O argumento principal de Berger de que o apoio a pequenas empresas (o setor
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1 Focalizando os Pobres, , Ensaio 4 Maggie Scott; 17 de abril, Como você reconcilia as visões destas duas leituras com aquelas das leituras anteriores a respeito da importância de apoiar pequenas (e médias) empresas como a chave para o desenvolvimento econômico local em países em desenvolvimento? O NEGÓCIO É SER PEQUENO Vs. ECONOMIAS DE ESCALA O argumento principal de Berger de que o apoio a pequenas empresas (o setor tradicional, como ela o denomina) deveria ser justificado em bases sociais em vez de econômicas é porque essas empresas atuam como válvulas de segurança para as grandes empresas, ou o "setor moderno". Seu argumento é que "o setor tradicional serve para reduzir os custos das flutuações econômicas e das mudanças para o setor moderno, permitindo que esses custos sejam distribuídos de tal modo que seu peso seja desproporcionalmente carregado por aqueles que possuem e trabalham em pequenas propriedades independentes" (1981). Particularmente evocativa é a imagem de um jogo de batata quente. As políticas trabalhistas das grandes empresas são rígidas devido às proteções alcançadas por contratos com os sindicatos. Em resposta, as grandes empresas ficam relutantes em contratar novos funcionários em tempo integral e, ao invés, contratam funcionários externos por empreitadas, tantos quantos forem possíveis, para que quando os tempos difíceis chegarem, elas consigam se livrar do excesso de mão-de-obra depressa. Começa, então, o jogo da batata quente. As grandes empresas dispensam os trabalhadores terceirizados e reduzem o pessoal sindicalizado (através de perdas naturais pedidos de demissão e aposentadorias em vez de exonerações, se possível). O setor tradicional, então, absorve este excesso de demanda de trabalho de pessoas que, normalmente, teriam sido contratadas por grandes empresas até que sua necessidade fique saturada e então os trabalhadores vão, aos poucos, para o setor informal. As pequenas empresas (e o setor informal), portanto, têm uma importante função social, reduzindo os custos para as grandes empresas se reestruturarem em resposta às mudanças das condições econômicas. Medoff et al. são muito mais críticos sobre as pequenas empresas e sequer as vêem como dignas receptoras de políticas sociais muito menos de políticas econômicas. Sua 1
2 principal crítica a respeito das pequenas empresas é que, embora a ajuda a elas seja freqüentemente justificada por causa do número de empregos que elas criam, as pequenas empresas não geram tanto emprego quanto normalmente se supõe. Isto, em grande parte, é por causa do número de empresas que continuamente saem da categorização de pequena empresa, entrando no setor de grandes empresas. Assim, embora seja verdade que quase todas as empresas começam pequenas, as verdadeiramente vibrantes, dinâmicas e inovadoras finalmente se expandirão, contratarão novos trabalhadores e deixarão de ser classificadas como pequenas. Os autores também apontam para os melhores salários e benefícios que os trabalhadores, em sua totalidade, recebem em grandes empresas, em relação às pequenas empresas (Brown, Hamilton, Medoff, 1990). Assim, por que, então, a política pública deve apoiar as pequenas empresas? Uma das razões é a de Berger: apoiar as pequenas empresas é uma boa política social, que pode atenuar os golpes da transição econômica e impedir a agitação social. Como as pequenas empresas empregam, de modo desproporcional, mulheres e trabalhadores jovens sem experiência, o apoio a estas instituições também pode ser visto como o apoio indireto a segmentos da população que enfrentam discriminação no mercado de trabalho. Entretanto, não acredito que esse seja o único argumento nem mesmo o mais convincente. Há diversas justificativas econômicas para apoiar pequenas empresas. Medoff, por exemplo, argumenta que os empregos criados por grandes empresas são melhores: pagam melhor, são mais seguros, têm mais probabilidade de oferecer seguro saúde etc. Ele está, entretanto, negligenciando uma parte crítica de seu próprio raciocínio: as grandes empresas começam pequenas. Se o que queremos incentivar são os empregos em grandes empresas, então a política pública deve preocupar-se com todo o ciclo de como aqueles empregos são criados. A política pública tem que apoiar uma base fértil de reprodução para empresas, de forma que as grandes empresas em todos os setores da economia tenham um contínuo fornecimento de novas empresas, provendo novos empregos e uma competição saudável dentro da economia. A política não pode simplesmente concentrar-se em criar empregos de alta qualidade em empresas maiores porque os governos também devem preocupar-se em promover 2
