Crônicas de Noritvy Livro I

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3 Crônicas de Noritvy Livro I

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7 Lucas Giacobbo Crônicas de Noritvy Livro I 1ª Edição POD KBR Petrópolis 2014

8 Edição de texto Noga Sklar Editoração KBR Capa KBR sobre foto de James Gordon, Wikimedia Commons - Krak des Chevaliers, Síria Copyright 2014 Lucas Giacobbo Todos os direitos reservados ao autor. ISBN KBR Editora Digital Ltda. atendimento@kbrdigital.com.br JUV Magia e Fantasia

9 Lucas Giacobbo nasceu em 1981 no Rio de Janeiro, onde ainda vive. É formado em Medicina pela Fundação Técnico Educacional Souza Marques e se especializou em pediatria no Hospital Municipal Miguel Couto. É apaixonado por mitologia europeia e contos de cavalaria. Pela KBR, publicou também O retorno do Cavaleiro Branco, primeiro publicado da Saga de Noritvy, e Dragões. do autor: lucas@noritvy.com Blog do autor:

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11 Sumário Nota do autor 11 Cena Final 13 História da Lê - Parte 1 19 Aerian 25 Rubi 45 Retratos de Família 57 Os Cavaleiros da Rosa 69 Dez anos depois 79 A Primeira Missão 87 Uma Aventura no Norte 93 Piratas do Deserto 111 A história da Lê - Parte A Era dos Deuses 137 Nasce um herói 145

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13 Nota do autor A mente de um escritor é um ninho fervilhante de ideias, ou a minha, ao menos, é. Depois de concluir O Retorno do Cavaleiro Branco até mesmo enquanto o escrevia, e, mais à frente, quando já trabalhava em Dragões comecei a ter ideias para continuações, não necessariamente protagonizadas apenas por Lukhz e Ardriel, mas também por seus filhos, irmãos, sobrinhos e amigos. Algumas eu descartei, mas outras pus no papel e são algumas destas que trago aqui nesses três volumes de Crônicas de Noritvy. No Volume I, são histórias curtas, organizadas na ordem cronológica na qual ocorrem e não na ordem em que foram escritas, sendo que somente uma delas, a primeira delas, se passa antes dos acontecimentos de O Retorno, na verdade, bem antes, quando o pai do Lukhz ainda era o Cavaleiro Branco. Todos os outros textos se passam depois. Já o Volume II e o III trarão histórias um pouco maiores, e incluirão além disso duas ilustrações originais do meu amigo e colaborador de longa data Nikolas Guilbor sim, longa data, pois faz mais de seis anos que comecei a rascunhar O Retorno e ele me ajuda desde então. As ilustrações ficaram idênticas ao que eu ima- 13

14 Lucas Giacobbo ginava? Não! Mas, para mim, esta é a graça: se você pedir a cinquenta ilustradores para desenharem o mesmo personagem de um livro, terá cinquenta desenhos diferentes com elementos em comum, mas, ao mesmo tempo, diferentes. E, como escritor, gosto de ver como as pessoas imaginam aquilo que descrevo. É óbvio que adorei os desenhos, senão não estariam no livro, não é mesmo? Ah, devo também agradecer ao meu amigo Eduardo Pinho, que ajudou a arte-finalizar as imagens. Por fim, para não você não ficar perdido, caro leitor, coloquei embaixo de cada título o ano de Noritvy em que se passa a história; ao final do Volume III haverá uma linha do tempo completa, onde explicarei direitinho o marco zero do calendário noritviano, aguarde, mas agora deixa eu parar de enrolar... e boa leitura! 14

15 Cena Final (4505 AD/ EPL) Nas ruínas do que outrora fora o castelo real de Sudher, se escutava sons de batalhas. A nova Coalizão dos Povos Livres estava finalmente derrotando a armada maldita, formada por orcs e feiticeiros negros. Na antiga sala do trono, já sem teto e com o antigo trono destruído, o autoproclamado Rei Negro, senhor de Sudher, jazia de joelhos, derrotado. À sua frente, em pé, se encontrava Giuseppe Bianchi, o segundo Cavaleiro Branco. Apesar de derrotado, humilhado e ciente da derrota dos seus exércitos, o maléfico elfo ainda tinha forças para zombar do herói. E então? provocou. Abriste mão da sua armadura original, do teu voto de não matar, só por causa deste momento, mas, de que adiantou? Aí estás, usando esta armadura cinza-chumbo vagabunda em vez da brilhante armadura do meu avô, me encarando, incapaz de me matar. Tu és um covarde, eu sempre soube que era. Teve coragem para assumir o título, diferente dos meus parentes daqui, primo, mas, como costumam dizer os humanos, na hora H não és homem o suficiente para fazeres o que deves. E sabe que este será o teu maior erro! 15

