41047 Problemas Sociais Contemporâneos

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1 41047 Problemas Sociais Contemporâneos Apontamentos de: Jorge Loureiro Data: Livro: Problemas Sociais Contemporâneos (Hermano Carmo coord.) Nota: Matéria referente ao ano lectivo (Mestre Rosana Albuquerque)

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3 1. Estudar os problemas sociais 1.1. Dos problemas sociais aos problemas sociológicos O que são problemas sociais? Podemos apresentar desde já duas definições possíveis: segundo Rubington e Weinberg (1995:4), um problema social é uma alegada situação incompatível com os valores de um significativo número de pessoas, que concordam ser necessário agir para a alterar. Para Spector e Kitsuse (citado em Hester, Eglin 1996:1), um problema social é constituído pelo conjunto das acções que indivíduos ou grupos levam a cabo ao prosseguirem reivindicações relativamente a determinadas condições putativas. As duas definições são muito diferentes nos seus pressupostos. Enquanto que a primeira se centra na situação que é considerada problema, a segunda definição privilegia o processo pelo qual uma situação é considerada como problema. É difícil chegar a uma definição consensual do que seja um problema social, quer ao nível da realidade social, quer entre os sociólogos que se dedicam ao seu estudo, porque a definição depende da perspectiva que se adopta. Os problemas sociais, imbuídos de um significado social (porque se definem em função de um conjunto de valores sociais), ao passarem pelo crivo do método científico, adquirem um significado sociológico, isto é, reflectem valores sociológicos relativos às perspectivas teóricas e metodológicas seguidas (Pais 1996). Para que um problema social possa ser considerado problema sociológico deve possuir as condições de regularidade, uniformidade, impessoalidade e repetição (Gonçalves 1969:12). A problematização sociológica dos problemas sociais implica mesmo a desconstrução destes, o desmantelar do significado social de maneira a criar um significado de acordo com o discurso científico (Quivy, Campenhoudt 1992). Ao nível do significado social, a juventude é problematizada relativamente a aspectos tão variados como a inserção profissional, a emancipação adulta, a toxicodependência, a crise dos valores tradicionais, entre muitos outros aspectos. Mas, problematizar sociologicamente a juventude será questionar, por exemplo, se os jovens sentem estes problemas como seus e de que forma os percepcionam (Pais 1996). Será questionar a definição de jovem, quais as soluções que a sociedade preconiza para os problemas da juventude e quais as suas consequências. A velhice enquanto problema social e sociológico é outro exemplo (Fernandes 1997). Foi com a industrialização, a urbanização e o envelhecimento demográfico que começaram a criar-se as condições para a definição da velhice enquanto problema social a ser solucionado. Problematizar a velhice em termos sociológicos será questionar, por exemplo como o faz Fernandes (1997: 62-63), que transformações ocorreram nas famílias e na sociedade portuguesa que possam explicar a emergência do problema social [...] velhice? [...] 3

4 A questão do positivismo versus relativismo Pensamos ser fundamental fazer aqui uma primeira reflexão sobre as condições epistemológicas do estudo dos problemas sociais. O conhecimento sociológico pode ser situado num contínuo epistemológico que vai do Positivismo ao Relativismo. A sociologia positivista defende a procura de leis sociais (à semelhança das leis do mundo natural) a partir de um método indutivoquantitativo, e advoga uma separação absoluta entre a Ciência e a Moral, isto é, entre os factos e os valores (Lapassade, Lourau 1973). Para a ciência positivista é possível conhecer objectivamente a realidade social, uma vez que existem critérios universais do conhecimento e da verdade. Ao abordar os problemas sociais, a sociologia positivista estuda situações objectivas, que são definidas como problemas em razão de características que lhe são próprias. Daí a necessidade de se conhecerem as suas causas e de se chegar à elaboração das leis que regem o fenómeno. No outro extremo do contínuo está a posição relativista, segundo a qual não existe nenhum critério universal para o conhecimento e para a verdade. Todos os critérios utilizados serão sempre internos ao sistema cogniscente e, como tal, serão relativos e não universais. Consequentemente, a definição do que seja um problema social será sempre relativa, será antes de mais um rótulo colocado a determinadas situações, e não uma característica inerente à situação em si mesma. Como resultado desta argumentação, o estudo das causas ou da etiologia da situação é deixado de lado ou secundarizado. O que importa estudar é a definição subjectiva dos problemas sociais, conhecer os processos pelos quais uma dada situação se torna problema social A aplicabilidade da ciência e o desenvolvimento teórico Um problema pressupõe uma solução. O nascimento e desenvolvimento das ciências sociais, particularmente da sociologia, durante o século XIX esteve intimamente ligado ao estudo das preocupações humanas para as quais os actores sociais pensaram e desenvolveram soluções humanas, isto é, sociais. Desde o início, os sociólogos tentam equacionar o que Rubington e Weinberg (1995:360) denominam de mandato duplo: a) por um lado, dar atenção aos problemas existentes na sociedade, numa perspectiva de correcção da realidade social, através dos conhecimentos empíricos adquiridos; b) por outro lado, desenvolver teórica e metodologicamente a sociologia enquanto ciência. Hester e Eglin, seguindo Matza (Hester, Eglin 1996:4) consideram que o primeiro tipo de perspectiva pode ser denominado de sociologia correctiva, que parte dos seguintes pressupostos:

5 5 Equivalência de problema social a problema sociológico As questões sociológicas derivam das preocupações sociais O grande objectivo do estudo sociológico é a melhoria dos problemas sociais Preocupação central com as causas ou etiologia dos problemas Compromisso com os princípios positivistas da ciência Ao concentrar-se em responder à questão porque é que os comportamentos acontecem, não questiona porque é que as situações são definidas como problema, aceitando as definições socialmente estabelecidas. O mandato duplo dos sociólogos não deve ser entendido como mutuamente exclusivo, pois como já defendia Kurt Lewin, uma boa teoria é sempre prática, e a prática empírica é sempre indispensável ao desenvolvimento teórico. A separação entre os dois domínios é um falso problema. A questão da aplicabilidade da sociologia e doutras ciências sociais levanos a referir a posição que muitos autores tomam denominada de Sociologia de Intervenção (Carmo 1999; Hess 1983). A Sociologia de Intervenção não é uma especialidade ou ramo sociológico, mas sim um modo de ver o trabalho do cientista social que, em vez de isolar assepticamente o investigador do seu objecto de estudo, o desafia a ser contaminado por este, o leva a intervir activamente na realidade que estuda e a não separar os papéis de investigador e de cidadão. A investigação social deve ser utilizada para melhorar a sociedade, segundo princípios humanistas de solidariedade e de libertação. Na Sociologia de intervenção, a sociologia é um vírus que toca a toda a gente. Ela deve ser feita pelos próprios grupos sociais, sendo o sociólogo antes de mais aquele que propaga o vírus do que aquele que produz a sociologia como momento particular do saber social. Após esta breve introdução a dois aspectos que consideramos fundamentais para se perceberem as diferentes aproximações sociológicas ao estudo da realidade social, passamos a descrever algumas perspectivas possíveis de estudo e compreensão dos problemas sociais, para o que seguimos de perto as sete correntes sociológicas propostas por Rubington e Weinberg (1995) na sua obra de síntese sobre esta matéria, sendo apresentadas pela ordem cronológica em que dominaram o pensamento sociológico norte-americano, como defendem estes autores. Dividimos as perspectivas em duas categorias, segundo a linha positivista ou relativista que adoptam, de acordo com o que foi exposto acima.

6 As perspectivas de estudo dos problemas sociais As perspectivas da Sociologia Positivista Patologia Social Os avanços e os sucessos de disciplinas já instaladas, como a biologia e a medicina, influenciaram profundamente os sociólogos a adoptarem a analogia do organismo ao seu objecto de estudo: a sociedade. Adoptaram igualmente um modelo médico de diagnóstico e de tratamento. Os problemas sociais são entendidos como doenças ou patologias sociais. O pensamento organicista, cujo autor mais consistente foi o britânico Herbert Spencer, defende que a sociedade e os seus elementos podem sofrer malformações, desajustamentos e doenças, à semelhança dos organismos vivos. Este argumento pressupõe um estado de saúde ou de normalidade do organismo, sendo que as pessoas e as situações que interfiram com este estado de normal funcionamento do organismo social são assim considerados problemas sociais. Para a corrente da Patologia Social, um problema social é uma violação de expectativas morais (Rubington, Weinberg 1995:19). A condição de saúde ou normalidade do organismo é definida por valorações do Bem e do Mal. A patologia pode ser encontrada no indivíduo ou no mau funcionamento institucional. Foi a perspectiva do Homem Delinquente da escola positiva italiana de criminologia, donde se destacaram Cesare Lombroso, Ferri e Garófalo (Dias, Andrade 1984). Uma vez que o problema está no indivíduo, é essencial que se identifiquem as características que diferenciam o elemento doente daqueles que são normais. Para Cesare Lombroso, era claro que a explicação do comportamento criminal dos indivíduos estava em características fisiológicas particulares, como o tamanho dos maxilares, assimetria facial, orelhas grandes ou a existência de um número anormal de dedos. Já no séc. XX, avançaram-se outras explicações de base psicológica ou biológica, ao nível de anormalidade cromossomática (um duplo cromossoma Y) ou predisposição genética para a extroversão, que segundo Eysenck está ligada a comportamentos de violação de normas (Aggleton 1991; Dias, Andrade 1984). Esta corrente voltou a ganhar alguma importância na década de 1960, mas os novos patologistas sociais afastaram-se da procura de deficiências nos indivíduos e centraram-se antes nas deficiências na socialização. Segundo esta nova aproximação à patologia social, os problemas sociais seriam o resultado da incorporação de valores errados pelos indivíduos, fruto de uma sociedade doente. Neste sentido, a solução para os problemas

7 sociais passaria necessariamente pela educação moral da sociedade e pela incorporação de valores moralmente correctos. A grande crítica, e para muitos autores fatal, que se coloca a esta perspectiva reporta-se à definição de patologia: como podemos definir o que é patológico? Vytautas Kavolis (citado em Rubington, Weinberg 1995:35-39) propôs a conceptualização de patologia como sendo um comportamento destrutivo ou auto-destrutivo. Para Kavolis a definição de comportamento destrutivo seria possível em termos absolutos, isto é, igual em todas as sociedades humanas. Mas, apesar desta tentativa de Kavolis, os autores relativistas, como Carl Rosenquist (citado em Rubington, Weinberg 1995:45-50) defendem que é impossível chegarmos a uma definição objectiva do que é patológico, até porque a saúde da sociedade passa muitas vezes pela doença de algumas das suas partes. Para Rosenquist, a única forma de se estudarem os problemas sociais é passando ao lado do que constitui a sua condição problemática e aceitar o julgamento social como um dado Desorganização Social Ainda segundo Rubington e Weinberg (1995), os quatro teóricos mais importantes da desorganização social foram Charles Cooley, Thomas, Znaniecki e William Ogburn. Cooley teorizou a distinção entre grupos primários e secundários, sendo que nos grupos primários os indivíduos vivem relacionamentos face a face, mais intensos e duradouros, enquanto que nos grupos secundários as relações sociais são mais impessoais e menos frequentes. Na sua obra de 1909, precisamente intitulada Social Organization (citado em Rubington, Weinberg 1995), Cooley definiu a desorganização social como sendo a desintegração das tradições. De forma semelhante, Thomas e Znaniecki, no seu estudo clássico sobre os imigrantes polacos, conceptualizaram a desorganização social como a quebra de influência das regras sociais sobre os indivíduos. O contributo de Ogburn centrou-se no conceito de desfasamento cultural (cultural lag) que este autor propôs. Para a perspectiva da desorganização social, a sociedade não é um organismo mas sim um sistema, composto por várias partes interdependentes. Aos teóricos acima mencionados, gostaríamos de acrescentar os nomes de Robert Park, Ernest Burgess e Roderick McKenzie, os quais consideramos incontornáveis ao falarmos em desorganização social, no seguimento dos estudos que levaram a cabo sobre a organização espacial da cidade. Efectivamente, o fenómeno da urbanização é central para a perspectiva da desorganização social ao estar relacionado com o enfraquecimento das relações face a face e das tradições sociais. Para os autores da Escola de Chicago a desorganização social, e por conseguinte os problemas sociais, têm uma distribuição 7

