RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA: OBRIGAÇÃO DE MEIO OU RESULTADO E COMO SE PREVENIR.

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1 ASSOCIAÇÃO EDUCATIVA DO BRASIL-SOEBRAS/ FACULDADES UNIDAS DO NORTE DE MINAS- FUNORTE JAMILLE SOUZA SILVA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA: OBRIGAÇÃO DE MEIO OU RESULTADO E COMO SE PREVENIR. FEIRA DE SANTANA 2015

2 JAMILLE SOUZA SILVA Monografia apresentada ao Programa de Especialização em Ortodontia FUNORTE NÚCLEO FEIRA DE SANTANA como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Ortodontia. ORIENTADOR: Prof. Dr. Alexandre Medeiros CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Dieter Kuehnitzsch FEIRA DE SANTANA 2015

3 DEDICATÓRIA Este Trabalho de Conclusão de Curso é dedicado a meu pai que é meu maior orientador e incentivador. A minha irmã também cirurgiã-dentista que me ajuda em conhecimento e aprendizagem. E por fim, dedico ao meu noivo que nas horas mais difíceis desta caminhada me apoiou e me deu forças para continuar.

4 AGRADECIMENTOS A Deus por ter me dado paciência, sabedoria e saúde durante todos os momentos da minha caminhada. A meu pai por ter me incentivado durante estes três anos de especialização Agradeço aos colegas pela ajuda constante durante a fase prática de clínicas. Aos professores pela transmissão de conhecimento aprendizagem e sabedoria. Aos pacientes pelo o compromisso, paciência e carinho. E á todos os funcionários do IFAP pelo companheirismo e amizade, estando eles sempre dispostos a nos ajudar.

5 RESUMO Este trabalho visa estudar a responsabilidade civil do ortodontista já que além desta existe também a esfera penal e administrativa. Assim a pesquisa irá fazer uma revisão de literatura abordando a obrigação do ortodontista se de meio ou de resultado bem como as formas de se evitar as ações judicias. Não existe uma lei que regulamente em especifico a atividade do ortodontista e existem grandes divergências de opiniões. No estudo os doutrinadores do direito se mostraram a favor da obrigação de resultado do ortodontista por envolver estética. Os autores dentistas a maioria defende obrigação de meio e os juízes que tendem a julgar a depender de cada caso concreto. Dessa forma os ortodontistas devem ter uma boa relação com seu paciente, ter cuidados em descrever desde o inicio os planos, risco e limitações de tratamento além de guardar e preservar as documentações ortodônticas que servem como provas nas ações judiciais evitando litígios e indenizações. Palavras-chaves: ortodontia, obrigação, responsabilidade.

6 ABASTRACT This work aims to study the liability of the orthodontist since beyond this there is also the criminal and administrative. So the search will do a review of the literature regarding the obligation of the orthodontist if half or result as well as the ways to avoid judicial actions. There is no law regulating the specific activity in the orthodontist and there are great differences of opinion exist. Scholars in the study of law expressed support for the requirement of the result by orthodontist involve aesthetics, dentists most advocates obligation of means and judges who tend to judge depend on each case. Thus orthodontists must have a good relationship with his patient, be careful in describing the plans from the beginning, risk and limitations of treatment plus save and preserve the orthodontic documentation that serve as evidence in lawsuits avoiding litigation and indemnification.

7 SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO PROPOSIÇÃO REVISÃO DE LITERATURA DISCUSSÃO CONCLUSÃO REFERÊNCIAS

8 7 1. INTRODUÇÃO Um fator de grande importância para o sucesso nos tratamentos odontológicos é a relação amigável entre o profissional e o paciente. Sabe-se que o cirurgião dentista vai usar de seus conhecimentos científicos para tratar a saúde do paciente e a confiança por parte do paciente com o profissional é de grande valor nesta relação. Na ortodontia existe por parte do paciente uma grande expectativa para com o resultado final, e esta expectativa não sendo atingida pode gerar grandes conflitos durante e ao final do tratamento chegando ate mesmo aos processos judiciais. Segundo França (2002), o profissional é responsável por seus atos quando demonstrar negligência, imprudência ou imperícia, e a falta de conhecimento dos ortodontistas quanto a sua responsabilidade civil nos casos tratados e qual a melhor maneira de se prevenir de ações judiciais pode trazer sérios problemas. Após 1990 com o surgimento do Código de Defesa do Consumidor aumentou bastante o número de processos contra os cirurgiões-dentistas, portanto, os profissionais da área precisam estar constantemente atentos às questões legais inerentes a atividade em que exerce. Portanto, este trabalho visa realizar uma revisão de literatura esclarecendo alguns conceitos no que tange a responsabilidade civil dos ortodontistas bem como fazer uma reflexão de qual seja suas obrigações se de meios e resultados. Vai mostrar a posição dos juristas, doutrinadores e até mesmo dos cirurgiões dentistas a respeito do assunto. O estudo também contemplará as esferas jurídicas em que os pacientes podem entrar com a ação, e como os profissionais devem se comportar para evitar o conflito e as futuras ações judiciais.