3 a competição e em quebrar monopólios e oligopólios. Esta, e não uma reprodução peculiar do populismo nos EUA que Medoff cita, é a verdadeira razão pela qual a Anti-Truste, Lei Sherman, foi aprovada na virada do século e porque a política pública deve continuar dando apoio às pequenas empresas. Outro argumento poderoso que justifica o envolvimento público na provisão de auxílio financeiro a pequenas empresas é que os obstáculos que elas enfrentam para encontrar o acesso ao capital são, pelo menos em parte, devido a fracassos nesses mercados. Simplesmente, os bancos prefeririam fazer um grande empréstimo de $ ao invés de 100 empréstimos de $ porque os custos de transação são muitas vezes multiplicados no último. Sem dúvida, é importante ser analítico a respeito das maneiras com as quais os governos gastam o dinheiro. O público certamente não quer gastar dinheiro de impostos em programas em que os custos marginais excedam os benefícios marginais. Além disto, os políticos têm de considerar os custos da oportunidade de gastar em um programa versus noutro, que é apenas uma outra maneira de dizer: "qual programa é mais eficaz?" Se mais empregos puderem ser criados devido a um dado investimento em grandes empresas em comparação com as pequenas empresas, esse será um caso convincente para se reconsiderar a política. Porém, isso não é o que Medoff et al. alegam. Eles meramente desmascaram a idéia de que as pequenas empresas geram a vasta maioria de todos os empregos (embora seja interessante notar que até por estimativas conservadoras as empresas de pequeno porte geram a maioria dos empregos novos: 56%) e reforçam a idéia de que os empregos em grandes empresas têm melhor remuneração. Contudo, após termos lido seu artigo, ainda sabemos muito pouco a respeito de onde os benefícios marginais dos gastos públicos são mais elevados, considerando-se a geração de empregos de alta qualidade. Fica claro que é importante não comprometer os padrões básicos de segurança do trabalhador e a qualidade ambiental, em um esforço para nivelar o campo de atuação para as pequenas empresas. O auxílio às pequenas empresas não deve, então, tomar a forma de isenções de regulamentos. Além disso, pelo menos duas lições da leitura sugerem que a política deve ser 3
4 dirigida a ajudar as pequenas empresas a se expandir em lugar de tornar-lhes mais fácil iniciar um negócio. Uma das lições é que, entre as empresas que sobrevivem, as pequenas empresas crescem mais rápido do que as maiores (embora as pequenas empresas tenham uma taxa de mortalidade mais elevada). A outra é que grandes números de pequenas empresas nascem continuamente, sugerindo que não há qualquer escassez de novas iniciativas. Como os analíticos do caso Locke podem ajudar a explicar os resultados positivos do caso de Damiani? Que ajuda prática poderia ser extraída desses dois estudos de caso acerca de como facilitar o tipo de redução de pobreza que pode resultar das recomendações mais macro de Rodrik sobre institucionalizar a luta genérica entre trabalho e capital? GLOBALIZAÇÃO, CAPITAL SOCIAL, OS DIREITOS DOS TRABALHADORES: pedaços do quebra-cabeça do desenvolvimento Antes dos atentados de 11 de setembro, a globalização era, discutivelmente, o maior ponto de discórdia nos EUA; o drama exauriu-se nas ruas de cidades como Seattle, Los Angeles e Washington, para citar apenas algumas. Esta agitação social contra a percepção de uma "corrida para o fundo é exatamente o que Rodrik, em seu livro, avisa aos políticos para evitar (Rodrik, 1997). Ele acredita firmemente que a globalização expande a torta econômica e que tem o potencial para a "profunda integração" embora com o desligamento seletivo" ocasional. Este processo de harmonizar os ganhos ambientais e trabalhistas através das fronteiras nacionais com oportunidades limitadas e necessariamente justificáveis para retirálos, quando as condições locais assim o exigirem é o que Rodrik alega que não somente acalmará os choques distribucionais da globalização, mas também não solapará, afinal, toda a causa. Ele argumenta que a política deve preocupar-se com tais questões para aplacar as massas, as mesmas pessoas que dois anos após a publicação de seu livro eram despejadas nas ruas todas as vezes que o Banco Mundial e o Fundo Monetário internacional vinham à cidade. A maciça transição estrutural que aconteceu no setor automobilístico italiano nos anos 70 Fiat e Alfa Romeo revela que um fator chave ao negociar essas transições é a densidade das redes sociais em que estes participantes econômicos estão inseridos (Locke, 1995). O desmantelamento do poder do sindicato e as subseqüentes perdas na qualidade de emprego na 4
