PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA

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1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N" /001. ORIGEM : In Vara Cível da Comarca de Campina Grande. RELATOR : Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. APELANTE : UNIMED Campina Grande - Cooperativa de Trabalho Médico Ltda.. ADVOGADO: Giovanni Dantas de Medeiros. APELADO : Marcos Pereira da Silva. ADVOGADO: Thélio Farias e Leidson Farias. EMENTA: APELAÇÃO. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. PLANO DE SAÚDE. INTERNAÇÃO. COBRANÇA DE COTA DE CO-PARTICIPAÇÃO NA FATURA MENSAL. IMPOSSIBILIDADE DE PAGAMENTO DA MENSALIDADE CONTRATADA. NEGATIVA DE EMISSÃO DE BOLETO SEM A COBRANÇA. MORTE DA SEGURADA. INTEGRAÇÃO DO POLO ATIVO DA RELAÇÃO PROCESSUAL PELO CÔNJUGE SUPÉRSTITE. DEFERIMENTO. AGRAVO RETIDO. DEPÓSITO DOS VALORES PACTUADOS ORIGINALMENTE. INTENTO DA RÉ DE DISCUTIR A LEGALIDADE DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. QUITAÇÃO TÃO SOMENTE QUANTO AOS VALORES DEPOSITADOS. NÃO APRECIAÇÃO DAS ALEGAÇÕES DE MÉRITO RELATIVAMENTE AO CONTRATO. RECURSO. AGRAVO RETIDO CONHECIDO PRELIMINARMENTE. NULIDADE DA SENTENÇA. ERROR IN PROCEDENDO PELA NÃO SUSPENSÃO DO PROCESSO. INTEGRAÇÃO DO PÓLO ATIVO DA RELAÇÃO PROCESSUAL, APÓS O FALECIMENTO, PELO CÔNJUGE SUPÉRSTITE. NULIDADE AFASTADA. ART , L DO CÓDIGO CIVIL. ADMINISTRAÇÃO PROVISÓRIA DO ESPÓLIO. DISCUSSÃO SOBRE ABUSIVIDADE CONTRATUAL EM SEDE DE CONSIGNATÓRIA. POSSIBILIDADE, TÃO SOMENTE QUANDO SUSCITADA PELO AUTOR. AMPLIAÇÃO DOS LIMITES DA LIDE VEDADA AO RÉU. RECURSO DESPROVIDO. I. Enquanto não formalizado o inventário, o cônjuge sobrevivente, enquanto administrador provisório da herança, nos termos do art , I, do Código Civil, tem legitimidade para integrar o pólo ativo da relação processual, antes ocupado pelo falecido. Segundo o art. 986 do Código de Processo Civil, o administrador provisório representa ativa e passivamente o espólio. 3. Admite-se discussão sobre a legalidade de cláusula contratual em sede de ação consignatória, desde que levantada pelo autor, não pelo réu, ao qual é vedada a ampliação dos limites da lide. VISTO, relatado c discutido o presente procedimento, referente à Apelação Cível n , em que figuram como apelante UNIMED Campina Grande - Cooperativa de Trabalho Médico Ltda. e apelado Marcos Pereira da Silva. ACORDAM os eminentes.,desembargadores integrantes da Egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de Jus iç d Paraíba, à unanimidade, acompanhando o voto do relator, conhecer da Apelação e Uo'Agravo Retido e negar-lhes provimento.

