ACÓRDÃO. Poder Judiciário Tribunal de Justiça da Paraíba Gabinete do Des. ARNOBIO ALVES TEODOSIO
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1 1 Poder Judiciário Tribunal de Justiça da Paraíba Gabinete do Des. ARNOBIO ALVES TEODOSIO ACÓRDÃO HABEAS CORPUS N /006, ia Vara da Comarca de Patos IP RELATOR : O Exmo. Des. Arnóbio Alves Teodósio IMPETRANTE : Claudinor Lúcio de Sousa Júnior PACIENTE : Arquimedes Faustino Leite HABEAS CORPUS. Tráfico de drogas e associação para o tráfico. Artigos 33 e 35, da Lei n /2006. Prisão preventiva. Inépcia da denúncia. Ausência de tipicidade, interesse de agir e justa causa. lnocorrência. Trancamento da ação penal. Conduta do denunciado que, em tese, se amolda aos delitos atribuídos na denúncia. Preenchimento dos requisitos do art. 41, do CPP. Denegação da ordem. - Não pode ser acoimada de inepta a denúncia formulada em obediência aos requisitos traçados no art. 41 do Código de Processo Penal, descrevendo perfeitamente o fato típico imputado, crime em tese, com todas as suas circunstâncias, atribuindo-o ao paciente, o que lhe permite o exercício da ampla defesa e do contraditório no seio da persecução penal, com observância do devido processo legal. - O trancamento de ação penal é medida excepcional, admitida apenas quando provada, inequivocamente, sem a necessidade de exame valorativo do conjunto fático ou probatório, a atipicidade da conduta, a ocorrência de causa extintiva da punibilidade, ou, ainda, a ausência de indícios de autoria ou de prova da materialidade do delito, o que não é a hipótese vertente. Vistos, relatados e discutidos os autos do presente mandamus,
2 Acorda a Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, à unanimidade, conforme voto do relator e certidão de julgamento, à fl. 124, CONHECER E DENEGAR A ORDEM, em harmonia com o parecer ministerial. RELATÓRIO. Cuida-se de Habeas Corpus impetrado por Claudionor Lúcio de Sousa Júnior, em favor de Arquimedes Faustino Leite, apontando como autoridade coatora a Juíza de Direito da la Vara da Comarca de Patos, através da impetração de fls. 02/12 (em cópias). Segundo o impetrante, o paciente, preso por força de prisão preventiva, em processo no qual responde, em tese, pelos delitos de tráfico de drogas e associação para o tráfico (art. 33 e 35, da Lei n /2006), sofre constrangimento ilegal, em razão de que, os fatos narrados na peça pórtica, do processo n , não se encaixam em nenhum tipo penal, seja pela inexistência do próprio tipo, ou mesma pela falta de materialidade, ou de indícios suficientes de autoria, estando as suas atividades ligadas ao exercício de estagiário de advocacia. Portanto, ausentes, na denúncia, em relação ao paciente, o interesse de agir e a justa causa, motivos pelos quais pede a concessão da ordem, com o trancamento da ação penal. Solicitadas informações à autoridade coatora, à fl. 76. despacho de fl Juntados os originais do processo (fls. 78/111), conforme Informações prestadas, nas fls. 121/126. Instada a se manifestar, a Procuradoria de Justiça, por meio da Dra. Maria Lurdélia Diniz de Albuquerque Melo, opinou pela denegação da ordem (fls. 129/132). É o relatório VOTO: Exmo. Sr. Des. ARNÓBIO ALVES TEODÓSIO (Relator) Conheço da impetração. O impetrante busca, em favor do paciente, o trancamento da ação penal, pela ausência de interesse de agir e justa causa, na denúncia que o imputa os crimes previstos no art. 33 e 35, da Lei n /2006, uma vez que os fatos narrados na peça pórtica, do processo n , não se encaixam em nenhum tipo penal, seja pela inexistência do próprio tipo, ou mesma pela falta de materialidade, ou de indícios suficientes de autoria, estando as suas atividades ligadas ao exercício do estagiário advogado. Pois bem, extrai-se da rica denúncia do Ministério Público (v. cópias às fls. 14/35):