9 8 2. PROPOSIÇÃO Este presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão de literatura abordando sobre a responsabilidade civil do ortodontista se a sua obrigação e de meio ou resultado bem como mostrar como os profissionais podem se prevenir das lides e de eventuais processos judicias.

10 9 3. REVISÃO DE LITERATURA A ortodontia é a especialidade na atualidade que mais recebe processos judiciais, e são vários motivos que tem contribuído para isso. Dentre os motivos pode-se citar o maior tempo que o profissional leva com o paciente, o conceito de estética que é subjetivo e exigido e a expectativa do paciente. (CRUZ E CRUZ, 2008). Além disso, existe uma grande quantidade de cursos oferecidos tanto os cadastrados pelo Conselho Federal de Odontologia quanto os cursos de iniciação e aperfeiçoamento que aumenta o número de dentistas exercendo a ortodontia. O aumento destes profissionais gera competitividade, diminuição dos preços do tratamento, a maior quantidade de atendimento em tempo menor provocando falta de qualidade nos atendimentos (PARANHOS et al., 2009) 3.1 Histórico e o surgimento do CDC Segundo Melane (2006), os processos nos anos 70 e 80 quase não existiam, havendo um aumento a partir da década de 90 intensificando até os dias de hoje. Com a promulgação da lei Código de Defesa do Consumidor houve um maior despertamento dos pacientes para uma relação comercial com seu dentista. O profissional passa a ser (fornecedor) enquanto o paciente assume o papel de (consumidor). (BARBOSA, 2007). Portanto estes fatores contribuíram para esta expressiva mudança observada pelo aumento de número de casos levados ao Poder Judiciário no sentido de ressarcimento de danos por erro profissional, e a preocupação com os aspectos legais tornou-se assunto relevante a ser abordado após o CDC. (SILVA et al., 2009) Além disso, no Brasil passou a existir um maior acesso ao CDC principalmente após a lei que fixa a obrigação dos estabelecimentos comerciais e/ou prestação de serviços entre eles consultório e clínicas odontológicas disponibilizarem ao público de modo geral o CDC e aqueles que não cumprirem fica sujeitos à multa. (SABOIÁ, 2011). Anterior a 1990 o Código Civil regulamentava a relação entre profissionais e pacientes, onde a responsabilidade do profissional era apenas

11 10 subjetiva o que caracteriza que o mesmo só reparava os danos caso o paciente comprovasse a imprudência negligência ou imperícia. (BARBOSA et al., 2013) 3.2 Conceito de responsabilidade civil De acordo com o Código Civil Art aquele que por ato ilícito causar dano a outrem fica obrigado a repara-lo e no Art Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligencia ou imprudência violar o direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art Os médicos, cirurgiões, farmacêuticos, parteira e dentistas são obrigados a satisfazerem os danos sempre que da imprudência, negligência ou imperícia em atos profissionais, resultar morte, inabilitação de servir ou ferimento. (BRASIL, 2002) Segundo Gagliano e Filho (2007), na responsabilidade civil o agente que cometeu o ato ilícito tem a obrigação de reparar o dano patrimonial ou moral causado buscando restaurar e se não for possível é convertido em indenização (na possibilidade de avaliação pecuniária do dano) ou de uma compensação (na hipótese de não poder estimar o dano). Em se tratando do termo responsabilidade civil esta vem da palavra latina re-spodere que significa recomposição, a obrigação do agente causador do dano em repara-lo. A responsabilidade civil pode ser definida como o dever de reparar o dano causado por outrem pela prática de um ato ilícito que segundo a lei civil brasileira ato ilícito é aquele que contraria a lei. (SILVA et al., 2009). 3.3 Responsabilidade objetiva e subjetiva e a obrigação de meio ou de resultado. Tendo em vista a responsabilidade civil esta se classifica em subjetiva e objetiva. A responsabilidade civil subjetiva é aquela que tem por base a culpa do agente, que deve ser comprovada pela vítima para que surja o dever de indenizar. Segundo esta teoria não se pode responsabilizar alguém pelo dano ocorrido se não houver culpa. Na responsabilidade objetiva é aquela que independe de comprovação de dolo ou culpa, devendo está presente os seguintes elementos: ação - nexo de causalidade - dano. (NADER, 2009).

