UMA LEITURA DOS EDITORIAIS EM JORNAIS FRANCESES ( )
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- Matheus Cavalheiro Fonseca
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1 UMA LEITURA DOS EDITORIAIS EM JORNAIS FRANCESES ( ) Amanda Peruchi * O texto que será apresentado a seguir faz parte do projeto de pesquisa intitulado Anúncios em jornais franceses publicados no Brasil: mediação e transferências culturais de modos de sociabilidade oitocentista. A pesquisa, em questão,estuda os anúncios que foram publicados em três jornais franceses,courrierdubrésil, L ÉchoduBrésil et de l AmeriqueduSude Le MessagerduBrésil, a fim de perceber se eles foram verdadeiros agentes na fixação de modos de convivência social na sociedade brasileira dos oitocentos. Tal projeto, igualmente, integra o grupo de pesquisa TRANSFOPRESS que tem como sede a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, no campus de Franca, e é coordenado pelas pesquisadoras Valéria dos Santos Guimarães e Tania Regina de Luca. O grupo,que conta com pesquisadores brasileiros e franceses, tem por objetivo estudar a imprensa periódica publicada em língua estrangeira no Brasil, durante os séculos XIX e XX.Assim, nessa comunicação, será abordado um dos aspectos dessa pesquisa: a análise dos editoriais de alguns jornais franceses que foram publicados no Brasil com o objetivo de compreender melhor o que os editores desses impressos esperavam de seus jornais e como eles foram apresentados ao público leitor. Em 1859 na primeira edição do jornal L'ÉchoduBrésil et de l'ameriquedusud o chefe de redação,altèveaumont, escreveusobre os seus propósitos em publicar o impresso. Para Aumont um novo jornal francês no Rio de Janeiro poderia ter qualquer utilidade aos seus conterrâneos que viviam no Brasil, ao Brasil e às pessoas envolvidas com a Europa e América do Sul (L'ÉCHO DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, 1859:1). 1 Foi, pois, demonstrando a sua convicção de que o novo jornal que ganharia as ruas da cidade do Rio de Janeiro seria de grande utilidade tanto para os brasileiros como para os franceses, que o editor sintetizou as suas expectativas acerca da nova empreitada.aumont, ainda, acrescentouque o seu impresso não surgia para ter adversários, já que existiamoutros jornais franceses em terras brasileiras e no Rio de Janeiro, mas que o L ÉchoduBrésil et de L AmériqueduSudseria um marco de um novo fôlego para os jornais franceses, assim, ele escreveu que desejava uma longa e próspera vida aos jornais onde os interesses franceses seriam defendidos antes de tudo (L'ÉCHO DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, * Mestranda em História e Cultura Social pelo Programa de Pós-Graduação em História da UNESP/Franca. 1 Todas as citações foram livremente traduzidas por nós. 1
2 1859:1).Em sua nota de apresentação, o editor não economizou em escrever, portanto, sobre a importância que o jornal, especificamente o seu e de seus colegas franceses, tinha naquela sociedade que paulatinamente adotou o jornal como seu principal instrumento de comunicação (MARTINS, 2011). 2 A esse respeito, Machado de Assis, um dos mais importantes intelectuais daquele momento, discorreu sobrecomo o jornal seria uma ferramenta que abalaria o mundo do qual a humanidade tanto esperou para propagar e perpetuar as ideias, desse modo, ele também se debruçou a escrever sobre como esse instrumento se comportaria para a sociedade dos oitocentos. (ASSIS, 1859/2011:45-46). Os juízos que os letrados da segunda metade do século XIX construíram acerca do jornal eram diversos, mas quase sempre destacavam o papel esmerado que eles tinham na divulgação de uma cultura letrada. O já citado Machado de Assis, por diversas vezes, discorreu sobre o papel dos jornais como o principal meio de comunicação dos oitocentos. Na sua crônica o Jornal e o livro, por exemplo,ele escreveu que o jornal [era] a locomotiva intelectual em viagem para o mundo de desconhecidos, [era] a