P á g i n a 2 1. INTRODUÇÃO
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- Filipe Peres Imperial
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1 P á g i n a 2 1. INTRODUÇÃO Os tempos atuais podem ser considerados como de conflitos. O desenvolvimento natural da sociedade que envolve uma elevada interação entre os seres sociais, somado ao salto no crescimento populacional e ainda, a proliferação das mais diversas idéias e perspectivas distintas, só poderia resultar nos desencontros de pensamentos. Essa complexa interação, relativa ao nosso mundo globalizado, que é sujeita às constantes mudanças e a um altivo grau de competitividade inerente às relações humanas, cultiva nos indivíduos o cenário da desconfiança, das relações entre dentes, além de criar a concepção de uma quase guerrilha. Destarte, apesar de inicialmente necessário para o surgimento de novos modus pensandi, o conflito em demasia perturba o crescimento natural e ordenado da sociedade, de modo que deve ser tratado com mais atenção e agilidade. A via tradicionalmente concebida e garantida pelo Estado ao particular através do art. 5º, XXXV da CF/88, o tão falado acesso à Justiça, hoje não é a solução mais ligeira e econômica para a resolução de conflitos. Dessa maneira, inúmeros são os que confiam nos Métodos Extrajudiciais de Solução de Conflitos MESC s como o caminho para sobrepor os entraves e polêmicas encontrados no judiciário. Surge assim, a Mediação como um dos MESC s, juntamente com a Conciliação e a Arbitragem, que vem ganhando peso e destaque no campo da resolução de conflitos. E para exercer essa complexa atividade, o Mediador, figura indispensável e de exímia compreensão e discernimento para lidar com os conflitos alheios sem intervir de forma direta. Nesse diapasão, a presente dissertação pretende discorrer brevemente sobre a Mediação como Método Extrajudicial de Solução dos Conflitos e destacar o papel do Mediador e sua importância no processo de composição das partes.
2 P á g i n a 3 2. CRISE NO JUDICIÁRIO O legislador constituinte de 1988 pretendeu garantir e ampliar ao cidadão brasileiro o acesso à Justiça, fazendo jus ao Estado Democrático de Direito que se instaurava no Brasil naquela época. Senão vejamos: Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;(...) 1 Contudo, observamos com clareza que o princípio do acesso à Justiça não vem sendo respeitado na sua integral concepção. De acordo com Marcelo Paes Menezes, a garantia do pleno acesso à Justiça não se fez acompanhar da necessária reestruturação do judiciário para receber e resolver a crescente demanda. 2 Diz ele: O resultado é de todos conhecido: o Estado não tem atendido, a tempo e modo, o cidadão que submete seu conflito à apreciação da jurisdição. Dificuldades de toda sorte se apresentam. Entre as mais relevantes, podem ser citadas as deficiências internas do Judiciário (falta de estrutura, pessoal, reduzido número de juízes) e as de ordem externa (reiterados, inconseqüentes e tresloucados planos econômicos, com desrespeito à Constituição, gerando incontáveis demandas). 3 Por outro lado, impende ressaltar que o acúmulo de demandas e o vultoso número de particulares em busca do socorro do poder Estatal agravam ainda mais o problema. Isto pois, estabeleceu-se o senso comum de que qualquer desentendimento ou rusga deveria ser levado 1 Art. 5º, XXXV da CF de MENEZES, Marcelo Paes. Sobre mediação, direito do trabalho e conflitos de Ódio, Amor e dor, 3 MENEZES, Marcelo Paes. Sobre mediação, direito do trabalho e conflitos de Ódio, Amor e dor,