8 8 desigual pelas zonas da cidade, apresentando maior intensidade na zona II 1, precisamente uma zona de Transição, onde se concentram os migrantes recentes (imigrantes e população vinda das zonas rurais) e onde é maior a quebra do peso das tradições. Embora o conceito de desorganização social se tenha revelado inicialmente de grande utilidade para a compreensão de um mundo onde a mudança começava a ser cada vez mais rápida, começaram a ser postas em evidência as fraquezas desta perspectiva. Passamos a apresentar as críticas apontadas por Marshal Clinard (citado em Rubington, Weinberg 1995:81-82) ao conceito de desorganização social: a) o seu poder explicativo para a sociedade em geral é reduzido, por ser um conceito demasiado vago e subjectivo. b) confundiu-se desorganização social com mudança social, o que desde já deixa por explicar porque é que nem todas as mudanças originam desorganização, e implica que se prove que a situação anterior era de organização. c) é um conceito fortemente sujeito aos julgamentos de valor do investigador, tal como o conceito de patologia. Por um lado, tende-se a considerar desorganização numa perspectiva negativa, como se todas as situações de desorganização sejam por essência más. d) por outro lado, aplicou-se o conceito de desorganização social a situações que não são de desorganização, mas que, pelo contrário, traduzem outros tipos de organização, de que é um exemplo típico o que se passa nos bairros de lata. e) o sistema social pode acolher em si focos de desorganização ou a existência de comportamentos desviados sem que tal comprometa o seu funcionamento, desde que outros objectivos do sistema estejam a ser alcançados, contrabalançando as influências desestabilizadoras que possam existir. f) no seguimento da crítica anterior, ao constatarmos a existência de diferentes formas de organização social, não podemos inferir que tal situação seja desastrosa para a sociedade podendo pelo contrário ser indispensável para a manutenção da coesão social. Outra crítica importante a apontar é que a perspectiva da desorganização social utiliza frequentemente explicações circula- 1 Relembrando o sistema das zonas concêntricas proposto por Burgess, Park e McKenzie, começamos por uma zona I que corresponde à área central de negócios onde estão instalados grandes armazéns, sedes de empresas, escritórios, pequena indústria, espaços de divertimento e outros serviços; a zona II é a zona de Transição, área deteriorada e de guetos, habitada principalmente por trabalhadores não especializados e imigrantes; segue-se a zona III onde habitam os trabalhadores mais especializados e a segunda geração de imigrantes; as zonas IV e V são áreas de residência das classes mais elevadas, respectivamente zona de apartamentos e zona de moradias dos trabalhadores pendulares (commuters).

9 res para os problemas de desorganização (Aggleton 1991), isto é, o mesmo facto é considerado indicador e causa de desorganização social (por ex. o desemprego) Conflito de Valores Um outro modo de ver os problemas sociais é considerá-los como o reflexo de um conflito de valores na sociedade relativamente a uma dada situação. Esta perspectiva concebe a sociedade como um palco onde se confrontam grupos sociais com interesses diferentes, fazendo deste conflito permanente a dinâmica central da vida social. Os problemas sociais daí resultantes só podem ser solucionados pela resolução dos conflitos que estão na sua origem, pela negociação e consenso, ou pela coerção e imposição. A perspectiva do conflito de valores, ao definir os problemas sociais em relação a valores ou interesses dos grupos sociais envolvidos, coloca em evidência a importância da definição subjectiva, sem a qual a condição objectiva de base não seria só por si um problema social. Os teóricos mais importantes desta corrente na sociologia norteamericana foram Richard Fuller e Richard Myers. Segundo estes autores, podem ser distinguidos três tipos de problemas que afectam as sociedades (citados em Rubington, Weinberg 1995:93-98): a) problemas físicos b) problemas remediáveis (ameliorative) c) problemas morais Relativamente aos problemas físicos, que não são causados pela acção humana (por ex. sismos ou furacões), existe consenso geral de que a condição objectiva é indesejável e nada se pode fazer para controlar as causas do problema 2. Os problemas remediáveis (por ex. delinquência juvenil), apresentam consenso quanto à indesejabilidade da situação e quanto à necessidade de agir para a corrigir, mas criam-se conflitos no que diz respeito ao conteúdo da acção, ou seja, o que fazer. Por fim, os problemas morais (de que podem ser ex. o consumo de marijuana ou a eutanásia) são os mais complexos, pois não existe consenso quanto à própria indesejabilidade da situação. Ainda segundo Fuller e Myers, os problemas sociais evoluem segundo três fases (citados em Rubington, Weinberg 1995:98-108): 1ª) inicialmente processa-se a tomada de consciência do problema, quando os grupos sociais começam a encarar uma dada situação incompatível com os seus valores mais importantes, reconhecendo a necessidade de agir, 2 O que constitui um problema físico muda com o avanço científico e tecnológico, à medida que a ciência domina o conhecimento das causas de certos fenómenos e concebe meios de os controlar. 9

