Palavras chave: voz, prevenção, criança
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- Lívia Cesário Beltrão
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1 AÇÕES DE PREVENÇÃO DE DISFONIA INFANTIL EM CENÁRIOS EDUCACIONAIS: ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS SOBRE VOZ A PARTIR DE DESENHOS DE ALUNOS DE EDUCAÇÃO INFANTIL. Palavras chave: voz, prevenção, criança O fonoaudiólogo que atua na área da educação deve, dentre outras atividades, realizar ações educativas sobre linguagem oral e escrita, voz, audição (CFFa, 2008) 1 Os conhecimentos construídos a partir do desenvolvimento dessas ações devem contribuir para a prevenção de alterações fonoaudiológicas, dentre elas, a disfonia infantil. O excesso de ruído ambiental e a necessidade de se elevar a intensidade vocal para ser ouvido podem levar crianças a realizar abuso vocal. Além disso, a agressividade presente nas brincadeiras, incitadas por desenhos infantis que mostram lutas entre monstros do bem e do mal podem também conduzir ao uso abusivo da voz pela criança. 2 Nem sempre a criança sente os impactos da disfonia em seu corpo e em sua vida cotidiana. Muitas vezes, sintomas sugestivos de alterações vocais como dores de garganta ou falta de ar, dentre outros sintomas, não são percebidos pelas crianças como um problema de saúde que necessita de cuidado. 2 Para que tais sintomas possam ser compreendidos por crianças e atitudes voltadas para a manutenção da saúde vocal possam ser adotadas, faz-se necessária a realização de ações educativas que abordem o tema voz. Tais ações educativas contribuem para que o educando passe a conhecer o próprio corpo e seu funcionamento, a etiologia das doenças e medidas para evitá-las, criando assim condições para a prevenção da doença. 3 Os pais ou responsáveis pelas crianças disfônicas deveriam ser os primeiros a perceber que as vozes dos filhos estão alteradas. Contudo, tais problemas são muitas vezes confundidos com infecções nas vias aéreas superiores ou vistos como uma fase normal do desenvolvimento infantil. 4 Para que os possíveis sintomas sugestivos da ocorrência de disfonias infantis possam ser valorizados pelos pais e as devidas medidas de cuidado em saúde possam ser adotadas, faz-se necessário também o desenvolvimento de ações educativas que envolvam não só os escolares, mas também seus familiares.
2 O desenvolvimento das ações educativas voltadas à prevenção de disfonias infantis deve incluir, ainda, a participação dos professores uma vez que estes profissionais acompanham a vida da criança no período em que ela está sob sua responsabilidade. Além disso, ao se abordar o tema voz e medidas de prevenção de disfonias com professores pode-se inserir no trabalho educativo realizado no contexto escolar estratégias de ensino-aprendizagem que propiciem a estes profissionais a construção de conhecimentos necessários para que eles possam adotar medidas de cuidado em saúde com sua própria saúde vocal. Uma dessas estratégias refere-se ao ensino e acompanhamento da realização de exercícios de aquecimento e desaquecimento vocal. Neste sentido, desenvolvemos um projeto vinculado ao Programa dos Núcleos de Ensino da Unesp, financiado pela Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) desta universidade. Este Programa visa incentivar a pesquisa em unidades educacionais de diferentes níveis de ensino (Educação Infantil, Fundamental e Médio) da rede pública de ensino, bem como promover ações educativas populares e inclusivas. Dentre as modalidades de projetos financiados por este Programa destacamos aqueles que englobam ensino e pesquisa de caráter multidisciplinar, bem como aqueles que propõem intervenções na realidade das escolas. Considerando os pressupostos teóricos relacionados à disfonia infantil e o caráter de pesquisa e intervenção solicitado pelo Programa dos Núcleos de Ensino da Unesp, o projeto que será aqui apresentado envolveu atividades de pesquisa e de intervenção na realidade escolar e englobou a participação dos três segmentos da comunidade escolar: alunos, pais e professores. O projeto foi desenvolvido em uma escola de educação infantil da cidade de Marília SP. Com os pais ou responsáveis pelos alunos das classes trabalhadas foi aplicado um questionário visando identificar queixas sugestivas da ocorrência de disfonias infantis em seus filhos, assim como identificar hábitos vocais (saudáveis e nocivos) adotados por essas crianças no lar. Estava prevista no projeto inicial a realização de ações educativas sobre voz com este segmento, entretanto, não foi possível operacionalizar este trabalho. Com os professores foi também aplicado um questionário visando identificar queixas sugestivas da ocorrência de alterações vocais, bem como conhecimentos e hábitos/cuidados vocais por eles adotados em sua atuação profissional. Após a aplicação deste questionário foram realizadas ações educativas visando à construção de conhecimentos sobre a produção da voz e hábitos vocais, assim como o ensino e
