A efetivação da citação por meio eletrônico frente ao acesso à justiça e ao princípio do devido processo legal

Transcrição

1 2013 A efetivação da citação por meio eletrônico frente ao acesso à justiça e ao princípio do devido processo legal VIVIAN LEAL SILVA

2 A EFETIVAÇÃO DA CITAÇÃO POR MEIO ELETRÔNICO FRENTE AO ACESSO À JUSTIÇA E AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL Vivian Leal Silva Marcelo Negri Soares (Orientador). Resumo: Estudo sobre a informatização do processo judicial, introduzida no ordenamento jurídico brasileiro por meio da Lei nº /2006, em destaque, alguns aspectos relacionados à citação eletrônica. Para o progresso da pesquisa teórica utilizou-se o método de raciocínio dedutivo, mediante o exame da legislação vigente, da doutrina, jurisprudência e materiais relacionados ao tema principal. O objetivo é sugerir a reflexão sobre os avanços tecnológicos que contribuem para a tão desejada celeridade da prestação jurisdicional, traça-se de forma breve a evolução histórica do Direito Processual Civil Brasileiro, aborda-se o conceito e as modalidades de citação previstas no Código de Processo Civil e discorre-se sobre as particularidades no processo eletrônico, bem como, sobre algumas questões polêmicas que confrontam o assunto. Palavras-chave: Citação. Procedimento Eletrônico. Lei nº /2006. Abstract: Study on the computerization of the judicial process, introduced in the Brazilian legal system by Law number / 2006, pointing some aspects related to electronic citation. To the progress of theoretical research was used the method of deductive reasoning, by examining the current legislation, doctrine, jurisprudence and materials related to the main theme. The objective is to suggest the reflection on the technological advances that contribute to the much desired speed of adjudication, traces briefly the historical evolution of the Brazilian Civil Procedure, deals with the concept and modalities of citations provided in the Code Civil Procedure and discusses itself about the particularities in the electronic process, as well as, on some controversial issues that confront it. Key words: Citation. Electronic process. Law number /2006. Sumário: 1. Introdução 1.1. Conceito e natureza jurídica 1.2. Evolução histórica 2. Legislação 2.1. Direito Processual Civil: citação e suas modalidades 2.2. Direito Constitucional: princípios constitucionais 3. Aspectos polêmicos e atuais envolvendo a citação no procedimento eletrônico Conclusão Bibliografia 1

3 1. Introdução Com a evolução das tecnologias, o Poder Judiciário não poderia deixar de utilizar o meio virtual para obter maior efetividade aos seus objetivos. Acredita-se que o uso de novas tecnologias possa trazer celeridade aos processos. Pensando nisso o legislador editou a Lei /2006, que dispõe sobre a informatização do processo judicial. 1 Dentre as novidades está à citação por meio eletrônico. Petição inicial em termos, o juiz determina a citação do réu, ato de comunicação fundamental, onde o réu toma conhecimento da existência do processo, possibilitando-lhe contraditório e defesa. A citação é ato processual indispensável à formação da relação jurídica processual e meio de abertura do contraditório, sem o que, todo o procedimento é contaminado por profunda nulidade. 2 Essa exigência legal serve para todos os processos: conhecimento, execução e cautelar e respectivos procedimentos, comum ou especial; até mesmo os procedimentos de jurisdição voluntária, conhecido pela ausência de lide, obriga a citação conforme art do CPC. 3 Ademais, importa ressaltar que requisito de validade do processo não é apenas a citação, mas sim a citação válida, aquela feita em conformidade com a lei. Antes da Lei /2006, havia apenas três formas básicas de citação: via postal, oficial de justiça e edital. Mencionada lei acrescentou ao rol do art. 221 do CPC, um quarto inciso, prevendo a citação por meio eletrônico. Por 1 BROTTO, Alexia Rodrigues. O processo eletrônico e a morosidade da justiça: alguns apontamentos sobre a Lei /06. Revista Bonijuris. Ano XXI, nº 546, p. 11, maio/ WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. v Ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p AMARAL, Moacyr dos Santos. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. Vol. I. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p

