Instituiu-se então o agravo ordinário para os casos previstos em lei, permanecendo a apelação das sentenças definitivas e interlocutórias.
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- Laura Paixão Minho
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1 O Recurso de Agravo Marivaldo Cavalcante Frauzino INTRODUÇÃO A necessidade de pesquisa a respeito do recurso de agravo surgiu antes mesmo das alterações dada pela Lei 9.139/95, sendo essa lei fruto de várias correntes doutrinárias que já vinham debatendo o tema e clamando pelas mudanças. Após sua edição, o recurso de agravo sofreu várias outras alterações das pelas Leis /01, /05 e /10. A pesquisa sobre o tema se faz cada vez mais necessária, diante da adaptação da nova sistemática aos tempos atuais e o surgimento de várias dúvidas em virtude de algumas falhas por parte do legislador. Tais falhas apresentam-se do ponto de vista técnico (processual) e até mesmo linguístico, quando da elaboração do texto legal, causando, assim, contradições e divergências doutrinárias a respeito do tema. As mais diversas correntes doutrinárias há muito tempo já suplicavam por uma reforma considerável na sistemática do recurso de agravo. A processualística desse recurso apresentava-se de maneira morosa aos operadores do direito, indo de encontro ao seu objetivo que, via de regra, visava à resolução rápida das questões surgidas no desenvolver do processo, questões essas de natureza interlocutória. Levava-se em média de quarenta e cinco a sessenta dias para processar-se o recurso de agravo de instrumento, prazo superior ao que se levava para a interposição do recurso apelatório, que ataca decisões que extinguem o processo. Discutia-se a questão do juízo de retratação no antigo "agravo de instrumento retido" e a possibilidade de por meio do agravo de instrumento atribuir efeito suspensivo a recurso desprovido deste efeito. Com a edição da Lei 9.139/95, as alterações na sistemática do agravo ocorreram significativamente e, com elas, surgiram outras questões divergentes. Com a pesquisa, mostraremos essas mudanças. 1. BREVE HISTÓRICO Nos tempos da monarquia portuguesa, instituiu-se o recurso de apelação contra as sentenças definitivas e interlocutórias, porém, as sentenças dos juízes locais eram inapeláveis, provocando constantes insatisfações manifestadas perante a Corte, surgindo daí, a necessidade de estabelecer um meio de se reformar tais decisões. Instituiu-se então o agravo ordinário para os casos previstos em lei, permanecendo a apelação das sentenças definitivas e interlocutórias. No período do Reinado de D. Afonso IV, aboliu-se a apelação das sentenças interlocutórias, restando ao sucumbente, as querimas, que consistiam em queixas manifestadas perante o superior do prolator da decisão, ou diretamente ao Rei, na busca de reparação do gravame. Já no Reinado de D. Duarte, essas queixas passaram a ter forma legal, dando surgimento ao agravo de instrumento. Nas Ordenações Manuelinas, o agravo de instrumento foi simplificado no sentido de ser cabível em determinados casos em que o juízo recorrido ficasse até cinco léguas do juízo do recurso, dando surgimento também ao agravo de petição, que se processava nos próprios autos da decisão recorrida. Pela Carta Régia, de 5 de julho de 1526, instituiu-se o agravo no auto do processo, para os despachos procedimentais.