3 P á g i n a 4 ás portas do Poder Judiciário. A idéia de que quem deve decidir o conflito entre as partes é o Juiz/Estado consubstancia-se numa cultura, num comportamento generalizado que não faz evoluir o nosso ordenamento jurídico. Nesse sentido, Ângela Hara Buonomo Mendonça diz que a sociedade atual confunde acesso à Justiça com litigância, estando enraizado no sistema jurídico brasileiro o espírito da adversidade. E em conseqüência disso, afasta o natural caminho de negociação entre as partes, deixando a critério do Estado, poder impositivo, o destino dos problemas privados. 4 Sendo assim, ante ao cenário acima ilustrado, idéia que se extrai é de que é urgente e imprescindível a aplicação dos MESC s não só como mecanismos pacificadores dos conflitos, em especial a Mediação, mas também como instrumentos conscientizadores para a adoção de uma nova cultura de resolução dos conflitos no ordenamento jurídico brasileiro. 3. MEDIAÇÃO A configuração da sociedade não guarda em seu cerne o comportamento habitual de resolução independente dos conflitos interpessoais. Assim, os indivíduos que a compõe, ao se depararem com impedimentos psicológicos para o desenvolvimento de saídas integrativas, acabam frustrando qualquer possibilidade de resolverem sozinhos seus problemas. Nesse ínterim, surgem os instrumentos de autocomposição, prevendo um terceiro facilitador, não envolvido na questão controversa para MEDIAR o conflito. 3.1 O QUE É MEDIAÇÃO? Como meio alternativo de resolução de controvérsias, a Mediação é um instituto que utiliza técnicas interdisciplinares, inclusive da psicologia, mediante um profissional - o Mediador - um terceiro não envolvido na questão que deve ser imparcial e neutro, levando as partes a entenderem seus conflitos e conjugarem seus reais interesses. 4 MENDONÇA, Ângela Hara Buonomo. A reinvenção da tradição do uso da mediação. Revista de Arbitragem e Mediação, coord. de Arnoldo Wald, São Paulo: RT, Ano 1, n. 03, p. 142.set./dez
4 P á g i n a 5 Impende ressaltar que não há litigância na Mediação. O Mediador auxilia as partes a acharem seus verdadeiros interesses e a preservá-los num acordo criativo onde as duas partes ganham. 5 Em tempo, importante salientar ainda que a Mediação é um instituto de direito material com natureza jurídica contratual, como bem diz Cachapuz: É firmada na soberania da vontade das partes, criando,extinguindo ou modificando direitos, devendo constituir-se de objeto lícito e não defeso em lei, razão pela qual estão presentes os elementos formadores do contrato, tem como objeto o comportamento humano, pois sua finalidade é a resolução dos conflitos relativos à interação do ser na sociedade VANTAGENS DA MEDIAÇÃO COMO SOLUÇÃO Nos últimos tempos, especialmente no final do século XX, a exemplo de países como os EUA, a Noruega e a França, dentre outros, a Mediação, assim como os outros Mesc s (conciliação e arbitragem) ganhou visibilidade para a resolução de conflitos ante as suas vantagens em face da via tradicional do judiciário. O fato é que, além da economia temporal, o procedimento é menos custoso e privilegia a composição das partes, não deixando abalo nas relações sociais. Essa é a vantagem primordial da Mediação que apazigua os ânimos prevendo a continuidade das relações. Pode ser citada ainda, mais uma vantagem quanto ao procedimento da Mediação, que em sua regra é sigiloso, sendo divulgado somente mediante a autorização das partes. Em suma, a Mediação é um excelente instrumento para aquelas partes que desejam desfazer um conflito sem se degradar. 5 VEZZUELLA, Juan Carlos. Teoria e prática da mediação. Curitiba: Instituto de Mediação, 1995, p CACHAPUZ, Rosane da Rosa. Mediação nos Conflitos & Direito de Família.1ª ed., 4ª. Tiragem. Curitiba: p. 41
5 P á g i n a 6 4. O MEDIADOR Percebe-se que nas inúmeras relações, no seu desenrolar natural, a conseqüência mais comum é que hora ou outra brote o conflito. E quando isso ocorre os indivíduos manifestam grande dificuldade em resolvê-lo de forma pacífica. Isso porque, o contexto emocional e a pressão exercida entre as partes é tamanha, que as mesmas perdem o fôlego para solucioná-lo. E é sob essa justificativa que está o alicerce para a figura do Mediador. Observa-se que seu trabalho objetiva facilitar a comunicação entre as partes e não apenas estabelecer um diálogo sobre a proposta de cada uma. O Mediador, como dito anteriormente, utiliza-se de técnicas baseadas em diversos campos de conhecimento, especialmente o da psicologia, para levar as partes à conjugação de seus interesses. Assim, não se trata de um simples diálogo expositivo, onde o Mediador intermedeia o que cada qual quer como acordo, trata-se, pois, de um processo em que o Mediador deverá restaurar a relação e a confiança entre as partes em questão, restabelecendo a comunicação. Ao longo do exercício da sua atividade no caso concreto, o Mediador deverá, além de restabelecer a comunicação entre as partes, afastando alguns ruídos que permanecerem, reduzir os obstáculos emocionais, proporcionar reflexões contínuas a fim de estabelecer uma consciência baseada na razão e na flexibilidade. 