4 tratar-se de citação pessoal poderá haver revelia. Isso significa que até prova em contrário, mesmo que o não tenha sido visto pelo citando, mas por outras pessoas, até prova em contrário, o réu está citado. 4 De acordo com esta Lei, é possível a citação por meio eletrônico, inclusive da Fazenda Pública, conforme seu art. 6º. O art. 9º dessa Lei dispõe que todas as citações serão feitas por meio eletrônico, mas quando ocorrer algum motivo técnico, for inviável o uso do meio eletrônico para a realização de citação, intimação ou notificação, esses atos processuais poderão ser praticados de acordo com as regras ordinárias, digitalizando-se o documento físico, que deverá ser posteriormente destruído. 5 Para que haja a citação por meio eletrônico o réu deve efetuar um cadastro no Poder Judiciário, conforme prevê o art. 2º e seus parágrafos da Lei /2006 e nesse caso a citação será enviada ao endereço eletrônico dele. 6 O problema de se usar o como meio de citação é saber a autenticidade, se realmente o correio eletrônico é do réu ou se o réu ainda faz uso desse . Isso basta para mostrar as dificuldades que esse tipo de citação poderá causar. O projeto do novo CPC, em seu artigo 203 permanece inalterado, seguindo com a mesma redação do anterior. O provimento do Conselho Superior da Magistratura nº 1920/2011 autoriza a citação por meio eletrônico. Considerando que os artigos 6º e 8º da Lei /2006 autoriza a citação por meio eletrônico mesmo em processos com autos não inteiramente digitais e que o Tribunal de Justiça passa a 4 MEDINA, José Miguel Garcia. Código de Processo Civil Comentado: com remissões e notas comparativas ao projeto do novo CPC. 2 ed. ver, atual e ampl. São Paulo: Editora RT, SICA, Heitor Vitor Mendonça. Comunicação eletrônica dos atos processuais: breve balanço dos cinco anos de vigência da Lei nº /2006. Revista do Advogado, São Paulo: AASP, nº 115, p. 72, abr MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. Tomo VI. Versão digital arquivo atualizado pelo Prof. Dr. Sergio Bermudez, 2006, p

5 considerar a citação a partir do dia que o advogado consulta os autos ou no décimo dia a partir do envio da citação eletrônica por à parte, o que ocorrer primeiro. Estão excluídos os casos em que há diversos réus em que passa a contar a data da citação do último avisado, conforme consta no artigo 241, inciso III do CPC Conceito e natureza jurídica Diante da definição legal no artigo 213 do Código de Processo Civil, citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender. 8 Com a citação, dá-se notícia ao demandado de que foi ajuizada ação em que se pede tutela jurisdicional contra ele, nos procedimentos de jurisdição voluntária também pode haver a citação do interessado. 9 Primeiramente, o processo forma-se entre autor e juiz, e, em seguida, com a citação, passa o réu a fazer parte do processo. A citação é como pressuposto processual de existência do processo em relação ao réu, já que, antes da citação, ainda que exista processo, a relação processual dar-se-á apenas entre demandante e juiz. Na ausência de citação do réu, a relação processual não se aperfeiçoa e não há mera nulidade, mas sim, inexistência jurídica do processo, em relação ao réu. Na prática a distinção entre nulidade e inexistência tem muitas consequências, havendo uma nulidade absoluta, a sentença proferida transita em julgado, devendo ser desconstituída através de ação rescisória, no prazo 7 MENDES, Gilmar Ferreira. Caderno de Direito Constitucional Controle de Constitucionalidade Currículo Permanente. Escola da Magistratura do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, 2006, p JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de direito processual civil. 13. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de direito processual civil. 13. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p

6 legal. No caso de inexistência jurídica processual, há aparência de trânsito em julgado, inexistindo o prazo para se pedir a declaração da inexistência do processo. Nesse passo, há a possibilidade de haver processo, sem citação do réu, a relação processual entre autor e juiz, por exemplo, na hipótese de indeferimento da petição inicial a que se refere o artigo 295 do CPC, quando a exordial for inepta, quando a parte for manifestamente ilegítima, quando o autor carecer de interesse processual, quando o juiz verificar a decadência ou a prescrição, quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal e quando não atendidas as prescrições dos arts. 39, parágrafo único, primeira parte, e 284. No artigo 285-B do CPC, ocorre algo semelhante, quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida a sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada, se não houver apelação do autor, caso este apele, no entanto, poderá vir a ocorrer a citação do réu, conforme o 2º do referido dispositivo. No caso, pode até haver, excepcionalmente e sem a provocação do réu, sentença de mérito, que fará coisa julgada, sendo tal situação permitida pelo sistema, porque favorável ao demandado, conforme princípio positivado no artigo 249, 2º do CPC Evolução histórica Inicialmente, podemos afirmar que o Direito Processual Civil no Brasil teve surgimento na época da Colônia, no século XIX, em pese que a legislação lusitana não foi rejeitada com a conquista da independência política. Ora que, 5

