C U LTU R A NA ESCOL A

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1 C U LTU R A NA ESCOL A ISSN Ar abelle Nogueir a Alves e s p a n h o l cl a s y a h o o. c o m. b r Aur ea Vandian Ramos a u r ea. v a n d h o t m a i l. co m Car la Viviane Lim a Cer queir a c a r l a v i v i f s h o t m a i l. co m Kalila Car la Gomes da Silva k a l i l a ca r l g m a i l. co m Sar a Cr ist ina da Silva s r a y n d i h o t m a i l. co m Profa. Dr a. M ar inalva Lopes Ribeir o 1 (or ient ador a) U n i v er s i d a d e E s ta d u a l d e F ei r a d e Sa n t a n a ( U E F S ) m a r i n a l v a _ b i o d a n z h o t m a i l. co m Resumo: Este trabalho investigou práticas culturais escolares cuja fundamentação de nossas reflexões estão em Bourdieu (1998), Gardner (1998), LDB 9394/96 e PCN e as confrontamos com o verificado nas escolas. Participaram da pesquisa (qualitativa) 12 alunos de escola pública e privada (ensino fundamental e médio) e 2 professores de Educação Física e Artes. Usou -se o questionário como coleta de dados. Verificamos que as práticas culturais nessas escolas não obedecem à LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), nem aos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), fazendo com que questionemos a efetividade delas e o processo de formação de valores ético -morais nos seus alunos. Palavras-chave: Práticas culturais; Escola; Benefícios. Resumen : Este trabajo investigó prácticas pedagógicas culturales en escuelas públicas y privadas. Fundamentamos nuestras re- 11

2 flexiones en Bourdieu (1998), Gardner (1998), LDB 9394/96 y PCN y las confrontamos con lo verificado en nestas escuelas. Participaron en la investigación (cualitativa) 12 alumnos de escuela pública y privada (enseñanza fundamental y media) y 2 profesores de Educación Física y Artes. Se usó el cuestionario como coleta de datos. Verificamos que las prácticas culturales en las escuelas no obedecen a la LDB (Ley de Directrices y Bases de Educación Nacional), tampoco a los PCN (Parámetros Curriculares Nacionales), haciendo cuestionar su efectividad y el proceso de formación de valores éticos y morales en sus alumnos. Palabras clave : Prácticas culturales; Escuela; Beneficios. INTRODUÇÃO O nosso interesse em pesquisa foi despertado através da leitura de Lampert (2008, p. 132) onde afirma que: É imp o rta nt e a p esq ui sa na sa la d e a ul a po rq u e po d e d esv en da r, el u ci da r fa to s, f enô m eno s e d esm ist if ica r v erdad es at é entã o a ceita s co mo un iv ersa is. E la mos t ra a rea li dad e s ob d ist in tos o lh a res : co mo as p es soa s v i - v em, so b rev i vem, com o p a rt icipam na s o ci edad e, ou s e s ão excl uí das d a mesma. á o interesse em pesquisar sobre o tema, Cultura na escola, nasceu do conhecimento sobre a deficiência existente nas escolas em relação ao desenvolvimento de atividades culturais, bem como do desejo de saber o interesse que tais atividades despertam nos alunos e a resposta que trazem ao processo de aprendizagem. Interessa -nos, também, conhecer quais atividades culturais são promovidas pelas escolas. Ressaltemos que cultura é uma característica humana, pois só o homem pode produzi -la, e social porque o homem não pode desenvolvê -la individualmente. Quando tratamos sobre cultura falamos em algo abrangente, pois ela envolve toda produção racional humana, precisamente, toda produção da inteligência humana e não somente literatura, cinema e teatro. Investigar sobre a cultura no ambiente escolar é de extre- 12