16 Lucas Giacobbo Eu sou o Rei Negro, senhor de toda a magia negra deste Continente, o ser que conseguiu unir orcs, necromantes e demônios menores sob uma só bandeira. Não existe prisão capaz de me deter. Os meus servos me tirarão de lá. E mesmo que eu fosse morto, mesmo que tivesses coragem de fazê-lo, eu viraria um mártir, uma imagem a ser venerada por meus servos. O meu legado será eterno! Tua patética coalizão conseguiu tomar a capital, mas, e daí? Nunca conseguirá retomar todo o reino. Aqui será para sempre um reino de trevas. Não vais responder? Ou reconheces que estou certo, covarde? Não respondo porque não tenho o que responder retrucou o cavaleiro. Seu grande pecado, Rei Negro, foi sempre se achar mais esperto do que os outros. Eu não me acho, eu sou! Será mesmo? Você realmente acha que não sei dos preparativos que fez? Realmente acha que não sei que se submeteu ao feitiço da existência extracorpórea? E no momento em que você morrer, seu espírito se tornará livre para habitar qualquer corpo morto que quiser, como já faz o seu servo, Sad Gorth, o que o transformaria num inimigo imortal? Posso ser covarde, como você diz, mas não sou burro. Se depender de mim, você viverá ainda muito milênios neste seu corpo, preso no mais profundo, úmido e remoto calabouço que a aliança puder providenciar! Mesmo que a coalizão consiga me prender, rapaz, uma hora eu vou morrer, e, quando isso acontecer, me tornarei imortal, serei quase um deus! Aí sentireis toda a minha fúria! gargalhou o vilão. Será mesmo, sobrinho? disse uma voz que vinha da penumbra provocada por parte do teto que desabara. 16

17 Crônicas de Noritvy Tanto o vilão quando Giuseppe olharam na direção da voz e viram, saindo das sombras, um elfo de cabelos castanhos presos num rabo de cavalo, trajando vestes cinzentas, rasgadas e sujas de sangue em alguns pontos. Trazia um grande embrulho na mão. Como disse o Giuseppe, teu grande erro, meu sobrinho, foi sempre se achar superior aos outros, achar que unindo o Continente sob o teu punho, através da magia negra, farias dele um lugar melhor. Foi achar que eras o salvador predestinado desta terra, e, bem, tu não és. E, sim, eu escutei todo o teu plano todo e ele tem uma pequena falha. Reconheces isso? Em seguida, o elfo recém-chegado abriu o embrulho e dele tirou uma grande espada, de lâmina cinza- -chumbo e cabo esculpido em âmbar negro, os dois com detalhes dourados e um grande rubi incrustado na base do cabo. A cei... ceifadora de almas... gaguejou o Rei Negro. Sim, a arma maldita que forjaste para manter Sad Gorth sob controle, a única arma neste mundo capaz de matar um adversário e no processo destruir também sua essência vital, um ato abominável, do ponto de vista de qualquer ser vivo racional, algo que nem mesmo os magos negros haviam conjurado antes, temendo o desequilíbrio na magia que poderia criar, uma vez que toda magia, negra ou branca, se encontra ligada à essência vital dos seres que aqui habitam. Mas tu ousaste. Pois bem, sobrinho, pelo bem deste mundo, sabe que hoje ela ceifará tua última alma. Você não pode estar cogitando usá-la, não é, Genarion? interveio Giuseppe. Ele é seu sobrinho, pelo amor de Deus. 17

18 Lucas Giacobbo Acredita, desde que descobrimos esse ritual, não consigo dormir, pensando no que fazer. E não cheguei a outra solução. Meu sobrinho está morto, Giuseppe. Só restou este elfo proscrito, que abriu mão de tudo e de todos em busca de poder. E não me fale em Deus. Se houvesse um deus bondoso como acreditas, ele não teria permitido que isso acontecesse, que este verme tramasse a morte dos próprios pais. Se houver esse tal Deus, ou mesmo deuses, como os antigos povos de Noritvy acreditavam, no dia em que eu morrer me submeterei ao seu julgamento divino e aceitarei sem reclamar o destino que me for dado. Até lá, terei somente a minha consciência como juiz, júri e carrasco. Sem dizer mais uma só palavra, o elfo se aproximou do sobrinho, ergueu a espada no alto e, com um golpe rápido, decepou sua cabeça. Devido à magia da espada o corpo do Rei Negro virou poeira; a lâmina brilhou, emitindo uma sinistra luz arroxeada. Evitando olhar nos olhos de Giuseppe, Genarion perguntou: Tuas espadas cortam tudo aquilo que desejares, não é mesmo? Sim, você sabe disse melhor do que eu retrucou o cavaleiro. Genarion caminhou até uma pilha de pedras que havia no canto do salão e as arrumou de maneira que formassem duas pilhas. Equilibrou a Ceifadora em cima, prendeu-a com duas outras pedras que a comprimiam contra as pedras do topo da pilha, virou-se para o cavaleiro e disse: Faz um bem a este mundo, destrói esta espada maldita de uma vez por todas. O Cavaleiro Branco nada disse. Sacou a espada que jazia presa na sua cintura, ergueu-a com as duas 18

19 Crônicas de Noritvy mãos e acertou um golpe violento no meio da lâmina da espada maldita. No momento que a espada de Giuseppe acertou o seu alvo, houve uma grande explosão, que o arremessou para longe. Não se sabe se foi o choque entre a magia branca na espada do cavaleiro e a magia negra na lâmina amaldiçoada, ou se foi consequência da liberação de tal magia negra, mas o que importa é que da Ceifadora nada sobrou, restando somente as pedras que a suportavam, chamuscadas, enquanto a espada do herói não sofreu nenhum dano. Genarion foi até o local onde o herói caíra e, depois de constatar que ele estava bem, partiu sem olhar para trás, carregando consigo o peso da morte do próprio sobrinho, um peso que carregaria até o fim de sua longa vida, por mais que tivesse certeza de que o que fora em prol do bem dos povos de Noritvy. 19