7 o Decreto de 20 de outubro de 1823 garantiu a continuidade da legislação referida e que não contrariasse a soberania nacional e o regime brasileiro. Salienta-se, ainda, que o procedimento processual ocorria através do interesse das partes, ou seja, era movido pelo impulso destas, em forma escrita, e seu procedimento ocorria através de etapas distintas. Por volta de 1850 o Brasil inovou com a criação do seu primeiro Código de Processo conhecido como Regulamento 737, o qual significou um divisor do pensamento jurídico e provocou sérias discussões entre os juristas. No entanto, no que diz respeito à economia processual e à simplicidade do procedimento é de se considerar a sua contribuição para o direito processual civil brasileiro. Em meados de 1890, mediante o Decreto nº 848, o processo civil ganhou uma grande projeção nacional separando-se do processo criminal, com suas próprias regras, temos como exemplo, a criação da sede do Supremo Tribunal Federal e sua composição por quinze juízes, e com a Constituição de 1891 sancionou-se a dualidade da Justiça Federal e Justiça Estadual. Neste contexto, a partir da Constituição de 1934 determinou-se a competência privativa da União para legislar sobre direito processual, ou seja, caberia à União analisar a real necessidade e propor a elaboração de novos códigos. Desta forma, em 1939 foi promulgado o código de processo civil, o qual passou a reger o processo civil e comercial. Com o decorrer do tempo se fez necessário à criação de uma legislação nova, capaz de trazer melhorias aos institutos processuais ultrapassados para a época, surge então, em 1973, o anteprojeto do Código Buzaid, trazendo alterações plausíveis e significativas ao processo, visando a eficiência e celeridade à justiça. Nesse passo, a evolução do direito processual civil brasileiro não estagnou. E diante disso, a partir da segunda metade do século XX pode-se verificar na história do direito processual civil, uma propensão universal de 6

8 diligências no sentido de propor aos jurisdicionados formas de uma tutela jurisdicional mais efetiva, tempestiva e justa. Obviamente, o processo civil brasileiro tem sido aberto a essas novas tendências, com o advento da Constituição de 1988 provocou uma revitalização nos princípios processuais. Além disso, foram localizados quatro pontos sensíveis no sistema do Código de Processo Civil, como óbices à efetividade do princípio do acesso à justiça: a) admissão em juízo, b) modo-de-ser do processo, c) justiça das decisões e d) efetividade ou utilidade do processo. Vale destacar que no intuito de possibilitar o acesso à justiça, foram criados os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Estadual (Lei nº 9.099/1995) e da Justiça Federal (Lei nº /2001). Sendo assim, foram realizadas pesquisas de opinião realizadas entre os jurisdicionados e magistrados, que apontaram a morosidade como fato gerador de insatisfação com o serviço judiciário brasileiro. E com isso foram feitas aquisições de computadores para as unidades jurisdicionais do país e, ao término desta fase, com o intuito de integrar todos os que intervêm nos processos judiciais por meio da utilização dos avanços tecnológicos disponíveis foi preparada a Lei nº , de 19 de dezembro de 2006, a qual dispõe sobre a informatização do processo judicial e visa afastar dúvidas sobre a validade de atos processuais praticados. Diante disso, podemos ver a evolução do direito no processo tradicional em busca das novas possibilidades tecnológicas oferecidas, com a crescente preocupação com o meio ambiente, com a eliminação dos documentos em papel para a desmaterialização dos documentos, visando amenizar a morosidade da justiça e reduzir os altos custos processuais. 2. Legislação 2.1. Direito Processual Civil: citação e suas modalidades 7

9 Atualmente, a citação é regulada no Código de Processo Civil CPC (Lei nº 5.869, de ), no livro I, título V dos atos processuais, capítulo IV das comunicações dos atos, seção III das citações. O conceito de citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender, conforme disposto no artigo 213 do Código de Processo Civil. No que se trata de citação, Alvim (2007, p. 250) destaca que a citação é ato de fundamental importância, quer pela circunstância de, por seu intermédio, instaurar-se o processo, em relação ao réu (relação jurídica processual trilateral), quer pelos efeitos que produz (art. 219), ressalvando-se o seu comparecimento espontâneo (art. 214, 1º) [ ]. Conforme o artigo 219 do Código de Processo Civil os efeitos da citação válida são: tornar prevento o juízo, induzir litispendência e tornar litigiosa a coisa, e mesmo quando ordenada por juiz incompetente constituirá o devedor em mora e interromperá a prescrição. Diante disso, a citação é um ato inicial e indispensável, na jurisdição contenciosa, para noticiar e convocar o demandado a participar da relação processual, dando início à relação jurídica processual trilateral (autor, juiz e réu), atribuindo efeitos de validade da relação jurídica processual. A citação possui cinco modalidades distintas: pelo correio, por oficial de justiça, por edital, com hora certa e por meio eletrônico. A citação pelo correio tornou-se regra geral, por meio da Lei 8.710/939, as exceções da citação pelo correio são: ações contra o Estado, contra incapaz, contra pessoa jurídica de direito público, nos processos de execução, quando o réu residir em local não atendido pela entrega domiciliar de correspondência, ou quando o autor a requerer de outra maneira. 8

