PORTUGUÊS PARA INGLÊS VER : PRIMÓRDIOS DO ENSINO/APRENDIZAGEM DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA

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1 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM LETRAS PORTUGUÊS PARA INGLÊS VER : PRIMÓRDIOS DO ENSINO/APRENDIZAGEM DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA AMANDA CARVALHO SILVA SÃO CRISTOVÃO 2012

2 2 AMANDA CARVALHO SILVA PORTUGUÊS PARA INGLÊS VER : PRIMÓRDIOS DO ENSINO/APRENDIZAGEM DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Dissertação apresentada à banca examinadora da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras. Linha de pesquisa: Língua, Cultura, Identidade e Ensino. Orientador: Prof. Dr. Luiz Eduardo Meneses de Oliveira SÃO CRISTÓVÃO 2012

3 3 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE S586p Silva, Amanda Carvalho Português para inglês ver : primórdios do ensino/aprendizagem de português como língua estrangeira / Amanda Carvalho Silva; orientador Luiz Eduardo Meneses de Oliveira. São Cristóvão, f. : il. Dissertação (Mestrado em Letras) Universidade Federal de Sergipe, Língua portuguesa Estudo e ensino. 2. Língua portuguesa Compêndios para estrangeiros - Inglês. 3. Língua portuguesa Gramáticas Dicionários. 4. Reforma do ensino. I. Oliveira, Luiz Eduardo Meneses, orient. I. Título. CDU (81)

4 4 AMANDA CARVALHO SILVA PORTUGUÊS PARA INGLÊS VER : Primórdios do Ensino/Aprendizagem de Português como Língua Estrangeira Dissertação apresentada à banca examinadora da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras. Linha de pesquisa: Língua, Cultura, Identidade e Ensino. Orientador: Prof. Dr. Luiz Eduardo Meneses de Oliveira. Aprovada em: 17/05/2012 1º Examinador/Orientador - Prof. Dr. Luiz Eduardo Meneses de Oliveira Universidade Federal de Sergipe 2º Examinador/Orientador - Prof. Dra. Leda Pires Correa Universidade Federal de Sergipe 3º Examinador/Orientador - Prof. Dr. Sergio Ifa Universidade Federal de Alagoas

5 5 Dedico este trabalho ao meu lindo time de vascaínos: a minha princesinha Gigi e o meu grande parceiro, meu marido Álvaro.

6 6 [ ] una cosa hallo y: saco por conclusión mui cierta: que siempre la lengua fue compañera del imperio; y de tal manera lo siguió, que junta mente començaron, crecieron y florecieron, y después junta fue la caída de entrambos. Antonio de Nebrija (1492)

7 7 RESUMO Este trabalho pretende identificar e descrever as condições históricas que permitiram a origem e o desenvolvimento do ensino/aprendizagem do português como língua estrangeira. Para tanto, analisa duas das de Antonio Vieyra Transtagano ( ): a New Grammar of the Portuguese Language in four Parts (1768) e seu A Dictionary of the Portuguese and English Languages in two Parts (1773), observando suas repercussões no ensino/aprendizagem do português como língua estrangeira. Embora já se tivesse notícia de obras produzidas, como o A Compleat Account (1701) e a Grammatica Lusitano-Anglica ou Portugueza, e Inglesa (1731), com o mesmo intuito quando os trabalhos de Transtagano foram publicados, as deste autor tanto foram longevas quanto serviram de referência para a confecção de gramáticas do português como língua estrangeira por autores não portugueses. O período entre os séculos XVII e XVIII marcou a expansão comercial através do mercantilismo, estimulando a competição entre os países pelo maior número de mercados. Foi também o momento em que os vernáculos atingiram sua consolidação, repercutindo na transformação da ideologia dentro dos manuais de ensino de língua à medida que os objetivos e exigências da sociedade se modificaram. Dessa forma, a língua portuguesa, além de ser vista como um instrumento para os fins catequéticos, adquiriu o estatuto de mediador nos intercâmbios comerciais. Com base nesse contexto, buscamos investigar na gramática e no dicionário supramencionados os elementos linguísticos que pudessem atender às necessidades daquele momento em relação ao ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras. Palavras-Chave: Português como Língua Estrangeira; Gramáticas e Dicionários; Intercâmbio Comercial; Ensino de Línguas; Reformas Pombalinas.

8 8 ABSTRACT The present Dissertation aims at identifying and describing the historical conditions which enabled the origin and development of the teaching/learning of Portuguese as a foreign language. To do so, we analyzed two works of Antonio Vieyra Transtagano ( ): A New Grammar of the Portuguese Language in four Parts (1768) and A Dictionary of the Portuguese and English Languages in two Parts (1773), by looking into their repercussions in the teaching/learning of Portuguese as a foreign language. Though there had been two previous similar publications by different authors, A Compleat Account (1701) and Grammatica Lusitano-Anglica ou Portugueza, e Inglesa (1731), by the time Transtagano s works were published, neither had the longevity and served as reference for the writing of Portuguese grammars and dictionaries as those of Transtagano s. The period between the 17 th and the 18 th centuries marked the commercial expansion by means of mercantilism, which stimulated the competition among European nations for a greater number of profitable markets. That was also the time when the national languages achieved their consolidation, making for the transformation of ideology inside the manuals of language teaching as the objectives and demands of society changed. Thus, the Portuguese language, besides being seen as a tool for proselytizing purposes, it acquired a mediating statute in the trading intercourse. Based on this context, we tried to look into the above mentioned grammar and dictionary the linguistic elements which could meet the needs of that moment as regards the teaching/learning of foreign languages. Keywords: Portuguese as a Foreign Language; Grammar books and Dictionaries; Commercial Intercourse; Language Teaching; Pombal s Reforms.

9 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Folha de rosto da Arte da Grammatica da Língua Portugueza de Antonio José Reis Lobato, oferecida à Sebastião José de Carvalho e Melo...40 Figura 2 Folha de rosto da Ars Grammaticae pro Lingua Lusitana (1672)...49 Figura 3 Folha de rosto do Diccionario Castellano, y Portuguez (1721)...49 Figura 4 Folha de rosto do Compleat Account (1701)...56 Figura 5 Folha de rosto da Grammatica Anglo-Lusitanica e Lusitano-Anglica (1751)...59 Figura 6 A New Portuguese Grammar in four Parts (1768)...80 Figura 7 A Dictionary of the Portuguese and English Languages in two Parts (1773)...91 Figura 8 Regras de Acentuação em Peter Babad (1820)...97 Figura 9 Regras de Acentuação em A. V. Transtagano (1768). p. 2 de Figura 10 Folha de rosto da Portuguese and English Language Grammar, compiled from those of LOBATO, DURHAM, SANE and VIEYRA, and simplified for the use of students (1820)..102 Figura 11 Folha de rosto da Exercises upon the Different Parts of Speech of the Portuguese Language, referring to the rules of Mr. Vieyra s Grammar (1824) Figura 12 Explicação, Referenciação e Prática dos Artigos Definidos (p. 12) Figura 13 Trecho de textos sobre Portugal para tradução (p. 109) Figura 14 Trechos de texto sobre o Brasil para tradução (p. 113) LISTA DE TABELAS TABELA 1 Algumas frases da coleção dos termos do Comércio, Guerra, Navegação, etc...74 TABELA 2 Diálogos da Grammatica Anglo-Lusitanica e Lusitano-Anglica (1751) e da A New Portuguese Grammar in four Parts (1768)...77