literatura comum, universal, altamente democrática, reproduzida todos os dias, levando em si a frescura das ideias e o fogo das convicções (ASSIS, 1859/2011: 48). Queria evidenciar, portanto, que os jornais estavam presentes no cotidiano da parcela letrada da sociedade brasileira e traziam informações sobre diversos assuntos em suas páginas e que, por isso, os jornais poderiam influenciar, de algum modo, a vida de seus leitores. Em outro momento do mesmo escrito, o letrado Machado de Assis tentava deixar ainda mais claro a importância da imprensa, desse modo, escreveu que a imprensa era o fogo do céu que um novo Prometeu roubara, e que vinha animar a estátua de longos anos e que a chegada dojornal era a faísca elétrica da inteligência que vinha unir a raça aniquilada à geração vivente por um meio melhor, indestrutível, móbil, mais eloquente, mais vivo, mais próprio a penetrar arraiais da imortalidade (ASSIS, 1859/2011: 45-47). Outros letrados também se preocuparam em escrever sobre a imprensa e os jornais. João do Rio assinalou, já no começo do século XX, arelevância da imprensa dizendo que há os que têm medo de desprezá-la, há os que fingem desprezá-la, há os que a esperam aflitos e que o jornal é a história diária da outra vida, cheia de sol e de liberdade; é o meio pelo qual sabem da prisão dos inimigos, do que pensa o mundo a seu respeito.não há cubículo sem jornais 2 A historiadora Ana Luiza Martins, no capítulo Imprensa em tempos de Império do livro História da Imprensa no Brasil que é organizado por ela mesma e por Tânia Regina de Luca, apresenta como os jornais, durante o século XIX, foram conquistando espaço como um instrumento que estaria presente em vários âmbitos da sociedade como, por exemplo, na esfera política ou utilizá-lo como um caráter caricato. Desse modo, os impressos teriam papel de destaque na sociedade brasileira dos oitocentos, principalmente, durante o Império. 2
3 (RIO,1908/2011:224). Ou seja, era através dos jornais que as pessoas entravam em contato com os acontecimentos da vida diária, por isso, cada pessoa reagia de uma maneira a cerca desse escrito, contudo, era notável que em todo canto havia um jornal. Por isso, tanto os letrados como os editores, independente de serem brasileiros ou franceses, partilhavam a ideia de que os impressos tinham grande importância para aquela sociedade, principalmente para aqueles que podiam e queriam ter contato com o impresso, pois a proximidade com a palavra impressa poderia sensibilizar os homens a refletirem sobre a maneira de agir (DARNTON, 2010:122).Além disso, esses impressos são suportes que auxiliam na construção do pensamento e dos costumes de uma sociedade, assim, sua leitura pode ser um dos elementos fundamentais para a difusão de determinadas noções que contribuem para a formação dos novos hábitos de homens e mulheres (MOLLIER, 2008:181). Por esse motivo, era de suma importância que os jornais fossem bem apresentados pelos seus editores para que eles conseguissem introduzir seus impressos no cotidiano dos brasileiros. Partilhando dessas ideias, os editores demonstravam o cuidado com a apresentação de seus jornais,como pode ser observado na primeira edição do jornal L Écho de l Atlantique, publicado em 10 de fevereiro de Nesse jornal francês, que se colocava como um impresso de interesses franco-brasileiros, os editores, A. Deyme& C.,ressaltaram o papel que a imprensa representava para o Brasil, pois cabe[ria] à imprensa do país tocar as questões de grande importância porque no Brasil nada é perfeito, assim, o país era um lugar para progressos e para reformas onde a imprensa seria a verdadeira engrenagem do seu desenvolvimento (L ÉCHO DE L ATLANTIQUE,1858:1).Nesse sentido, os editores de L Écho de l Atlantiqueargumentaram que esse impresso seria um órgão benéfico para os brasileiros e que não haveria razão para não serem, muito pelo contrário, pois eles queriam ser apresentados como amigo, como um amigo sincero dos brasileiros (L ÉCHO DE