3 3 "Repousam no incluso Inquérito Policial elementos probantes induvidosos acerca da certeza da materialidade e autoria dos delitos em discussão, como também a comprovação da aderência subjetiva de todos os denunciados na organização criminosa em destaque. A prova angariada demonstra que desde o ano de 2011 lodos os denunciados se envolveram na realização de ações criminosas interligadas pela comunhão de ações e desígnios, manifestado claro vínculo associativo e divisão de taretás, tudo consistente em delitos de tráfico de drogas, ora com intuito de.facilitar, assegurando meios materiais, ora para garantir a impunidade e a realização de crime, objetivando.fornecimento a terceira pessoa, de drogas, utilizando-se, para tanto, do sistema carcerário, mormente, do Presídio masculino de Patos/PB. No bojo das investigações sc comprovou, por intermédio de acervo probatório, judicialmente autorizado, e de depoimentos colhidos, que desde o ano de 2011, os denunciados criaram uma organização criminosa, denominada "O Cordão", dentro do Presídio masculino de Patos/PB, sua base, tendo como líderes o preso/denunciado Carmésio Claudino Leonardo, conhecido por "Arrepiado", Carlito Claudino Leonardo, conhecido por "Carlito". (irmão de "Arrepiado"), Estênio da Nóbrega Dantas (ex-diretor do Presídio Regional); FRANCISCO MOREIRA RAMOS, conhecido por 'Caboré; Dom ião Gouveia; Maria José dos Santos Alves (companheiro de "Caboré"); "Galego do Gás"; o ex-diretor do presídio Demitrius Dias Mendonça e, ainda, Marcos Rodrigues dos Anjos, este preso em São José do Egito/PE. O núcleo formado por apenados do presídio masculino de Patos e pelos agentes peniterciários denunciados ESTÊNIO DA NOBREGA DANTAS; FÁBIO MIGUEL LOPES; EMMANUEL NUNES DE OLIVEIRA; WIGNER LEITE DOS ANJOS; DIMITRIUS DIA MENDONÇA, responsáveis por autorizar a saída de presos ilegalmente, muitas vezes transportando-os para recebe" drogas, trazendo estas para o presídio onde eram separadas para remessa às 'bocas de fumo' na cidade de Patos, Pombal, São José do Egito/PE e, também, para venda no interior do presídio. Outro núcleo é composto pelos denunciados MARCOS RODRIGUES DOS ANJOS; MAX TORQUATO DOS SANTOS; VALDECI ARRUDA MACIEL (DUDA ARRUDA); ANTÔNIO FERREIRA SOBRAL (PIROCA OU TOINHO AIDÉTICO); MURILO GIRLON BRITO LEITE (MURILO); ALAN JEAN DE ARAÚJO (PIU); VALDEILZA ALVES DE OLIVEIRA (VANDINHA); MARIA VALDELÚCIA ALVES DE OLIVEIRA (NEGUINHA), responsáveis pelo tráfico de drogas nos municípios de São José do Egito, Tuparetama, Brejinho e Itapetim, municípios pernambucanos, recebendo a droga que vinha da cidade de Patos/PB.. 4 2,,..._. 2---re l,r_4,64 P,- nbarprior
4 Na organização criminosa o denunciado ARQUIMEDES FAUSTINO LEITE, conhecido por Doutorzinho, acadêmico em Direito, tinha posição de destaque, ficando responsável de promover a assessoria jurídica dos integrantes, infiltrando-se nos Órgãos Públicos, - circulando no âmbito do Judiciário e do Ministério Público, gozando de prerrogativas concedida apenas a Advogados regularmente inscritos na OAB/PB, entrando e saindo livremente nos Presídios Masculino e Feminino, trazendo ordens dos líderes da organização criminosa, apresentando-se, habitualmente, como Advogado. Pela investigação se - constatou que o denunciado Arquimedes possui estreito contato C0117 o líder da organização o denunciado Carmésio Claudino Leonardo, conhecido "Arrepiado'", negociando pagamentos pelos serviços de 'pombo correio' e de advocacia que também exerce para outros presos. Pela análise dos relatórios da GINTEL se conclui que o denunciado Arquimedes tem tarefa na organização criminosa de