10 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 ASCENSÃO E CONSOLIDAÇÃO DO PORTUGUÊS Língua e nação Os vernáculos em ascensão: a construção da consciência nacional Ilustração da língua portuguesa: o papel da Gramática de João de Barros ( ) O Período Pombalino CAPÍTULO 2 PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA: INTERCÂMBIO COMERCIAL O interesse pelo Português: expansão linguística O Contexto Anglo-Português A Compleat Account of the Portugueze Language (1701) Grammatica Lusitano-Anglica ou Portugueza, e Inglesa, a qual serve para instruir aos Portuguezes no idioma Inglez (1731) A Formação do Perfeito Comerciante CAPÍTULO 3 ANTONIO VIEYRA TRANSTAGANO: CONTRIBUTOS PARA O ENSINO DO PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Antonio Vieira Transtagano ( ) A New Portuguese Grammar in four parts (1768) A Dictionary of the Portuguese and English Languages, in two parts; Portuguese and English, and English and Portuguese (1773) Transtagano como Referência no Ensino do Português como Língua Estrangeira...92 CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS...112

11 11 INTRODUÇÃO Esta Dissertação de Mestrado investiga o processo de institucionalização do ensino de português como língua estrangeira através do trabalho desenvolvido pelo professor português Antonio Vieyra Transtagano ( ), relacionando-o com as Reformas Pombalinas da educação. Os resultados aqui expostos são oriundos dos seguintes projetos vinculados ao Grupo de Pesquisa História do Ensino das Línguas no Brasil (GPHELB): 1) A Legislação Pombalina sobre o ensino de línguas: suas implicações na educação brasileira ( ), financiado pela FAPITEC/SE (edital FAPITEC/SE /FUNTEC n.º 07/2008) e 2) A Escola, o Estado e a Nação: para uma História do Ensino das Línguas no Brasil ( ), financiado pelo CNPQ (processo n.º /2008-3). Salientamos que os trabalhos desenvolvidos pelo GPHELB agregam pesquisadores das áreas dos Estudos Linguísticos e Literários e da História da Educação, visando à análise e interpretação das leis pombalinas e suas implicações na composição do sistema educacional português e brasileiro, bem como na produção de compêndios de línguas, a saber, gramáticas e dicionários. As obras selecionadas neste trabalho servirão de fontes para evidenciar as ideias linguísticas ao longo do tempo e sua relação com a produção de compêndios destinados ao ensino de línguas. Observa-se que a ruptura com o ensino eclesiástico, logo no início do século XVIII, foi acompanhada pela presença de intelectuais estrangeirados 1, os quais marcaram o pensamento educacional português com suas contribuições e conhecimento advindos dos intercâmbios desenvolvidos nas diversas Academias europeias. Entre esses estrangeirados, foram destacados por nós o conhecido Marquês de Pombal 2, o qual, creditado pela recuperação de Portugal, recebeu quase que uma carta branca para a execução de seus planos quanto à ascensão do reino português, e o professor português Antonio Vieyra Transtagano, que, mesmo distante de sua terra, acompanhou o debate acerca da necessidade de melhorias no setor socioeconômico e educacional de Portugal. Diante desse contexto, a língua portuguesa se fortaleceu, tornando-se patrimônio nacional. A língua exerceu papel fundamental no contexto português, visto que ela foi usada como instrumento de fortalecimento da consciência nacional, tendo 1 Para esclarecimentos sobre os estrangeirados, consultar a página 32 de nosso trabalho. 2 Sebastião de Carvalho e Melo ( ) foi ministro de D. José I e incumbido da responsabilidade de reconstruir a cidade de Lisboa após o fatídico terramoto ocorrido em 1755, quando se perdeu mais de 10 mil vidas (AZEVEDO, 2004, p. 120).

12 12 acompanhado o império em todas as jornadas d além-mar. Segundo Anderson (2008, p ), os vernáculos ganharão força, tornando-se grandes sistemas de centralização administrativa, a partir da decadência do latim, iniciada no século XVI, contribuindo para o surgimento da consciência nacional. No caso português, o desejo de ascensão dos vernáculos motivou um dos grandes movimentos humanistas do século XVI, através de intelectuais como Fernão de Oliveira ( ) com a sua Grammatica da Lingoagem Portugueza (1536), João de Barros ( ), com sua Grammatica da Lingua Portugueza (1540), e Pero de Magalhães de Gândavo (?-1579), autor de Regras que ensinam a maneira de escrever e a orthografia da lingua portuguesa, com hum Dialogo que a diante se segue em defesam da mesma língua (1574). Esse sentimento de valorização do português esteve presente durante os anos que se seguiram, influenciando a organização metodológica dos compêndios destinados ao saber linguístico. Por esta razão, faz-se necessário, em nosso trabalho, observar de que forma estavam organizados esses compêndios, nomeadamente gramáticas e dicionários, e como se relacionaram com o pensamento de sua época. Com o presente trabalho, pretendemos: a) mostrar como se deu o ensino de português como língua estrangeira com a expansão do Império Português; b) apresentar o cenário econômico português que ensejou a ascensão dos vernáculos e a produção de compêndios vernaculares, bem como a legislação referente à matéria e suas implicações no processo de institucionalização do ensino de língua portuguesa em Portugal e seus domínios; c) identificar e analisar os compêndios de língua portuguesa como língua estrangeira produzidos principalmente no século XVIII e destinados aos ingleses; e d) investigar de que maneira as obras produzidas por Antonio Vieyra Transtagano marcaram a tradição do ensino de português como língua estrangeira. Trataremos no primeiro capítulo, da ascensão das línguas vivas e nesse contexto, da contribuição do movimento de defesa do português, com a obra de João de Barros, bem como das implicações das leis pombalinas relacionadas ao ensino, especialmente o do português, nos Alvarás de 1757, 1759 e 1770, tudo isso repercutindo na produção de compêndios destinados ao conhecimento da língua portuguesa, iniciando o movimento de consolidação da língua como pertença nacional (FÁVERO, 2005, p. 319). Esse processo de consolidação, que ganhará espaço propício com a chegada do Iluminismo português, representado politicamente por Pombal e seus partícipes, reverberou na propagação da língua portuguesa como língua estrangeira.

13 13 As Reformas Pombalinas desembocam numa série de ações com implicações políticas sobre o ensino de línguas, uma vez que o Estado toma para si a responsabilidade de institucionalizar o ensino no reino e em seus domínios, banindo efetivamente a presença dos religiosos da Companhia de Jesus, que até a ascensão de D. José I estiveram à frente das decisões educacionais do reino português. A amplitude do projeto pombalino vai além das questões meramente educacionais, e não se faz pertencente apenas ao período em que o rei D. José I esteve no governo, pois tomou proporções culturais, como afirma Oliveira (2008, p. 8-9), gerando um verdadeiro sentimento de identidade cultural e nacional, ao mesmo tempo em que resgatava e reinventava o passado memorável de Portugal. Em virtude da importância do seu trabalho, é possível observar a continuidade da obra pombalina até mesmo cinquenta anos após a morte de D. José I, havendo Sebastião de Carvalho e Melo já sido destituído de seu cargo de primeiro Ministro no governo de D. Maria I. Conforme nos diz Oliveira (2008, p. 27) sobre a extensão do ideário pombalino, que se fez visível inclusive no Brasil, mesmo com a implantação do próprio Estado: [...] a aplicação e desenvolvimento, na colônia [brasileira] que se transformou em sede do governo português, das diretrizes estabelecidas pelas reformas do gabinete de D. José I, serviu para mostrar que a legislação pombalina sobre o ensino de línguas transcendeu o contexto das reformas da segunda metade do século XVIII e estabeleceu um período de continuidade, do ponto de vista da história do ensino das línguas no Brasil, que comporta os governos de D. José I, D. Maria I e D. João VI, bem como do seu filho e sucessor D. Pedro I, uma vez que a permanência, mesmo depois da Independência, de uma geração de intelectuais que passaram por todo esse processo, tais como Martim Francisco ( ) e Cairu ( ), em instâncias decisórias de âmbito educacional, dentre outros fatores, contribuiu de modo eficaz para a manutenção, propagação e até mesmo apropriação de valores advindos da universidade reformada de Coimbra, talvez a grande obra cultural do Marquês de Pombal. Iniciamos por destacar obras que se destinavam ao ensino de língua portuguesa, dentro e fora de Portugal, e, de certo modo, precursoras do ensino do português como língua estrangeira, como é o caso da Grammatica da Lingoagem Portugueza (1536), de João de Barros. Por essa razão, julgamos ser relevante um breve panorama de alguns compêndios de língua, nos quais a língua portuguesa era efetivamente apresentada como um idioma estrangeiro, como em Ars Grammaticae pro Lingua Lusitana (1762), do padre Bento Pereira ( ) e o Diccionario Castellano y Portuguez (1721) 3, do padre Raphael Bluteau ( ). 3 Na verdade o Diccionario Castellano y Portuguez é um suplemento do Vocabulário Portuguez e Latino (1721), iniciado na página 653.