2 Nas Ordenações Filipinas, surge o agravo de ordenação não guardada, para guardar o cumprimento das formalidades dos atos processuais. Pela Disposição Provisória, de 29 de novembro de 1832, o agravo ordinário foi abolido e, os agravos de petição e de instrumento transformados em agravos no auto do processo ; o agravo da ordenação não guardada também foi abolido pelo Regulamento 143, de 15 de março de Os agravos ordinário, de ordenação não guardada e no auto do processo, eram cabíveis na esfera cível e comercial até o Regulamento 737, de 1850, e após esse Regulamento, somente cabível na área cível. Já na esfera comercial, admitiam-se os agravos de petição e o de instrumento. Com a República, o Decreto 763, de 19 de setembro de 1890, que determinava a aplicação do Regulamento 737/50, aboliu o agravo no auto do processo na esfera cível. Os agravos de petição e de instrumento eram disciplinados nos Códigos Estaduais e, em 1939 integrados ao Código de Processo Civil (CPC), que restabeleceu o agravo no auto do processo. O CPC, em vigor desde 1974 (Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973), aboliu o agravo de petição, instituindo mais uma modalidade ao agravo de instrumento, o "agravo de instrumento retido", com a designação um tanto quanto imprópria, que perdurou até a edição da Lei 9.139, de 30 de novembro de Com a Lei 9.139/95, o agravo de instrumento e o agravo retido passaram a constituir formas de processar-se o recurso de agravo, e não denominação de recurso. Hoje, a denominação do recurso em estudo é simplesmente agravo, que pode ser processado na forma retida aos autos do processo, ou por instrumento, interposto diretamente no Tribunal (CPC, art. 496, inciso II, com redação da pela Lei 8.955/94, e art. 522 com redação dada pela Lei /05). 2. IDEIA CONCEITUAL DO RECURSO DE AGRAVO Agravo é o recurso cabível para impugnar decisões proferidas no curso do processo. Tais decisões não extinguem o feito, pois resolvem apenas questões incidentes, seguindo normalmente a marcha processual. As decisões agraváveis apresentam teor decisório maior que os despachos, que são irrecorríveis (CPC, art. 504), e que simplesmente determinam a marcha do processo, não causando um gravame insuportável à parte O art. 522 do CPC define o agravo como recurso cabível contra as decisões interlocutórias, ou seja, aquelas que o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente (CPC, art. 162, 2º). O agravo é cabível na esfera cível, seja no processo de conhecimento com rito ordinário, sumário ou especial, de jurisdição voluntária ou contenciosa; seja no processo de execução ou no processo cautelar. Dada à falta de parâmetros adotados pelo legislador, ao definir os atos praticados pelo juiz, variando-se quanto à natureza do ato, à forma e à denominação legal, o agravo passou a ter uma maior abrangência para impugnar praticamente quase todos os atos com certa carga decisória, com exceção dos que não extinguem o processo (sentença). Assim, mesmo nos despachos, há a possibilidade de desafiarem recurso de agravo quando causarem maior gravame do que normalmente deveriam causar, ou seja, aqueles que apresentam certa carga decisória. Greco Filho (1995, p. 301) explica: A sucumbência, portanto, e conseqüentemente a caracterização de um ato do juiz como decisão agravável depende da verificação, em concreto, de que tal ato, qualquer que seja sua forma, tenha violado uma expectativa processual da parte. Se houve violação de expectativa, não estamos diante de despacho de mero expediente, mas de decisão, sujeita a agravo.
3 Verifica-se que não é a denominação legal do ato praticado pelo juiz que se identifica como cabimento ou não do recurso adequado, mas sim, a natureza do pronunciamento do magistrado. Segundo afirma Sergio Bermudes (1996, p.79 ), "Se de certo despacho advier sucumbência (i.e., a distonia entre a deliberação dele e o interesse de parte ou terceiro), ele perde a sua feição de ato de mero expediente. Assim, cabível será o recurso de agravo nos casos em que o ato decisório, por sua natureza, causar certo gravame à parte, sem extinguir o processo. 