Porto Alegre, 20 de abril de Orientação Técnica IGAM nº /2018.
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1 Porto Alegre, 20 de abril de Orientação Técnica IGAM nº /2018. I. O Poder Legislativo do Município de Capão do Leão, RS, por meio do Sr. Emerson, solicita orientação acerca do Projeto de Lei nº 8, de 2018, de iniciativa do Poder Executivo, que tem por ementa: Revoga a Lei 1349/2010 e Institui o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, estabelece a Política Municipal da Pessoa com Deficiência e dá outras providências.. II. Preliminarmente, a matéria objeto do Projeto de Lei nº 8, de 2018, encontra-se inserida nas competências legislativas conferidas aos Municípios, conforme dispõem a Constituição Federal 1 quanto à competência deste ente federativo para legislar sobre assuntos de interesse local. Da mesma forma, considerando que a proposição versa sobre a política municipal da pessoa com deficiência e organização e funcionamento de um Conselho Municipal, órgão que tem funções deliberativas e de assessoramento ao Poder Executivo, depreende-se legítima a iniciativa do Executivo, também nos termos 1º do art. 61 da Constituição Federal. III. Observe-se que a terminologia utilizada para definir os destinatários da proposição já passou por alteração no espaço temporal em que ela foi apresentada e diante da presente análise, ou seja, a expressão adotada na atualidade é pessoas com deficiência, o que se evidencia adequado no texto projetado. A Lei Federal nº , de 6 de julho de 2015, que institui a Lei Brasileira da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) estabelece definição para deficiência: Art. 2 o Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. 1 o A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: (Vigência) 1 Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...) II - cuidar da saúde e assistência pública, e da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; (grifou-se) (...) Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; 1
2 I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III - a limitação no desempenho de atividades; e IV - a restrição de participação. 2 o O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência. Pedro Lenza 2 assim interpreta o dispositivo constitucional acima: Deve-se, contudo, buscar não somente essa aparente igualdade formal (consagrada no liberalismo clássico), mas, principalmente, a igualdade material, na medida em que a lei deverá tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades. Tal exegese decorre do fato de que nem todas as pessoas são colocadas em igualdade de condições ante as mais distintas situações; assim, em atenção à peculiar condição de pessoas com deficiência, impossível não se concluir que a capacidade para exercer direitos básicos e o acesso à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância, dentre outros, não é a mesma que os demais indivíduos da sociedade. Ainda existem legislações outras que dispõem, de maneira ampla, sobre os direitos das pessoas citadas na em análise. Por exemplo, a Lei Federal nº , de 8 de novembro de 2000, dá prioridade às pessoas que especifica, estabelecendo no seu art. 1º: Art. 1 o As pessoas com deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes, as pessoas com crianças de colo e os obesos terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei. (Redação dada pela Lei nº , de 2015) (Vigência) Já a Lei Federal nº , de 19 de dezembro de 2000, estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, trazendo o seguinte conceito. Deste modo, a Câmara Municipal ao fazer a análise da instituição de uma política, deve atentar às demais leis do ordenamento jurídico, verificando sua compatibilidade. IV. Quanto ao conselho municipal, ao estabelecer que fica criado o conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, de sigla COMPED. Nesse contexto, os conselhos municipais exercem o chamado controle social, como expressão do princípio da participação política, instâncias 2 Direito Constitucional Esquematizado. 13 a ed., São Paulo, Saraiva, 2009, p
3 sem personalidade jurídica própria, porém, compostos por agentes de vários setores da sociedade, para assessoramento ao Executivo e deliberação e fiscalização das políticas públicas e que atuam mediante apoio técnico e financeiro do órgão a que se vinculam. Com relação à composição do conselho, como diretriz geral deve-se observar o princípio da paridade, isto é, que ao mesmo número de representantes do Poder Executivo deve corresponder o de representantes da sociedade civil, o que somente é possível quando o número total de membros é par. O número proposto é de oito, sendo quatro do poder público e quatro da comunidade. Observe-se que do poder público deve ser por meio das Secretarias Municipais, conforme posto. Quanto à cedência de servidor público, deve-se atentar para o instituto da cedência