3 ma importância, tanto para discentes quanto para os docentes, uma vez que contribui para o conhecimento da realidade e das necessidades das instituições de ensino e o funcionamento das mesmas. A partir dos resultados, então, será possível avaliar os benefícios que as atividades culturais podem trazer ao processo de ensino/aprendizagem. O tema cultura na escola se mostra relevante, na medida em que diversos autores se ocupam em pesquisá -lo, a exemplo de Bourdieu (1998), Ventura (2010) e Paim e Bonorino (2010). Segundo Ventura (2010) as atividades artísticas e culturais como a música, além de serem prazerosas, estimulam áreas do cérebro que permitem o desenvolvimento de outras formas de linguagem. São atividades que aguçam a sensibilidade do aluno, melhoram sua capacidade de concentração e ainda sua memória. Gardner (1998), autor da Teoria das Inteligências Múltiplas 2 comprova a importância da música na formação do educando e nos alerta sobre a necessidade de estimular e desenvolver nos alunos a inteligência musical, além das outras formas de inteligência, já que o autor defende que a inteligência humana se manifesta de sete formas diferentes, a saber: linguística, sinestésica, lógico -matemática, espacial, interpessoal, intrapessoal e musical. A LEI Nº de 18 de agosto de 2008, que altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, determina a inclusão do conteúdo música como conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular ensino da arte (componente curricular tratado no 2º do Art. 26). Para Bourdieu, ( apud CRESTANI, 2010) os conhecimentos culturais da família influenciam no êxito do educando, assim como a classe social da mesma também influencia na transmissão da cultura, e essa cultura transmitida pela família o autor denomina capital cultural. Podemos dizer, assim, que todos os alunos já chegam ao ambiente escolar trazendo um legado cultural que se diferencia mediante a classe social a que pertença. E sobre essa desigualdade cultural dentro do ambiente escolar e a função da escola Bourdieu ( apud CRESTANI, 2010) afirma que: 13

4 [...] é n ecess á ri o e su fi cien te qu e a es col a i gn o re, n o â mb ito d os con teúd os do ens i no qu e t ra nsm it e, do s m é- t od os e técn i cas d e t ran sm iss ão e dos crit éri os d e av a - l i a ção, a s d es ig ua lda des cultu rai s ent re as cri an ças d as d i ferent es cla ss es so cia is. Em ou t ras pa la v ras, t ra tan do t od os os edu ca ndo s, po r m a is d es ig ua is q u e s eja m el es d e fat o, como ig ua is em di reito s e d ev eres, o s is t em a es co la r é l evad o a da r sua san ção à s d es i gua ld ad es i n i ci ai s di ant e d a cu lt u ra. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96), a escola deve desenvolver nos educandos valores universais como ética, respeito humano e cidadania que devem ser transmitidos não apenas em conteúdos específicos, mas, principalmente, por atitudes e gestos do educador e na sua prática diária contribuindo, assim, para a formação de cidadãos capazes de conviver com a diversidade e respeitar as diferenças. Com o objetivo de propiciar o desenvolvimento integral dos alunos, o respeito aos valores éticos e humanos, acreditando na importância do desenvolvimento das diversas inteligências para melhor inseri -los no mercado de trabalho contemporâneo, Ventura (2010) desenvolve um projeto de extensão com diversas atividades que não se limitam apenas à transmissão de conhecimentos aos alunos. Assim, o Colégio Universitário de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa COLUNI tem promovido atividades que envolvem a dança, música, poesia, teatro e textos literários, inserindo -as em eventos programados no calendário escolar como: Semana de confraternização, Carnaval do COLUNI, Sábados culturais, Feira do conhecimento, Festas juninas, Cursos de forró, entre outros, já por iniciativa dos próprios alunos (VENTURA, 2010). De acordo com Paim e Bonorino (2010), a Educação Física é uma área do conhecimento que trabalha o corpo e o movimento como parte da cultura humana. Nessa perspectiva, deve -se associar seus benefícios às questões fisiológicas dos seres humanos e também ao autoconhecimento corporal, elevando a autoestima, e favorecendo que o aluno se conheça melhor. Sabemos que atividades físicas ajudam a desenvolver habilidades motoras 14