marcar encontros entre os traficantes fora e dentro do presídio, para que tratem de assuntos referentes ao tráfico de drogas, tudo cumprindo ordens do denunciado Carmésio, valendo das.facilidade de ter um escritório e passar-se por Advogado. Em um dos diálogos captados na interceptação telefônica, o denunciado Carmésio fala para Arqztimedes ir até a casa de GIRLENE (presa condenada por vários crimes de tráfico de drogas, que cumpre pena, em regime fechado, no Presídio Feminino de Patos), pois ele vai combinar com Arquimedes um procedimento que já,fbi acordado. No dia , com o deflagração da Operação "Aahbran" da Polícia Civil..foi preso um dos filhos de GIRLENE, que estava com vários pedras de crack, dentro de preservativos, prontas para entrar no Presídio-,e serem comercializadas, além de um revólver, foi captado diálogo entre os denunciados ARQUIMEDES e ARREPIADO onde se 'utilizando de códigos, filam acerca da operação. (...) O denunciado Arquimedes. é conhecido no presídio como 'Doutorzinho', e telefonou várias vezes para o denunciado ARIANO no dia em que foi preso com cocaína, em Serra Negra/RN, cidade que l'az.fronteira com Patos (Cópia do.flagrante nos autos), inclusive, no áudio gravado da interceptação telefônica (...), o denunciado Arquimedes relata ler conseguido o DVD, que estava nos autos em segredo de Justiça, contendo o depoimento do detento Alexandre Silva Chaves, para ser entregue aos líderes da organização. A investigação identificou que a droga tem origem no Estado de São Paulo, passando muitas vezes pelo município de São Bento/PB, transportada para a cidade de Patos/PB, pela 4 T Ojrilirkti úá:
5 D organização criminosa onde é feita a divisão de droga, remetendo-a para as 'bocas cie fumo' na cidade de Patos/PB: Pombal/PB e São José do Egito/PE. O denunciado Marcos Rodrigues dos Anjos é respons'ável na cidade de São José do Egito/PE pela distribuição de drogas no Estado de Pernambuco, tendo como seus subordinados e responsáveis pelo armazei lamento, transporte, venda e entrega os denunciados: MAX TORQUATO DOS SANTOS; VALDECI ARRUDA MACIEL (DUDA ARRUDA); ANTÔNIO FERREIRA SOBRAL (PIROCA OU TONHO AIDÉTICO); MURILO GIRLON BRITO LEITE (MURILO); ALAN JEAN DE ARAÚJO (PIU); VALDEILZA ALVES DE OLIVEIRA (VANDINHA); MARIA VALDELÚCIA ALVES DE OLIVEIRA (NEGUINHA). Como se extrair da narrativa desenvolvida supra, a organização criminosa conhecida por "o Cordão", está disseminando à criminalidade em todo o sertão da Paraíba, com ligações com os Estados de Pernambuco e São Paulo. Registre-se, que as drogas,rintéticas, como a cocaína e o crack, entram no Brasil através das.fronteiras e chegam ao município de Patos/PB, onde é distribuída para os pontos de comercialização. Com o andamento das investições ficou constatado que os lideres da organização criminosa os irmãos, Arrepiado e Carlito, continuam de dentro do PB.1, Presídio de Segurança Máxima, comandando o tráfico de drogas, e se utilizando de aparelhos celulares. Somente na hipótese de evidente atipicidade, ausência de indícios a fundamentar a acusação ou extinção de punibilidade, viabiliza-se o reconhecimento da falta de justa causa, ao efeito da concessão do remédio heróico, circunstâncias que não se identificam no caso concreto. A denúncia, com trechos acima transcritos, oferecida com base nas informações colhidas no inquérito policial, inclusive, com extenso conteúdo oriundo de interceptações telefônicas, informações de que o paciente, em tese, na condição de estagiário advogado, manteve relações estreitas com organização criminosa de tráfico de drogas no sertão de nosso Estado, dentro dos Presídios Masculino e Feminino, conhecida como "O Cordão", prestando-lhes "serviços" facilitadores da traficância, o que demonstra, inicialmente, elementos suficientes para denúncia e apuração em juízo. Tal conduta, abstratamente considerada, amolda-se perfeitamente aos tipos dos artigos 33 e 35, da Lei n /2006. In verbis: "Art. 33. Importar; exportar; remeter; preparar; produzir; fábrica': adquirir; vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar; trazer consigo, guardar; prescrever; ministrar; entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