14 14 Na trajetória da expansão da língua portuguesa, observam-se as diferenças de concepção de língua ao longo dos anos, ou seja, as diferentes ideologias presentes no modo como os compêndios eram produzidos. Enquanto no tempo de João de Barros a língua era um instrumento aliado à catequização dos infiéis, no século seguinte passa a ser mediadora do processo de se chegar ao latim, como o que aconteceu nas obras de Pereira e Bluteau, entre outras. Entretanto, o caráter pragmático da língua sofrerá outra mudança, quando a sociedade europeia transforma suas necessidades, voltando-se para a evolução científica e principalmente econômica. Exploramos, pois, essas diferentes ideias linguísticas no segundo capítulo, com o objetivo de se chegar ao debate acerca das relações entre o reino português e a Inglaterra, para então destacarmos a produção de obras compiladas com o claro propósito de manutenção dessa relação. Referimo-nos precisamente às obras dedicadas ao ensino do português como língua estrangeria, destinadas ao público inglês, escritas em seu idioma, a fim de facilitar o aprendizado da língua estrangeira. Embora Portugal e Inglaterra sejam historicamente conhecidos como parceiros de longa data, os ingleses reclamavam da escassez de manuais didáticos nos quais a língua portuguesa pudesse ser bem aprendida. Eis que se publica, em 1701, um dicionário, intitulado A Compleat Account of the Portugueze Language 4, o qual consistia em anotações particulares do autor acerca da língua, somente vira à luz por insistência de amigos 5. Portanto, não tendo sido uma obra consistente, registrava-se ainda em Londres, em 1731, a demanda por obras para o aprendizado do português, conforme afirma J. Castro 6, em sua Grammatica Anglo-Lusitanica e Lusitano-Anglica (1731). Com o pensamento de que a língua latina era o meio para se chegar a unificação teórica a qual esteve associada a ideia de gramática, principalmente com a concepção de gramática geral advogada pelos franceses Claude Lancelot ( ) e 4 Título completo da obra é A Compleat Account of the Portugueze Language. Being a Copious Dictionary of English with Portugueze, and Portugueze with English. Together with Easie and Unerring Method of its pronunciation, by a distinguishing Accent, and a Compendium of all the necessary Rules of Construction and Orthography digested into Grammatical Form. To which is subjoined by way of Appendix their usual Manner of Correspondence by Writing, being all suitable as well to the Diversion and Curiosity of the Inquisitive Traveller, as to the Indispensable Use and Advantage of the more Industrious Trader and Navigator to most of the known Parts of the World. 5 Assim nos diz o autor em seu Prefácio intitulado To the Reader (A. J., 1701, s.n.). 6 Não sabemos ao certo quem foi J. Castro. Por uma semelhança entre nomes, suspeita-se que o médico judeu Jacob Castro Sarmento possa ter sido o autor da gramática. Entretanto, apesar de todas as suas contribuições e influência enquanto intelectual de sua época, podemos descartar a hipótese de que ele tenha sido o autor da Grammatica Anglo-Lusitanica, uma vez que optava por usar seu sobrenome Sarmento em suas publicações, além de sempre usar o português com bastante acuidade, em contraste com o que observa-se na obra supracitada (CARDIM, 1923, p. 443).

15 15 Antoine Arnauld ( ) 7, as gramáticas acabam por ser traduções umas das outras, uma vez que eram regidas pelo mesmo fundo latino. Conforme Auroux (1992, p. 42), Foi necessário primeiro que a gramática de uma língua já gramaticalizada fosse massivamente empregada para fins de pedagogia linguística, porque esta língua se tornou progressivamente uma segunda língua, para que a gramática se tornasse o que tomará um tempo considerável um técnica geral de aprendizagem, aplicável a toda língua, aí compreendida a língua materna. A gramática geral, também conhecida por filosófica, especulativa, universal ou racional foi concebida como uma introdução a diferentes gramáticas de línguas, motivada pela ideia de que as línguas consistem num conjunto de regras comuns a todas elas (AUOURUX, 1992, p. 86). Dessa forma, muito nos moldes da gramática geral, Castro descreve a língua portuguesa especialmente ao público inglês e português, dividindo sua gramática em duas partes, uma sobre o inglês, e outra sobre o português. A ação de Castro 8 afina-se com o que pretendeu Pombal com a abertura do Real Colégio dos Nobres, em O surgimento do Colégio evidencia a preocupação de Pombal, quando institui o ensino de matérias técnicas, associadas à importância de se aprender idiomas estrangeiros que melhor pudessem intermediar as relações de negócio. Surge então a cadeira de língua inglesa retomando os objetivos de outrora, quando Portugal e Inglaterra se mantinham parceiras, incentivando a produção de compêndios que pudessem auxiliar o aprendizado nas Aulas do Colégio. Embora tenhamos estudado obras como o Compleat Account (1701), de A. J., e a Grammatica Anglo-Lusitanica e Lusitano-Anglica (1731), de J. Castro, voltadas para o público luso-inglês, partimos da hipótese de que Antonio Vieyra Transtagano ( ) tenha sido um intelectual marcante que ajudou a colocar a língua portuguesa num patamar de igualdade com outras línguas. Portanto, dedicamos a Antonio Vieyra Transtagano o terceiro capítulo, no qual analisaremos suas obras, A New Grammar of the Portuguese Language in four parts (1768) e o A Dictionary of the Portuguese and English Languages in two parts (1773), assim como a repercussão que tiveram quando da produção de compêndios posteriores, destinados ao ensino de português como língua estrangeira. Seus livros, analisados nesta pesquisa, foram importantes não só no que 7 Autores de a Grammaire générale et raisonnée (1660). 8 O estudo entre a obra de Castro e sua relação com as Reformas Pombalinas, especialmente quanto ao ensino de língua inglesa, foi iniciado por Elaine Maria Santos, membro do GPHELB. Cf. SANTOS, 2010.