10 A modalidade de citação pelo correio será feito pelo escrivão ou chefe da secretaria que remeterá cópia da inicial e do despacho do juiz. A carta deve ser registrada, com aviso de recebimento e deverá conter o prazo para resposta/defesa, o endereço do juízo e cartório, pois quando ausentes esses requisitos será nula a citação, depois será juntado aos autos como comprovante da citação válida. Quanto à citação feita por oficial de justiça ocorrerá quando não for possível a citação pelo correio ou frustrada tentativa pela regra geral. O mandado a ser cumprido pelo oficial de justiça deverá observar os requisitos previstos no art. 225 do CPC e a ausência de qualquer deles pode acarretar o reconhecimento da nulidade do ato. O oficial de justiça procurará o réu onde o encontrar e efetuará a citação lendo-lhe o mandado, entregando-lhe a contrafé e obtendo a nota de ciente deste. Também certificará se o réu recebeu ou recusou a contrafé e se não apôs o ciente no mandado. A citação por edital ocorre quando todas as possibilidades da citação real não obtiveram efeito e se qualifica como modalidade de citação ficta, neste caso, pode se configurar a incerteza jurídica quanto ao ato de conhecimento da ação. Esta modalidade de citação é realizada quando o réu for incerto ou desconhecido, quando ignorado, inacessível, ou incerto o lugar em que o réu se encontrar ou em outras situações expressamente previstas em lei, para ocorrer a citação por edital é preciso cumprir os requisitos aconselhados pelo artigo 232 do Código de Processo Civil, sob pena de nulidade do ato. Vale salientar o que explana Wambier (2007, p. 316), sobre o prazo do edital [...] é necessário para a determinação do momento em que se considera realizada a citação. Assim, fixado o prazo pelo juiz, conta-se a partir da primeira publicação. Vencido este, considera-se citado o réu, passando então a fluir o prazo para a resposta. 9

11 Já a modalidade de citação por hora certa ocorrerá quando o oficial de justiça não conseguir encontrar o réu após procurá-lo em seu domicílio por três vezes, para dar-lhe ciência da demanda. Uma característica subjetiva dessa modalidade é a suspeita que o oficial de justiça tem em relação ao réu em não querer receber o mandado de citação, forçando este a completar o ato mediante um terceiro próximo ao réu. A citação por oficial de justiça só se concretizará se preenchidos dois requisitos: a) que o oficial de justiça tenha procurado o réu, por três vezes, em seu domicílio ou residência sem o encontrar; b) e que tenha fundada suspeita de que ele esteja ocultando-se para não ser citado. E a outra modalidade mais recente de citação é a por meio eletrônico inserida no ordenamento jurídico brasileiro através da Lei nº , de 19 de dezembro de 2006, que acrescentou a possibilidade de citação, intimação e notificação por meio digital. A citação eletrônica é o ato pelo qual se dá ciência ao réu de demanda contra si, através do meio eletrônico, inclusive a Fazenda Pública, de acordo com o artigo 6º da referida Lei, mediante o prévio credenciamento junto ao Poder Judiciário, como prevê o artigo 2º da Lei nº /2006. A efetividade da citação eletrônica depende do cumprimento dos requisitos previstos no artigo 5º e o acesso da íntegra dos autos ao citando, garantindo, desta forma, o princípio do contraditório e da ampla defesa, como preceitua o artigo 6º da Lei /2006. O advogado credenciado no Poder Judiciário receberá em seu endereço eletrônico uma comunicação que conterá o prazo para acessar o sistema eletrônico judiciário para efetivar a consulta eletrônica à citação, caso contrário, no término deste prazo se dará por citado. Salienta-se ainda, que a citação eletrônica terá mais utilidade na comunicação em demandas incidentais; citação de litigantes habituais, como bancos, concessionárias de serviço público, e entes públicos. Diante disso, não 10