3. REGIME ANTERIOR À LEI 9.139/95 Na redação anterior dos artigos 522 a 529 do CPC, o recurso de agravo apresentava denominação de "agravo de instrumento", tanto para o processado em autos apartados, quanto para o retido nos próprios autos. Quanto ao seu cabimento, se apresentava de maneira genérica para impugnar decisões proferidas no processo, ressalvando os casos de sentença e dos despachos de mero expediente. Na modalidade de "agravo de instrumento retido", quando não ratificado sua apreciação, nas razões ou contrarrazões da apelação, tal agravo era tido como "renunciado". O agravo por instrumento era interponível no prazo de cinco dias, por petição dirigida ao juiz da causa, contendo a exposição do fato e do direito, as razões do pedido de reforma da decisão e a indicação das peças do processo a serem trasladadas. As peças obrigatórias compreendiam a decisão agravada, a certidão da intimação e a procuração outorgada ao advogado do agravante. Sendo deferida a formação do instrumento, o agravado era intimado para, no prazo de cinco dias, apresentar peças a serem também trasladadas e para juntar novos documentos. Apresentados documentos novos, abria-se vista ao agravante para manifestar-se a respeito no prazo de cinco dias. O escrivão tinha o prazo de quinze dias para a extração e conferência do traslado, podendo esse prazo ser prorrogado por mais dez dias. Ultimadas as providências, procedia-se à intimação do agravado para apresentar suas contrarrazões. Publicada a conta (valor das custas), o agravante tinha o prazo de dez dias para efetuar o preparo. Efetuado preparo, os autos subiam conclusos ao juiz para que pudesse exercer o juízo de retratação, mantendo ou reformando sua decisão. Mantida a decisão, os autos subiam ao tribunal no prazo de dez dias, caso contrário, trasladava-se para os autos principais o inteiro teor da decisão reformada. Inconformando-se o agravado com a reforma da decisão poderia requerer no prazo de cinco dias a remessa do agravo ao tribunal, depositando em cartório a quantia paga pelo agravante, caso em que, havendo o improvimento do recurso, o agravante levantaria tal importância a seu favor. O agravo interposto fora do prazo não poderia ter seu seguimento negado pelo juiz. No tribunal, verificando-se a intempestividade do agravo e não sendo ele conhecido, impunha-se ao agravante a condenação do décuplo do valor das custas em benefício do agravado. 4. NOVO REGIME DADO PELAS LEIS 9.139/95, /01, /05 E /10 Com a edição da Lei 9.139/95, o antigo agravo de instrumento sofreu alterações no que diz respeito à nomenclatura, prazos, endereçamento, processamento, preparo, juízo de retratação e outras peculiaridades não previstas inicialmente na Lei, mas que foram identificadas através da doutrina e jurisprudência, e que acabaram sendo incluídas pelas alterações dadas pelas leis /01, /05 e /10.
4 A Lei /05 deu nova redação ao caput do art. 522, prevendo como regra geral a forma de agravo retido e, como exceção, a forma por instrumento Agravo retido oral O agravo retido diferencia-se do agravo por instrumento no que diz respeito à sua interposição e forma. Quando retido, é interposto perante o juízo prolator da decisão, nos próprios autos do processo, sem necessidade de formação de instrumento e juntada de peças em autos apartados. Na modalidade de agravo retido admite-se a sua interposição oral em audiência de instrução e julgamento, reduzida a termo nos autos, nos casos de decisões interlocutórias proferidas nessa audiência ( 3º do art. 523 do CPC), ou pela forma escrita, por petição, no prazo de dias, quando a decisão interlocutória não for proferida em audiência de instrução e julgamento (CPC, art. 522). Quando se tratar de interposição oral em audiência de instrução e julgamento, entendemos que o prazo para o agravado apresentar contrarrazões é também na própria audiência (paridade de armas) e, em seguida, o juiz mantém ou reforma sua decisão (juízo de retratação). Nesse sentido: Barbosa Moreira e Nery Júnior. O código não fez referência ao prazo de que disporia o agravante para expor suas razões; no entanto, por analogia ao art. 454 do CPC, entende-se ser de 20 minutos, prorrogáveis por mais 10. Tratando-se de decisão interlocutória proferida em qualquer outra espécie de audiência, a parte poderá optar