16 16 tange à questão das letras e das artes, mas também ao propósito de alavancagem de Portugal ao nível econômico desejável. Por isso, elaborou suas tecnologias metalinguísticas para subsidiar a relação luso-inglesa, sobretudo no âmbito do comércio, navegação e guerra. No que tange às obras em si, estas tiveram seu valor reconhecido tanto pelos portugueses como também por estudiosos de outras nações, tais como o padre francês Peter Babad ( ), autor de Portuguese and English Grammar (1820), John E. Mordente (? -?), quem escreveu Exercises upon the Different Parts of Speech of the Portuguese Language Referring to the Rules of Mr. Vieyra s Grammar (1806), e Alexandre Marie Sané ( ), autor francês de Nouvelle Grammaire Portugaise (1810), cujas obras foram baseadas nos compêndios de Transtagano. O modelo de gramática era o latino, tendo a partir do século XVIII sido influenciado fortemente pela ideia de Gramática Geral 9. Segundo Auroux (1992, p. 89), ela atinge seu apogeu no século XVIII, quando o pensamento de unificação de regras gramaticais a partir da observação factual das línguas estava em voga, e teve como finalidade prático-teórica tomar o lugar que vimos ocupar a gramática latina ante as línguas do mundo. No tocante às questões lexicais, fizemos uma análise de alguns verbetes, observando a seleção, classificação e explicação dos mesmos, para que pudéssemos evidenciar ou comprovar o objetivo a que se propunham os autores quando da elaboração de suas obras. Dessa forma, na análise dos compêndios apresentados nesta Dissertação, observamos sua organização estrutural-gráfica, seleção de conteúdos e método, bem como o teor ideológico motivador de sua própria impressão. Para tanto, nos fundamentamos nos Prefácios, Posfácios, notas de rodapé, Avisos, Advertências, Dedicatórias, Prólogos, ou quaisquer outras marcas do autor ou editor das obras, às quais Chartier (2009) classifica como protocolos de leitura, essenciais como indícios de investigação interpretativa para qualquer pesquisa textual: [...] os atos de leitura que dão aos textos significações plurais e móveis situam-se no encontro de maneiras de ler, coletivas ou individuais, herdadas ou inovadoras, íntimas ou públicas e de protocolos de leitura depositados no objeto lido, não somente pelo autor que indica a justa compreensão de seu texto, mas também pelo impressor que compõe as formas tipográficas, seja com um objetivo explícito, seja inconscientemente, em conformidade com os hábitos de seu tempo (CHARTIER, 2009, p. 78). 9 Falcon (1993, p. 117) considerou a língua latina como uma metalíngua, já que o latim era usado tanto para descrever a si mesmo como a outras línguas. Isto explica por que as gramáticas daquele período explicavam os principais fundamentos da língua através da língua latina.

17 17 Portanto, mantivemos a ortografia e pontuação originais dos autores, mesmos que dentro de suas obras eles grafem a mesma palavra diferentemente, fato justificado pela não consolidação da ortografia no período do estudo. Como a maioria de nossas fontes são obras digitalizadas, disponíveis em domínio público, frequentemente estaremos indicando onde encontrá-las, a fim de dividir os resultados que encontramos, visto que a tarefa de busca por fontes primárias é bastante árdua. Além da dificuldade em encontrar fontes bibliográficas originais, enfrentamos problemas de ordem biográfica também. Por esta razão é que em alguns momentos certos autores não estão indicados por seus respectivos anos de nascimento e/ou morte. No tocante ao referencial teórico desta pesquisa, nossas fontes norteadoras se constituem pelas mesmas bases que dão sustentação às pesquisas do GPHELB 10. São elas: legislação sobre ensino de línguas; compêndios (Catecismos, Cartilhas, Gramáticas, Dicionários, Manuais de Retórica e Poética, Seletas, Livros de Leitura e Histórias Literárias) e biografias, memórias e autobiografias de professores. Consultamos fontes primárias, como também alguns referenciais teóricos emprestados da história das ideias linguísticas (AUROUX, 1992; BUESCU, 1969; HUE, 2007; TORRE, 1985), da história cultural (ANDERSON, 2008; HOBSBAWN, 1990); da historiografia educacional (ANDRADE, 1978; CARVALHO, 1978; OLIVEIRA, 2010); e da metalexicografia (VERDELHO, 1982; 2007; 2011; SILVESTRE, 2007). Consideramos importante explicar ao leitor como chegamos às poucas informações biográficas acerca do autor português Antonio Vieyra Transtagano. Isto por que a trajetória de busca por elas foi por vezes frustrante e nos levou, inclusive, a remodelar nosso objeto inicial de pesquisa. 11 As informações sobre a carreira de magistério de Transtagano foram conseguidas com a ajuda dos funcionários do Manuscripts & Archives Research Library e Duty Library da Trinity College Dublin. Não foi possível obter cópias digitalizadas ou fotocópias dos documentos que registram a presença do autor, como as revistas, minutas de reunião, e livros. Todavia, nos foi indicado cada um deles, mencionando as páginas em que Transtagano era assunto. Especificamente, o nome de Transtagano está registrado em: Trinity College, Dublin, : an academic history (1982), escrito por R. M. McDowell e D. A. 10 Informações sobre o GPHELB encontram-se disponíveis em: 11 O projeto a ser desenvolvido inicialmente propunha uma investigação biobibliográfica sobre Transtagano, mas a dificuldade em encontrar fontes biográficas fidedignas nos levou a repensar nosso trabalho.

18 18 Webb, no qual Transtagano aparece entre as páginas 57 e 58 e a Revista Hermathena, de 1968, edição , p. 54. Além desses, existem as minutas de reunião do Conselho da Trinity College: TCD MUN/V/5/3, março de de dezembro de 1783, p , TCD/MUN/V/5/3, 4 de agosto de 1774, p. 297, TCD MUN/LIB/10/209, 18 de julho de 1796 e TCD MUN/LIB/10/214a) Todos com quem entramos em contato foram imensamente solícitos, buscando e nos enviando o quanto puderam indícios da presença e ações de Antonio Vieyra Transtagano na Trinity College. Os documentos aqui citados podem ser conseguidos via contato presencial. Infelizmente, não nos foi possível uma viagem até a Irlanda.

19 19 1. ASCENSÃO E CONSOLIDAÇÃO DO PORTUGUÊS 1.1 Língua e nação O século XVIII é reconhecido como um dos períodos da história da humanidade de maior efervescência, quando se observa os primeiros passos rumo à formação da identidade nacional, vista como um sentimento de pertença a uma mesma nação, ainda que inventada, e que devido a ele, todos possuem interesses e vontades comuns, como indica Geary (2005, p. 27). A formação do conceito de nação, embora considerado historicamente recente, estabelece-se a partir do elemento do artefato. Esse elemento configura-se como uma verdadeira engenharia social capaz de construir uma identidade nacional. Somado a isso, existe ainda um princípio no qual a nação foi concebida e o qual sustenta que a unidade política e nacional deve ser congruente: o nacionalismo. Critérios para fundamentar a questão nacional foram estabelecidos a partir da língua, território, cultura e história comuns a certos grupos. É bem verdade que esses mesmo critérios não são os únicos meios para explicar a formação das nações, tendo em vista que possa haver exceções à regra, o que nos leva a crer que a própria definição objetiva de nação seja uma definição subjetiva. Todavia, esses critérios foram usados durante anos para definir as nações, principalmente porque se tornaram convenientes no que tange aos intuitos propagandísticos e programáticos dos Estados. Na prática, havia três critérios fortemente capazes de classificar um povo como nação. De acordo com Hobsbawm (1990, p. 49), o primeiro era a associação histórica a um Estado existente. O segundo era a existência de uma elite cultural acompanhada de um vernáculo administrativo e literário. Tal critério serviu para a identificação das nações italiana e alemã. Muito embora não possuíssem um Estado único, esta identificação nacional era sobremaneira linguística. Por último, a capacidade para a conquista, segundo a qual um povo imperial não só possibilitaria a consciência nacional, como também, tempos depois, daria a prova darwiniana do sucesso evolucionista enquanto espécies sociais. Tal como sugere Anderson (2008, p. 42), em sua obra Comunidades Imaginárias, as nações foram invenções que, mesmo às bases dos critérios supracitados, permitiram preencher o vazio deixado pelos laços que antes serviram para unir os povos em suas comunidades, a exemplo daqueles ligados à religião. O uso de