6 6 autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a (mil e quinhentos) dias-multa." "Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou nõo, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, capta e 1 o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a (mil e duzentos) dias-multa." Destaquei Nesse contexto, descabe que seja prematuramente subtraída, do Ministério Público, a possibilidade de comprovar a imputação feita, existindo, assim, a justa causa para o exercício da ação penal. Não pode ser acoimada de inepta a denúncia formulada em obediência aos requisitos traçados no art. 41 do Código de Processo Penal, descrevendo perfeitamente o fato típico imputado, crime em tese, com todas as suas circunstâncias, atribuindo-o ao paciente, o que lhe permite o exercício da ampla defesa no seio da persecução penal, na qual se observará o devido processo legal. Ademais disso, o trancamento de ação penal é medida excepcional, admitida apenas quando provada, inequivocamente, sem a necessidade de exame valorativo do conjunto fático ou probatório, a atipicidade da conduta, a ocorrência de causa extintiva da punibilidade, ou, ainda, a ausência de indícios de autoria ou de prova da materialidade do delito, o que não é a hipótese vertente. Nesse sentido: "(..) 2. É entendimento pacifico do Superior Tribunal de Justiça que o trancamento da ação penal, pela via do habeas compus é medida excepcional, só admissivel se emergente dos autos. de firma inequívoca, a ausência de indícios de autoria ou materialidade delitivas, a atipic idade da conduta ou a extinção da punibilidade, circunstância que não se caracteriza na hipótese. (STJ; HC ; Proc. 2006/ ; TO; Sexta Turma; Rel. Min. Og Fernandes; Julg /2012; DJE 11/04/2012) "(..) I. É entendimento consolidado nesta Corte que o trancamento da ação penal, pela via do habeas C S, é medida excepcional, só admissivel se emergente dos autos, de.1brma inequívoca, a ausência de indícios de autoria ou materialidade delitivas, a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade, circunstância que não ocorre na hipótese dos autos. 2. A peça vestibular preenche os requisita, do art. 41 do Código de Processo Penal, descrevendo, com todas as suas circunstâncias, a existência de crime em tese, bem como a respectiva autoria, com indícios suficientes para a deflagração da persecução penal. Aponta o envolvimento direto do paciente no tráfico internacional de drogas, com lastro em interceptaçãey telefônicas e em expressivas
7 7 apreensões de entorpecentes. (STJ; HC ; Proc. 2011/ ; PR; Sexta Turma; Rel. Min. Og Fernandes; Julg. 15/ ; DJE 02/04/2012) Com tais fundamentos, CONHEÇO E DENEGO A ORDEM, em harmonia com o parecer ministerial. É como voto. Presidiu o julgamento, com voto, o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luiz Sílvio Ramalho Júnior, dele participando os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Amóbio Alves Teodósio, Relator, e João Benedito da Silva. Presente à sessão o representante ministerial, Doutor Antônio de Pádua Tôrres, Procurador de Justiça. Sala das Sessões "Desembargador Manoel Taigy de Queiroz Mello Filho", em João Pessoa (PB), 02 de agosto de ALVES RELATOR
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