Superior Tribunal de Justiça

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1 RELATOR AGRAVANTE ADVOGADO AGRAVADO ADVOGADO : MINISTRO EDSON VIDIGAL : ESTADO DA BAHIA : ANTONIO JOSE DE OLIVEIRA TELLES DE VASCONCELLOS E OUTROS : PAULO ROBERTO MARINHO : ABDON ANTONIO ABBADE DOS REIS E OUTROS EMENTA AGRAVO REGIMENTAL. PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS. INAPLICABILIDADE. NECESSIDADE DE PROCESSO ADMINISTRATIVO. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. DIREITOS FUNDAMENTAIS DO CIDADÃO. 1. Demissão de servidor, sem a realização de prévio processo administrativo, viola garantias fundamentais do cidadão estabelecidas na CF, impossibilitando a aplicação do princípio da instrumentalidade das formas, inserto no CPC, art Agravo Regimental não provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao Agravo Regimental. Votaram com o Relator, os Srs. Ministros José Arnaldo, Felix Fischer, Gilson Dipp e Jorge Scartezzini. Brasília-DF, 05 de abril de (data do julgamento) Ministro Felix Fischer Presidente Ministro Edson Vidigal Relator Documento: IT Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/06/2001 Página 1 de 5

2 RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO EDSON VIDIGAL: Agravo Regimental interposto contra decisão, de minha relatoria, que deu provimento ao Agravo de Instrumento, para conhecer e negar provimento ao próprio Recurso Especial, proferida por mim nos seguintes termos: "Vistos, etc. Em Mandado de Segurança, o Impetrante, policial militar do estado da Bahia, pleiteou a sua reintegração aos quadros da corporação, face à ausência de procedimento administrativo próprio, impossibilitando o contraditório e o exercício da ampla defesa. O julgador de primeira instância julgou procedente o pedido, declarando nulo o ato de expulsão, determinando a reintegração do policial afastado, como a percepção das vantagens patrimoniais a que teria direito. O Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, deu parcial provimento ao recurso de Apelação interposto, para excluir da condenação as vantagens patrimoniais concedidas, em razão de não terem sido requeridas pelo Impetrante em sua peça inicial. Reagiu o Estado da Bahia com a interposição de Recurso Especial, com fundamento na CF, art. 105, III, "a", alegando violação ao CPC, art O recurso não foi admitido na origem, surgindo este Agravo de Instrumento. Da leitura do Recurso Especial, observa-se a impossibilidade de aplicação do art. 154 do CPC, no caso em análise. Verifica-se que o alegado princípio da instrumentalidade das formas, tem lugar quando a Lei não exigir uma forma específica para a realização do ato. Nota-se que a expulsão do policial militar de sua corporação, como a demissão de qualquer servidor público, em concordância com a legislação pátria, pressupõem a realização de prévio procedimento administrativo, no desiderato de assegurar a ampla defesa e o contraditório, garantias fundamentais da Constituição Federal. Assim, face à evidente nulidade do ato de expulsão, não se falar em violação ao mencionado dispositivo legal. Diante do exposto, dou provimento ao Agravo de Instrumento, para conhecer e negar provimento ao Recurso Especial interposto. " Na peça de Agravo Regimental, argumenta o Agravante, a aplicabilidade do princípio da instrumentalidade das formas na situação em comento, em razão de terem sido atendidos os fins buscados pelo processo. Afirma também, que não restou demonstrado nos autos qualquer prejuízo à defesa do servidor a justificar a anulação do ato administrativo que resultou no afastamento do servidor. Ademais, complementa que as autoridades competentes já teriam ciência da transgressão e confirmação de sua autoria, por meio do próprio servidor demitido, devendo-se considerar válido o ato impugnado, face à primazia da verdade substancial. Desta forma, no entender do Agravante, o Tribunal de origem, ao determinar a anulação do ato em questão, teria dado ênfase ao mero formalismo, em detrimento da resolução do conflito. Assim, requer seja reconsiderada a decisão Agravada ou submetido o feito ao exame desta Turma. Documento: IT Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/06/2001 Página 2 de 5