20 20 uma língua e escrita sagradas (quanto mais antiga, mais sacra) compunham essas comunidades religiosas. O latim eclesiástico e o árabe corânico como línguas-verdade, por exemplo, segundo o autor, estavam permeados por um impulso largamente estranho ao nacionalismo. Entretanto, o poder das comunidades religiosas foi diminuindo após o final da Idade Média, não só com a ampliação da visão cultural e geográfica a partir das explorações territoriais, mas principalmente com a dessacralização das línguas tidas como sagradas, o capitalismo tipográfico, a gramatização dos vernáculos e a escolarização. Quando o pensamento religioso e a fé numa língua sacra não mais dão respostas à obscuridade e ao sofrimento, a ideia de nação vem substitui-lo (ANDERSON, 2008, p. 38). Isto posto, vemos que no século XVIII o sentimento de pertença deixou de se ajustar à religião para ajustar-se às nações e aos Estados. O século do Iluminismo marca o início da era do nacionalismo. Esse processo se dá, dentre outras maneiras, através da unidade linguística. É a língua materna comum a todos que une um povo ao redor de uma identidade nacional ideal, de um objetivo. É a língua vernácula padrão, independentemente das variantes faladas em outras regiões, que transmite o sentimento de identidade de um povo é o nascedouro do critério etnolinguístico de nacionalidade. Isso faz parte do plano pertencente a uma ideologia nacionalista em seu processo de criação das comunidades imaginadas, descrito por Geary em três estágios: Uma versão bem definida de como a ideologia nacionalista propicia a ação de movimentos de independência, especialmente na Europa Central e no Leste Europeu, pressupõe três estágios no processo de criação dessas comunidades imaginadas. Em primeiro lugar, ela inclui o estudo da língua, da cultura e da história de um povo subjugado, empreendido por um pequeno grupo de intelectuais alertas. Em segundo, a transmissão das ideias dos acadêmicos por um grupo de patriotas, que as disseminam por toda a sociedade. Por fim, o estágio no qual o movimento nacional atinge seu apogeu (GEARY, 2005, p.30). Diminui-se a atenção numa língua sagrada, direcionando-a para as línguas nacionais, uma vez que são elas, então, capazes de distinguir um povo do outro. Entretanto, observa Hobsbawm (1990, p ) que a língua nacional é um construto semiartificial virtualmente inventado, em que a escolha de torná-la homogênea e padronizada é política e possui implicações óbvias 13. Enquanto a língua sagrada garantia 13 Num sentido político, a língua estendia-se como uma representação de um povo, tendo poder de lembrar aos nacionais e reforçar nos conquistados quem era seu soberano. Era, pois, estrategicamente conveniente que fosse dada atenção à língua não apenas por questões estéticas, mas por ela ser um dos meios construtores da ideia de pertença nacional. Sendo assim, justificava-se a padronização e mesmo a

21 21 o sentimento de pertença, a língua nacional contribuía, pois, para consciência de pertença implantada pelo nacionalismo, porque onde existe uma língua de elite, administrativa ou culta, por menor que seja o número daqueles que a usam, ela pode tornar-se um elemento importante da coesão protonacional. O nacionalismo foi uma ferramenta essencialmente poderosa usada pelos governos a partir da projeção de sentimentos identificatórios capazes de agregar indivíduos em suas comunidades, assim imaginadas, fomentando cada vez mais a busca por outros fatores que servissem para a identificação de um povo. A língua foi um desses poderosos símbolos identificatórios reforçados nos discursos das provisões de leis, ou até mesmo dentro dos compêndios destinados ao conhecimento linguístico. Dessa forma, no contexto português, as leis se mostraram um construto ideológico que, ao imporem a língua portuguesa em seus domínios, pretendiam garantir seu poderio territorial. Não obstante, para italianos e alemães, por exemplo, a língua era mais do que veículo de expressão para uma literatura de prestígio e para expressão intelectual internacional. Era, na verdade, a única coisa que os fazia alemães e italianos, e consequentemente tinha um peso maior para a identidade nacional (HOBSBAWM, 1990, p. 127). Não vemos como aleatória, por exemplo, a expedição da Lei de 1757, mais conhecida como a Lei do Diretório, na qual se tem por proibido o uso da língua falada pelos índios na maior colônia portuguesa, verdadeiramente abominavel, e diabólica 14. O governo português não só reconhecia a verossimilhança do dito uma língua, uma nação, mas também sabia que impor a língua portuguesa era uma estratégia de poder para garantir, naquele momento, as posses das terras em solo americano, tatuando a língua e domínio portugueses. A construção do nacionalismo linguístico pode emergir desde a padronização das línguas vivas até a redescoberta de línguas mortas ou extintas, caracterizando-se como um construto político-ideológico, visto que a identificação de uma nação com reinvenção do vernáculo, se isso significasse dar ao mesmo mais características particulares, ou seja, era mais interessante que se tirassem o gn das palavras portuguesas para ela se parecesse menos com o italiano e mais genuína. Muitos autores do século XVIII defendiam a padronização do português e a simplificação da língua argumentando frequentemente a necessidade de distanciamento das línguas de quem o português também se originou. Entre eles, temos Luís Antonio Verney (1746), Antonio de Mello Fonseca (1710), António José dos Reis Lobato (1770) e Antonio Vieyra Transtagano (1768). Sebastião de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, em consonância com o que pensou Verney autoriza a gramática de Reis Lobato onde se encontram tais ideais. 14 Lei do Diretório (PORTUGAL, 1830, p. 509). Essa lei obrigou os colonos dos territórios portugueses, principalmente no Brasil, a usarem a língua portuguesa como língua oficial, impedindo que a língua da costa se expandisse e tomasse proporções ameaçadoras para o governo português.

22 22 uma língua ocorre sob o controle do Estado, o qual garante o reconhecimento oficial da língua nacional. Isso porque qualquer que seja a motivação ou o grau de manipulação da língua, o poder do Estado é imprescindível e, portanto, não são os problemas de comunicação, ou mesmo de cultura, que estão no coração do nacionalismo da língua, mas sim os de poder, status, política e ideologia (HOBSBAWN, 1990, p. 134). O poder que o Estado exerce incide na (re)construção da história da própria nação. Tal prática, consciente ou inconsciente, da busca de mitos, lendas e folclores num passado longínquo é característica em várias nações europeias. No século XII, escritores e poetas da Inglaterra criariam as bases de sua Inglesidade Inglesa (England s Englishness) a partir das histórias de seus heróis do passado. São os discursos em defesa e glória de um povo e sua cultura, sobretudo quando apoiados e alimentados pelo mecenato, que ajudarão a assegurar ideologia política do Estado. Em Portugal, os intelectuais foram ativos durante esse processo discursivo, chegando ao auge no século XVIII, quando o mecenato pombalino serviria para atender aos objetivos propagandísticos da própria governação. Tudo isso se encontra abundantemente registrado em inúmeras obras autorizadas pela Real Mesa Censória, criada pelo conhecido Marquês de Pombal. 1.2 Os vernáculos em ascensão: a construção da consciência nacional A língua não representa apenas um dos elementos que fundamentam o processo de identidade nacional, mas também um instrumento essencial durante as trocas culturais e comerciais entre os povos distintos. Com o crescente comércio ultramarino, o ensino e aprendizagem de língua estrangeira fizeram-se extremamente necessários, na medida em que se atribui ao vernáculo o caráter funcional nas relações de intercâmbio. Isso explica porque pequenas listas contendo verbetes que auxiliassem na comunicação entre soldados, comerciantes, viajantes e marinheiros, para os seus diversos fins, foram elaboradas (ANDERSON, 2008, p. 111). Não menos relevante é o papel da língua quando das missões religiosas. Sabe-se que os membros da Igreja Católica aprendiam os idiomas falados pelos nativos, das diversas regiões que visitavam, e que, ao regressarem aos seus países de origem, incumbiam-se da compilação de dicionários e gramáticas, de modo a dividir esse conhecimento metalinguístico com seus compatriotas (TORRE, 1985, p. 7). Tal foi o caso do Pe. José de Anchieta ( ), em sua Arte da grammatica da lingoa mais