pela interposição oral ou escrita por petição. Nesse sentido caminham as doutrinas de Daniel Amorim, Araken de Assis e Chein Jorge. Contra: Didier-Cunha e Scarpinela Bueno. Quanto ao prazo para o agravado apresentar contrarrazões, entendemos que será de acordo com forma pela qual optar o agravante (na audiência se oral; ou em 10 dias, se escrita), vinculando, assim, o agravado. Dessa forma estarão atendidos os princípios da isonomia, da celeridade do processo, da economia processual e da instrumentalidade das formas Agravo retido escrito Por outro lado, tratando-se de interposição de agravo retido por petição, nos casos em que não se exige interposição oral, abre-se prazo de 10 dias para o agravado ser ouvido (contrarrazões) e, em seguida, o juiz poderá exercer o juízo de retratação e reformar sua decisão (CPC, art. 523, 2º). O parágrafo 2º teve redação dada pela Lei /01 sem, contudo, indicar o prazo para o Juiz se pronunciar sobre a manutenção ou reforma de sua decisão. Antes da alteração a doutrina entendia que esse prazo de retratação era de 5 dias. Ocorre que, com a nova sistemática, entendemos que o Juiz pode se retratar a qualquer momento antes de iniciado o julgamento do recurso pelo Tribunal (CPC, art. 529). O tema retratação será desenvolvido em tópico especifico. A faculdade prevista no 2º do art. 523 do CPC é do magistrado poder retratar-se, sendo obrigatório manifestar-se se houver pedido de retratação formulado pelo agravante. Giorgis afirma: "O que se faculta é a retratação, e não a decisão, sendo dever do magistrado apreciar o que lhe é pedido" (op. cit.: 121). No mesmo sentido diz Sergio Bermudes: A locução verbal poderá reformar apenas indica a faculdade de retratar-se, mas não dispensa o juiz do dever de reexaminar seu ato ( op. cit.: 83 ). Independentemente de pedido de retratação formulado pelo Agravante, o juiz pode de ofício retratar-se de sua decisão. Nesse sentido: Nery-Nery, Código, p. 895; Theodoro Jr., Curso, p. 895; Araken de Assis, Manual, n , p in NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil, p No Tribunal, o agravo só será apreciado por ocasião do recurso de apelação e se houver pedido expresso do agravante nesse sentido (CPC, art. 523, 1º). O juízo de admissibilidade do recurso de agravo, em qualquer de suas formas, será feito pelo Tribunal Agravo por instrumento
5 Na modalidade de instrumento o agravo é dirigido diretamente ao Tribunal em autos apartados e distribuído a um relator sorteado (CPC, art. 524), nos casos em que a decisão interlocutória, proferida ou não em audiência, possa causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que ela é recebida (CPC, art. 522). Da petição constará a exposição do fato e do direito, as razões do pedido de reforma da decisão, os nomes e os endereços dos advogados das partes (CPC, art. 524, I, II e III). A petição será necessariamente instruída com cópia da decisão agravada, certidão de intimação, procurações dos advogados das partes e o comprovante do preparo (CPC, arts. 511 e 525, I e 2º). Poderá o agravante requerer que seja atribuído efeito suspensivo ao agravo, ou que seja antecipada a tutela recursal, caso em que, se deferida, o juiz da causa será comunicado (CPC, art. 527, III). A atribuição de efeito suspensivo ao agravo reduziu sensivelmente os casos de impetração de Mandado de Segurança com esse objetivo. Neste sentido, afirma Theotonio Negrão (1997): À vista, porém, da redação dada ao art "caput" e parágrafo único do CPC pela Lei 9.139, de , é previsível que, daqui por diante, salvo o caso de gritante violação da lei e lesão de difícil reparação, não se admitirá mais mandado de segurança contra sentença ou decisão de primeiro grau, porque em todas elas poderá ser obtido efeito suspensivo ao recurso, sem necessidade de impetração do "writ" com essa finalidade. (p.1223). Com a publicação da Lei 9.139, de 30/11/95, o "caput" e o parágrafo único do art. 558 do CPC tornaram possível a obtenção de efeito suspensivo para o agravo de instrumento ou a apelação recebida no efeito tãosomente devolutivo, desde que relevante a fundamentação do recurso e que haja a possibilidade de lesão grave e de difícil reparação. A partir daí, tornou-se desnecessária e incabível a impetração do "writ" para conseguir-se a suspensão. (p.1224). 