L ATLANTIQUE,1858:1). Assim como esses editores que queriam se apresentar de maneira amigável aos seus leitores franceses e brasileiros, o jornal Le Gil-Blas, que contou com sua primeira edição em outubro de 1877, também teve essa atenção ao se anunciar ao público leitor. Em sua edição de apresentação o editor Gil-Blas, que como dono também deu seu nome ao impresso, dizia nãoconter a euforia do lançamento de seu jornal e escreveu que era com grande emoção que um nó lhe agarrava a garganta pela publicação do seu primeiro número. Igualmente, continuando a apresentação,ele argumentou que o jornal nunca deveria aborrecer seus leitores, mas, ao contrário, ele deveria vos encantar (LE GIL-BLAS, 1877:1), afinal, assim como os 3
4 outros, Gil-Blas também reconhecia a importante missão que os impressos tinham para os homens oitocentistas e, por isso, ele precisaria encantar seus leitores com palavras sábias e encantadoras. Além dessa preocupação de mostrarem a utilidade do jornal para o público leitor, os editoriais também se concentravam em descrever seus jornais exaltando minuciosamente suas principais características. O redator-chefe do já citadol ÉchoduBrésil et de l AmériqueduSud, AltèveAlmont, teve grande atenção ao descrever seu jornal e suas principais características de uma maneira sistemática e detalhada. Almont, apesar de saber que já existiam outros dois jornais franceses na cidade do Rio de Janeiro, escreveu que esse novo jornal não pretendia tomar o lugar dos outros, como já mencionado, pois eles acreditavam que quanto mais jornais franceses existissem no Brasil, melhor os interesses franceses seriam defendidos. O editor assinalava a fórmula que eles deveriam utilizar para a escrita do jornal dizendo que o tom utilizado para a redação de um jornal francês publicado longe da França, deveria ser diferente daquele utilizado na publicação de seu país ou mesmo no de seus vizinhos [europeus] (L'ÉCHO DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, 1859:1). Disso, é possível notarmos que, apesar de ser escrito majoritariamente para franceses, o editor desse jornal sabia que o público leitor seria diferente da Europa e, por isso, eles precisavam usar de atrativos diferenciados dos que eram de costume. Contudo, ele alegou ser imprescindível que mesmo estando fora de seu país era importante respeitar a França sempre em primeiro lugar, pois é dever de um cidadão quando ele está em terra estrangeira nunca degradar a França, pois isso seria degradar a nós [eles] mesmos (L'ÉCHO DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, 1859:1). No que diz respeito aos temas que os jornais pretendiam trabalhar, o L ÉchoduBrésil et de l AmériqueduSudprocurava se vender como diferentes dos demais. AltèveAlmont, constatando que a colônia francesa no Brasil era praticamente voltada para o comércio observou que seria de grande utilidade para seus leitores conhecerem os assuntos referentes a essa atividade, escreveu que a parte comercial e financeira receber[ia] no L ÉchoduBrésil um desenvolvimento considerável (L'ÉCHO DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, 1859:1), visto que: Nenhum jornal até hoje deu de uma maneira contínua, imparcial e completa, informações cuidadosamente recolhidas e claramente classificadas sobre a situação do lugar, sobre o estado do mercado, sobre as variações da bolsa; e resulta uma desordem e uma incerteza que são incontestáveis a muitas causas de desastres inesperados, de falhas imprevistas, que desde muitos anos colocam a 4