12 11 Outra forma de nominar a responsabilidade civil é quanto à obrigação se é de meio ou resultado. Nesta teoria da obrigação dividiram-se os profissionais em duas áreas, onde a de meio o profissional deve durante a execução de sua atividade desempenhar o melhor possível de sua técnica em prol de seu cliente, porém o resultado final independe de sua vontade. Na obrigação de resultado ele tem o dever de atingir determinado resultado esperado e desejado pelo paciente sobre pena de processo. Uma obrigação de meio indica que existe um comprometimento e dedicação pessoal em vista a um melhor resultado tratando-se de uma obrigação subjetiva onde o resultado final pode não ocorrer ao esperado ao contrario seria as objetivas tendo como obrigatoriedade um resultado proposto. (LOPES et al; 2008). Gagliano (2008), diz que se a obrigação é de meio e ocorre o dano para responsabilizar o agente ao deduzir os elementos da responsabilidade civil também deve provar a culpa. Já na obrigação de resultado não sendo este realizado já havendo o descumprimento contratual presume-se a culpa. Gomes, (2004) coloca que a obrigação de resultado se da quando o devedor propõe atingir um determinado resultado e não atingindo ele será presumido culpado, devendo demostrar que não é culpado. Ao credor basta mostrar o inadimplemento ficando este em uma situação mais cômoda. 3.4 Responsabilidade de ortodontista de meio ou resultado? Rodrigues et al. (2006) relata que a maioria dos autores do Direito Civil considera em regra que o cirurgião dentista tem obrigação de resultado argumentando que os processos odontológicos são mais regulares e as terapêuticas mais definidas o que pode o profissional comprometer com um resultado. O autor relata também que quando o ortodontista assume obrigação de resultado ao prometer estética, e a obrigação é de meio ao buscar um resultado estético. Além disso, a obrigação do ortodontista deve ser analisado em caso concreto, pois existem tratamentos que é previsível o resultado e em outros fica difícil prever resultados. Já para Lopes et al; (2008), em se tratando de tratamentos ortodônticos existe uma controvérsia em relação à natureza jurídica da responsabilidade civil, não existindo no ordenamento jurídico uma lei que a regulamente e não

13 12 existe um consenso entre os jurisprudência e os doutrinadores. Alguns autores dizem que a obrigação do cirurgião dentista não pode ser entendida como de resultado já que cada organismo responde biologicamente diferente, outros autores, colocam que apenas algumas especialidades entre elas a ortodontia não admite que segure resultados. Já para outros estudiosos a odontologia garante resultados e os profissionais devem reparar os danos causados. Em se tratando dos juristas existe uma tendência destes tratarem o tratamento ortodôntico como obrigação de resultado embora exista uma divergência e não existe jurisprudência a respeito na área da ortodontia. Este diz que por não ter uma lei especifica sobre a questão e não a um entendimento entre os juristas e o para o autor ele entende que a ortodontia deve ser considerada como uma obrigação de meio e não como de resultado. Segundo Silva et al. (2009), ele relata que se enquadrarmos a responsabilidade odontológica esta se apresenta como subjetiva frente ao CDC que legisla em seu artigo 14: O fornecedor de serviço responde, independentemente da existência de culpa, para a reparação de dos danos causados ao consumidores por defeitos relativos a prestação de serviço, bem como por informação insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição ou riscos. & 4º A responsabilidade dos profissionais liberais será apurada verificação de culpa. Segundo Venosa (2008), a responsabilidade do dentista se situa igual aos dos médicos onde para o autor a responsabilidade do dentista traduz uma obrigação de resultado principalmente nos tratamentos de rotina como obturações e profilaxias. Para o mesmo, o dentista assegura um resultado ao paciente e se este resultado não for atingido o mesmo responderá objetivamente pelo dano causado, porém nem sempre a obrigação será de resultado nos casos de emergências que não tem a existência de um negocio jurídico prévio. Para o mesmo existe algumas atividades odontológicas que merecem exame casuístico cabendo também à jurisprudência definir da atuação culposa do dentista. O autor ainda coloca a questão dos auxiliares de dentista que em caso de responsabilidade deveria responder solidariamente com o profissional principal. Venosa, (2008) em seu livro relatou sentenças judicias como:

14 13 Processual civil- Ação de indenização por ato ilícito- Responsabilidade civil do cirurgião dentista- Obrigação de meio- Culpa- Falta de Prova- Inexistência de vínculo causal entre o resultado e a conduta do agente- Prova Pericial frágil- Recurso desprovido- Indenização- Dano moral e material- Dentista- Responsabilidade civil- O contrato de prestação de serviços odontológicos assemelha-se quando a sua natureza aos serviços médicos constituindo uma obrigação de meio e não de resultado- Logo, comprovado que as sequelas suportadas pelo paciente após o tratamento a que se submeteu não foram decorrentes de imperícia, negligencia e imprudência do profissional, afastado está o dever de indenizar eis que ausentes um dos elementos que integram a estrutura da responsabilidade civil (TAPR- Ap Cível , 4 º Câmara Cível Rel Jurandyr Souza Júnior). Gagliano (2008), doutrinador do direito coloca que a responsabilidade dos profissionais da odontologia esta no mesmo nível da atividade médica, já que o Código Civil coloca no mesmo patamar os médicos, os cirurgiões dentistas e os farmacêuticos, para o autor a odontologia deve ser considerada como de resultado se apenas tiver fins estéticos e determinadas intervenções como, por exemplo, patologias deve se enquadrar na categoria de obrigação de meio. Diniz (2010), também divide a obrigação assumida pelo dentista a depender de cada caso aquelas cirurgias de gengiva, canal deve ser considerado de meio e as que envolvem problemas estéticos de resultado. Araujo, (1991) chega a especificar as especialidades que podem ser tratadas como de meio ou de resultado, por exemplo: dentística, odontologia legal, odontologia preventiva e social, radiologia, prótese e a ortodontia como de resultado já as outras especialidades que vai depender do caso como a traumatologia bucomaxilo-facial, odontopediatria e patologia. Filho, (2006) aponta como obrigação de resultado: obturação, tratamento de canal extração de dentes, tratamento estético e ortodontia, mas o autor relata que vai existir situações limítrofes entre a preocupação de estética e cura que terá que se analisar o caso concreto.

15 14 Oliveira et,.al (2011) é bacharel em direito e também ortodontista e em seu estudo chega a concluir que apesar de uma maioria de autores vejam de forma diferente, as evidências científicas da Odontologia mostra que obrigação jurídica do ortodontista é de meio e sua responsabilidade subjetiva, ou seja necessita da presença da culpa para que seja caracterizada a responsabilidade civil do profissional, e o ônus da prova vai recai sobre o autor da ação, ou seja o autor deverá provar se o ortodontista agiu com imprudência, negligência ou imperícia. 3.5 Ocorrendo à lide quais esferas em que o paciente pode entrar com a ação judicial. Como já relatado a relação entre profissional e paciente antes do surgimento do CDC baseava-se na confiança e no respeito mutuo e após o mesmo esta relação mudou consideravelmente, em se tratando de atendimento odontológico como serviço prestado e o paciente como consumidor existe uma relação de consumo e ocorrendo a lide o paciente pode entrar em diferentes esferas judiciais. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe uma verdadeira maquina de processos onde existem advogados especializados só na área dos processos em saúde e acredita-se que em pouco tempo cada ortodontista estará envolvido em pelo menos uma ação de responsabilidade profissional. (CRUZ; CRUZ, 2008) O paciente pode acionar o PROCON que é o órgão do poder executivo que cuida para que o CDC seja obedecido e quando o paciente aciona o PROCON existem três formas de acordo: pode ser devolvido o dinheiro, pode fazer o retratamento ou ainda o retratamento do procedimento por outro profissional, não ocorrendo ainda a indenização em dinheiro. E com o princípio do Direito como inversão do ônus da prova o paciente não tem que provar nada, é o profissional que tem que comprovar que não deu causa a o resultado. (CRUZ; CRUZ, 2008) O paciente ainda pode entrar no Juizado Especial Cível onde o rito é sumaríssimo, neste juizado se o valor da causa for ate vinte salários mínimos o paciente não precisa de advogados se for superior a 20 salários mínimos é

