Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Transcrição

1 Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação Coordenação de Biblioteca

2 13 Discurso na visita ao Centro Integrado de Operações Policiais (Ciop) CIDADE OCIDENTAL, GO, 7 DE FEVEREIRO DE 2002 Meu querido Governador Marconi Perillo, que soube ser nosso amigo e é um grande Governador de Goiás, Governador querido pelo povo da sua terra, Governador querido pelo povo do Brasil. Não fosse a experiência política, a generosidade e o sentimento de oportunidade do Governador Joaquim Roriz, do Distrito Federal, nós não teríamos podido assistir ao que estamos assistindo, hoje, aqui, que é a aliança entre o Estado de Goiás e o Distrito Federal, para o bem do povo do Entorno, para o bem do povo do Distrito Federal e para o bem do povo do Brasil. Foi necessário isto: nova parceria, compreensão moderna do que é administrar, para ver este espetáculo simples, mas comovedor, de dois líderes. E quantos, no passado, se bicavam. E quantos, no passado, pensavam primeiro no seu partido ou na sua cidade. Agora, vemos estes dois líderes, independentemente de cor partidária, independentemente da fronteira da cidade, tendo dentro do coração deles um só pensamento: o povo é um só. É o povo brasileiro, é o povo goiano, e juntos temos

3 142 PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO que trabalhar por esse povo. Agradeço, portanto, a presença dos Governadores, aqui. O nosso Prefeito Plínio, de uma generosidade ímpar, que me saudou superlativamente, e serite-se, ao ver os aplausos, ao ver os políticos da região reunidos, a força que tem nessa população e o benquerer que a população tem por ele. Saúdo, portanto, o Prefeito e a Primeira-Dama. Não vou me referir a cada um dos presentes, que já foram nominados. Eu me referirei apenas àqueles due mais diretamente estão ligados, no Governo Federal, a essa questão da segurança, que são o Ministro Aloysio Nunes Ferreira e o General Alberto Cardoso. Lá, também, foi preciso que houvesse o entendimento entre o Gabinete de Segurança Institucional, as forças militares, a Pçlícia Federal, o Ministério da Justiça e as forças policiais civis e militares de Goiás e do Distrito Federal, para que pudéssemos levar adiante este programa a que estamos assistindo, hoje, aqui. Ao saudar os dois, saúdo a todos os demais presentes, os vereadores, mas, sobretudo, queria me dirigir a vocês. Primeiro, aos mais jovens, às crianças. São muito criancinhas alguns dos que estão aqui, mas já estão participando e, talvez, nem saibam de um momento de mudança no Brasil. Momento em que os governantes ou olham para as crianças, ou olham para a educação, ou olham para a gestante, ou atendem a saúde da mãe, ou, então, estão condenando, sem o saber, muitas vezes, o futuro de milhões de brasileiros ao abandono, ao desemprego, à impossibilidade de ter uma vida melhor. Hoje, vocês estão aqui, talvez nem sabem o que significa bem ser ministro disso, ministro daquilo. É muito título para ser bem entendido. Mas tem que ter o sentimento de que tudo que estivermos fazendo por vocês é pouco diante do muito que o Brasil precisa das suas crianças e dos seus filhos mais jovens. Vi, ali, adiante, uma placa que dizia: "Gente Jovem". É, gente jovem da Cidade Ocidental, gente disposta a trabalhar, a vocês é que quero me dirigir e, também, às mães de família, que tão numerosamente aqui estão, e às famílias, homens e mulheres. Dirijo-me às mães, porque a base da transformação social que estamos empreendendo no Brasil de-

4 PALAVRA DO PRESIDENTE i 9 SEMESTRE pende da família. Depende da família, porque não adianta dizer que é preciso olhar para a criança, se não se olhar para a família. Se a família não olhar para a criança - não há de ser um olhar de qualquer maneira, distante -, qualquer um de nós é que vai enfrentar os problemas do diaa-dia. Não é fácil. Não é fácil mudar uma concepção, que existia no Brasil, um conjunto de tradições pelas quais as burocracias cuidavam dos problemas do cotidiano um pouco, assim, empurrando-os com a barriga. É a isso que o Governador Marconi Perillo, com tanta generosidade, se referiu ao dizer o que estamos fazendo na área social no Brasil. Não fizemos muita coisa ainda, não. O Brasil precisa de muito mais. Mas mudamos a direção do que se fazia. Antes, tudo se perdia em papelada. Antes, para obter um resultado, era preciso que a família fosse buscar o "pistolão", o favor político. Agora, as crianças estão nas escolas, como certamente muitos de vocês, cujas famílias não têm renda suficiente têm o direito de receber um cartão do Bolsa-Escola do Governo Federal. Com esse cartão na mão, vão a qualquer posto dos Correios ou da Caixa Económica e recebem uma pequena contribuição. Isso não é mais favor. Isso é direito de vocês. E esse direito se exerce, em primeiro lugar, pela mãe de família. Pensamos muito ao tomar essa decisão. Por que a mulher? Por que não o que, no Brasil, se costumava chamar, antigamente, de o chefe de família, era só o chefe e nunca era a chefe? Pela tradição era o homem. É porque a mulher é que está em contato mais permanente com a criança. É porque a mulher é que sustenta com mais longevidade uma relação familiar. É porque a mulher tem uma responsabilidade mais direta. Então, era direito da mulher, mais do que de qualquer um, receber aquele auxílio, para que ela olhasse a criança na escola, para que ela visse, efetivamente, se a criança está ou não assistindo à aula. Ainda é muito pouco o que se distribui, mas é sinal de uma nova mentalidade. Vamos, de agora em diante, juntar todos os programas sociais. E há muitos. Há um que se chama Peti, que é o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Há outro que se charrua Bolsa-Alimentação. O Governador tem um programa pioneiro, aqui, que é o Renda Minha. E foi dele que tirei a ideia do cartão. Pois bem, vamos

