Ocupamos esta Tribuna neste dia para tratar de uma questão. que aflige milhares de brasileiros que têm seus imóveis

Transcrição

1 TERRENO DE MARINHA Senhor Presidente, Senhoras Deputadas, Senhores Deputados. Ocupamos esta Tribuna neste dia para tratar de uma questão que aflige milhares de brasileiros que têm seus imóveis inscritos pela Secretaria do Patrimônio da União em áreas denominadas Terrenos de Marinha, consideradas bens da União. Este instituto alcança, principalmente, as regiões litorâneas, as regiões banhadas por rios pertencentes às bacias nacionais, e as ilhas marítimas ou fluviais, a exemplo das cidades de Vitória, Salvador, Recife, Florianópolis, São Luiz, São Vicente (São Paulo), Rio de Janeiro, Belém, Manaus, e muitas outras. **

2 O anacronismo do aparato legal que dá sustentação aos direitos da União sobre os chamados terrenos de marinha é flagrante: (i) os terrenos de marinha são definidos com base na Linha da Preamar média de 1831; (ii) (ii) A enfiteuse, termo jurídico que tem origem nas sociedades medievais, acolhido nas disposições constitucionais de 1988, fundamenta ad eternum a cobrança do foro, da taxa de ocupação e do laudêmio; (iii) (iii) o Decreto 9.460, de 1946, e suas alterações, estabelecem os procedimentos administrativos, e definem as incidências de percentuais para a cobrança das referidas taxas e encargos. Senhoras e Senhores Deputados: ainda que o problema seja de ordem nacional, como já dissemos, a singularidade da ** situação de Vitória, capital do nosso Estado, merece comentários adicionais.

3 Com efeito, Vitória, juntamente com os municípios de Vila Velha e Guarapari, foram escolhidas pela Secretaria do Patrimônio da União, em 1995, para implantação de um projeto piloto de cadastramento ex offício de terrenos de marinha, visando estender, posteriormente, a experiência para outras cidades litorâneas do País. Cadastrados ex offício cerca de 20 mil imóveis, somente na cidade de Vitória, deu-se início, naquele período, à cobrança das taxas de ocupação. Todos os cidadãos que foram inscritos ex offício passaram a ser onerados anualmente em 5% sobre o valor do terreno. E as distorções da legislação ficaram ainda mais evidentes em face dos diferentes percentuais de incidência para cálculo da taxa de ocupação: os inscritos até 30 de setembro de 1988 pagavam, e pagam até hoje, 2% sobre o valor do terreno, e para aqueles com inscrição posterior a essa data, de ofício ou ex offício, são ** onerados em 5%.

4 Mais grave, ainda, é o fato de que para os municípios de Vitória, Vila Velha e Guarapari, não se deu fluxo aos procedimentos de aforamento previstos no cadastramento. Número significativo de processos de aforamento se arrastam por mais de uma década para serem analisados pela Gerência do Patrimônio da União no Espírito Santo. Enquanto isso, a SPU continua onerando o já exaurido contribuinte com a cobrança de elevadas taxas de ocupação, quando já lhes poderia ter sido concedido o aforamento. Mais recentemente, o advento de Emenda Constitucional 46/2005, que excluiu no art. 20, inciso IV, as ilhas costeiras que contêm a sede de municípios, deu novo alento aos moradores da ilha de Vitória, ocupantes de terrenos de marinha. Como essas áreas deixaram de integrar o patrimônio da União, os imóveis nelas existentes não deveriam estar ** sujeitos ao pagamento das taxas de ocupação.

