Exmo. Senhor Dr. Juiz de Direito do Tribunal Administrativo e Fiscal de [ ] Execução fiscal Serviço de finanças de [ ] Processo n.º : [ ] e aps.

Transcrição

1 Exmo. Senhor Dr. Juiz de Direito do Tribunal Administrativo e Fiscal de [ ] Execução fiscal Serviço de finanças de [ ] Processo n.º : [ ] e aps. [, Lda.], com sede na Rua [ ], [ ], matriculada na Conservatória do Registo Comercial de [ ]sob o número único de matricula e de pessoa colectiva [ ] e com o capital social de [ ], vem, ao abrigo do disposto no artigo 276.º do Código de Procedimento e Processo Tributário, Apresentar reclamação Dos atos praticados pelo Chefe do Serviço de Finanças de [ ], no âmbito do processo de execução fiscal acima mencionado que determinaram o adiamento da venda judicial, bem assim como dos atos que alteraram o valor do imóvel penhorado a fls., o que faz nos termos e com os seguintes fundamentos: A) DOS FACTOS Artigo 1.º A reclamante é proponente nos autos de execução fiscal cujos termos correm no Serviço de Finanças de [ ]. Artigo 2.º Por edital de [dia] de [mês] de [ano] foi dado a conhecer a todos os interessado que no dia [dia] de [mês] de [ano] e para pagamento da quantia exequenda no valor de [ ] (valor por extenso) se iria proceder à venda judicial por meio de propostas em carta fechada, do prédio urbano melhor descrito a fls. Artigo 3.º O referido edital fixou o valor base do imóvel em [ ](valor por extenso), de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 250.º do Código de Procedimento Tributário, que corresponde a 70% do valor fixado nos termos do n.º 1 do mesmo artigo.

2 Artigo 4.º Foi ainda nomeado fiel depositário o Sr. [ ], sócio Gerente da executada. Artigo 5.º A requerente procedeu à entrega da sua proposta no órgão de execução fiscal onde deveria ter sido efectuada a venda, na qual se propunha a adquirir o imóvel. Artigo 6.º No início de [inserir mês e ano], no exercício de um direito legítimo a reclamante solicitou ao serviço de finanças de [ ] a notificação do despacho fundamentado que determinara o adiamento da venda marcada para dia [inserir data]. (doc. nº 2) Artigo 7.º Sucede que, até à presente data não foi a ora reclamante notificada das razões de facto ou direito que fundamentaram o adiamento da venda. Artigo 8.º E, por razões apuradas aquando da consulta do processo no serviço de Finanças de [ ], a venda judicial foi adiada para dia [inserir dia e mês] do corrente ano e o valor base do imóvel alterado de [ ] (valor por extenso) para [ ] (valor por extenso), na sequência de uma reclamação da Executada realizada ao abrigo do disposto no artigo 276.º do CPPT. Artigo 9º Por carta registada expedida a [dia e mês] do corrente ano foi a reclamante notificada do anúncio - edital que deu publicidade à nova data para a venda e determinou que o valor base para a venda é de [ ] (valor por extenso) de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 250.º do Código de Procedimento e Processo Tributário, que corresponde a 70% do valor fixado nos termos do n.º 1 do mesmo artigo. B) DO DIREITO Artigo 10.º O Processo de execução fiscal foi claramente norteado por preocupações de celeridade processual, de molde a obter-se a mais rápida arrecadação das receitas públicas a cobrar

3 coercivamente, com a maior economia de meios, tendo em conta que neste se tem em vista a satisfação do interesse do Estado e de outras entidades públicas. Artigo 11.º Razão pela qual, no âmbito da execução fiscal a determinação do valor do imóvel é efectuada pelo Chefe de Repartição de Finanças artigo 250.º do CPPT - sem audição do Executado ou quaisquer outros interessados, podendo a fixação ser precedida de parecer técnico do presidente da comissão de avaliação ou de um perito avaliador. Artigo 12.º O CPPT não contém nenhuma disposição legal que permita alterar do valor base do bem e a consequente suspensão da venda judicial que, in casu, importou igualmente a suspensão da execução. Artigo 13.º Suspensão da execução absolutamente irregular por não se ter verificado nenhuma das situações previstas no artigo 169.º do CPPT. Artigo 14.º E neste particular, o artigo 812.º do CPC que possibilita ao juiz ouvir os interessados não tem aplicação subsidiária por não existir lacuna. (Acórdão do STA de 27/09/05, in dgsi.pt/sta) Artigo 15.º Pelo que, não se vislumbram as razões que determinaram a alteração do valor do bem na sequência da reclamação da executada a qual, nos termos do artigo 278.º do CPPT, deveria ser conhecida a final, até porque não existia prejuízo grave ou irreparável para a executada. Artigo 16.º Note-se que, o valor base do imóvel, inicialmente fixado, era suficiente para pagar a quantia exequenda e por conseguinte satisfazer o interesse do Estado. Artigo 17.º Refira-se ainda que, o adiamento da venda judicial por meio de propostas em carta fechada não se encontra prevista na legislação aplicável às execuções fiscais - artigo 252.º do CPPT.