10 10 2ª) segue-se uma fase de determinação política, isto é, um processo de clarificação dos valores e das posições em presença e definição de propostas de acção, 3ª) por fim, a fase das reformas, na qual são postas em prática determinadas soluções para o problema, que podem ser levadas a cabo por agentes públicos ou por organizações privadas. A fase da consciencialização dos problemas pode ser considerada como estando sempre em aberto Comportamento Desviado A intenção de integrar campos, que tantas vezes estavam em oposição, está na base da perspectiva do comportamento desviado. Observou-se uma clara tentativa de conciliar as duas grandes escolas que dominavam o pensamento académico da sociologia norte-americana: a) a Escola de Harvard, de ênfase teórica, b) e a Escola de Chicago, iminentemente empírica e descritiva. Na Universidade de Harvard, pontificava a figura de Talcott Parsons e dos seus alunos, que iam desenvolvendo o pensamento funcionalista-estrutural. Sendo uma escola com forte pendor teórico, aí se discutia o pensamento de sociólogos clássicos europeus, com especial destaque para Durkheim e Max Weber. É precisamente com o conceito de anomia que Robert Merton, um aluno de Parsons, irá dar um importante contributo para a perspectiva do comportamento desviado. Para Durkheim, o conceito de anomia significava uma ausência de normas, um quebrar das regras (Aggleton 1991; Barata 1990; Timasheff 1979). O conceito de anomia em Merton é um tanto diferente: refere-se antes a um desfasamento entre metas culturais a atingir e os meios que a sociedade proporciona para o efeito. Se determinadas metas culturais forem enfatizadas mas os indivíduos não dispuserem dos meios sancionados pela estrutura social, estaremos perante uma situação de anomia. Daqui resulta que o comportamento desviado é entendido como normal em relação a situações anormais, concepção que já Durkheim tinha avançado 3. Segundo Merton, o desfasamento entre meios e metas dá origem a quatro tipos de adaptação individual: a inovação, na qual as metas são mantidas mas são utilizados novos meios para as alcançar (por ex: roubar ou subornar), o ritualismo, pelo qual se renuncia às metas, mas se sobrevalorizam os meios, 3 Os comportamentos desviados apresentam mesmo funções sociais, nomeadamente como definição do contrário do comportamento aceitável na sociedade e catalizadora da coesão social.

11 11 a evasão, na qual tanto os meios como as metas são renunciados (por ex: alcoolismo), e a rebelião, quando se pretende instaurar novas estruturas de metas e de meios. Como vimos acima, também a Universidade de Chicago influenciou a perspectiva do Comportamento Desviado. É aí que Edwin Sutherland desenvolve a teoria da associação diferencial, apresentada pela primeira vez em 1938 (Aggleton 1991; Rubington, Weinberg 1995). Sutherland, mais tarde em parceria com Donald Cressey, apresenta em nove pontos este processo de génese do comportamento criminoso (citado em Rubington, Weinberg 1995: ): 1. o comportamento criminoso é apreendido, não é inato, 2. é aprendido pela interacção com outros indivíduos num processo de comunicação, 3. a aprendizagem mais importante é feita em grupos primários 4, 4. a aprendizagem envolve, por um lado, as técnicas necessárias ao crime e, por outro lado, os motivos, as racionalizações e as atitudes a ele ligadas, 5. os motivos e os impulsos são aprendidos segundo a definição favorável ou desfavorável aos códigos legais. Podemos estar num meio no qual os códigos legais são definidos favoravelmente e são para ser observados, ou, pelo contrário, podemos estar rodeados de indivíduos que são favoráveis à violação dos códigos legais, 6. um indivíduo torna-se delinquente pela razão de encontrar um excesso de definições favoráveis à violação da lei em detrimento das definições desfavoráveis à violação da lei, 7. a associação diferencial varia em termos de frequência, duração, proximidade e intensidade, 8. o processo de aprendizagem dos comportamentos criminosos e não criminosos integra todos os aspectos normalmente envolvidos em qualquer tipo de aprendizagem, 9. as necessidades e os valores gerais (ex: segurança, riqueza material) que são reflectidos pelo comportamento criminoso não explicam este mesmo comportamento, uma vez que outros comportamentos não criminosos também os reflectem. 10. Em meados dos anos 50, Albert Cohen, na sua teoria da subcultura delinquente (Cohen, 1968), sustentou que os jovens da classe trabalhadora enfrentavam uma situação de anomia no sistema escolar, pensado segundo os valores da classe média. Na escola eram ensinados a prosseguir estes valores mas eram-lhes vedados os meios legítimos para os 4 Esta proposição secundariza a importância dos mass media na aprendizagem dos comportamentos desviados.

12 12 poderem atingir. Em resultado, estes jovens uniam-se e formavam uma cultura própria que violava os códigos legais. As novas normas eram socializadas através do processo da associação diferencial. Outra teoria de síntese foi proposta por Richard Cloward e Lloyd Ohlin nos anos 60 (Cloward e Ohlin 1966). Na sua teoria da oportunidade, estes autores sustentam que não basta considerarmos a estrutura de oportunidades legítimas na génese do comportamento delinquente: é igualmente essencial ter em conta a estrutura de oportunidades ilegítimas. A perspectiva do comportamento desviado entende que os problemas sociais reflectem, de forma mais ou menos directa, violações das expectativas normativas da sociedade, sendo que todo o comportamento que viola essas expectativas é um comportamento desviado. A solução para os problemas de comportamento desviado deverá passar pela ressocialização dos indivíduos e pela mudança da estrutura social de oportunidades, de forma a que sejam aumentadas as oportunidades legítimas e diminuídas as oportunidades ilegítimas. Outros sociólogos não se interessaram pelo processo como etiologia e revolucionaram o modo como os problemas sociais estavam a ser estudados As perspectivas da Sociologia Relativista Neste ponto iremos abordar três perspectivas que seguem uma visão relativista da ciência, de base interaccionista (o labeling e o constructivismo social) e estruturalista (a perspectiva crítica). Nelas se defende, em oposição ao positivismo, que o conhecimento é socialmente construído. Se assim é, a questão central é saber como é que a realidade faz sentido para as pessoas e através de que processos estas dão e partilham significados sociais Labeling Mead, que foi professor de filosofia na Universidade de Chicago, concebeu a formação do Ego como o resultado das interacções sociais com Outros Significativos (Aggleton 1991; Barata 1990a). As pessoas interagem fundamentalmente através de símbolos (sons, imagens, gestos, etc.) e os seus significados emergem da interacção social. Herbert Blumer desenvolveu a ideia de que os significados não são dados, mas requerem uma interpretação activa por parte dos actores sociais envolvidos (Aggleton 1991). Erving Goffman introduziu o conceito de identidade social, para se referir às qualidades pessoais que permanecem constantes em diferentes situações (Aggleton 1991). Defendeu ainda que a identidade social pode ser consolidada pelas reacções dos outros ao comportamento dos indivíduos. Se as reacções forem negativas, as pessoas podem ser forçadas a aceitar uma spoiled identity, processo que Goffman define como de estigmatização.