5 Fiat ocorreram num ambiente social altamente polarizado. Turim era essencialmente uma cidade da companhia, na qual todo o mundo poderia claramente ser identificado com estar a favor ou contra você. Mas em Milão, na qual aconteceu a reestruturação da Alfa Romeo, as densas redes sociais presentes na cidade amorteceram as tradicionais alianças da companhia. A comunicação informal entre participantes de vários níveis do sindicato e da liderança da fábrica teve o poder de servir tanto como válvula de pressão, durante as difíceis negociações, quanto como um modo de se construir novas alternativas e buscar entendimento. A probabilidade de que as pessoas em todos os lados deste debate pudessem ter se encontrado na igreja, em partidas de futebol e em reuniões de bairro criou um lado mais humano para a reestruturação da fábrica e ajudou ambos os grupos a se esforçar por compreender talvez até a compartilhar as preocupações do outro lado. A importância de "estruturas sociais bem desenvolvidas e vibrantes para o ajuste das estratégias econômicas" argumentam a favor de enfocar a política pública fortalecendo instituições civis tais como associações de bairro, câmaras de comércio, associações de trabalhadores, o setor não comercial, etc. O desenvolvimento das safras de exportação não tradicionais em Petrolina-Juazeiro, Brasil, e as melhoras simultâneas nos salários e nas condições de trabalho não só neste setor próspero, mas também para outros trabalhadores em fazendas irrigadas não pertencentes ao grupo das safras de exportação não tradicionais ilustra a teoria de Locke de que o contexto social importa (Damiani, 2003). Em Petrolina-Juazeiro, muitas instituições de diversas localidades foram participantes nesta transformação. A VALEXPORT, uma associação de plantadores comerciais que os representa nas negociações sindicais, estabeleceu ligações com o Ministério das Relações Exteriores, fez lobby no Congresso e participou do Conselho Nacional de Pesquisa e da Organização Brasileira de Pesquisa Agrícola. A FETAPE (Federação de Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco) e a CONTAG (Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura) foram participações sindicais fundamentais nesta história e suas habilidades para cobrar dívidas e apoiar o Ministério de Trabalho monitorando empresas para ficarem em conformidade com os contratos contribuiu muito para ganhos trabalhistas. 5
6 Assim, as instituições locais são cruciais para sucesso; isto é algo que já discutimos nesta aula. Porém, encontramos uma nova força nesse caso, cuja influência sobre o desenvolvimento local ainda temos de explorar: o poder dos consumidores e das organizações internacionais. Estes participantes as mesmas forças antiglobalização que muitos ativistas acreditam que solaparão diretrizes de saúde e segurança dos trabalhadores além dos regulamentos ambientais são tão influentes em assegurar benefícios aos trabalhadores quanto as instituições locais. Dois exemplos foram citados nesse caso em que forças internacionais não mediram esforços ao lutar por ganhos para os trabalhadores. O primeiro foi a habilidade da FETAPE para chamar a atenção da OIT (Organização Internacional do Trabalho) acerca do uso da mão-deobra infantil em Petrolina-Juazeiro. De imediato, muitas empresas ficaram aterrorizadas com o potencial negativo em suas relações públicas se viessem a ser um estudo de caso da OIT ilustrando o abuso de crianças na produção agrícola. Em conseqüência, a mão-de-obra infantil despencou. Segundo, a VALEXPORT usou uma imagem progressiva" para vender Petrolina- Juazeiro aos mercados estrangeiros. Um importante líder da VALEXPORT relatou que eles mostram "aos compradores no exterior que eles não estão apenas comprando frutas de ótima qualidade, mas também, de fato, beneficiando muitas pessoas que trabalham no campo". Finalmente, um outro fator chave para melhorar as condições de trabalho em Petrolina- Juazeiro foi a política da CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) para atrair empresários de fora da região. A importação de empresas externas resultou na adoção de um novo modo de negociar. Estas empresas estavam mais acostumadas a lidar com o sindicato e ajudaram a desenvolver relações mais colaboradoras em vez de antagonistas com os sindicatos em Petrolina-Juazeiro. 6
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