EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 7ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SALVADOR

Transcrição

1 fls. 435 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 7ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SALVADOR PROCESSO Nº O INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO SALVADOR IPS, autarquia municipal, criada pela Lei nº 2.456/73, alterada pela Lei Complementar nº 05/1992, inscrita no CNPJ sob nº / , estabelecido nesta Capital na Av. Joana Angélica, nº 399 Edifício Fernando José Rocha, 4º andar Nazaré, através de sua advogada subassinada, conforme procuração anexa, por instrumento público, cujo endereço para intimações é também o acima indicado, nos autos da AÇÃO ORDINÁRIA movida por AMNUS ASSOCIAÇÃO MUNICIPAL DE SAÚDE DE NÍVEL UNIVERSITÁRIO DE SALVADOR, ESTADO DA BAHIA, vem oferecer, no prazo legal que lhe assina o art. 188 do CPC, CONTESTAÇÃO do presente feito conforme a seguir deduzido: 1. DOS FATOS Trata-se de Ação Ordinária com o objetivo de garantir aos servidores municipais inativos e pensionistas, associados à Pleiteante, o direito de 1

2 fls. 436 perceber os reajustes concedidos pela Lei nº 7867/2010, que instituiu o plano de cargos e vencimentos dos profissionais de saúde no âmbito municipal. Alega que o Réu deixou de aplicar os reajustes concedidos ao servidores em atividades, causando prejuízo aos seus associados. 2. DO DIREITO: DA ILEGALIDADE DO PEDIDO DE APLICAÇÃO DA PROGRESSÃO DE NÍVEIS AOS APOSENTADOS E PPENSIONISTAS Em relação ao pedido da exordial, cabe dizer que este é totalmente improcedente, primeiramente por decorrência do princípio constitucional: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, art. 5, II da Constituição Federal, pelo que neste reto entendimento, a invocação da Lei n 7.867/2010, por parte da autora, na sua deduzida pretensão, é a expressão meridianamente cristalina de equivoco de hermenêutica, por parte da mesma, bem evidenciado no art. 47, II, da referida legislação que dispõe: Art. 47. Excepcionalmente, será concedido para os servidores ativos e em efetivo exercício o reenquadramento em novo nível da Tabela de Vencimentos e respectiva referência da Tabela de Gratificação por competência, em razão de experiência acumulada, demonstrada pelo tempo de efetivo exercício no cargo, na Prefeitura Municipal do Salvador, obedecida a seguinte escala... (grifei) Vê-se, que a inteligência da norma ut supra é essencialmente restritiva, em sede de reenquadramento de nível ao (aos) servidor (es), que estejam no efetivo exercício do cargo, pelo que de fora estão aqueles afastados, em razão, v.g., do gozo de licença para tratamento de saúde, licença-prêmio, aposentadoria, etc.. Incabível a pretensão da Autora de ter estendido aos aposentados e pensionistas do grupo saúde o reenquadramento progressivo ao arrepio dos critérios legais previstos no artigo 47, II, da Lei 7.867, de 12/06/2010, haja vista que a progressão pressupõe efetivo exercício e a sua aplicação exige a observância de critérios de avaliação. Vejamos: 2

3 fls. 437 Art. 34. Progressão é o desenvolvimento e evolução do servidor público no cargo efetivo, dentro das Tabelas de Vencimentos e de Gratificação por Avanço de Competência e que ocorrerá em razão de mérito e qualificação profissional, como resultado de processo de Avaliação de Desempenho e Aquisição de Competências, atribuídos ao cargo ocupado, conforme estabelecido em regulamento específico. (grifei) Art. 35. A passagem do servidor nos níveis e referências subseqüentes, dar-se-á mediante o cumprimento cumulativo de: I efetivo exercício do cargo público; II - conclusão com aproveitamento satisfatório dos cursos integrantes do Plano de Desenvolvimento de Pessoas - PDP - ou de trabalho ou estudo especial, cuja preparação propicie a aquisição de competências exigidas pelo cargo; III - resultado satisfatório da aquisição das competências correspondentes ao seu cargo, comprovado pela certificação das competências; IV - pontuação mínima, acumulada no período, igual ou superior à definida em regulamento, como resultado das competências certificadas; V - resultado satisfatório nas avaliações de desempenho, assim entendido como a obtenção de conceitos iguais ou superiores àqueles definidos como medianos; VI - não ter sido afastado do exercício das atividades próprias do cargo, excetuadas as hipóteses estabelecidas em Lei específica. Nesta sorte, desponta com meridiana clareza, pela imbatível demonstração trazida à colação, não proceder o entendimento autoral de que a progressão de níveis contempla, outrossim, o contingente de servidores representados, que jazem na inatividade. ORA, SE O LEGISLADOR MUNICIPAL CUNHOU CRITÉRIOS PARA QUE OS SERVIDORES EM ATIVIDADE FIZESSEM JUS À PROGRESSÃO, NÃO CABERIA À RÉ APLICÁ-LA INDISTINTAMENTE AOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS, SOB PENA DE OFENSA AO MAIS COMEZINHO DOS PRINCÍPIOS: O DA LEGALIDADE. Por outro, não se pode olvidar o fato de, em potencial, atentar a temerária pretensão da demandante, contra os critérios de preservação do equilíbrio financeiro e atuarial, defendido pela nossa Carta Constitucional, no seu art. 3