5. AGRAVO DAS DECISÕES PROFERIDAS NOS TRIBUNAIS O agravo também ataca decisões interlocutórias proferidas monocraticamente nos Tribunais pelo relator, pelo presidente ou o vice-presidente, em decorrência da competência que têm para apreciarem determinadas questões. Tais decisões referem-se normalmente à denegação de seguimento dos recursos, aos requisitos de admissibilidade e ao julgamento do próprio recurso de forma monocrática pelo relator. Assim, são agraváveis as decisões do relator que negam seguimento ao recurso, nos casos do art. 557, parágrafo único do CPC; que indeferem embargos infringentes (art. 532); quando não admitem o agravo, lhe negam provimento ou decidem desde logo o recurso não admitido na origem (art. 545). Das decisões do presidente ou vice-presidente que não admitem recurso especial ou extraordinário (CPC, art. 544) e demais decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e Superior Tribunal de Justiça (STJ), proferidas por presidente das Turmas ou Seções (art. 39 da Lei 8.038/90). O rol apresentado não é restrito, devendo ser observado para o cabimento do agravo das decisões proferidas no tribunal, a sua natureza. 5.1 Processamento do agravo das decisões proferidas no tribunal O processamento do agravo das decisões interlocutórias proferidas nos tribunais obedece ao rito do CPC e do respectivo Regimento Interno do tribunal, variando quanto ao prazo que pode se de cinco ou dez dias para a sua interposição. Para interpor agravo da decisão que não admite na origem o recurso extraordinário ou especial (CPC, art. 544) o prazo é de dez dias e nos próprios autos, acabando assim com a antiga forma de instrumento prevista antes da Lei , publicada no DOU em , com entrada em vigor noventa dias após sua publicação. Ao chegar ao STF ou STJ, o agravo obedece ao respectivo Regimento Interno e, se o relator não conhecer do
6 recurso, negar provimento ou decidir desde logo o recurso trancado na origem, caberá novo agravo no prazo de 5 dias ao órgão competente para julgamento colegiado (CPC, art. 545). 6. O JUÍZO DE RETRATAÇÃO 6.1 Regime anterior à Lei 9.139/95 Antes da edição da Lei 9.139/95, o juízo de retratação era obrigatório para o caso do recurso de agravo de instrumento, impondo ao juiz antes de remeter os autos do agravo ao tribunal, "(...) reformar ou manter a decisão agravada. ( art. 527 do CPC, anterior à Lei 9.139/95). Assim, a redação do artigo 527 do CPC, determinava que o magistrado pronunciasse a respeito da sua própria decisão, ora agravada, mantendo-a ou reformando-a, onde só então, determinaria sua remessa ao tribunal, caso houvesse confirmação. Reformando a decisão, poderia o agravado, após consignar o valor do preparo feito pelo agravante, favorecerse do mesmo instrumento para fazer com que o tribunal pronunciasse sobre a decisão ora reformada. Nessa hipótese, ocorria a inversão dos pólos (agravante e agravado). Como o agravo de instrumento era interposto no juízo a quo, ele exercia de imediato o juízo de retratação para depois determinar a subida do agravo ao tribunal. Na redação anterior do art. 528 do CPC, era defeso ao juiz negar seguimento ao agravo, ainda que interposto fora do prazo legal, visto que cabia ao tribunal apreciar os pressupostos de admissibilidade do recurso e não ao juízo a quo. 6.2 Regime Atual Com as alterações, entendemos que o juízo de retratação no agravo pode ser exercido até momento antes de iniciado o julgamento pelo tribunal (CPC, art. 529). Tratando-se de agravo retido, a retratação pode se dá logo após ouvir o agravante (art. 523, 2º do CPC). Neste sentido expressa-se Carreira Alvim: "Tratando-se de agravo retido, a retratação tem agora um momento próprio para ser exercida, que é depois da audição da parte contrária (art. 523, 2º); (...)". (op. cit.: 113). Verifica-se que, havendo reforma no caso de agravo retido, o recurso não foi submetido ao duplo grau de jurisdição, pois, sua reforma se deu no próprio juízo a quo, antes de ser submetido à apreciação pelo tribunal, pois ainda não havia apelação. Em virtude da inversão da decisão que reformara a anterior, poderá desafiar novo recurso