2 VOTO. lha Queiroz Oliveira Silva ajuizou, perante o Juízo da 1a Vara Cível da Comarca de Campina Grande, Ação de Consignação em Pagamento, processo n em face de UNIMED Campina Grande - Cooperativa de Trabalho Médico. Alegou que (I) contratou junto à Ré plano de assistência médico-hospitalar, de abrangência nacional, mediante contraprestação mensal no valor de R$ 321,51; (2) obteve liminar, em sede de Ação Cautelar (processo n ), autorizando sua internação para tratamento hematológico, quimioterápico e radioterápico contra câncer que a acometia, no Real Hospital Português em Recife/PE; (3) foi surpreendida com a cobrança, na fatura do mês de junho de 2007, de cota de co-participação no valor de R$ ,81, referente ao período daquela estadia; (4) o pagamento da mensalidade contratada estaria sendo obstaculizado, porquanto a Ré negou-lhe, em tese, a emissão de boleto bancário unicamente com a quantia originalmente pactuada. Requereu, liminarmente, a consignação da parcela então vencida (junho/2007) e das vincendas, no montante de R$ 321,51 cada, e pugnou pela procedência cio pedido para que o Juízo declarasse sua quitação, condenado a Ré ao pagamento das verbas sucum.benciais. Em Decisão de f. 33, o Juízo deferiu, liminarmente, a consignação requerida. Às f. 44, o patrono da Autora informou seu óbito, ocorrido em 27/09/2007. Certidão de f. 47, e requereu a integração do polo processual ativo pelo seu esposo, o Sr. Marcos Pereira da Silva, na condição de representante do espólio, deferida às f 49. Contra essa Decisão, a Ré interpôs Agravo Retido, f. 52/54, alegando nulidade da habilitação deferida, em razão da ausência de sua intimação para pronunciamento acerca do requerimento, e obrigatoriedade de comprovação da condição de inventariante para representar o espólio, pugnando pela sua reforma para que a habilitação fosse indeferida. Contestando, f. 55/58, sustentou que (1) a liminar deferida na Ação Cautelar n não teria desonerado a Autora da obrigação de pagar a cota de coparticipação prevista no contrato; (2) as cláusulas contratuais haveriam sido redigidas em consonância com os arts. 54, 4 0, do CDC e 16, VIII, da Lei n 9.656/98; e (3) o contrato de prestação de serviço estaria rescindido pelo falecimento da Autora, titular do plano de saúde. Requereu a suspensão do feito até que o Sr. Marcos Pereira da Silva fosse intimado para comprovar sua condição de inventariante, sob pena de extinção do processo, e pugnou pela improcedência do pedido. Sem Contrarrazões ao Agravo Retido. f. 89. Sentenciando, f. 126/127, o Juízo julgou procedente o pedido para declarar quitadas as parcelas dep sitadas pela Autora, asseverando a impossibilidade de discussão acerca da legalidade ot\ não da cobrança de co-participação por meio de Ação de Consignação em Pagame,' liberando os valores consignados judicialmente em favor da Ré e condenando-a ao \\ pagai], ento das custas processuais e de honorários advocatícios, fixados em R$ ?":,...,

3 A Ré interpôs Apelação, 1'. 131/138, sustentando, preliminarmente (1) o conhecimento do Agravo Retido interposto às f. 52/54; e (2) a decretação da nulidade da Sentença, ante o suposto error in procedendo, consubstanciado na inobservância 'da suspensão do processo até que se procedesse à habilitação dos sucessores. No mérito, alegou que (1) a consignatória seria via hábil para se discutir a legalidade contratual; (2) restou consignado no Instrumento contratual, em tese, a previsão de pagamento na modalidade de co-participação no percentual de 10% (Cláusula 12.1) sobre os valores vinculados à internação (diárias, taxas. materiais e medicamentos) que excedessem o previsto na Cláusula 5.4.2, razão pela qual se recusou a receber apenas o valor da parcela mensal; e (3) a cobrança do valor referente à co-participação estaria em consonância com o art. 16, inciso VIII, da Lei Federal n /98. Contrarrazoando, f 149/153, o Apelado alegou a possibilidade da sua habilitação como sucessor da segurada falecida, nos termos do art do CPC, e a legalidade da consignação do valor incontroverso da parcela mensal devida pela falecida, pugnando pelo desprovimento recursal e manutenção da Sentença. A Procuradoria de Justiça opinou, f. 161/169, pelo prosseguimento do Recurso, sem se manifestar sobre o mérito, ao argumento de inexistir, no vertente caso, interesse Público primário. É o relatório. Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço da Apelação e cio Agravo Retido, analisando preliminarmente o segundo. Defende a Apelante/Agravante a nulidade da habilitação do cônjuge supérstite, deferida pela Decisão de f. 49, em razão da ausência de sua intimação para pronunciamento acerca do requerimento, e a suposta obrigatoriedade de comprovação da condição de inventariante para representar o espólio, pululando pela sua reforma para que a habilitação fosse indeferida. Haja vista inexistir inventário dos bens deixados pela falecida, a administração provisória da herança, até a abertura daquele, com a respectiva assinatura cio termo ele compromisso pelo inventariante, cabe aos sujeitos indicados no art do Código Civil, na ordem mencionada em seus incisos, figurando em primeiro lugar o cônjuge supérstite, iii cosi,. o Sr. Marcos Pereira da Silva, conforme Certidão de Óbito de f. 47. Este, na qualidade de administrador provisório, representa ativa e passivamente o espólio, conforme o art do Código de Processo Civil, não havendo, assim, que se falar em irregularidade na relação processual, tampouco necessidade de intimação da Ré acerca do pedido de habilitação do cônjuge supérstite. A propósito, colaciono ilustrativo julgado do Superior Tribunal de Justiça: PROCESSO CIVIL. MORTE DE UMA DAS PARTES. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUI1L. ESPÓLIO. REPRESENTAÇÃO PELO ADMINISTRADOR PROVISOR'. '\ POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE INVENUR1ANTE. SUSPE ÃO DÇ FEITO.DES1çIECESSIDADE. NULIDADE PROCESSUAL. 1NOCOR - NCIA RECURSO:-'PARCIALMENTE PROVIDO.