no Estatuto do Servidor Público, uma vez que o conselho é considerado um órgão do Poder Executivo. Tal referência não se faz necessária neste Projeto de Lei. V. A criação do fundo municipal deve observar as determinações impostas pela Lei n o 4.320, de 1964, que dispõe sobre o orçamento público, e que em seus artigos 71 a 74 versa sobre a matéria. Título VII DOS FUNDOS ESPECIAIS Art. 71. Constitui fundo especial o produto de receitas especificadas que, por leis, se vinculam à realização de determinados objetivos ou serviços, facultada a adoção de normas peculiares de aplicação. Art. 72. A aplicação das receitas orçamentárias vinculadas a fundo especiais far-se-á através de dotação consignada na Lei de Orçamento ou em créditos adicionais. Art. 73. Salvo determinação em contrário da lei que o instituiu, o saldo positivo do fundo especial apurado em balanço será transferido para o exercício seguinte, a crédito do mesmo fundo. Art. 74. A lei que instituir fundo especial poderá determinar normas peculiares de controle; prestação e tomada de contas, sem, de qualquer modo, elidir a competência específica do Tribunal de Contas ou órgão equivalente. Em realidade, o fundo especial caracteriza-se pelas restrições determinadas através de lei específica sobre determinadas receitas, criando o vínculo. 3
4 Para Teixeira Machado e Heraldo da Costa Reis 3 : O fundo especial deve ser constituído de receitas específicas e especificadas, instruídas em lei, ou outra receita qualquer, própria ou transferida, observando-se quanto a estas normas de aplicação estabelecidas pela entidade beneficente. Estes autores, ainda, trazem quais são as características necessárias para que os fundos financeiros especiais possam prosperar. Além das receitas específicas, encontram-se: vinculação à realização de determinados objetivos ou serviços; normas peculiares de aplicação; vinculação a determinado órgão da Administração; descentralização interna do processo decisório e plano de aplicação, contabilidade e prestação de contas específica. Nesse sentido, verifica-se que o Projeto de Lei em análise não cumpre com essas premissas, devendo ser revisto os seguintes pontos: deverá apresentar de forma clara quais são as receitas específicas que serão destinadas ao Fundo; apresentar de forma clara e transparente os objetivos do fundo e quais são as despesas poderão ser realizadas com seus recursos; alterar a vinculação do fundo, devendo ser estar vinculado a determinado órgão da Administração e não vinculado ao Conselho, conforme consta no art. 13; descriminar como funcionará a contabilidade e as formas de prestação de contas do fundo; e a quem caberá a gestão do fundo. Importante ressaltar ainda que após a criação do Fundo será necessária, por imposição da Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil n o 1.634, de 6 de maio de 2016, a sua inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Art. 4 o São também obrigados a se inscrever no CNPJ: (...) X - fundos públicos a que se refere o art. 71 da Lei n o 4.320, de 17 de março de 1964; Cabe ressaltar mesmo tendo um CNPJ o Fundo Especial não possuirá natureza jurídica, serão meramente contábeis, conforme determinou a Receita Federal do Brasil, através da Nota Técnica n o 114, de Determinação que foi além quando expressou que os Fundos estariam dispensados da entrega de 3 MACHADO JR., J. Teixeira. REIS, Heraldo da Costa. A Lei 4320 Comentada E a Lei de Responsabilidade Fiscal. Rio de Janeiro: IBAM, 2002 e P
5 suas obrigações acessórias, com exceção da entrega de uma SEFIP com código 115, indicativo de ausência de fato gerador (sem movimento), e uma RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) Negativa. Alerta-se que a criação do Fundo Municipal deverá estar prevista no Plano Plurianual (PPA a 2021), na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2018, ou seja para que as suas ações governamentais sejam realizadas, estas deverão estar planejadas e contempladas nestas peças orçamentárias. VI. Diante do exposto, conclui-se que a viabilidade Projeto de Lei nº 8, de 2018, depende das observações postas nesta Orientação Técnica, uma vez que foi atendida a competência material acerca do assunto, a iniciativa legislativa e espécie legislativa. Do ponto de vista contábil, o Projeto de Lei n o 008, de 2018 somente terá viabilidade técnica de ser aprovado, se forem apresentados de forma clara e transparente todos os dados necessários para a respectiva criação do Fundo Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, conforme determina a Lei n o 4.320, de 1964, citados pelo item III desta Orientação. O IGAM permanece à disposição. Adriana de Lourdes Barbosa Fantinel Richato Contadora, CRC/RS /O-7 Consultora do IGAM Rita de Cássia Oliveira Vanessa L. Pedrozo Demetrio OAB/RS OAB/RS Consultora do IGAM Supervisora Jurídica do IGAM 5
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