16 15 necessário de advogado, porém o valor total da causa não pode ultrapassar 40 salários mínimos. No entanto, a jurisprudência não está aceitando causas complexas que necessita de pericias no juizado especial logo se necessitar de pericia o autor deve entrar na justiça comum. Se for mais que quarenta salários mínimos o paciente pode entrar na Justiça Cível, Justiça comum, (Vara Cíveis) e as estatísticas indicam que existe um aumento do número de processos de negligência em Ortodontia na Justiça comum. (CRUZ; CRUZ, 2008) 3.6 Como o profissional pode se prevenir de futuros processos. A documentação deve ser armazenada no mínimo cinco anos para o CDC equivalente a prescrição Art. 27 Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação de dano, contados a partir da data do conhecimento do dano e de sua autoria. Já de acordo com o Código Civil o tempo máximo para armazenamento seria o da prescrição que é de 10 anos. Art. 205 A prescrição ocorre em 10 anos caso a lei não fixe prazo menor. (BRASIL, 2002). O desenvolvimento da terapêutica ortodôntica e a finalização do tratamento realizado gera uma expectativa ao paciente, portanto, um questionário respondido pelo paciente e a qualidade do dialogo o registro da queixa principal no prontuário odontológico antes do inicio do tratamento juntamente com esclarecimento dos riscos e limitações da terapêutica é uma fase importante e imprescindível para prevenir os litígios evitando os conflitos entre paciente e profissional. (BARBOSA et al.,2007) Sabe-se que a documentação odontológica é do paciente e ao final do tratamento o profissional pode devolvê-la ou pode ficar com ela no seu consultório caso entre em acordo e o profissional fique com a documentação o paciente deve fazer uma carta de doação da documentação. Caso o paciente opte em levar a documentação o mesmo deve assinar um recibo de inventário da documentação e passa a ser depositário da mesma com advertência que deve preserva-la e apresenta-la quando necessária seja nas contenções ortodônticas seja nas judiciais. O profissional pode fazer copia do mesmo. Sabe-se que a documentação é difícil de ser armazenada ocupando volume então se fala da documentação digitalizada, porém alguma pessoa vem

17 16 contestando sua validade jurídica já que as imagens digitais são passiveis de alterações, no entanto com a certificação digital hoje acessível a todos a justiça brasileira passa a aceitar as documentações virtuais. (CRUZ; CRUZ, 2008) Em relação à interrupção do tratamento a relação entre profissional e paciente é de natureza contratual havendo responsabilidades entre ambos. Uma vez iniciado o tratamento é necessário o profissional levar o caso ate ao final, ou em qualquer tempo, desde que ambos concordem em acabar o tratamento. Caso seja inevitável uma dispensa o paciente deve ter a indicação de outro profissional que der continuidade ao caso e ter o fato registrado no histórico clínico e receber assistência ate que novo tratamento seja providenciado receber toda a documentação clinica e assinar o recibo. E em caso de abandono por paciente o profissional deve mandar ate três telegramas com intervalos de 15 a 30 dias com solicitação de copia ou correspondência registrada com A,R. (CRUZ; CRUZ, 2008) Para se prevenir de eventuais processos é necessária também por parte do profissional uma preocupação com os prontuários odontológicos sendo ele completo e tendo todos os documentos do paciente. O Código do Processo Civil Brasileiro dispõe no capt. VI Das Provas, que o prontuário é um documento de força probante de defesa. O prontuário é um documento de caráter pericial e judicial composto de anamnese, consentimento livre e esclarecido, contrato de prestação de serviço profissional odontológico, evolução clínica do tratamento, bem como copias de receitas atestados e encaminhamentos. (PARANHOS et al., 2009)