5 perturbação dos afazeres (L'ÉCHO DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, 1859:1). O editor, portanto, particularizou uma característica do jornal que seria de grande apreço à sua venda. Ele demonstrou o quanto sempre foi prejudicial aos seus leitores o não conhecimento sobre o estado do mercado ou mesmo sobre a situação da bolsa de valores, isso porque, essa desinformação sempre causou problemas e falhas para o comércio, que nem sempre se comportava de maneira previsível. Desse modo, estar informado sobre essas invariâncias de mercado poderia ser essencial para evitar a desordem dos serviços. Outro ponto destacado pelo editor era a publicidade a qual ele alegava ser muito importante porque a propaganda de serviços e produtos chegaria muito mais rápido ao consumidor através desse meio de comunicação. Portanto, ele escreveu que nós queremos falar de publicidade aqui, pois, no Brasil, mais do que em todos os lugares, influência a opinião pública (L'ÉCHO DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, 1859:1). Assim, notamos que o editor tinha grande conhecimento sobre a função que seu impresso poderia desempenhar, mas, também, a função que o ato de anunciar poderia ter na vida daquelas pessoas. O jornal, portanto, além de ter o papel de informar seus leitores com notícias diversas, também, era um instrumento de divulgação de anúncios de qualquer natureza, fator considerável em uma sociedade que ingressava na procura e oferta dos mais diferentes serviços (MARTINS, 2012:55). Nesse sentido, notamos que alguns hábitos franceses podem ser evidenciados nos anúncios desses jornais e que, por esse motivo, seus leitores poderiam ser influenciados pela propaganda, como alertou o editor AltèveAumont. Portanto, os brasileiros que tinham conhecimento da língua francesa eram considerados os membros mais cultos e distintos daquela sociedade e, por isso, os franceses eram modelos inspiradores para os brasileiros mais sofisticados dos oitocentos.(freyre, 2008:62).Ao saber dessa importância que os anúncios tinham para os jornais, o editor trataria da melhor maneira possível esse instrumento que poderia atrair muitos leitores para sua obra. Contudo, não foram todos os jornais que deram essa atenção para a publicidade de seus jornais, ou, pelo menos, não explicitaram nas notas de apresentação, como observamos no jornal L Écho de l Atlantique. Nesse, seus editores não deram tanta atençãopara a função da publicidade como fez o editor do L'ÉchoduBrésil et de l'ameriquedusud, porém, é possível notarmos que seu impresso traziam algumas informações gerais sobre os anúncios. Nas recomendações sobre como enviar os anúncios é possível encontrarinformes, por exemplo, sobre os custos de publicação: sendo 5
6 oitenta réis a linha a cada semana, mas os assinantes do jornal desfrutariam de um desconto de cinquenta por cento e anunciantes, de certa periodicidade,gozariam de um pacote com descontos mais expressivos(l ÉCHO DE L ATLANTIQUE: ). Se a publicidade não foi de muito interesse para esses editores, os assuntos referentes ao Brasil, entretanto, seriam mais bem tratados. Como já mencionado, os editores queriam fazer circular a impressão de que estavam cientes do valor de seus leitores francesesconhecerem o Brasil, pois a comunidade francesa poderia se informar sobre questões que eram pouco divulgadas na Europa. Já os leitores brasileirosficariam orgulhosos de saber que esse jornal tratava de seus assuntos internos com o devido apreço (L ÉCHO DE L ATLANTIQUE: ). Outros editores também tiveram cuidado em tornar o Brasil conhecido por seus leitores. AltèveAumont expôs minuciosamente a maneira como os assuntos referentes ao Brasil seriam tratados em seu jornal. Apresentou que cada número conte[ria] um Boletim que se[ria] o resumo dos principais fatos políticos da semana e que além disso seu jornal publicaria um artigo especial sobre a questão da ordem do dia no qual seriam tratados apenas assuntos brasileiros ou assuntos que se refer[iriam] aos interesses franceses no Brasil como, por exemplo, um rápido resumo das discussões e do trabalho do Senado e da Câmara dos Deputados. Igualmente, segundo Aumont, sempre que os jornais brasileiros tivessem algum artigo que tratasse de alguma questão importante seriam traduzidos para os seus leitores(l'écho DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, 1859:1). Como vimos esse editor deixava explícita a importância do Brasil