3 Não havendo motivo para alterar a decisão proferida mantenho-a. Relatei. Documento: IT Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/06/2001 Página 3 de 5

4 VOTO O EXMO. SR. MINISTRO EDSON VIDIGAL: Nas razões do Agravo Regimental, busca o Agravante afastar a nulidade do ato de afastamento de servidor, declarada em razão de não ter sido realizado o necessário procedimento administrativo previsto para a situação. Da leitura do Acórdão recorrido, verifica-se que o servidor, ex-policial do Estado da Bahia, restou demitido sem a realização de processo administrativo, razão utilizada pelo Tribunal para a anulação do ato administrativo impugnado. Verifica-se que não assiste razão ao Agravante, ao invocar o princípio da instrumentalidade das formas, inserto no CPC, art. 154, na presente situação. A importância do referido princípio vem sendo amplamente reconhecida pelos Tribunais, inclusive por esta Corte, todavia, sua aplicação destina-se à eliminação de certos formalismos que, observada a situação concreta, não acarretaram quaisquer prejuízos às partes. A rigor, da interpretação literal do princípio, apreende-se que a regra somente encontra aplicação quando a Lei não exigir formalidade específica para o ato, não sendo este o caso descrito nos autos. Na caso em análise, não se trata apenas de um ato processual realizado em desacordo com a forma estabelecida, vindo à atingir sua finalidade. A situação revela a não instauração de um processo administrativo constitucionalmente exigido, em virtude do entendimento da autoridade administrativa, no sentido da suficiência de elementos para a aplicação da penalidade prevista, qual seja, a demissão do servidor. Cumpre salientar, que o processo administrativo não tem por desiderato apenas a apuração de irregularidades e a conseqüente aplicação de sanção, mas visa garantir ao acusado, a possibilidade de apresentar defesa dentro de um procedimento previamente estabelecido, assegurando-lhe, assim, o direito ao devido processo legal e ampla defesa, garantias fundamentais do cidadão, previstas pela CF, art. 5 o, LV. Portanto, inconcebível se demonstra, deixar a decisão de instauração ou não do processo, ao arbítrio da autoridade competente, uma vez que de acordo com a Constituição Federal, o procedimento administrativo constitui direito do acusado, consoante o mencionado dispositivo. Não se trata, assim, de mera formalidade passível de ser relevada, em razão da instrumentalidade das formas e da economia processual. Diante do exposto, nego provimento ao Agravo Regimental. É o voto. Documento: IT Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/06/2001 Página 4 de 5

5 CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA Nro. Registro: 2000/ AGRAVO REGIMENTAL AG /BA EM MESA JULGADO: 05/04/2001 Relator Exmo. Sr. Min. EDSON VIDIGAL Presidente da Sessão Exmo. Sr. Min. FELIX FISCHER Subprocurador-Geral da República EXMO. SR. DR. EITEL SANTIAGO DE BRITO PEREIRA Secretário (a) JUNIA OLIVEIRA C. R. E SOUSA AUTUAÇÃO AGRTE : ESTADO DA BAHIA PROC. : ANTONIO JOSE TELLES DE VASCONCELLOS E OUTROS AGRDO : PAULO ROBERTO MARINHO ADVOGADO : ABDON ANTONIO ABBADE DOS REIS E OUTROS AGRAVO REGIMENTAL AGRTE : ESTADO DA BAHIA PROC. : ANTONIO JOSÉ DE OLIVEIRA TELLES DE VASCONCELLOS E OUTROS AGRDO : PAULO ROBERTO MARINHO ADVOGADO : ABDON ANTONIO ABBADE DOS REIS E OUTROS CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUINTA TURMA ao apreciar o processo em epigrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental. Votaram com o Relator os Ministros José Arnaldo, Felix Fischer, Gilson Dipp e Jorge Scartezzini. O referido é verdade. Dou fé. Brasilia, 5 de abril de 2001 JUNIA OLIVEIRA C. R. E SOUSA Secretário(a) Documento: IT Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/06/2001 Página 5 de 5