; PAS pressão arterial sistólica; PAD pressão arterial diastólica; (p>0,05).

8 TABELA 2- DADOS PRÉ E PÓS INTERVENÇÃO GC GN GEN N Glicemia Peso Pré 187,4 ± 80,7 190,1 ± 70,0 184,8 ± 37,9 Pós 281,4* ± 68,1 202,4 ± 49,2 136,2* ± 18,4 Pré 80,9 ± 11 76,3 ± 11 69,3 ± 9 Pós 82,1 ± 11 75,8 ± 11 68,4 ± 9 IMC Pré 32,84 ± 4,7 30,01 ± 3,7 28,89 ± 4,3 Pós 33,13 ± 4,7 30,43 ± 4,3 28,48 ± 4,2 PAS Pré 132,8 ± ,2 ± ,1 ± 7 Pós 134,2 ± ± ,8 ± 7 PAD Pré 82,8 ± 4 80 ± 10 81,4 ± 3 Pós 81,4 ± 8 80 ± 10 81,4 ± 3 GC- grupo controle; GN- grupo nutrição; GEN- grupo exercício mais nutrição; N- números de indivíduos; IMC índice de massa corpórea; PAS pressão arterial sistólica; PAD pressão arterial diastólica; (*p<0,05 vs Pré).