13 13 Se é certo que os autores acima referidos foram fundamentais para a teoria do labeling, os nomes pioneiros da perspectiva propriamente dita são indiscutivelmente os de Edwin Lemert e Howard Becker. Edwin Lemert defendeu, no início dos anos 50, a teoria de que o desvio é definido pelas reacções sociais e introduziu os conceitos de desvio primário e desvio secundário (Aggleton 1991; Rubington, Weinberg 1995). Esta distinção de conceitos baseia-se numa outra distinção que Lemert estabeleceu entre comportamento desviado (deviant act) e papel social desviado (deviant role). Existe uma multiplicidade de causas, biológicas e sociais, para os comportamentos desviados, isto é, para o desvio primário. Mas a causalidade dos papéis sociais desviados, ou desvio secundário, reside na interacção social entre o indivíduo que é definido como desviado e a sociedade onde se insere. A reacção social ao desvio primário está assim na origem do desvio secundário. Segundo Lemert, a sequência de interacção que leva ao desvio secundário pode ser esquematizada com a seguinte evolução (Lemert citado em Rubington, Weinberg 1995:194): 1. ocorrência do desvio primário 2. sanções sociais 3. recorrência do desvio primário 4. sanções sociais mais pesadas e maior rejeição social 5. continuação do desvio, agora com possível hostilidade e ressentimento por parte do indivíduo desviado para com aqueles que o sancionam 6. o coeficiente de tolerância chega a um ponto crítico, que se reflecte nas acções formais de estigmatização do indivíduo levadas a cabo pela comunidade 7. fortalecimento do comportamento desviado como reacção à estigmatização e às sanções 8. aceitação do estatuto de desviado por parte do indivíduo estigmatizado e consequentes ajustamentos com base no novo papel social Esta perspectiva é reforçada por Howard Becker ao introduzir o conceito de labeling, que deu o nome a esta corrente, e o conceito de carreira desviante. Becker defendeu que o comportamento desviado é aquele que a sociedade define como desviado. Os problemas sociais, tal como os comportamentos desviados, são definidos pelas reacções sociais a uma alegada violação das normas ou expectativas sociais, e podem ser ampliados por essas mesmas reacções. Para que alguém seja rotulado de desviado é necessário percorrer uma série de fases sequenciais, num processo de interacção dinâmico, a que Becker apelidou de carreira desviante. O que a perspectiva do labeling constatou é que nem todos os que

14 14 violam as normas são rotulados de desviados 5, o que nos leva a considerar que, em última instância, todo este processo traduz uma certa equação do poder na sociedade: quem define as regras, quem aplica os rótulos, quem é rotulado. Este aspecto está relacionado com algumas das críticas feitas a esta corrente: afirmar que o desvio é originado antes de mais pela formulação das regras que são violadas e pelas reacções a esta violação das normas, soa como uma desculpabilização e desresponsabilização dos comportamentos em vez de uma explicação dos mesmos Perspectiva Crítica A perspectiva crítica, também denominada de perspectiva radical, veio a centrar-se na questão da influência do poder na definição dos comportamentos desviados e dos problemas sociais, e numa concepção alargada da contextualização social do desvio. Partilham com a corrente interaccionista a posição de que os problemas sociais são definições sociais, mas preocupam-se em explicar em termos estruturais porque é que certas situações se transformam mais facilmente em problemas sociais do que outras. Assume, portanto, uma postura de conflito na génese dos problemas sociais. Segundo a tradição marxista, os modos de produção da infra-estrutura económica determinam relações sociais distintas. No estádio capitalista de desenvolvimento, a divisão social mais importante é a que separa os que possuem os meios de produção, a classe capitalista, dos que têm unicamente a sua força de trabalho para vender, e que constituem a classe trabalhadora. Os interesses da classe capitalista e os da classe trabalhadora são irremediavelmente opostos. A vida social é consequentemente caracterizada pelo conflito. Todas as instituições sociais estão assim interligadas e dominadas pela infra-estrutura económica. A abordagem à realidade social deve ser holística e analisar cada fenómeno social em relação a todo o sistema social. Para a perspectiva crítica, os problemas sociais advêm das relações sociais impostas pelo modo de produção, e traduzem a necessidade de controle da classe capitalista e a necessidade de resistência e acomodação das classes exploradas. A solução para os problemas sociais reside, em última instância, na mudança (de preferência revolucionária) do sistema social de classes para uma sociedade sem classes, isto é, sem exploração humana, sem injustiças e sem desigualdades. O surgimento da corrente crítica e a sua influência no pensamento 5 Ver por exemplo o interessante estudo de William Chambliss, de 1973, The Saints and the Roughnecks (citado em Rubington, Weinberg: ), que ilustra as diferenças na imposição do rótulo de delinquente a jovens provenientes de classes sociais distintas.