12 será muito comum ocorrer à citação eletrônica em relação às pessoas físicas, mas para advogados cadastrados junto ao Poder Judiciário, que sejam representantes de pessoas jurídicas, principalmente entes públicos. O artigo 2º, 2º, da lei /2006, garante ao credenciado o sigilo, a identificação e a autenticidade de todas as suas comunicações feitas pelo sistema eletrônico Direito Constitucional: princípios constitucionais Conforme preceitua a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, inciso LV, aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa. A Constituição Federal também preceitua em seu artigo 5º, inciso LIV, ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal, princípio constitucional do devido processo legal. A relação jurídica somente ganhará forma de processo após a citação válida do réu, ou seja, depois de se comunicar/informar o réu de que existe demanda contra si, portanto, poderá oferecer resposta, de acordo com as modalidades previstas no Código de Processo Civil. 3. Aspectos polêmicos e atuais envolvendo a citação no procedimento eletrônico A Lei do Processo Eletrônico (Lei nº /2006) que prevê a informatização processo judicial, comunicação de atos e transmissão de peças processuais, causou de início certo receio por parte dos operadores do Direito e tem sido alvo da oposição dos contrários às inovações. 11

13 Os principais argumentos sobre a Lei do Processo Eletrônico são, por exemplo: a Ordem dos Advogados do Brasil OAB propôs Ação Direta de Inconstitucionalidade ADI 3880, perante o Supremo Tribunal Federal, impugnando os artigos 1º, inciso III, 2º, 4º, 5º e 18 da referida lei, alegando ofensa aos princípios da divisão de poderes, da legalidade, e da publicidade, além de violação do direito de defesa e do devido processo legal. De acordo com a exordial, o cadastramento de advogado perante o Poder Judiciário vincularia o exercício da profissão do advogado ao controle de dois órgãos diferentes, uma vez que este já possui inscrição perante a entidade que regulamenta o seu exercício profissional, como prevê o art. 8º e incisos da Lei 8.906/1994 e que o Poder Judiciário não poderia exigir, para o exercício da advocacia, um credenciamento do já credenciado advogado. Outro ponto importante é que sustenta-se a substituição do Diário da Justiça impresso em papel pelo Diário da Justiça eletrônico restringiria indevidamente a publicidade do processo e limitaria o conhecimento dos atos processuais às pessoas providas de computador ligado à Internet. Contrapõe-se ao argumento referido o fato de que a informatização judicial possibilitará maior celeridade no exercício do direito à ampla defesa e tornará mais efetivo o princípio da publicidade ao permitir que qualquer pessoa com acesso à Internet possa acompanhar os andamentos processuais (VIANNA, 2008, p. 108). De acordo com (GONÇALVES, 2008, p. 360), questão que pode ser objeto de discussão em relação ao procedimento eletrônico especificamente quanto à citação via , diz respeito ao próprio acesso à justiça, uma vez que, sendo ela feita por correio eletrônico, não estará à disposição de grande parcela da população brasileira, e também as dificuldades relacionadas, por exemplo, com caixas de entrada cheias ou encerramento de conta não comunicado, fatos estes que independem da vontade do legislador em acelerar o processo e torná-lo mais eficaz. 12

14 Outro ponto importante que tem sido criticado diz respeito à proteção jurídica sobre os dados disponíveis das partes envolvidas. As preocupações são a segurança e a preservação desses dados, pois o processo é público, mas reservado à garantia das partes interessadas. Ainda não é possível medir se o procedimento eletrônico será ou não mais seguro do que o tradicional. Será necessário esperar a implantação total deste novo procedimento para poder verificar a segurança por ele garantida em cada caso concreto. Como se pode observar há críticas à forma alternativa de comunicação dos atos processuais na Lei nº /2006, de acordo com Heitor Vitor Mendonça Sica, no artigo Comunicação eletrônica dos atos processuais: breve balanço dos cinco anos de vigência da Lei nº /2006, Revista do Advogado, São Paulo: AASP, nº 115, p , abr. 2012, adverte que: os mecanismos previstos nos arts. 5º e 6º da Lei nº /2006, se implementados, farão multiplicar as polêmicas jurisprudenciais, pois destoam consideravelmente das formas tradicionais de intimações e citações e apresentam pontos muito criticáveis. Tais dispositivos preveem ferramentas para a intimação e citação em portal próprio, que será acessado diretamente por usuários cadastrados, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico. Pior, esse cadastro é previsto no art. 2º como sendo obrigatório, como requisito para o envio de petições e prática dos atos processuais em geral por meio eletrônico. Bem se nota que se o acesso à Justiça depende e se realiza concretamente pela prática de atos processuais, e se tais atos passam a ser eletrônicos, aquele que não se cadastrar sofrerá restrições quanto à sua garantia fundamental de acesso à Justiça. A inconstitucionalidade é flagrante. Conclusão 13