4 Artigo 18.º Donde se conclui que, no âmbito deste processo de execução fiscal foram praticadas duas ilegalidades, uma vez que não se encontra fundamento legal nem para a alteração do valor base do imóvel penhorado nem para a sustação da venda. Artigo 19.º Resta apurar se os atos praticados pelo Chefe do Serviço de Finanças têm natureza administrativa ou jurisdicional. Artigo 20.º A Lei Geral Tributária confere à execução fiscal natureza judicial na sua totalidade, embora possa haver nele intervenção de órgãos da administração tributária relativamente a atos que não tenham natureza judicial. Artigo 21.º Ora, é pacífico que na execução fiscal constituem atos de natureza jurisdicional, atos tais como a citação, a penhora ou a venda de bens. Artigo 22.º Sendo que, a função jurisdicional consubstancia-se numa composição de conflitos de interesses levada a cabo por um órgão independente e, por isso um ato é materialmente jurisdicional porque não visa senão decidir uma questão de direito em que se traduz um conflito de interesses privado. Artigo 23.º Razão pela qual, a função jurisdicional se encontra constitucionalmente reservada aos Tribunais, a quem cabe, com carácter de exclusividade, dirimir os conflitos de interesses públicos e privados. Artigo 24.º Porém, no seguimento da doutrina mais recente, acto administrativo é um acto jurídico unilateral com carácter decisório, praticado no exercício de uma actividade administrativa pública, destinado a produzir efeitos sobre uma certa situação jurídico-administrativa. (in João Caupers, Introdução ao Direito Administrativo, 8ª Edição) Artigo 25.º Ato administrativo é pois um ato jurídico

5 Artigo 26.º Donde, salvo melhor opinião, o ato vertido no despacho que determinou o adiamento da venda judicial, bem assim como o ato que procedeu à alteração do valor do bem, à revelia da legislação em vigor, são atos administrativo e como tal susceptíveis de reclamação nos termos gerais. Artigo 27º Ainda assim, compulsada inúmera jurisprudência administrativa, permanece a dúvida sobre a natureza administrativa ou jurisdicional dos atos praticados pelo chefe de repartição de finanças e qual a forma legal de reagir contra os mesmos. Artigo 28.º A respeito deste assunto pronunciou-se o Venerando STA por Acórdão de , processo 1072/11, in dgsi.pt/sta, do qual se pode ler que: Como decorre do disposto no art. 103º da LGT e tem sido repetidamente afirmado pela jurisprudência deste STA, o processo de execução fiscal tem natureza judicial, na totalidade, e embora a AT nele possa praticar actos que não tenham natureza jurisdicional é garantido aos interessados o direito de reclamação para o juiz da execução fiscal dos actos materialmente administrativos aí praticados por órgão da AT Artigo 29.º Assim, à cautela, e aceitando como válida a jurisprudência vertida no referido acórdão, apenas para efeitos da presente reclamação, deve ser atribuído efeito suspensivo à mesma, ao abrigo do disposto no n.º 1 do artigo 163.º do CPA. Artigo 30.º A reclamante tomou conhecimento das irregularidades praticadas pelo chefe do serviço de Finanças em [dia] de [mês] de [ano], data em que se deslocou ao serviço de finanças para consulta do processo para se inteirar das circunstâncias que determinaram os supra referidos adiamento e alteração do valor base do bem. Artigo 31º Pelo que, qual a presente reclamação está em tempo. (artigo 162.º do CPA).

6 CONCLUSÕES: a) Os atos que determinaram a suspensão da venda judicial por meio de propostas em carta fechada, bem assim como o acto que procedeu à alteração do valor de base do imóvel são actos administrativos não permitidos por lei; b) A prática de tais atos impediu a venda do imóvel a [dia] de [mês] de [ano] e obstou à percepção pelo Estado da quantia exequenda; c) Constituem assim, ilegalidades susceptíveis de reclamação nos termos do disposto no artigo 158.º n.º 1, 161.º e 163.º do CPA, ex vi artigo d) do artigo 2.º do CPPT; d) A reclamação de acto de que não caiba recurso contencioso tem efeito suspensivo. Pelo exposto, ao abrigo das disposições conjugadas dos artigos 158.º, n.º 1, 161 e 161.º do CPA, aplicáveis subsidiariamente por força da alínea d) do artigo 2.º do CPPT, requer o reclamante que, tomadas em consideração as observações que fez e a reclamação que deduz: 1) Sejam revogados os atos que determinaram o adiamento da venda em proposta por carta fechada, bem como o adiamento da data designada para a venda e consequentemente se digne ordenar que se proceda à venda do bem pelo valor base inicialmente fixado de [ ]. 2) Que seja conferido efeito suspensivo à presente reclamação nos termos e para os efeitos do artigo 163.º do CPA. JUNTA: 2 documentos e duplicados legais O Advogado Assinatura e carimbo profissional