15 sociológico datam dos anos 70, uma década de crise e de profunda crítica social, no seguimento aliás da década anterior. Foi um período de renascimento das grandes discussões teóricas. Os autores mais significativos desta abordagem foram os sociólogos britânicos Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young (1975; 1981), responsáveis pela obra fundamental The new criminology, que deu nome à corrente da nova criminologia ou criminologia radical. Segundo Taylor, Walton e Young, o desvio deve ser analisado de forma materialista e histórica: materialista porque deve ser analisado o contexto material no qual surge o desvio; histórica poque se deve relacionar o desvio com a evolução histórica dos modos de produção. Esta perspectiva tem sido fortemente criticada por autores positivistas que argumentam ser este tipo de abordagem mais uma ideologia do que uma teoria científica. Da mesma forma que a teoria do labeling foi criticada por se limitar a explicar o processo da rotulagem social e não os comportamentos desviados, também se apontou à perspectiva crítica o facto de se ter centrado na explicação da génese das leis e no funcionamento das instituições de controle e ter negligenciado neste processo a explicação dos comportamentos desviados. Outro tipo de crítica é relativa à ênfase dada por esta corrente às questões de classe e ao poder económico, quando existem outras fontes de conflito social, com base no género, idade ou nas diferenças étnicas (Marshall Clinard e Robert Meir citados em Rubington, Weinberg 1995: ). Efectivamente, a perspectiva crítica aborda estas questões, mas considera-as como sendo dependentes da infra-estrutura económica. Como perspectiva de conflito que é, torna-se mais plausível quando na sociedade não há claramente um consenso quanto à definição do que sejam comportamentos ou pessoas desviados. Como notam Marshall Clinard e Robert Meir (citados em Rubington, Weinberg 1995:280), existem leis que beneficiam claramente toda a sociedade (como sejam as leis contra homicídios), e algumas acabam por proteger mais as classes trabalhadoras do que as classes capitalistas (segundo Clinard e Meir, as leis que penalizam os roubos e os assaltos são disso exemplo) Constructivismo Social A afirmação de que a realidade social é socialmente construída pode ser subscrita, num sentido amplo, por todos os sociólogos, independentemente do seu posicionamento teórico. Ao falarmos aqui em constructivismo social estamos a referir-nos a correntes teóricas cuja ideia central e geradora é a de que as pessoas criam activamente a sociedade. Os autores que introduziram formalmente esta perspectiva foram Peter Berger e Thomas Luckmann, com a obra The social construction of reality, publicada nos EUA em 1966 (Berger, Luckmann 1999; Corcuff 1997). Ambos os sociólogos foram alunos 15

16 16 de Albert Schutz, considerado o pai da sociologia fenomenológica e um dos mentores da teoria do labeling. Berger e Luckmann (1999) defendem que a sociedade é uma produção humana e o Homem é uma produção social. Para estes sociólogos, a sociedade é ao mesmo tempo uma realidade objectiva e subjectiva. É objectiva porque é exteriorizada, relativamente aos actores sociais que a produzem, e é objectivada, sendo constituída por objectos autónomos dos sujeitos sociais. É uma realidade subjectiva porque é interiorizada através da socialização. Quando Berger e Luckmann publicaram The social construction of reality a teoria do labeling estava em plena expansão. Mas em razão do seu próprio desenvolvimento as vozes críticas cedo começaram a surgir no interior da teoria. As de John Kitsuse e de Malcolm Spector foram duas delas. Embora a teoria do labeling tenha defendido que o desvio só é desvio quando é assim reconhecido socialmente, acabou por não pôr em causa essas mesmas definições, isto é, não questionou porque é que certos comportamentos eram definidos como desvio e outros não, e desenvolveu a sua construção teórica à volta das definições de desvio socialmente estabelecidas. A perspectiva do labeling preocupou-se fundamentalmente em explicar o processo pelo qual o rótulo de desvio era afixado aos indivíduos. Para Kitsuse e Spector a questão que deverá ser colocada é, antes de mais, saber porque é que algumas situações são consideradas problemas sociais e outras não. O que pretendem explicar é o surgimento do próprio rótulo de problema social. Segundo estes autores, somente através desta problematização sociológica será possível chegarmos a uma teoria social dos problemas sociais. A condição objectiva do problema social é, portanto, posta de lado pela perspectiva constructivista, pois esta não é essencial para a existência de um problema social. É a definição subjectiva do problema social que se revela essencial para a existência do mesmo e como tal só esta deve ser investigada pelos sociólogos. Problemas como a violência conjugal, o trabalho infantil, a discriminação das mulheres ou a poluição ambiental são exemplos de situações que só se converteram em problemas sociais quando se estabeleceu com sucesso um movimento de reivindicação que definia estas situações como problemas. Um problema social só se constitui em razão de todo um processo de reivindicação e reacção social. Daqui resulta que para a perspectiva constructivista importa identificar quem considera que existe uma situação inaceitável e exige acção reparadora, ou seja, quem define uma dada situação, real ou virtual, como problema social; quais as razões que apresenta; quem reaje a esta pretensão e que tipo de dinâmica se estabelece entre as duas partes (Rubington, Weinberg 1995).

17 Somente após o estudo empírico do processo de definição de cada problema social é que podem ser elaboradas possíveis soluções para o mesmo. Esta posição constructivista, que Rubington e Weinberg consideram de posição subjectiva radical (1995:292) é fortemente criticada, nomeadamente por aqueles que enfatizam a aplicabilidade da investigação no melhoramento da sociedade e que acusam esta perspectiva de menosprezar o sofrimento causado pelas situações objectivas que secundarizam. Os constructivistas sociais argumentam em resposta que o conhecimento do processo de reivindicação de problemas sociais pode ser produtivamente aplicado às mais variadas situações sociais: para que se dê a devida atenção às condições objectivas causadoras de sofrimento é necessário antes de mais que exista quem reivindique eficazmente por elas (Joel Best citado em Rubington, Weinberg 1995: ). É igualmente importante reconhecer que nem todos os autores constructivistas põem completamente de lado as condições objectivas dos problemas sociais, nem esta corrente afirma que não se devem estudar estas situações objectivas: o que afirmam é que este não deve ser o tipo de problema sociológico a ser respondido pelos sociólogos que pretendem estudar os problemas sociais enquanto definição de fenómenos sociais. Podemos exemplificar esta ideia com o fenómeno da delinquência juvenil: segundo o constructivismo social, ou estudamos a delinquência juvenil, investigando aspectos como as causas do comportamento desviado dos jovens, a evolução dos casos de delinquência, ou a sua distribuição pelos estratos sócioeconómicos, ou então estudamos o problema social da delinquência juvenil, ou seja, como é que a sociedade veio a reconhecer este fenómeno como problema social, e neste caso não é essencial que se saibam as causas do comportamento desviado em questão. 17