ser conhecido por seus leitores e, portanto, sempre quefossem possível elesestariam publicando artigos que tivessem as questões brasileiras como objeto. Pensando nisso, ele também expôs que um grande espaço ser[ia] dedicado para as Variétêsbrésiliennes e uma Galeriebiographique porque o Brasil é pouco e mal conhecido na Europa. Assim, uma das maneiras mais seguras para atrair atenção a esse país [era] fazer conhecer suas instituições, sua administração e seus homens notáveis, para isso seriam publicados artigos que tiveram, sucessivamente, os seguintes temas: História de todas as colônias fundadas no Brasil, Estudos sobre todos os ramos da administração, sobre o comércio, a indústria, a agricultura, as finanças, a marinha e o exército, a justiça, a escravidão, a instrução pública, etc., etc. (L'ÉCHO DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, 1859:2). Vale destacar, ainda, que, assim como os citados, outros jornais franceses publicados no Brasil reservavam uma seção para tratar das notícias brasileiras. Já no sumário de apresentação desses impressos é possível observar certo destaque. No jornal CourrierduBrésil, por exemplo, o Rio de Janeiro foi colocado em ênfase pelo editor Ad. Hubert 6
7 quando assuntos sobre o Brasil eram tratados. A. Deyme& C., editores do L Écho de l Atlantique, também apresentaram que assuntos locais seriam considerados em seu jornal, principalmente, as notícias concernentes à cidade do Rio de Janeiro. Ainda sobre o conteúdo dos jornais, que como vimos reservavam um espaço para os assuntos referentes ao Brasil, podemos analisar os assuntos que seriam tratados nos impressos de acordo com o sumário de cada um deles.no índice docourrier de Brésilobservamos que o impresso trazia em suas páginas uma seção para literatura, uma para variedades, outra para revista de teatro, para as ciências e, por fim, mas não menos prestigioso, para o comércio com um boletim marítimo e uma seção para anúncios (COURRIER DU BRÉSIL, 1854:1). No L ÉchoduAtlantique, as seções eram divididas em uma para notícias dos países europeus, outra sobre literatura poesia, um espaço destinado para as variedades e, por último, uma seção para os anúncios. Já no sumário do L ÉchoduBrésil et de l AmeriqueduSud, é possível observar que as seções estariam divididas com notícias do Brasil, da Europa, da Ásia e da América, sobre essa última o editor escreveu que todas as notícias importantes de Montevidéu, de Buenos Aires, de Uruguai, do Chile, do Peru, do Equador seriam reunidas para o L ÉchoduBrésil (L'ÉCHO DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, 1859:1). O restante do jornal era dedicado aos romances, às crônicasque eram destinadas aos franceses que viv[iam] no Brasil, aos brasileiros e ao povo estrangeiro (L'ÉCHO DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, 1859:2), além, de trazer uma seção para os anúncios. Por último, no jornal Le Gil-Blas, mesmo que ele não apresentasse um sumário, nós podemos observar rapidamente a estrutura do jornal já que suas sessões eram bem divididas. Assim, vimos que ele trazia uma parte para crônica política, uma seção para notícias diversas, outra concernente aos assuntos militares, outra para uma fábula, uma crônica teatral, um dicionário antiacadêmico e os anúncios, em sua última seção. Pela análise dos editorais ou pela observação atenta da estrutura dos impressos é possível afirmar que todos eles tinham uma linha de edição muito parecida, conservando como diferença somente o trato com um ou outro assunto, dando maior ou menor ênfase para determinadas matérias e argumentos. De uma forma ou de outra, os editores construíram suas apresentações de maneira padronizada, destacando, a importância do jornal, o contributo para os leitores franceses e brasileiros e, ainda, alimentavam suas páginas com sessões muito parecidas. Em geral, eles diziam fazer um jornal agradável e útil aos leitores, como lembraaltèveaumont, no fim do seu artigo de apresentação,dizendo que ele esperava que l ÉchoduBrésil[fosse] um lugar agradável onde 7