5 e cognitivas sendo capazes de levar o aluno a desenvolver estratégias. Paim e Bonorino (2010) dizem que: C om o au x íl io d o p lan ejam en to es co la r, os p rof es sores p od em comp reen d er as di f erent es fo rm as, p ont os d e v i sta e l inh as de comu n ica ção exi st en tes n o u ni v ers o, i nt erag in do e des en vo lv end o a au to ex p ressã o e a s ocial i za çã o so b o po nto d e v ist a crí ti co e refl exi vo, d esa fi - a nd o ass im os p rocesso s d e cri ação e v i vênci as, t en do como p ont o d e pa rti da a rea li dad e soci al e o com p rom e- t im ento int electu al at rav és d a s ens ib i li dad e e criat i vi dad e. Seguindo essa linha de raciocínio, Paim e Bonorino (2010) concluíram que a educação física escolar é uma das mais eficientes formas para promover o ensino -aprendizagem de maneira completa, complexa e lúcida, além de ser capaz de, pelo movimento, colocar em evidência as diferenças culturais, corporais e sociais da população envolvida. Bonato (2010) defende que o estudo de arte na escola também se faz necessário porque através da arte o ser humano se torna mais crítico, observador e sensível ao mundo que o rodeia, podendo o aluno se expressar das mais variadas formas já que a arte é uma forma de expressão cultural presente na civilização desde as primeiras manifestações do homem. Essas manifestações refletem uma grande variedade de representações artísticas que coexistem através dos tempos, sendo elas a pintura, escultura, teatro, música, a gravura e outras. Acredita-se que a inserção de atividades artísticas no ambiente escolar pode propiciar aulas mais humanizadas além de despertar o interesse do aluno levando -o a reflexões, melhor percepção da realidade, contribuindo para a formação de cidadãos com pensamentos críticos. E o educador, estando cônscio de seu papel mediador e de sua importância no desenvolvimento dos indivíduos, deve relacionar os conteúdos programáticos à realidade de seus alunos para despertar o interesse dos mesmos e conseguir melhor e maior aproveitamento e rendimento. Vimos que os textos supracitados abordam a educação física e as artes separadamente enquanto cultura na escola, pois o interesse de nossa pesquisa é evidenciar o tema 15

6 cultura de forma bastante articulada, visto que o problema que queremos compreender é como são desenvolvidas as atividades culturais nas escolas e o interesse dos estudantes em tais atividades. Em síntese, o presente trabalho teve como objeto de estudo a cultura no ambiente escolar através do desenvolvimento de atividades artísticas, culturais e esportivas. O PROCESSO METODOLÓGICO DE ESTUDO Nossa pesquisa de cunho qualitativo teve como campo de análise duas escolas do município de Feira de Santana, a saber, uma da rede pública a qual denominaremos escola A e outra da rede privada a qual denominaremos de escola B. Uma abordagem qualitativa, de acordo com Bogdman e Biklen (1994), requer que os investigadores desenvolvam empatia com as pessoas que fazem parte do estudo e que façam esforços concentrados para compreender seus vários pontos de vista. Para alcançar os objetivos traçados por este estudo escolhemos como instrumento de coleta de dados a observação e a entrevista. A observação foi realizada nos turnos matutino, vespertino e noturno, durante dois dias, perfazendo um total de 4h em conjunto com a aplicação de um questionário que elaboramos em anexo com perguntas sobre recursos áudio -visuais e sua utilização, existência de atividades culturais nas escolas como grupos de teatro, grupos musicais, excursões e outras. A escola A é classificada como de porte médio cujas aulas se destinam ao público do 5º ao 8º ano, ensino médio e EA nos três turnos. A escola conta com salas bem equipadas, bons recursos áudio -visuais, a exemplo de Monitor Educacional, ventiladores ou ar condicionado, quadro branco e quadro de giz, uma biblioteca, uma sala de vídeo e uma sala de informática. A escola B possui quadra poliesportiva, sala de informática e biblioteca com sistema de empréstimo, porém os entrevistados se queixaram do acervo alegando estar mais voltado para as séries iniciais. A escola é classificada como de pequeno porte e atende a um público que varia das séries iniciais até o ensino 16