5 144 PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO juntar todos esses programas num só cartão, de tal maneira que a família, com um só cartão, possa receber tpdos os benefícios a que faz jus e não perca tempo, indo várias vezes, para receber um pouquinho aqui, outro pouquinho acolá. Um só cartão vai ser o cartão da dignidade, o cartão da cidadania, porque cada um vai lá para exigir o que é seu, o que lhe é devido, para acabarmos com o que o Governador disse aqui: as injustiças de um país de renda tão altamente concentrada. Ontem, pude mostrar, na reuniãp do Ministério, uma tabela que mostra, com muita clareza, que todo recurso retirado dos que são menos pobres e dos que são ricos, através do Imposto de Renda, e todo o Imposto de Renda que as empresas pagam - e, aqui, me dizem que são 300 empresários, acredito no Governador Roriz - enfim, o dinheiro desses 300 empresários e dos milhões de pessoas que pagam Imposto de Renda, todo ele - arrecadamos, mais ou menos, 28 bilhões - vai ser, como já está sendo, distribuído, através de cartões magnéticos de programas de aposentadoria, a pessoas que não têm mais condições de trabalhar e mais pobres. Estamos, sim, fazendo distribuição direta de renda no Brasil. Estamos, sim. É o começo. É um começo, mas nunca ninguém tinha feito. É um começo, mas - há 500 anos se fala da concentração de renda, há 500 anos se faz discurso no Congresso, há 500 anos, na hora da eleição, se fala de redistribuição de renda - medidas práticas desse alcance nunca haviam sido tomadas. Agora, são milhões de pessoas que recebem os benefícios. Só no Bolsa-Escola, são 10 milhões de crianças. Dez milhões de crianças. Isso quer dizer 30% das crianças que estão nas escolas de educação básica no Brasil, que correspondem aos 30% das famílias mais pobres dp Brasil. Essa é a mudança que estamos fazendo. E é com esse espírito que estamos aqui inaugurando este Ciop, como, há pouco, no Novo Gama e como, hoje, em mais 10 outras localidades do Entorno. Qual é o espírito? O espírito é o da parceria. O espírito é o de entender que segurança é direito do cidadão e que falar isso sem ter uma prática concreta é demagogia. Requer uma cooperaçãp. Requer uma articulação entre as polícias, entre o Corpo de Bombeiros, a própria comunidade, o gover-

6 PALAVRA DO PRESIDENTE i 2 SEMESTRE no estadual, o do Distrito Federal, o Governo Federal, todos juntos, para que possamos dar passos concretos para aumentar o grau de segurança no País. Os resultados já estão aí. Vim muitas vezes, como Presidente da República, ao Entorno de Brasília. Nesta região do Entorno de Brasília, que era considerada uma das mais violentas do Brasil, os índices de criminalidade baixaram, em média, 30%, em poucos meses. E, aqui, nesta Cidade Ocidental, baixaram mais depressa do que nas outras. É a segunda cidade do Entorno que tem a menor criminalidade relativa de toda a região. Parabéns à Cidade Ocidental, que soube fazer o que é necessário fazer. Não é fácil. Segurança pública não se resolve com um peteleco. Não se resolve só com dinheiro. Não se resolve só com violência. Segurança pública requer coordenação, requer que as polícias, como aqui, trabalhem juntas, requer luta tenaz contra a corrupção, requer que o Congresso ajude, mudando as leis, facilitando botar na cadeia o criminoso, acabando com a impunidade, fazendo com que quem mata fique preso, com que quem sequestra fique preso. Não é possível, em um país como o nosso, que é democrático e que respeita os direitos humanos, desrespeitar os direitos do conjunto da população, deixando bandidos soltos, praticando o crime e, ainda, às vezes, o que é pior, distribuindo parte desse crime com aqueles que deveriam combater o crime. Isso é inaceitável. A corrupção é irmã gémea da criminalidade, da violência e do assassinato. É por isso que precisamos de uma nova polícia, como a que temos aqui. Há bons elementos nas polícias do Brasil todo. Contamos, no Brasil, entre polícias civis e militares, com 600 mil pessoas. A Polícia Federal tem apenas 8 mil. A Polícia Civil e a Polícia Militar, as duas juntas, em todos os estados, contam com 600 mil pessoas. Estou seguro de que a imensa maioria é composta de gente honesta, trabalhadora, que arrisca a vida, pais de família também eles. Não obstante, alguns poucos que se alinham ao crime, quando são descobertos, dão a impressão ao País que é toda a polícia. Não pode ser assim. Reitero o apelo aos meios de comunicação, que são essenciais para a democracia, essenciais para o Brasil avançar mais depressa, e serão es-