7 Assim, segundo Verônica Barros, pode-se dizer a este ponto o conflito deve ser tratado pelo Mediador sob diversos aspectos: psicológico/emocional, econômico, social e jurídico sem perder de vista a concepção de que todos estão interrelacionados. E somente a partir daí, poder-se-á passar ao debate quanto ao mérito do conflito. 8 Importante ressaltar ainda que no exercício das suas atribuições o mediador deverá ser cauteloso quanto à aplicação da mediação para o conflito em questão, haja vista que existem direitos e assuntos que não comportam tal método de resolução de conflitos extrajudiciais. 7 BARROS, Veronica Altef. Mediação: Forma de Solução de Conflito e Harmonia Social, flito_e_harmonia_social.pdf;jsessionid= c876b89dd a44f7f81?sequence=2 8 BARROS, Veronica Altef. Mediação: Forma de Solução de Conflito e Harmonia Social, flito_e_harmonia_social.pdf;jsessionid= c876b89dd a44f7f81?sequence=2
6 P á g i n a 7 Assim, podemos determinar como mais um de seus deveres a vigilância quanto aos procedimentos. E nesse mesmo sentido deve ele estar atento para o termo de acordo da mediação, que constituirá título executivo extrajudicial possibilitando execução futura em caso de descumprimento. Outra questão que não pode ser deixada de lado diz respeito ao impedimento das partes, que também deve ser verificado, sem deixar se perder quanto à voluntariedade para a solução do conflito e se ambas as partes estão de boa-fé. O Mediador deve ainda ser eficiente e imparcial, não deve deixar transparecer juízos de valor nos conflitos em que atuar. 9 Outras são as características que ele deve possuir de forma inerente: 10 a) capacidade para entender a complexidade do conflito; b) ter boa comunicação; c) habilidade em escutar e entender critérios e juízos de valor de outras pessoas; d) incorporar o real interesse no bem estar das partes. 5. CONCLUSÃO Ante ao que dissertado, pode-se concluir que a grande maioria dos indivíduos não tem características inerentes que os façam resolver os conflitos de forma pacífica. Seja pela divergência de pensamentos, por valores distintos ou simplesmente por criações diversas, o fato é que da mesma forma como surgem os conflitos devem ser resolvidos. E a solução para esses conflitos encontra guardia no simples consenso entre as partes através dos Mesc s, e no caso em questão, mais especificamente na Mediação. O Mediador tem papel nobre na condução desse trabalho. Ao facilitar a compreensão das partes restabelecendo o diálogo, possibilitará maior oportunidade de consenso e manutenção das relações. Sua atividade traduz-se em importante instrumento de pacificação e harmonização das relações sociais. 9 WANDERLEY, Waldo. Mediação, Brasília: Editora MSD, 2004, p WANDERLEY, Waldo. Mediação, Brasília: Editora MSD, 2004, p. 54.
7 P á g i n a 8 6. BIBLIOGRAFIA - BARROS, Veronica Altef. Mediação: Forma de Solução de Conflito e Harmonia Social, o_de_conflito_e_harmonia_social.pdf;jsessionid= c876b89dd a44f7f81?sequen ce=2. Acesso em: 23/01/11. - CACHAPUZ, Rosane da Rosa. Mediação nos Conflitos & Direito de Família.1ª ed., 4ª.Tiragem. Curitiba: MENDONÇA, Ângela Hara Buonomo. A reinvenção da tradição do uso da mediação. Revista de Arbitragem e Mediação, coord. de Arnoldo Wald, São Paulo: RT, Ano 1, n. 03, p. 142.set./dez MENEZES, Marcelo Paes. Sobre mediação, direito do trabalho e conflitos de Ódio, Amor e dor, Acesso: 23/01/11 - VEZZUELLA, Juan Carlos. Teoria e prática da mediação. Curitiba: Instituto de Mediação, WANDERLEY, Waldo. Mediação, Brasília: Editora MSD, 2004.
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