3 acompanhamento semanal da realização de exercícios de aquecimento e desaquecimento vocal. O trabalho com os professores foi desenvolvido no decorrer de um semestre letivo. Com os alunos foi desenvolvido um mini-curso visando à construção de conhecimentos sobre a produção da voz e hábitos saudáveis e nocivos à voz. Este trabalho foi realizado com cada sala separadamente durante três encontros de aproximadamente uma hora cada encontro. Participaram deste trabalho educativo 98 alunos de três classes da escola, a saber: duas classes de Pré II e uma classe de Pré III. A faixa etária desses alunos variou entre quatro e seis anos de idade. No primeiro encontro foi abordada a anatomofisiologia do aparelho fonador. Como recursos didáticos para a compreensão do processo de produção da voz foram utilizados cartazes com figuras ilustrativas de estruturas do aparelho fonador, bem como um molde da laringe humana feito de resina e uma bexiga. Também foi utilizada uma música infantil sobre voz que, em sua letra, abordava tanto aspectos relacionados à produção da voz quanto aos hábitos vocais. 5 Antes de dar início à exposição dialogada sobre anatomofisiologia do aparelho fonador, foi solicitada aos alunos a realização de um desenho temático em que eles deveriam representar o que sabiam sobre a produção da voz e sobre hábitos vocais saudáveis e nocivos para a voz. No segundo dia do mini-curso foi feita uma revisão do tema abordado no primeiro dia e, em seguida, foi discutido o tema higiene vocal infantil, com a abordagem de situações do cotidiano da criança como auxílio, utilizando exemplos do ambiente familiar e escolar. 6 A inserção deste conteúdo no mini-curso visava não só a disseminação de informações que permitissem aos alunos a adoção de hábitos vocais saudáveis, mas também contribuir para a redução do nível de ruído do ambiente escolar e, consequentemente, contribuir para a saúde vocal dos professores. No último dia do mini-curso foi realizada a revisão dos temas abordados nos dois primeiros encontros e feitas perguntas sobre esses temas visando verificar a compreensão dos alunos e, caso necessário, fazer a retomada de algum aspecto ainda não bem entendido. Ao final deste último encontro foi solicitada a realização de um novo desenho sobre como a voz é produzida e sobre hábitos vocais saudáveis e nocivos à voz. Visando analisar a construção de conhecimentos sobre os temas abordados no mini-curso, foram analisados os desenhos realizados pelos alunos das três classes
4 trabalhadas, sendo 62 desenhos realizados antes da ação educativa e 59, após a atividade, totalizando 121 desenhos. Estes desenhos foram analisados por três fonoaudiólogos envolvidos no desenvolvimento da pesquisa. Dos 62 desenhos feitos antes do mini-curso, apenas 14 apresentavam figuras representativas de partes do aparelho fonador, como pescoço, pulmões, pregas vocais, boca, entre outros. Dos 59 desenhos feitos após o mini-curso, 30 apresentavam figuras representativas de partes do aparelho fonador ou de hábitos de higiene vocal (não gritar; não fumar). Alguns desses alunos escreveram trechos da música sobre voz ensinada como estratégia de ensino-aprendizagem para a sistematização dos conhecimentos discutidos. Outros alunos, ainda, escreveram frases relacionadas aos temas abordados no mini-curso. Os dados obtidos evidenciaram que as ações educativas realizadas contribuíram para a disseminação de informações que podem colaborar com a prevenção de disfonias infantis. Entretanto, destacamos a necessidade da continuidade da discussão sobre o tema visando o delineamento de estratégias que possibilitem a incorporação de padrões e de hábitos vocais saudáveis. Ressaltamos que o processo de educação em saúde é longo, havendo a necessidade de trabalhos contínuos e periódicos. O projeto ora relatado consistiu de um primeiro passo na direção da construção de conhecimentos sobre voz pelos participantes dos diferentes segmentos trabalhados em relação à necessidade de ações voltadas para a manutenção da saúde vocal e de um ambiente escolar igualmente saudável. Referências Bibliográficas 1. CFFa: CONSELHO FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA [Internet]. Brasília: Conselho Federal de Fonoaudiologia. O que você precisa saber sobre Fonoaudiologia e Educação [Acesso em 2009 Jun 10] Disponível em: 2. Servilha EAM. Voz na infância. In: Ferreira LP, Befi-Lopes DM, Limongi SCO (orgs.) Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Roca; p Focesi E. Uma nova visão de saúde escolar e educação em saúde na escola. Revista Brasileira de Saúde Escolar. 1992; 2(1): Behlau M, Madazio G, Feijó D, Azevedo R, Gielow I, Rehder MI. Aperfeiçoamento vocal e tratamento fonoaudiológico das disfonias. In: Behlau M. (org.) Voz: o livro do especialista. Rio de Janeiro: Editora Revinter; Vol. 2, p
5 5. Munhoz LC. Cantando e Aprendendo a mastigar, a ouvir, a respirar e a falar: guia para a promoção da saúde em instituições educacionais - uma visão fonoaudiológica. São Paulo: Lovise; Behlau M, Dragone ML, Ferreira AE, Pela S. Higiene Vocal Infantil: informações básicas. São Paulo: Lovise; 1997.
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