7 146 PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO senciais também para ganharmos a guerra contra a criminalidade: denunciem, mostrem o que está errado, mostrem o culpado, mostrem o bandido, mostrem o policial corrupto, mas mostrem também o policial honesto, mostrem também o herói anónimo, que arriscou a vida para pegar o bandido, e valorizem a Polícia Civil ou Militar, o agente federal, o agente estadual ou o agente municipal, quando esses policiais demonstrarem, como também demonstram, no seu cotidiano, que são dignos e honrados e estão ajudando o Brasil a avançar. Vim aqui, a esta Cidade Ocidental, para vê-los de perto, para olhar estas crianças, para ver a disposição de vocês, porque tenho a convicção de que essa luta, essa guerra, como disse o Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que temos que travar contra a violência e contra a corrupção, para restabelecer a paz e a segurança do Brasil, vai ser ganha não pelo Presidente da República, não pelo Governador, não pelo Prefeito, mas vai ser ganha pela grande aliança de todos nós e das famílias decentes do Brasil que exigem segurança e paz. Vamos precisar estar alerta. Se não fosse a coragem de uma jovem, em São Paulo, que telefonou para á polícia e denunciou que havia um sequestrado perto da sua casa, a pplícia não teria salvado Washington Olivetto. Foi a ação do povo que ajudou. E quantas vezes é o povo que denuncia e permite que a polícia avance? É necessário, sim, essa cooperação de todos nós, para que possamos vencer essa batalha. Mas vamos vencê-la. Vencemos uma batalha que parecia impossível, que era a inflação, que corroía o salário de todos os brasileiros, durante décadas. Acabamos de vencer a crise da energia. Vocês se lembram: no começo, era só "apagão". Não houve, durante a crise, nenhum "apagão" por causa de racionamento. O que houve foi falha elétrica, outro dia, de algumas horas, e nada mais. Não houve "apagão". Não houve "apagão", porque lutamos para que ele não houvesse, porque o povo ajudou, se organizou, economizou e, por isso, permitiu que o Brasil superasse essa crise. É assim também que vamos superar a questão da segurança. A questão da segurança não pode ser resolvida pelo Presidente da República, com uma câmara ern nível federal. Por quê? Porque, na verdade, no

8 PALAVRA DO PRESIDENTE i 9 SEMESTRE momento em que estávamos tomando decisões sobre a crise de energia, todos os instrumentos para atuar sobre ela dependiam de mim, do Governo Federal. Agora, não. A crise da segurança não depende só do Presidente da República. Depende do que está acontecendo aqui, da articulação entre o Governo Federal, o governo estadual e os governos municipais. Temos que dar as mãos uns aos outros. E, quando o povo perceber que há uma disposição firme dos que governam o Brasil, em todos os níveis, de avançar, aí, sim, o povo sente coragem para também avançar. E, aí, faremos uma aliança imbatível e vamos restabelecer aquilo que todo brasileiro e toda brasileira quer: um país tranquilo, um país feliz, um país que tem suas crianças na escola, um país que, quando ainda não tem um hospital, tem o agente comunitário de saúde, um país que dá terra àqueles que querem trabalhar na terra, um país que tira a criança do trabalho penoso, um país que dá recursos para o idoso que não pode mais trabalhar e cuja família não tenha recursos, um país que dá auxílio àqueles que não têm condições físicas de trabalhar e são de famílias pobres. Todos esses programas já estão em funcionamento. É um começo. Funcionam ainda com poucos recursos - esses 30 bilhões de reais a que me referi. Mas, na continuidade desse processo, estas crianças vão ver um Brasil mais feliz. Para isso, no momento atual, nessa conjuntura, precisamos restabelecer condições de segurança pública. É isso que vim fazer aqui, na Cidade Ocidental, Vim ver que, aqui, o Governador agiu, que, aqui, o Governador vizinho agiu, as Polícias agiram, o Prefeito agiu, o povo entendeu e vamos continuar para termos esta cidade cada dia melhor, porque o povo dela é bom e generoso e merece um Brasil melhor e uma Cidade Ocidental melhor. Muito obrigado a vocês e bom-dia a todos.