Em um ano, 65,7 mil pessoas entram em extrema pobreza no RS. Extrema pobreza avança no Estado
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- Zaira Taveira Gentil
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1 Em um ano, 65,7 mil pessoas entram em extrema pobreza no RS Matéria do jornal Zero Hora de 12 de Dezembro de Extrema pobreza avança no Estado QUASE 66 MIL PESSOAS entraram no grupo que tem renda familiar individual inferior a R$ 140 por mês entre 2016 e 2017 Recorrer aos amigos foi o único caminho que Tatiane Maciel, 33 anos, e Marcelo da Rocha, 46, encontraram para sobreviver diante da crise. As doações são o que têm garantido a alimentação do casal e dos cinco filhos, hoje pertencentes à classe social que o Banco Mundial chama de extrema pobreza quando a soma da renda familiar dividida pelo número de pessoas fica abaixo de US$ 1,90 por dia (R$ 140 mensais em 2017). No ano passado, 383,7 mil gaúchos (3,4% da população) estavam nessa situação, 65,7 mil a mais do que no ano anterior, conforme dados da Síntese dos Indicadores Sociais, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada. Tornou-se corriqueiro para Tatiane, quando a despensa não está vazia, fazer fogo na rua para cozinhar, já que gás é item de luxo para ela. Latas velhas servem de fogão e a chama que
2 aquece os alimentos é mantida por lenhas catadas no mato nos fundos da casa. Materiais de construção e a mão de obra que ergueram o imóvel de dois quartos em um terreno irregular no bairro Jardim Carvalho, em Porto Alegre, foram fruto de caridade. A faxineira desempregada não se constrange ao mostrar os buracos no telhado, mas o sorriso se retrai quando mostra o quarto dos filhos, mobiliado com camas e colchões encontrados no lixo: Eles queriam um quarto mais bonito, mas é o que conseguimos. É quando os filhos são atingidos que a angústia cresce. Tatiane não consegue emprego e o dinheiro que Rocha ganha com o táxi alugado não paga, muitas vezes, nem a diária de R$ 90 do veículo. Quando sobra R$ 50 é muito, diz, mas a regra é voltar para casa com R$ 20. Os insucessos dos Rocha começaram em 2016, quando, por desavenças, precisaram deixar a casa em que moravam e tudo o que tinham. O casal e os cinco filhos passaram a viver no táxi, na rua ou em uma casa de sete metros quadrados até surgir a ideia de ocupar a área na Zona Norte. Assim como a família Rocha, outros milhares ingressaram na extrema pobreza em Os motivos para que o índice de gaúchos nessas condições passasse de 2,8% para 3,4% em um ano podem ser interpretados como parte da herança deixada pela recessão. Em períodos de crise, as primeiras demissões são de salários menores. Esse é o grupo que fica em situação mais delicada. A produção nas indústrias, por exemplo, vai morrendo pelas beiradas, com o fechamento de linhas observa o economista Ely José de Mattos, professor da Escola de Negócios da PUCRS. Para Ely, o avanço na pobreza extrema também evidencia o alto nível de desigualdade social, que dificulta a ascensão de camadas mais desfavorecidas. Conforme o IBGE, no ano passado, o rendimento dos 10% mais ricos de Porto Alegre foi, em média,
3 17,3 vezes superior ao do grupo formado pelos 40% mais pobres. RS DEVE RECUPERAR COMPETITIVIDADE Pesquisador do IBGE, Leonardo Athias salienta que, em 2017, mesmo com alta do PIB, houve redução do números de beneficiários do Bolsa Família. O cientista político destaca, ainda, a importância da estabilidade de programas públicos, pois podem ajudar pessoas em situação de pobreza a se reerguerem. Se essa pessoa não está se alimentando e nem se vestindo, não vai ter condições de pagar transporte público para procurar emprego explica Athias. Professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o economista Felipe Garcia acrescenta que, no Estado, entraves burocráticos também freiam a abertura de empresas e, consequentemente, a criação de postos de trabalho, prejudicando parcelas mais pobres. No Rio Grande do Sul, o ambiente de negócios é mais complexo do que em outras regiões. Processos mais rápidos para abertura de empresas são fundamentais para o crescimento avalia Garcia. A elevação do percentual de pobreza extrema no Estado é inferior à registrada em nível nacional, que passou de 6,6% para 7,4%, mas, mesmo assim, os gaúchos tiveram o pior desempenho da Região Sul. Para Ely, esse é mais um dos indícios de perda de fôlego da economia gaúcha em relação aos vizinhos, já demonstrada no Índice de Desenvolvimento Estadual (irs), parceria de ZH e PUCRS. Parte do movimento guarda relação com a crise fiscal gaúcha, diz o professor. Entre 2016 e 2017, o Rio Grande do Sul manteve o sexto melhor
4 índice do país. Santa Catarina (1,7%) e Maranhão (19,8%) aparecem nas extremidades do ranking. Mudança na metodologia impede a comparação com dados anteriores a leonardo.vieceli@zerohora.com.br marcelo.kervalt@zerohora.com.br LEONARDO VIECELI MARCELO KERVALT Sinais de melhoria no futuro No curto prazo, especialistas avaliam que tanto o Rio Grande do Sul quanto o Brasil terão alívio no mercado de trabalho, o que poderá beneficiar parcelas mais pobres da população até o final do ano. A projeção está ancorada na leitura de que datas como Natal costumam abrir espaço para a contratação de temporários. Para 2019, caso a economia confirme perspectivas e apresente desempenho mais vigoroso, a geração de empregos será estimulada de maneira gradual, apontam analistas. No próximo ano, expectativas de empresários tendem a ser renovadas. Deve haver retomada no mercado de trabalho, mas ainda não de maneira tão consistente pondera o professor Ely José de Mattos, da PUCRS. O movimento de reação é lento completa. O professor da UFPel Felipe Garcia ressalta que o nível de crescimento econômico dependerá das condições da política. Segundo ele, para melhorar o ambiente de negócios, o país precisa equilibrar suas contas com a realização de reformas, como a da Previdência. A reação mais consistente depois da recessão depende do ambiente político. Reformas não podem ser postergadas defende o professor da UFPel.
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