4 2. De acordo com os arts. 985 e 986 do CPC, enquanto não nomeado inventariante e prestado compromisso, a representação ativa e passiva do espólio caberá ao administrador provisório, o qual, comumente, é o cônjuge sobrevivente, visto que detém a posse direta e a administração dos bens hereditários (art do CU! 916, derrogado pelo art I a IV, do CPC; art do CC12002). 3. Apesar -de a herança ser transmitida ao tempo da morte do de eidus (princípio da saisine), os herdeiros ficarão apenas com a posse indireta dos bens, pois a administração da massa hereditária restará, inicialmente, a cargo do administrador provisório, que representará o espólio judicial e extrajudicialmente, até ser aberto o inventário, com a nomeação do inventariante, a quem incumbirá representar definitivamente o espólio (art. 12, V, do CPC). 4. Não há falar em nulidade processual ou em suspensão do feito por morte de uma das partes se a substituição processual do falecido se fez devidamente pelo respectivo espólio (art. 43 do CPC), o qual foi representado pela viúva meeira na condição de administradora provisória, sendo ela intimada pessoalmente das praças do imóvel. 5. Recurso especial parcialmente provido (STJ. REsp /RS, Terceira Turma, Relator Vasco Della Giustina, Desembargador Convocado do TJ/RS, julgado 'em 27/04/2010, DJe 13/05/2010). Destarte, não há que se cogitar em era? do Juízo, motivo pelo qual, conhecido o Agravo Retido, nego-lhe provimento, mantendo a Decisão atacada. Passo à análise da Apelação propriamente dita. As alegações referentes à higidez da relação processual, reiteradas no Apelo, já foram apreciadas anteriormente, incidindo sobre elas as mesmas conclusões. A par do que decidiu o juizo sentenciante, é vedada, na Ação de Consignação 'em Pagamento, a discussão acerca da extensão dos direitos e obrigações contratuais das partes, se não levantada pelo próprio autor, cumulando o requerimento consignatório puro com pedido de revisão contratual; a extensão da lide não pode ser alargada pelo réu. Ilustrando este entendimento, colaciono os seguintes julgados do Tribunal' de Justiça do Rio Grande do Sul: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. RECURSO ESPECIAL JULGADO PELO E. STJ DETERMINANDO O PROSSEGUIMENTO! DO JULGAMENTO DA APELAÇÃO. ARRENDAMENTO MERCANTIL. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO PARA FINANCIAMENTO. DA POSSIBILIDADE. DE REVISÃO. É possível a revisão de cláusulas contratuais em ação de consignação em pagamento desde que haja pedido. Ausente pedido de revisão contratual, como no.caso concreto, incabível sua revisão pois vedadas as disposições de oficio pelo Poder Judiciário. APELAÇÃO DESPROVIDA (TJRS, Apelação Cível n , Décima Quarta Câmara Cível, Relator Sejalmo Sebastião de Paula Nery, julgado em 15/12/2011. Diário da Justiça do dia 17/01/2012). APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. RECUSA INJUSTIFICADA DO CREDOR NÃO DEMONSTRADA. PRETENSÃO DE PAGAMENTO DAS PARCELAS DE MODO DIVERSO AO QUE FOI CONTRATADO ENTRE AS PARTES. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. Tendo as partes ajustado o pagamento das prestações mediante débito automático em conta-corrente, revela-se justificada a recusa da instituição financeira em receber o pagamento ie modo diverso. Pretensão de revisão do contrato que não encontra amparo na ação de co signação em pagamento. DERAM PROVIMENTO AO RECURSO. UNANIME mit /S., Ap!ação Cível n , Décima Oitava Câmara Cível, Relator Pedro Celso Dal I' \, -a, Jtilga io em 10/11/2011, Diário da Justiça do dia 17/11/ \

5 Destarte, queda-se prejudicada a análise das alegações da Apelante relativas à legalidade da cobrança. que devem ser suscitadas em ação própria. Os valores depositados, enquanto mensalidade contratada, não foram impugnados pela Ré/Apelante, que buscou com o Apelo, tão somente, legitimar a cobrança da cota de co-participação alhures referida; não merece reparo, portanto, a Sentença. Posto isso, conhecidos a Apelação e o Agravo Retido, nego-lhes provimento, mantendo incólume o Aresto e a Decisão vergastados. É o voto. Presidiu o julgamento, realizado na Sessão Ordinária desta Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, no dia 15 de maio de 2012, conforme Certidão de Julgamento, o Exmo. Des. Frederico Martinho da Nobrega Coutinho, dele participando, além deste Relator, a Sra. Dra, Vanda Elizabeth Marinho. Juíza convocada para substituir o Des. João Alves da Silva. Presente à sessão a Exma. Sra. Dra. Marilene Campos de Carvalho, Procuradora de Justiça..1 Gabinete no T;1/1 3 / ' em João Pessoa, 23 de maio 4: / 7 X.' (,... ''.\. 1/7>. ii i -1.h-/--,--d:", -, :.---- Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira Relator..-,

6 TRIBUNAL DE JUSTIÇA Diretoria Judiciária Registrado e