por parte do agravado, que poderá ser outro agravo, dependendo do conteúdo decisório da retratação. Theotonio Negrão (1996, p. 403) afirma: Se houver reforma, ainda que parcial, da decisão, o agravado poderá interpor o recurso que couber dessa nova situação. Poderá não ser o de agravo (por exemplo: se o juiz, apreciando o agravo, reformar decisão que rejeitara a alegação de prescrição, e a acolher, cabível é a apelação). Verifica-se que nesse caso, ao acolher a alegação de prescrição, deverá o magistrado decretá-la prolatando sentença, aí sim, cabível será o recurso apelatório desta decisão e não da reforma daquela, onde o juiz exerceu o juízo de retratação. (Carneiro Gusmão, 1997, p. 37). O STJ assim entende: Tendo sido extinto o processo por força de decisão proferida em juízo de retratação no agravo, inapropriado o pedido de subida dos autos para exame no juízo "ad quem" (art. 527, parágrafo 6º, na redação antiga) uma vez que a nova decisão encerrou comando sentencial, sujeita, portanto, a recurso de apelação. (...) (REsp. nº Rel. Min. Salvio de Figueiredo Teixeira. j. 11/06/96, publicado no DJ, de 12/08/96, p ).
7 Teodoro Júnior entende de maneira diversa e explica: Como a retratação funciona, no regime da Lei 9.139/95, apenas como expressa causa de extinção do agravo (art. 529), a nova deliberação do juiz de origem, como outra decisão interlocutória que é, desafiará novo agravo a ser aviado por aquele que se tornou vencido no incidente. (op. cit.: 579). Entendemos que, havendo reforma da decisão interlocutória por parte do juiz a quo para reconhecer a prescrição ou decadência anteriormente não reconhecida, poderá fazê-lo por meio de sentença nos termos do art. 269, inciso IV do CPC, sem necessidade de proferir uma decisão interlocutória antes. Dessa sentença será cabível apelação. 7. CONCLUSÃO Verificamos que a problemática do agravo quanto ao juízo de retratação, ainda persiste na esfera doutrinária e jurisprudencial. Entendemos que na hipótese de agravo retido haverá a necessidade de ouvir o agravado para que o juiz possa exercer o juízo de retratação (CPC, art. 523, 2º). O que se faculta ao juiz é reformar ou manter sua decisão, e não deixar de ouvir o agravado. Foi atribuído ao agravo de instrumento o poder de se conferir efeito suspensivo a recursos desprovidos deste efeito, e do relator requisitar informações ao juízo a quo, excluindo a impetração do mandado de segurança com o objetivo de conferir efeito suspensivo a recurso. Quanto à economia processual no que diz respeito à nova sistemática, contribuiu significativamente para os operadores do direito; hoje, o processamento do agravo é mais ágil. Pacífico é o posicionamento com relação à interposição do agravo retido oral para os casos de decisões interlocutórias proferidas em audiência de instrução e julgamento, excetuando-se os casos que possam causar lesão grave e de difícil reparação, quando então será cabível o agravo de instrumento diretamente ao tribunal. O agravo de instrumento mudou quanto ao seu processamento e à sistemática da regra geral dos recursos. Hoje o agravo de instrumento é interposto diretamente no juízo ad quem (tribunal) tomando o juízo a quo conhecimento da sua interposição, com a juntada pelo agravante de cópia do agravo ou quando o relator solicita informações, se for o caso. 8. BIBLIOGRAFIA ALVIM, J. E. Carreira. Novo Agravo. Belo Horizonte: Livraria Amaral, Del Rey Editora, ARRUDA ALVIM, Tereza Arruda Alvim Pinto. Repertório de Jurisprudência e Doutrina Sobre Mandado de Segurança Contra Ato Judicial. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, BERMUDES, Sergio. A Reforma do Código de Processo Civil. 2 ed., São Paulo: Saraiva, BRASIL. Lei 5.860, de 11 de janeiro de Institui o Código de Processo Civil. Lei 8.038, de 28 de maio de Instituiu normas procedimentais para os processos que especifica, perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal. Revogou os arts. 541 a 546, 500-II e 508 do CPC. Lei 9.139, de 30 de novembro de Altera dispositivos da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, que instituiu o Código de Processo Civil, que tratam do agravo de instrumento. Alterou os artigos 522 a 529, 557 e 558 do CPC.