5 Por iniciativa do Ministério Público Federal a cobrança de taxas de aforamento e de ocupação foram suspensas em 2005, primeiro através de ação cautelar, e, posteriormente, através de ação civil pública, para declarar a inexistência de relação jurídica entre foreiros e ocupantes desses terrenos, localizados na ilha de Vitória, com a União. A autorização legal para retomar o processo de cobrança foi obtido pela SPU em março do corrente ano. Continua em apreciação a ação civil pública, na 7ª Vara da Justiça Federal em Vitória. A feição meramente fiscalista e arrecadadora da Secretaria do Patrimônio da União continua prevalecendo também na aplicação da Emenda Constitucional 46/2005. No processo judicial com origem na ação cautelar, referida Secretaria manifestou-se pela existência de imóveis caracterizados como situados em área de propriedade da União, sendo aforados e ocupados. ** E pasmem, senhores deputadas e deputados: do total de imóveis inscritos na Secretaria do Patrimônio da

6 União, apenas 519 foram considerados como alcançados pela Emenda Constitucional 46, sendo: 100 imóveis em Bento Ferreira, 346 na Ilha do Príncipe, 9 em diversos bairros e 64 com interface, ou seja, parcialmente contemplados pela Emenda Constitucional 46. Com esta interpretação extremamente restritiva da aplicação da Emenda Constitucional 46/2005, a Secretaria do Patrimônio da união publicou recentemente a Portaria nº 283 de 31 de outubro deste, cobrando o foro e a taxa de ocupação, relativos ao exercício de 2006, dos imóveis considerados terrenos de marinha, no município de Vitória, em apenas duas parcelas vencíveis neste ano. Esta ** obrigação se sobrepõe, neste ano de 2006, ao pagamento das taxas referentes ao exercício de 2005, anteriormente

7 suspensas por ordem judicial, e cuja cobrança foi retomada pela SPU a partir de abril deste ano, conforme já afirmamos. No Congresso Nacional, e na condição de Senador da República, ainda em 2000, fizemos coro a muitas vozes daquela Casa, para avançar nas soluções sobre esse problema, encaminhando proposições administrativas ao Poder Executivo e apresentando Projetos de Lei com vistas ao aperfeiçoamento do aparato legal relativo ao tema. Um dos projetos de nossa autoria aprovado no Senado Federal foi remetido a esta Casa e encontra-se na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, para apreciação e decisão dos ilustres membros da referida Comissão e de todos os Senhores Deputados. O Projeto, de n 7507/2002, visa promover algumas ** alterações tanto no texto do Decreto-Lei 9760, de 1946, quanto do Decreto-Lei n 2398, de 1987, ambos relacionados

8 com o regime de administração de bens imóveis da União, considerados como Terreno de Marinha. Em síntese, o referido Projeto de Lei contempla alterações legislativas que visam: Reduzir o valor do foro anual, passando a incidência sobre o valor anual do terreno de 0,6% para 0,3%, com o propósito de aliviar a carga tributária incidente sobre o contribuinte, que vem pagando anualmente taxas de aforamento cada vez mais desproporcionais à sua renda. Fixar a taxa de ocupação anual em 1%, estabelecendo tratamento isonômico a todos que pagam a referida taxa, independentemente da data de inscrição. Hoje, como já colocamos, os inscritos antes de outubro de 1988 pagam 2% e aqueles com inscrição posterior pagam 5% do valor do domínio pleno do imóvel. ** Reduzir de 5% para 1% o laudêmio pago à União nas transações onerosas, tendo como referência o que

9 ocorre com o ITBI, cobrado pelas Prefeituras Municipais (variável de 1% a 2%). Este percentual é mais justo e consistente para viabilizar transações imobiliárias (que pagam ITBI, taxas cartoriais e laudênio), evitando-se contratos de gaveta, o que estimula a evasão fiscal e gera graves problemas de domínio dos imóveis, inclusive nas sucessões. Consideramos, senhoras e senhores Deputados, que os princípios da razoabilidade e da modicidade, inerentes à administração pública, se aplicam no todo ao caso da administração dos bens imóveis da União. Julgamos, por fim, que o Projeto de Lei de nossa autoria apresenta contribuições tecnicamente consistentes, socialmente justas e politicamente viáveis para o encaminhamento de solução dos graves problemas que ** atormentam aqueles ocupantes dos terrenos de marinha.

10 Muito obrigado **