18 Síntese Perspectivas de estudo dos problemas sociais Perspectiva Definição de Problema Social Elemento Central Patologia Social Violação de expectativas morais Pessoas Desorganização Social Conflito de Valores Comportamento Desviado Labeling Perspectiva Radical Falha no funcionamento das regras sociais Situação incompatível com os valores de um grupo social Violação de expectativas normativas Resultado da reacção social a alegada violação de normas ou expectativas Resultado da exploração da classe trabalhadora Regras sociais Valores e Interesses Papéis sociais Reacções sociais Relações de classes sociais Constructivismo social Processo pelo qual grupos sociais reivindicam que uma dada situação é um problema social Fonte: Adaptado de Rubington e Weinberg (1995) Processo de reivindicação

19 2. Perspectivas político-doutrinárias sobre os problemas sociais 2.1. Os problemas sociais e a alteração do papel do Estado Os modos como os problemas sociais têm sido encarados pela sociedade, bem como foram concebidos e implementados os sistemas para lhes dar resposta, evoluíram significativamente ao longo da história humana. Nas sociedades pré-industriais, em regra, (...) a legitimação da intervenção (foi), quase exclusivamente, de ordem ético-religiosa, não se considerando que o Estado (tivesse) o dever de ajudar, nem o cidadão o direito de esperar ajuda. O modelo de intervenção (era) claramente assistencial (Carmo, 1999: 55) O Estado protector A progressiva centralização do poder nas mãos do soberano que se registou concomitantemente com a desagregação da sociedade do Ocidente medieval, deu origem a um modelo de Estado a que alguns autores chamaram Estado Protector (Rosanvallon, 1984). Partindo da ideia de que o poder não é uma simples capacidade de obrigar, mas que traduz a resultante da tensão entre tal capacidade e a vontade de obedecer (Moreira, 1997), poder-se-á afirmar que a centralização registada resultou de duas tendências: um processo de concentração da capacidade de obrigar por parte do poder político, de que foram expressão, entre outras, a criação dos exércitos nacionais e a concentração progressiva do poder tributário; a emergência de um consenso crescente sobre a vontade de obedecer, do sector que mais tarde se viria a chamar sociedade civil. O modelo de Estado que daqui resultou, privilegiou os fins de segurança e de justiça em detrimento do fim de bem estar social que, por regra, foi remetido para a esfera da sociedade civil, ainda que por vezes se tenham observado incursões orientadoras dessa actividade, por parte do poder estatal, não tanto por via directa mas por intermédio de acções das casas reais e da aristocracia Em Portugal, registam-se diversos exemplos desse tipo de intervenções, sobretudo a partir do século XV, de que o exemplo mais significativo foi a criação de condições para a proliferação do movimento das Misericórdias (Tavares, 1989: 267 e sgs).

20 20 Desagregação da sociedade feudal Concentração da capacidade de obrigar pelo poder político Maior consenso na vontade de obedecer por parte da sociedade civil O Estado Protector Para garantir a eficiência do Estado Protector, o príncipe recorreu a dois tipos de pessoas: Objectivos:. Produzir segurança. Reduzir a incerteza Estado Protector Fins dominantes do Estado:. Segurança. Justiça Características dominantes do aparelho de Estado:. Pequena dimensão. Organização relativamente difusa. Pilotagem centralizada aos políticos profissionais e semi-profissionais que actuavam ao seu serviço sendo elementos da sua confiança. aos funcionários profissionais que pouco a pouco foram aumentando na Europa, em função da progressivamente maior complexidade dos problemas que ao Estado competia resolver. Assim se passou no campo da administração financeira, da técnica guerreira e da actividade jurídica, em que o profissionalismo especializado tomou o lugar do amadorismo polivalente. Iniciou-se deste modo e simultaneamente, o predomínio do absolutismo do príncipe sobre os feudos e a lenta abdicação que o mesmo príncipe faz da sua autocracia, em favor dos funcionários profissionais, cujo auxílio lhe era indispensável para vencer o poder feudal. Apesar da complexificação crescente descrita por Max Weber, a verdade é que o aparelho que serviu de suporte ao Estado Protector era de pequena dimensão, com uma organização difusa e com um sistema de decisão pouco profissionalizado, se o compararmos com as modernas administrações públicas O Estado Providência Com a revolução industrial e a emergência de problemas económicos e sociais que daí resultaram, o Estado foi chamado a assumir funções

21 de regulação e de orientação progressivamente maiores, sobretudo nas áreas da política económica e social, tendo emergido a consciência crescente de que o Bem-Estar constituía um fim do Estado, a par dos referidos anteriormente. Para realizar tal finalidade, o seu aparelho administrativo teve de assumir uma dimensão progressivamente maior, com uma organização cada vez mais complexa 7 e uma pilotagem progressivamente mais profissionalizada 8. As tendências para a dimensão crescente da Administração Pública e para a assunção de um papel cada vez mais intervencionista na tentativa de resolução dos problemas económicos e sociais, tiveram como resultado o aumento das despesas públicas e, naturalmente, da carga fiscal para lhes fazer face. É este o quadro geral em que se inscreve a polémica, permanente desde há dois séculos, entre as correntes que advogam o dever do Estado em intervir na resolução dos problemas sociais e económicos e as que defendem que tais problemas seriam melhor resolvidos pela sociedade civil. Revolução industrial 21 Problemas económicos Problemas sociais Crescimento e radicalização das funções do Estado Estado Providência Objectivos:. Produzir segurança. Reduzir a incerteza. Promover a regulação e a orientação sócio-económica Fins dominantes do Estado:. Segurança. Justiça. Bem estar Características dominantes do aparelho de Estado:. Dimensão progressivamente maior. Organização progressivamente mais complexa. Pilotagem progressivamente mais profissionalizada O Estado Providência 7 A complexidade da organização pode ser observada através de três indicadores: a instauração de mais patamares hierárquicos, diferenciando crescentemente os papéis de mando e de obediência, a divisão de trabalho, num processo de crescente especialização funcional, e o aumento de sistemas de regulamentação. 8 Exemplos recentes desta tendência são, o aumento das qualificações formais pedidas nos concursos de ingresso à função pública e o peso crescente da formação complementar como parâmetro de avaliação nos concursos de acesso.