8 Lei /01, de 26 de dezembro de Altera dispositivos da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 Código de Processo Civil, referentes a recursos e ao reexame necessário. Lei /05, de 19 de outubro de Altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 Código de Processo Civil, para conferir nova disciplina ao cabimento dos agravos retido e de instrumento, e dá outras providências. Lei /10, de 08 de setembro de Transforma o agravo de instrumento interposto contra decisão que não admite recurso extraordinário ou especial em agravo nos próprios autos, alterando dispositivos da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de Código de Processo Civil. RISTJ - Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, de 22 de junho de 1989, com entrada em vigor a 23/07/89. DJU de 07/07/89 e 17/08/89 e, RSTJ 1/47. RISTF - Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, de 15 de outubro de 1980, com entrada em vigor a 01/12/80. Lex 1980/583. CALDAS, Gilberto. Recursos Cíveis no Novo Código de Processo Civil. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito Ltda, CARNEIRO, Athos Gusmão. O Novo Recurso de Agravo e Outros Estudos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; PELLEGRINI, Ada Grinover; RANGEL, Cândido Dinamarco. Teoria Geral do Processo. 9ª ed. São Paulo: Malheiros Ed., CORREA, Orlando de Assis. Os Recursos no Novo Código de Processo Civil. Porto Alegre: Ed. Síntese, FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de Processo Civil. 7ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, GIORGIS, José Carlos Teixeira. Inovações do Código de Processo Civil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, GOUVEIA, J. Vanderley. Apresentação de Trabalhos Acadêmicos e Científicos. In: Mini-Curso ministrado aos alunos do curso de Especialização em Direito Processual Civil, Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás, GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 9ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 1995, v. 2. Comentários ao Procedimento Sumário, ao Agravo e à Ação Monitória. São Paulo: Saraiva, LEANDRO, Waldemar. Prática dos Embargos do Devedor e dos Recursos. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito Ltda, [s.d.]. MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Ed. Saraiva, 1975, v. 3. MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo Processo Civil Brasileiro: exposição sistemática do procedimento. 19ª ed., rev. e atualizada. Rio de Janeiro: Ed. Forense, NEGRÃO, Theotonio, (org., sel. e notas). Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor. 27ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor. 28ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 1997.
9 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Ed. Método, NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Ed. Método, ROENICK, Hermann H. de Carvalho. Recurso no CPC. Rio de Janeiro: AIDE Editora, SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 10ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 1989, v. 3. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 20ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1997, v. 1. RAITANI, Francisco.Prática de Processo Civil. 11ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 1976, v.3. SANTOS, Ernane Fidelis dos. Estudos de Direito Processual Civil. Uberlândia: Ed. da Faculdade de Direito da Universidade de Uberlândia, 1975, Série 10. SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do Advogado. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Rio, Texto confeccionado por (1)Marivaldo Cavalcante Frauzino Atuações e qualificações (1)Advogado. Graduado pela UCG. Especialista em Direito Processual Civil - UFG. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho - FACH. Especializando em Direito Tributário IBEP/UCB. Bibliografia: FRAUZINO, Marivaldo Cavalcante. O Recurso de Agravo. Universo Jurídico, Juiz de Fora, ano XI, 10 de jan. de Disponivel em: < >. Acesso em: 24 de mar. de 2015.
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