18 17 3-DISCUSSÃO É de grande relevância realizar uma discussão no que tange a obrigação dos profissionais da área da ortodontia se é de meio ou resultado principalmente para as tomadas das decisões judiciais. Como visto anteriormente os autores dentistas (Rodrigues et al, 2006; Lopes et al, 2008; Silva et al, 2009 e Oliveira et,.al, 2011), consideram as obrigações como de meio. Já os doutrinadores (Venosa, 2008; Gagliano, 2008; Diniz, 2010; Filho 2006 e Araujo, 1991), como obrigação de resultado. Lopes (2008), por exemplo, considera que a questão biológica e a colaboração do paciente podem interferir no curso do tratamento cabendo ao profissional se esforçar e tentar oferecer ao paciente o melhor resultado, mas não dando nenhuma precisão por isso deve considerar a obrigação como de meio. Já outros autores acreditam que o profissional ao oferecer o paciente o tratamento já esta garantindo um resultado final caracterizando como obrigação de resultado. Venosa (2008) entende que a depende da especialidade do cirurgião dentista e também em cada caso em concreto é que se pode tomar qualquer decisão quanto à obrigação do profissional. Uma pesquisa realizada por Barbosa et al., (2013) analisou as decisões judiciais de primeira instância e constatou que a região sudeste é onde concentra maiores processos com 45% dos processos do Brasil, principalmente em São Paulo. Em relação à obrigação 85% das decisões judiciais as caracterizaram de meio e as mulheres foram mais apelantes com 835 casos e os apelados foram pessoas jurídicas com 41%. Esta pesquisa corrobora com a pesquisa de Soares et al., (2007), que ao realizar um questionário com os ortodontistas Brasileiros inscritos no CFO concluiu-se que 20,97% reconhece a importância do CDC e considera a atividade ortodôntica como de meio e orientam seus pacientes de forma oral e escrita. E estes dois estudos ainda reafirma o que Lopes et al., (2008) diz, que apesar de não existir uma lei especifica e nem um entendimento entre os juristas a ortodontia deve ser considerada como uma obrigação de meio e não como de resultado. Melani et al., (2006), em uma pesquisa com 10 profissionais na área da ortodontia e 100 pacientes observou que a estética é a principal causa que leva os pacientes a procurarem o tratamento ortodôntico e que 40 % destes

19 18 profissionais asseguram ao paciente o sucesso do tratamento. Essa afirmação de assegurar sucesso para o paciente é bastante preocupante, pois como diz (JONG apud BARBOSA et al.,2007) deve-se desde o inicio do tratamento ressaltar ao paciente os riscos e as limitações da terapêutica não criando expectativa nos mesmo além de anotar a queixa principal do paciente. Esta fase é importante é imprescindível para prevenir os litígios evitando os conflitos entre paciente e profissional. Melani et al., (2006), também mostrou em sua pesquisa que 90% dos entrevistados não possuem em seu prontuário a ficha de procedimentos executados com as intercorrências anotadas e nem as assinaturas dos pacientes pressupondo seu consentimento, e concluiu-se que os profissionais se preocupam com a parte financeira e não fazem uma execução correta dos prontuários e não se preocupam em fornecer informações clara e escrita aos pacientes. Essa postura dos profissionais ortodontistas é preocupante, pois como mostra Paranhos et al., (2009), para se prevenir dos processos é necessário que o profissional se preocupe com os prontuários odontológicos sendo ele completo e tendo todos os documentos do paciente, já que serve como prova e defesa para o profissional. Uma pesquisa realizada em Maringá/PR por Paranhos et al., (2011), analisou 525 profissionais ortodontistas através de um questionário com 17 perguntas e pode constatar que 75% dos profissionais utilizam algum tipo de contrato no consultório odontológico e 58,9 % arquiva a documentação por toda a vida e a maioria tem um bom conhecimento no Código de Ética odontológico. Avaliando sua pesquisa pode-se observar que os dentistas de Maringá estão de acordo com o que diz o CDC onde se deve armazenar a documentação por no mínimo cinco anos e com o Código Civil o tempo máximo para armazenamento seria o da prescrição que é de 10 anos. (BRASIL, 2002). De acordo também com a pesquisa de Barroso et; al, 2008 que ao realizar um questionário com os inscritos no CRO de RJ 49,8 % guardam as documentações por mais de 20 ano. Ou seja, pode-se observar nas pesquisas a preocupação em guardar por um período de tempo as documentações dos pacientes. Um acordão do STJ/MS 4º turma, julgou a responsabilidade de um ortodontista, e os ministros entenderam que o ortodontista tem a obrigação de