22 As perspectivas liberais Duma forma simplificada pode dizer-se que a perspectiva liberal foi resultado de uma lenta sedimentação de natureza económica, doutrinária e política que ocorreu na Europa a partir do século XV. Génese económica Movimentos de legitimação doutrinária Génese política Expansão (séculos XV e XVI) (implica diversificação de mercados; acumulação de capital) Industrialização Nova ordem económica (consolidação da burguesia). Mercantilismo. Fisiocracia. Movimentos de reacção aos excessos do Príncipe que culminam na Revolução francesa Centralização do poder real Guerras religiosas (século XVII) Consolidação da nova ordem política (o Estado-Nação ao serviço da economia subsidiada) Liberalismo Génese Génese do liberalismo Com a expansão europeia e a consequente diversificação de mercados e acumulação de capital, a burguesia consolidou-se como classe social. Paralelamente a este processo, a ordem política foi também ela profundamente alterada, como atrás foi referido, apresentando como traços dominantes, a centralização do Poder real e o consequente enfraquecimento da velha aristocracia, apoiada na ascensão da burguesia. Acompanhando esta dupla tendência e escorando-a ideologicamente, foram surgindo diversas doutrinas económicas e sociais, como o mercantilismo, a fisiocracia e todo um corpo filosófico que procurou

23 limitar o despotismo do príncipe, que veio a criar condições para a revolução francesa. O liberalismo deve ser compreendido no seu sentido mais global (como uma) doutrina baseada na denúncia de um papel pais activo do Estado e na valorização das virtudes reguladoras do mercado (Rosanvallon, 1984: 49) As teses É esta a tese defendida por grande parte dos principais autores do liberalismo positivista clássico, como Adam Smith, Jeremias Bentham, Burke, Humbold, do liberalismo utópico como Paine e Godwin e do neoliberalismo como Robert Nozick ou John Rawls. Em todos estes autores encontramos uma forte crítica à excessiva dimensão do Estado, variando, no entanto, nos critérios definidores das suas funções e na definição do seu campo de actuação. É o caso, mais recente, da corrente neoliberal, que deve ser entendida como uma crítica, da crítica à economia de mercado. Para discutir esta questão, Rosanvallon (1984) parte da teoria das internalidades (Wolf, 1979). De acordo com esta teoria, a acção do Estado tem, com frequência, efeitos imprevistos (internalidades), que pervertem as intenções de justiça e de promoção do Bem-Estar das suas políticas. Um exemplo deste tipo de efeitos perversos é o do ciclo vicioso das despesas públicas descrito por este autor: O crescimento das necessidades dos cidadãos (económicas, sociais, de segurança, etc.), implica uma pressão sobre o Estado no sentido de as colmatar (aumento da procura de Estado). O aumento da procura de Estado, obriga este a concentrar recursos e articulá-los para dar resposta às necessidades (aumento da oferta de Estado). Para que a oferta de Estado cresça, este é obrigado a fazer mais despesas públicas. O aumento das despesas públicas determina um aumento dos impostos para lhes fazer face. O aumento da carga fiscal sobrecarrega os cidadãos o que, naturalmente, lhes aumenta as necessidades e a procura de Estado, e assim sucessivamente. No que respeita aos problemas sociais e económicos, o pensamento liberal tem evoluído, ainda que partilhe de uma ideia comum: o mercado é melhor regulador que o Estado e, por consequência, os problemas sócio-económicos devem ser atacados predominantemente pela sociedade civil. Em suma, a posição liberal face aos problemas sócio-económicos pode resumir-se em dois aspectos: A maior parte dos problemas sociais e económicos resultam de uma excessiva intervenção do Estado A resolução dos problemas sociais e económicos deveria ser deixada aos mecanismos (naturais) de auto-regulação do mercado. 23

24 As limitações Em traços gerais os críticos à perspectiva liberal apontam-lhes as seguintes limitações (Rosanvallon, 1984): Os limites da acção do Estado são, em regra, insuficientemente operacionalizados. Normalmente a crítica à acção do Estado é bem feita, nomeadamente no que respeita aos efeitos perversos da burocracia, baseada na teoria das internalidades. No entanto, os efeitos imprevistos do funcionamento do mercado que condicionam fortemente a emergência e o agravamento dos problemas sócio-económicos não são convenientemente equacionados. De acordo com Suzanne de Brunhoff (1987), a conjuntura é vista como um cenário de guerra económica o que implica, por parte dos decisores políticos, uma atitude de nacionalismo económico. Neste contexto, as funções económicas e sociais do Estado procuram atingir dois objectivos: reforçar a frente de combate económica, apostando em políticas de obtenção de encomendas no estrangeiro e em estratégias de financiamento e de proteccionismo dos sectores sociais mais fortes, como os segmentos que apostam no desenvolvimento tecnológico e nas exportações; ajudar a tratar dos feridos da guerra económica (pobres e novos pobres, grupos mais atingidos como os jovens, as mulheres, os idosos, os imigrantes e os desempregados de regiões industriais sinistradas). Neste cenário, o reforço da frente de combate é normalmente mais forte que a ajuda ao tratamento dos feridos da guerra económica, criando-se um ambiente tendente a retirar os direitos sociais e económicos aos cidadãos As perspectivas marxistas Génese O pensamento marxista enquadra-se historicamente na Europa do século XIX, em plena revolução industrial, na tentativa de analisar a sociedade coeva e de propor soluções para as disfunções sociais que então se viviam. A abundante obra de Marx ( ) reflecte isto mesmo, não devendo ser entendida como um sistema fechado mas, pelo contrário, uma teoria em permanente evolução, por vezes mesmo contraditória, contrariamente à imagem que as correntes ortodoxas posteriores fizeram passar. Para isso muito contribuiu o próprio percurso existencial de Karl Marx: nascido e criado numa família de origem judia, cujo pai se viu na contingência de se baptizar para não ser alvo de medidas discriminatórias anti-semitas (Mclellan, 1974: 5), fez a sua formação

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