15 Apesar dos problemas e desafios atuais da implantação de um processo judiciário eletrônico, o futuro é promissor. O Direito sempre está em constância mudanças e acompanha a evolução da Sociedade e das relações sociais, por isso não poderia ignorar os avanços tecnológicos disponíveis. A Lei /2006 representa mais um marco na evolução do direito processual brasileiro, permitindo o aperfeiçoamento do serviço jurisdicional por meio da utilização da tecnologia na resolução dos conflitos. A informatização dos procedimentos judiciais visa facilitar e melhorar a qualidade de atendimento às partes, dar celeridade ao trâmite dos processos e garantir segurança e rapidez na atuação do judiciário. E, apesar das polêmicas geradas com implantação do procedimento eletrônico, pode-se afirmar que entre os objetivos do Estado com essa medida está à realização dos princípios constitucionais do acesso à justiça e da razoável duração do processo. Bibliografia ALVIM, José Manuel de Arruda. Manual de direito processual civil: processo de conhecimento. v ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, BARBOSA, Hugo Leonardo Pena. Lei /2006: o processo eletrônico como garantia de um Judiciário efetivo, Revista Dialética de Direito Processual, vol. 49, 2007, p BRASIL, Lei , de 19 de dezembro de Dispõe sobre a informatização do processo judicial; altera a Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973 Código de Processo Civil; e dá outras providencias. Diário Oficial da União, 20 dez < Acesso em: 17 mar

16 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal Subsecretaria de Edições Técnicas, Disponível em: < Acesso em: 17 mar BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11. jan Disponível em: < Acesso em: 17 mar BRASILEIRO, Ricardo Adriano Massara. Intimações eletrônicas no regime da lei , de 19 de dezembro de In: XVII Encontro Preparatório do CONPEDI, 2008, Salvador, BA. Anais do XVII Encontro Preparatório para o Congresso Nacional do CONPEDI. Florianópolis: Fundação Boiteux, p BROTTO, Alexia Rodrigues. O processo eletrônico e a morosidade da justiça: alguns apontamentos sobre a Lei /06. Revista Bonijuris. Ano XXI, nº 546, p , mai/2009. BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: procedimentos especiais do Código de Processo Civil; Juizados Especiais, vol. 2, tomo II / Cassio Scarpinella Bueno. São Paulo: edições Saraiva, CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional. Coimbra : Livraria Almedina, CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Greice Northfleet. Porto Alegre: Fabris, CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pelegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 24. ed. São Paulo: Malheiros, GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito processual civil esquematizado. São Paulo: Saraiva, LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado / Pedro Lenza. 13 ed. São Paulo: Saraiva, MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil - volume 2 - Processo de conhecimento / Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhari. 7 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

17 MEDINA, José Miguel Garcia. Código de Processo Civil Comentado: com remissões e notas comparativas ao projeto do novo CPC. 2 ed. rev, atual. e ampl. São Paulo: Editora RT, MENDES, Gilmar Ferreira. Caderno de Direito Constitucional Controle de Constitucionalidade - Currículo Permanente. Escola da Magistratura do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil Tomo VI. digital - arquivo atualizado pelo Prof. Dr. Sergio Bermudez, Versão SANTOS, Moacyr Amaral dos. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. I. São Paulo: Editora Saraiva, SCHMITT, Rosane Regina. ROMERO, Débora. Considerações sobre a citação e a intimação no procedimento eletrônico. Revista Interdisciplinar Científica Aplicada, Blumenau, v.5, n.2, p.44-61, SICA, Heitor Vitor Mendonça. Comunicação eletrônica dos atos processuais: breve balanço dos cinco anos de vigência da Lei nº /2006. Revista do Advogado, São Paulo: AASP, nº 115, p , abr THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 13 ed. Rio de Janeiro: Forense, VIANNA, Túlio. A constitucionalidade do procedimento eletrônico frente à nova redação do art. 154 do código de processo civil. Revista dos Tribunais. ano 97, v. 874, p , ago/2008. WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. v ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,