7 médio, funcionando no turno diurno. Os sujeitos de nossa investigação na escola A foram 2 professores (um de Educação Física e um de Artes), 5 alunos (dois do ensino médio e três do ensino fundamental) e 7 alunos do EA (Educação de ovens e Adultos). Na escola B, investigamos 4 alunos. As entrevistas foram realizadas em salas de aula e no pátio das referidas escolas. NA PRÁTICA De acordo com Saviani (2005), atualmente, a educação física serve para auxiliar e instaurar na escola os saberes científicos, técnicos, estéticos, dentre outros, e assim revelar algo de diferente na vida dos envolvidos e da sociedade. Dos dados coletados nas entrevistas podemos então afirmar que: a escola A não possui um ambiente favorável para práticas esportivas devido às inadequadas condições físicas do espaço em conjunto com a desqualificação e postura que nos pareceu descomprometida do profissional responsável 3. Quanto à escola B, verificamos que há um ambiente favorável para as práticas esportivas com estrutura física adequada e que satisfaz os alunos, cujas aulas estão divididas entre práticas e teóricas. Ventura (2010), diz que atividades musicais, além de serem prazerosas, estimulam áreas do cérebro que permitem o desenvolvimento de outras formas de linguagem, aguçam a sensibilidade dos alunos, melhoram a capacidade de concentração e, contrariando estas afirmações, tanto a escola A quanto a B mantêm tais atividades com alunos de séries iniciais somente para apresentações em datas festivas, quando deveriam ser frequentes no cotidiano escolar. A educação artística na escola A ocorre através de profissionais qualificados que promovem atividades em classe como: produção com material reciclável, atividades cívicas, atividades extraclasse como visitas a museus, excursões, etc. Na escola B, educadores qualificados promovem atividades artísticas conforme a faixa etária dos alunos, ou séries, em classe e extraclasse (que não envolvem as séries iniciais) como visitas a museus, ex- 17

8 cursões, etc. Ambas as escolas não promovem atividades culturais regulares a exemplo de uma feira de ciências, e não estimulam a produção ou circulação de jornais, periódicos ou revistas dentro das escolas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Sabe-se que práticas culturais no ambiente escolar realizadas de maneira continuada têm conseguido reverter o quadro de evasão e abandono, além de integrar alunos e famílias à escola, contribuindo para o bom desempenho intelectual e desenvolvimento de valores éticos e morais. Entretanto, através dos dados coletados foi possível observar que as atividades que envolvem produções artísticas estão concentradas, principalmente, em períodos festivos, quando deveriam ser produzidas durante todo o ano letivo. á em relação às práticas esportivas, observamos que as escolas visitadas não satisfazem aos objetivos que a disciplina de educação física propõe. Contudo, sobre Cultura na escola, constatou -se que as propostas apresentadas pela LDB e pelos PCNs não têm sido praticadas efetivamente no ambiente escolar, ao menos nas instituições em questão. E com isso, faz -se necessário repensar algumas atitudes na escola, e que os professores reflitam mais profundamente sobre questões acerca da educação e se conscientizem da necessidade de valorizar propostas inovadoras, passando a colocá -las em prática a fim de que se alcance uma cultura escolar de qualidade. REFERÊNCIAS BONORINO, S. L.; PAIM, M. C. C.. Importância da Educação Física escolar, na visão de professores da rede pública de Santa Maria. Buenos Aires: Revista Digital da Efdesportes, ano 13, n. 130, mar Disponível em: < importancia-da-educacao -fisica-escolar-na-visao-deprofessores.htm>. Acesso em: 6 out

9 BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9394, de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais : ensino médio. vol. 2. Brasília: MEC/ SEMT, DAYRELL, uarez. Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: UFMG, GARDNER, Howard. et al. Inteligência: múltiplas perspectivas. Trad. Maria Adriana V. Venose. Porto Alegre: Artmed, LAMPERT, Ernani. Experiências inovadoras e a tecnologia educacional. Porto Alegre: Sulina, VENTURA, Daniel R.; ALVES, Catarina G.; VENTURA, Maria de Lourdes S. R. Atividades culturais: despertando talentos, formando cidadãos. Viçosa: MG. Revista Ponto de Vista, vol. 2, n Disponível em: < volume02/atividadesculturais.pdf >. Acesso em: 5 out NOTAS 1 Depar t am ent o de Educação 2 Alternat iva par a o conceito de inteligência com o um a capacidade inat a, ger al e única, que perm it e aos indivíduos um a per for m ance, m aior ou menor, em qualquer área de atuação. 3 Há um a insat isfação dos alunos em relação ao profissional e com as própr ias aulas de educação física. 19