8 ser[iam] apresentadas e discutidas as questões mais importantes entre os franceses, para a honra do país e suas particularidades, para esclarecer e iluminar e, por fim, afirmou que seu jornal iria ao mesmo tempo receber e apoiar as reclamações para um melhor funcionamento de seu impresso(l'écho DU BRÉSIL ET DE L'AMERIQUE DU SUD, 1859:1). Os editoriais aqui recordados talvez sejam indícios da pretensão alimentada que os editores franceses tinham a fim de contribuir para a consolidação de uma cultura europeia nos trópicos, assim, ao percorrermos esses enunciados observamos a maneira como os editores dos jornais franceses esperavam que seus impressos fossem recebidos pelo público leitor. Do mesmo modo, conseguimos observar que em suas páginas de apresentação, os editores franceses tentaram, da maneira como eles pensaram ser a mais pertinente, expor seus jornais para seus leitores franceses ou, mesmo, para os brasileiros.todos esses editoriais procuraram, como foi destacado,demostrar que seus editores nutriam a noção de que o jornal era útil e recordavam, igualmente, a importância que os impressos tinham para aquele período. Desse modo, os editores procuraram apresentar seus jornais a fim de ganhar espaço entre a parcela letrada da sociedade dos oitocentos. Esses impressos franceses foram publicados e circularam, durante o século XIX, na sociedade do Rio de Janeiro. Através da análise dos cuidadosos editoriais pode ser observada, como aqui insistimos em descrever, as formas pelas quais os responsáveis pela edição dos jornais tiveram para chamar a atenção de seus leitores, além disso, por essas linhas podemos aventar a hipótese deque os brasileiros também liam esses jornais, principalmente, porque, como é sabido, ler em francês naquele tempo era um hábito que se tornava cada vez mais atraente aos brasileiros. A cerca desse comportamento, o letrado Joaquim Manoel de Macedo escreveu, em 1878 nas suasmemórias da Rua do Ouvidor, que no Brasil quase tudo vai se afrancesando, pois, ele acreditava que os brasileiros estavam reestruturando seus hábitos e comportamentos, construindo, assim, novasformas de sociabilidade,por isso, a leitura desses jornais franceses era bem vista pelos homens dosoitocentos (MACEDO, 1878/2005:107). Desse modo, notamos que esses editores tiveramcuidado ao apresentar seus jornais no momento em que eles ganhariam as ruas pela primeira vez eque em algumas vezes é possível observamos que, talvez, eles soubessem de como esses jornais eramimportantes para propagarem informações aos seus leitores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8
9 ASSIS, Joaquim Maria Machado de. O Jornal e o Livro [1859]. São Paulo: Companhia das Letras, CourrierduBrésil, Rio de Janeiro, 1ª edição, DARNTON, Robert. O Beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. Tradução Denise Bootmann. São Paulo: Companhia das Letras, FREYRE, Gilberto. Vida social no Brasil nos meados do século XIX. Tradução do original em inglês por Waldemar Valente em convênio com o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. São Paulo: Global, 2008, p. 62. L Écho de l Atlantique, Rio de Janeiro, 1ª edição, Le Gil-Blas, Rio de Janeiro,1ª edição, L'Écho du Brésil et de l'amerique du Sud, Rio de Janeiro,1ª edição,1859. MACEDO, Joaquim Manoel de. Memórias da Rua do Ouvidor [1878]. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, MARTINS, Ana Luiza Martins. Imprensa em tempos de Império. In: MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tânia Regina de (org.). História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, MOLLIER, Jean-Yves. A leitura e seu público no mundo contemporâneo: Ensaios sobre História Cultural. Tradução Elisa Nazarian. Belo Horizonte: Autêntica Editora, RIO, João do. A alma encantadora das ruas: crônicas [1908]. Org. Raúl Antelo. São Paulo: Companhia das Letras,
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