23 23 usada na costa do Brasil (1595), a qual muito foi útil aos missionários quando da conversão dos índios, uma vez que eliminava a necessidade do trabalho de intérpretes 15. Percebe-se que a utilização do conhecimento metalinguístico dos vernáculos servia, sobretudo, para a catequese e para a facilitação das relações comerciais e na guerra, ao longo dos séculos. Entretanto, vemos que o vernáculo passou a ser usado nas leis, nos cultos ou rituais religiosos, no comércio e nos meios de comunicação sobremaneira durante o período oitocentista. A descoberta de novos povos levou à descoberta de línguas mais antigas que as consideradas clássicas, a saber, o grego, o hebraico e o latim. Somente no final do século XVIII, Com a conquista inglesa de Bengala, surgiram as investigações pioneiras do sânscrito de William Jones (1786), que permitiram entender melhor que a civilização indiana era muito anterior a Grécia e a Judéia. Com a expedição napoleônica ao Egito, os hieróglifos foram decifrados por Jean Champolion (1835), o que pluralizou a Antiguidade extra-européia (ANDERSON, 2008, p. 111). O pensamento de que a sacralidade e o status de uma língua dependiam de quão antiga era, influenciou na diminuição do valor atribuído ao latim. Concomitantemente, percebe-se que outras línguas podem possuir potencial de expressão tão elaborado quanto o das línguas clássicas. Essa ideia fundamenta o movimento de ilustração dos vernáculos do século XVI e no seguinte, principalmente com a reapropriação dos clássicos e suas novas perspectivas: Em vários países, os homens de letras estavam empenhados em uma defesa da língua nacional como idioma da alta cultura do Renascimento, e na ilustração das línguas vulgares através da incorporação de novos vocábulos e da imitação dos clássicos latinos e gregos, com o objetivo de construir um idioma tão completo e expressivo quanto o latim (HUE, 2007, p. 13). Esse impulso vernaculizante fez-se exequível com a intensificação do capitalismo tipográfico. Como o conhecimento sobre as línguas clássicas restringia-se ao grupo das elites bilíngues, e a proporção de bilíngues na população total da Europa era bem reduzida, obras em vernáculo ofereciam uma possibilidade de vendas maior para o mercado editorial. Afinal, os livreiros vendiam o que fosse interesse do maior número de pessoas, o que é próprio do capitalismo. Isso nos remete ao binômio naçãolíngua, uma vez que a ideia de nação tornou-se popular onde havia o desenvolvimento da imprensa motivo: o capitalismo. De acordo com Anderson (2008 p ), uma 15 Auroux (1992, p. 74) chama de exogramatização o processo de descrição de um vernáculo, sem escrita, a partir da transferência de tecnologias de descrição de uma língua já gramaticalizada. É então o caso da língua da costa, que se torna gramaticalizada a partir dos conhecimentos latinos dos missionários jesuítas.

24 24 das razões que tornaram possível imaginar as novas comunidades, foi uma interação mais ou menos casual, porém explosiva, entre um modo de produção e de relações de produção (o capitalismo), uma tecnologia de comunicação (a imprensa) e a fatalidade da diversidade linguística humana. Essa tecnologia ao mesmo tempo que facilitou a reprodução dos escritos, obrigou tanto os encarregados quanto os leitores a reverem muitas das noções adquiridas: a busca da correcção tipográfica (FEBVRE & MARTIN, 1958, p. 338). Assim, a imprensa auxilia não só na propagação, mas, sobretudo no desenvolvimento e cristalização da língua nacional. As línguas impressas fundamentaram as bases da consciência nacional, criando oportunidades estáveis de intercâmbio e comunicação mais populares que o latim, e mais elaboradas que os vernáculos falados. Isso porque o capitalismo tipográfico ajudou não só na padronização da língua, mas também na construção do status de língua impressa, sobretudo nos casos em que as línguas oficiais transformaram-se em vernáculos administrativos (ANDERSON, 2008, p. 81). Segundo Hallewell (2005, p. 85), a imprensa foi impulsionada primeiramente pelos jesuítas em suas missões, quando da necessidade de produzir material para os fins da catequese. Eles foram os pioneiros na operação dos prelos. Muito embora servisse inicialmente para a impressão de obras de cunho religioso, o aparato tipográfico trouxe benefícios tanto de ordem administrativa, pois facilitava a reprodução de cópias dos documentos, quanto linguística, uma vez que tornou possível a firmação do padrão da língua. Não é aleatória a observação de Buescu (1978, p. 12) quando diz que A imprensa, introduzida em Roma na 2ª metade do século XV, abre, naturalmente, uma época nova. Começa, pois, a fazer-se sentir o desejo de produzir textos que falassem uma linguagem acessível a um público infinitamente mais vasto. Ora, é significativo notar que o advento da imprensa coincide cronologicamente com os primeiros gramáticos italianos. [...] Significativo, parece, também, o facto de a imprensa promover e exigir uma uniformidade regulamentar da Ortografia, até então anárquica e caprichosa, submetida a toda a gama de critérios individuais. Assiste-se no século XV, ainda segundo Buescu, o surgimento do movimento de imposição do vernáculo. Esse movimento, justificado pelo fato de que o próprio latim havia sido enriquecido em trabalho conjunto de escritores e poetas, se espalhou por toda a Europa, uma vez que se intencionava fazer o mesmo com o vulgar paulatinamente, os meios literários, científicos e administrativos serviram para respaldar o vernáculo em competição com o latim. Os humanistas do Renascimento passam a reconhecer e defender o vernáculo como língua nacional. Em 1525, Pietro Bembo ( )

25 25 publicou sua Prose della volgar língua, em 1535, Juan de Valdés ( ) escreveu o Diálogo de la lengua, e apenas cinco anos depois, João de Barros ( ) publicou seu Diálogo em louvor da nossa linguagem. A partir de então, os vernáculos ascendem para um lugar de nobreza, pois os homens as puseram na perfeição que agora têm, conforme nos disse Fernão de Oliveira (1871). Conforme Hue (2007, p. 15), As línguas modernas faziam então sua entrada no mundo da cultura, saindo da esfera estritamente familiar e comercial, e, para tanto, construíam-se a si mesmas por meio do trabalho de seus primeiros lexicógrafos e gramáticos, e de seus escritores e poetas, que as iam moldando, inovando e revestindo de novas capacidades e brilhos, durante o longo e irregular processo de ilustração da língua. Mesmo o Latim, que não tendo sido realmente um instrumento de verdadeira comunicação, permaneceu consagrado como língua clássica dos doutos e ligado à educação universitária e aos Colégios das Ordens. Mas, é no Renascimento que a gramática referencial das aulas de Retórica deixa de ser a latina e adapta-se ao vulgar. Em Portugal, a defesa da língua nacional dialogava com o projeto imperialista no qual a coroa portuguesa encontrava-se engajada melhor he que ensinemos a Guine ca que sejamos ensinados de Roma (OLIVEIRA, 1871, p. 12). Ao serem equiparados como de mesmo valor e capacidade expressiva caráter antes atribuído às línguas clássicas os vernáculos tornaram-se dignos de estudo e investigação. Isso contribuiu não só para que os falantes valorizassem sua própria língua, mas também culminou na intensa produção de dicionários monolíngues e bilíngues, principalmente no fim do século XVIII e início do século XIX. É comum encontrar nos compêndios, textos em defesa do vernáculo, todos fundamentados no discurso de (re)construção de uma memória em torno de um povo relacionado àquela língua (ANDERSON, 2008, p ). O retorno ao passado valioso de um povo ocasionou o surgimento do discurso que visava à criação de uma identidade nacional, bem como à estabilização e padronização da língua literária, em consonância com programas políticos em busca de afirmação nacional 16. Não é diferente a questão da necessidade de afirmação linguística enquanto patrimônio nacional em Portugal. Nos prólogos das duas primeiras traduções espanholas de Os Lusíadas, acadêmicos e poetas castelhanos classificaram a língua portuguesa de 16 De acordo com Geary (2005, p ), a busca por um passado mítico fundador se deu pelos esforços criativos dos intelectuais e políticos que transformaram antigas tradições românticas e nacionais em programas políticos.