4 fls , in fine, e bem assim com pretensão de deixar vulnerável o réu, em face às conseqüências da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não se pode perder de vista que a Administração Pública, como regra, ao editar seus atos, o deve fazer em estrita obediência à Lei, por submissão ao Princípio da Legalidade disposto no art. 37 da Constituição Federal, sob pena de nulidade. Sobre este tema, discorreu J. Cretella Jr., in Curso de Direito Administrativo, 12ª edição, Editora Forense, p. 223: Vinculados ou predeterminados são os atos administrativos que se concretizam pela vontade condicionada ou cativa da administração, obrigada a manifestar-se positivamente, desde que preencham, no caso, determinados requisitos fixados a priori pela lei Celso Antônio Bandeira de Mello, por seu turno, no seu manual Elementos de Direito Administrativo 2ª edição, Editora Revista dos Tribunais, p. 301, ensina: No Estado de Direito, a Administração só pode agir em obediência à lei, esforçada nela e tendo em mira o fiel cumprimento das finalidades assinaladas na ordenação normativa. Como é sabido, o liame que vincula a Administração à lei é mais estrito que o travado entre a lei e o comportamento dos particulares. Com efeito, enquanto na atividade privada pode-se fazer tudo o que não é proibido, na atividade administrativa só se pode fazer o que é permitido. Vale dizer, para a legitimidade de um ato de um ato administrativo é insuficiente o fato de não ser ofensivo à lei. Cumpre que seja praticado com embasamento em alguma norma permissiva que lhe sirva de supedâneo. Nesse passo, agiu o Réu em perfeita harmonia aos princípios que regem a atuação da Administração Pública, concedendo aos servidores aposentados do Grupo Saúde e pensionistas o enquadramento previsto na Tabela de Vencimentos constante do Anexo I e III do Diploma Legal sub examine, conforme se 4

5 fls. 439 infere dos holerites colacionados pela própria postulante. Da análise dos referidos documentos nota-se com clareza que os proventos dos associados à Autora foram reajustados em estrita observância aos ditames legais. 2.2 DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO ATUARIAL Reza a Constituição Federal nos precisos termos do seu art. 194 que a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações, por iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, cuja destinação é assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Por seu turno o art. 195 da Constituição Federal dispõe que a seguridade social será financiada por toda a sociedade, direta e indiretamente, na forma da lei, mediante os recursos oriundos dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, cujas contribuições são: do empregador ou empresa e ou entidade a ela equiparada na forma legal; do trabalhador e demais segurados da previdência social. Adiante no 5º desse referido artigo (195) diz literalmente o seguinte: 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. (grifo acrescentado). Ora, se as leis municipais que regulamentaram o funcionamento do sistema interno de previdência não criaram forma de custeio desse reajuste específico, aqui postulado pela Acionante, não tem como ser concedido, sem causar o desequilíbrio financeiro e atuarial festejado pela CF, nos precisos termos do seu art Dessa forma, o Município do Salvador, ao criar o PREVIS, com o fito de promover a seguridade social no âmbito de seus servidores, ajustou-se aos ditames da CF vigente, nos termos que se invoca, e desse modelo não pode fugir sob as penas da lei. 5

6 fls. 440 O denominado equilíbrio atuarial é uma forma de cálculo baseado em matemática progressiva que à luz dos percentuais arrecadados, tanto do empregador, no caso o Município de Salvador, e do trabalhador, no caso o servidor municipal, e dos benefícios criados ou estabelecidos em lei, calcula em termos de concessão o quanto será e pode ser pago ao longo de determinado período. presente ação. Assim sendo, não há qualquer razão na procedência da 3. CONCLUSÃO Diante do exposto, REQUER A TOTAL IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO, em todos os termos, condenando-se, em qualquer hipótese, a Acionante nas custas processuais e nos honorários advocatícios, estes arbitrados por V.Exª. Protesta por todas as provas em Direito admitidas. Pede Deferimento. Salvador, 23 de setembro de DAIANA SANTOS ALVES OAB/BA