20 19 alcançar o resultado estético e funcional acordado com o paciente. Não cumprindo, ele deve comprovar que não agiu com culpa, e que o insucesso se deu por culpa exclusiva do paciente. A paciente começou o tratamento para corrigir o desalinhamento da arcada dentária, e uma mordida cruzada, e segundo ela o profissional não cumpriu o combinado recorrendo ao Poder Judiciário para receber equivalente de valor pago mais indenização. O juiz de primeiro grau e o Tribunal de Justiça entendeu que o ortodontista faltou com o dever de cuidado e de emprego da técnica adequada. Ao recorrer no STJ, o dentista alegou que não poderia ser responsabilizado pela falta de cuidados da paciente, que, segundo ele, não seguiu suas prescrições e procurou outro profissional. A 4ª turma, em decisão unânime, negou provimento ao recurso do ortodontista. Nos procedimentos odontológicos, mormente os ortodônticos, os profissionais da saúde especializados nessa ciência, em regra, comprometem-se pelo resultado, visto que os objetivos relativos aos tratamentos, de cunho estético e funcional, podem ser atingidos com previsibilidade, afirmou o relator, ministro Luís Felipe Salomão. (BRASIL, 2011). Essa decisão pelo supremo corrobora com a pesquisa feira onde a maioria dos juristas apesar de analisar o caso concreto coloca o ortodontista como obrigação de resultado.

21 20 4- CONCLUSÃO Pode-se concluir do trabalho apresentado que ainda não existe uma lei nem um consenso pelos doutrinadores, juristas e jurisprudência a respeito da responsabilidade do ortodontista se de meio ou resultado. Os doutrinadores tendem a julgar a obrigação dos cirurgiões-dentistas a depender da especialidade, no caso da ortodontia por se tratar de estética os doutrinadores a colocam como uma obrigação de resultado. Os juízes julgam alguns casos como de meio e outros como de resultado a depender de cada caso concreto. A maioria dos artigos onde os autores são cirurgiões- dentistas eles defendem a ortodontia como de meio justificando a questão biológica do paciente. Sabe-se que o acesso hoje ao CDC e a justiça é cada vez maior, portanto, cabe ao profissional tomar os cuidados devidos tendo uma relação positiva com seu paciente, explicando claramente seu tratamento não criar expectativas e ressaltar os riscos. Deve anotar tudo e organizar o prontuário odontológico estando o mesmo o mais completo possível, pois serve de provas. E guardar com cuidado a documentação do paciente, pois além de servir nas ações judicias é do paciente.

22 21 REFERÊNCIAS 1- ARAÚJO, A.L.M. Responsabilidade civil dos cirurgiões dentistas. Responsabilidade civil médica, Odontológica e Hospitalar. São Paulo. Editora Saraiva, BARBOSA, A.C.F; BARBOSA, M.J.L; MARCHIORI, G.E; MENDES, T.E; PARANHOS, L.R. Decisões dos tribunais quanto à obrigação dos profissionais da ortodontia: uma revisão de 10 anos. Biosci.J, Uberlândia, v.29, n.5, p , BARROSO, M.G; VEDOVELHO FILHO, M; VEDOVELHO, S.A.S; VALDRIGHI H.C; KURAMAE. M; VAZ, V. Responsabilidade Civil do ortodontista após a terapia ortodôntica. RGO, Porto Alegre, v56, n.1, p.67-73, jan/mar BRASIL. Novo Código Civil Brasileiro. Lei de 10 de Janeiro de BRASIL. Lei. n Dispõe sobre a proteção do consumidor e das outras providencias Brasil lei. N Fixa as obrigações dos estabelecimentos comerciais e/ ou de prestação de serviço, de disponibilizarem ao público de modo geral. Exemplar da lei 8.078, O Código de Defesa do Consumidor, BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Decisão nº ANA MARIA MARSAL ALVES. PAULO DORSA. Relator: KUIZ FELIPE SALOMÃO. Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, 21 de fevereiro de CRUZ, R.M; CRUZ, C.P.A.C. Gerenciamento de risco na pratica ortodôntica-como se proteger de eventuais problemas legais. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v.13,n.1,p , DINIZ, M.H. Curso de Direito Civil Brasileiro 7. Responsabilidade civil. 24º edição, Rio de Janeiro, Capitulo III p. 329 Ed. Saraiva, FILHO, S.C. Programa de Responsabilidade Civil. 6º edição: Malheiros, FRANCA, B.H.S; RIBAS.M.O, LIMA A.A.S. Orientações legais aos ortodontistas. Revista Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, 2002.

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