26 26 áspera, ignorada e que contrastava para la perfeccion del verso (apud HUE, 2007, p. 9). Vários poetas e escritores, e, surpreendentemente, portugueses, afirmavam que uma obra de tal magnitude e importância não deveria ter sido escrita em uma língua bárbara, mas sim numa língua de civilização e cultura, isto é, na língua latina ou na castelhana, que por volta do final do século XVI já tinha atingido status de língua franca. O castelhano é adotado em Roma, por volta de 1536, como língua da diplomacia, o que promoveu a sua internacionalização. Vários autores portugueses no século XVI tinham de escrever em espanhol para que as suas obras fossem aceitas e lidas, uma vez que esta língua era, na época, a mais difundida e continha o maior número de leitores (HUE, 2007, p. 11). Entretanto, maior que a luta do português diante do espanhol, para se firmar como língua de nobreza, foi conseguir um lugar de valor perante o Latim. Segundo Teyssier (1984, p. 32), esse confronto não advém apenas de questões políticas e históricas, mas também de problemas de ordem dinástica: Entre meados do século XV e fins do século XVII o espanhol serviu como segunda língua para todos os portugueses cultos. Os casamentos de soberanos portugueses com princesas espanholas tiveram como efeito certa castelhanização da corte. Os sessenta anos de dominação espanhola ( ), que se situam no período mais brilhante do Século de Ouro, acentuaram esta [impregnação] linguística. E somente depois de 1640, com a Restauração e a subida ao trono de D. João IV, que se produz certa reação anti-espanhola. O bilinguismo, todavia, perdurara até o desaparecimento dos últimos representantes da geração formada antes de Dessa maneira, não é raro encontrar discursos patrióticos dentro dos compêndios destinados ao aprendizado de português. Esses discursos apresentam-se de duas maneiras, de acordo com Buescu (1978, p. 39): primeiro como uma defesa e ilustração da língua, como fez Pero de Magalhães Gândavo (? 1574), em seu Diálogo em Defesa da Língua Portuguesa (1579), quando defende o português em vez do castelhano, pela maior latinidade naquele, depois como expansionismo linguístico, em que a língua, na dominação dos povos, é o instrumento de unificação, fixação e poder usados pelos conquistadores. No tocante ao português, não se pode ignorar tais elementos, já que o processo de ascensão e consolidação deste vernáculo percorreu, paralelamente, tanto o caminho de unificação quanto o de expansão. A língua se mostrou, pois, um irrefutável instrumento capaz de unir um povo. Nesse sentido, a gramática exerceu papel essencial. Conclui ainda a autora supracitada que foram os discursos de defesa e apologia ao vernáculo responsáveis pela criação da gramática das línguas vulgares.

27 27 Assiste-se no século XV, por exemplo, à publicação de Gramática de la lengua castelhana (1492), do espanhol Antonio de Nebrija ( ). Todavia, os homens do Renascimento, a partir do século XVI, engajam-se mais fortemente na chamada questão da língua 17, quando o conceito e forma gramaticais serão revistos, culminando o debate em torno da uniformidade ortográfica dos vernáculos. Destarte, a gramática portuguesa nasceu em Portugal oriunda do movimento humanista em defesa dos vernáculos. São alguns dos percussores Fernão de Oliveira ( ), com a sua Grammatica da Lingoagem Portugueza (1536), João de Barros ( ), em Diálogo em louvor da nossa linguagem (1540), bem como Pero de Magalhães de Gândavo (?-1579), autor de Diálogo em defesa da Lingua Portugueza (1572). 1.3 Ilustração da língua portuguesa: o papel da Gramática de João de Barros ( ) O papel exercido pelos humanistas do Renascimento foi um divisor de águas no processo de valorização dos vernáculos, e, mais ainda, na modificação do status do latim. Definir o Humanismo não é tão simples, visto que o termo traz definições diversas de acordo com cada área a que está relacionado, a saber, a filosofia, a religião, a cultura, entre outros. Interessa-nos, pois, as ideias que se aproximam às questões linguísticas: o estabelecimento das línguas nacionais 18. Por essa razão, é pertinente a relação que faz Sevcenko (1984, p. 13) dessa corrente com o Renascimento. Assim como os humanistas, os renascentistas puseram-se a buscar novas formas de pensar e representar o mundo, para desenvolver estudos sobre a filosofia, história, poesia, cultura distanciados dos padrões dogmáticos do feudalismo. Portanto, os humanistas do renascimento engajaram-se numa abordagem educacional diferenciada. Na abordagem humanística, a expressão humana desemboca na linguagem, razão porque as línguas clássicas receberão atenção. Paradoxalmente, a redescoberta dos 17 A questão da língua, abordada por Buescu (1978, p. 52), está ligada também ao confronto no qual se envolveu o português com o castelhano. A fim de normatizar, elevar, defender o português como língua de cultura, os escritores humanistas o fizeram construindo descrições à luz da latinidade, enaltecendo-o também, em contraste com o castelhano, pela sua maior afinidade daquele com o latim. Esse processo libertou o português da concepção de que era um simples dialeto ibérico. 18 O Humanismo português sofreu forte influência do Renascimento Italiano. Destacamos a figura de Dante Alighieri, quando da escolha pelo vernáculo na confecção de sua Divina Comédia, sobretudo na sua De vulgari eloquentia, corroborando a defesa e cristalização da língua literária italiana, fato que serviu de modelo para autores de outros países europeus (SEVCENKO, 1984, p. 36).

28 28 clássicos da Antiguidade, em busca da valorização das línguas clássicas, acabou por influenciar diretamente o processo de gramatização dos vernáculos, na medida em que esses clássicos eram traduzidos para as línguas maternas. Afirma, Valentim que Este Humanismo é de início essencialmente literário, aparecendo relacionado com o poder político e cultural do rei/estado [...]. 19 Destacaremos, entre os nomes citados, João de Barros ( ), pela extensão de seus trabalhos, que foram além do horizonte linguístico. Seu discurso intentou a defesa da língua portuguesa e mostrou-se em consonância com os ideais da coroa, quando da construção de uma identidade nacional e expansão do poderio do reino a partir da disseminação da cultura e sua língua portuguesas. Nascido em 1496, Barros teve formação cultural elevada, o que provavelmente serviu para subsidiar as várias atividades em que se engajou foi historiador, filósofo, escritor e pedagogo. Publicou obras como, a Grammatica da Lingua Portuguesa (1539), mais conhecida como Cartinha com os Preceitos e Mandamentos da Santa Madre Igreja, a qual precedeu a sua Grammatica da Lingua Portuguesa (1540), em que se acha o Dialogo em Louvor da Nossa Linguagem e o Dialogo da Viçiosa Vergonha (FERNANDES, 2006, p. 562). Quando eleito cronista do rei, após a morte do secretário do Infante D. Luís, Barros embarca na aventura de escrever as Decadas da Asia (1552), que, como afirma Buescu (1978, p. 59), foi um audacioso plano de historiar, sistematicamente, a presença e ação portuguesas nos diferentes continentes do Globo. Pretendia o autor compor um aparato didático-pedagógico que, através dos ensinamentos catequéticos, servisse ao propósito de transmissão e consolidação do vernáculo português. Então, com a sua Cartinha, daria aos mininos o conhecimento elementar da língua, mas para não desampará-los, quando o tivessem dominado, compôs sua Grammatica da Lingua Portuguesa em A Grammatica de Barros não foi apenas um monumento de saber linguístico, mas uma obra que se enquadrava em um amplo projeto pedagógico. A Grammatica da Lingua Portuguesa era seguida por uma parte chamada: Dialogo em Louvor da Nossa Linguagem, que consistia no diálogo entre mestre (pai) e discípulo (filho), em que são apresentadas as potencialidades da língua portuguesa, bem como a sugestão de novos 19 VALENTIM, Carlos Manuel. As Navegações e o Humanismo. Disponível em: Acesso em: 10 de janeiro de 2012.

29 29 métodos para transformar a fracassada realidade das práticas pedagógicas na alfabetização, por exemplo. Um dos primeiros a indicar o ensino de gramática portuguesa, em vez da latina, propôs também uma reforma na letra impressa dos textos de manuscrita para a de fôrma indicando que as obras deveriam ser didáticas visualmente, sugerindo que houvesse padronização nas impressões dos compêndios. O escritor português ainda trazia à discussão a relevância da língua da pátria no projeto de expansão do império português. Notório é o adiantamento do sentimento nacionalista 20 defendido em Barros, principalmente ao lembrar-se dos grandes feitos de Portugal durante a expansão ultramarina. Para o autor, a língua portuguesa possuía elementos mais que suficientes para a expressão de cultura, sendo desnecessária a prática comum de outros portugueses que preteriam a língua nacional ao latim ou às estrangeiras. Dessa forma, Barros entendia que os portugueses sentir-se-iam [...] recompensados com louvarmos a nossa linguagem, que temos posta em arte, com que leve mais ornato que as regras gramaticais. E porque acerca de qual foi a primeira linguagem do mundo em as escolas anda grande questão et adhuc sub iudice lis est [Horatius in arte poética], primeiro que tratemos da nossa, quero repetir esta questão do fundamento pois nela está todo nosso edifício (apud HUE, 2007, p. 42). Durante o debate de tom filosófico, ao mesmo tempo pedagógico, entre pai (mestre) e filho (discípulo), o autor aponta a elegância e riqueza contidas na língua portuguesa quando comparada às três línguas de origem latina italiano, espanhol e francês: Que se pode desejar na língua portuguesa que ela [não] tenha? Conformidade com a latina? (apud HUE, 2007, p.47). Nesse sentido, não havia razão para continuar a desprezar a língua portuguesa e preteri-la em função das línguas estrangeiras ou até mesmo do latim. Barros traça um percurso histórico do poderio das grandes civilizações e suas políticas linguísticas na expansão de seus impérios, quando obrigaram os povos conquistados a utilizarem apenas a língua do conquistador, atestando, dessa forma, sua força e excelência. Tal foi a medida tomada pelo futuro Marquês de Pombal, através da 20 Sabemos que o conceito de nação, originou-se no século XIX. Observa-se que vários autores construíram conceitos para a ideia de nação, gerando, porém, conflitos na argumentação. De acordo com Renan (2005, p. 5), numa conferência na Universidade de Sorbonne em 1882, uma nação é uma alma, um princípio espiritual. Duas coisas que para dizer a verdade não formam mais que uma e que constituem essa alma, este princípio espiritual. Uma está no passado, a outra no presente. Uma é a possessão em comum de um rico legado de lembranças; outra é o consentimento atual, o desejo de viver em conjunto, a vontade de continuar a fazer valer a herança que receberam esses indivíduos. [...] a essência de uma nação é que todos os indivíduos tenham coisas em comum e que também tenham esquecido coisas.

30 30 Lei do Diretório de Mesmo tendo as grandes civilizações conquistadoras perdido seu poder territorial, a marca de suas línguas fixou-se nas culturas posteriores, a exemplo do latim. Quanto à coroa portuguesa, Barros sugeriu que o mesmo aconteceria à língua portuguesa, uma vez que o império português vinha dominando regiões na África, Ásia e América. O trabalho de Barros foi seguido por outros autores que também ousaram escrever em Português. Obras como Comedia Eufrosina (1555), de Jorge Ferreira de Vasconcelos (? ?), Os Lusíadas (1572), de Luís de Camões ( ), as de Antônio Ferreira ( ), Sá de Miranda ( ), por exemplo, modelaram a língua tida como pobre, áspera e pouco organizada, tornando-a à feição do Humanismo, exatamente como em outros países (HUE, 2007, p.13). Os humanistas defendiam a ideia de que, se o latim fora enriquecido através do trabalho desempenhado por poetas e retóricos, o mesmo poderia ser feito com as línguas vulgares. É o caso de Pero de Magalhães de Gândavo (?-1579), autor de Regras que ensinam a maneira de escrever e a orthografia da lingua portuguesa, com hum Dialogo que a diante se segue em defesam da mesma língua (1574), obra que se assemelha muito com a obra de Barros, contendo um anexo 21 construído em torno do mesmo gênero o diálogo filosófico. Nele, observa-se a defesa da língua portuguesa em relação à castelhana, pelo teor latino mais aguçado na primeira que na segunda. Auroux (1992, p. 42) afirma que, desde o século XVI, a crença de que todas as línguas derivavam do latim servia para engrandecer todas aquelas que apresentassem maior fundo latino. No contexto de afirmação das duas línguas vulgares, a saber, o português e o castelhano, o discurso dos escritores e poetas quinhentistas deixava clara a existência do conflito originado no contexto da União Ibérica e na sobreposição linguística, ao passo que, no período setecentista, a busca pela superação dessa condição de subordinação da língua portuguesa torna-se desejo frequente. Pode-se ainda, contudo, comprovar tal descontentamento quanto ao status da língua portuguesa logo no início do século XVIII, com o discurso de José de Macedo ( ), sob o pseudônimo de António de Mello da Fonseca, que mesmo apontando a necessidade de uma reforma da língua, em seu Antidoto da Lingua Portugueza (1710), foi um dos primeiros autores a criticar a desvalorização da língua portuguesa em detrimento da espanhola: 21 Referimo-nos ao Dialogo em louvor da lingua Portuguesa, de 1574.

31 31 Eu nunca me descontentei tanto da nossa Lingua, como se descontentao muitos grammaticos, que affirmaõ temerariamente, que ella he muito peor que a Castelhana, sendo tal a ignorancia, de que nelles procede esta affirmaçaõ, que o mais que dizem, se saõ examinados os fundamentos della, he sò, que a grande frequencia, com que usamos do ditongo aõ, faz a nossa Lingua mui tosca e mui grosseira. Isto confesso, que nunca nella me pareceu bem; mas nem basta, para que a julgue inferior a algumas das vulgares (FONSECA, 1710) 22. As palavras de António de Mello estão em consonância com o projeto de defesa da língua portuguesa no qual se engajaram os humanistas. O processo de elevação do português ao status de idioma de cultura se deu da mesma forma como acontecera com o espanhol, o francês e o italiano. Esse processo, que na verdade foi um projeto de ilustração dos vernáculos vulgares, se deu através da imitação do modelo latino, como dito anteriormente. Assim, em cada um dos países mencionados, autores produziram obras intituladas Defesa da Língua(gem). Com isso, observamos que, o que aconteceu em várias partes da Europa foi um movimento que colocava as línguas vulgares no mesmo patamar de dignidade que o latim, e, mais ainda, afirmava ser a própria língua nacional superior às demais (HUE, 2007, p.14). Nesse sentido, tanto a obra de Gândavo quanto a de Barros merecem destaque por terem sido produzidas no gênero filosófico do diálogo 23. A partir deste período, há o surgimento de diversas gramáticas e dicionários que visam normatizar e estabilizar a língua, conforme dito anteriormente. Embora a impressão de obras acontecesse desde o século XVI, observa-se que o século XVIII representou um boom na produção de compêndios, em especial os compêndios de língua (gramáticas e dicionários da língua portuguesa), que atendiam tanto à demanda educacional em Portugal e suas colônias, quanto ao projeto de alavancagem do país diante do cenário europeu de então. A este processo de registro e normatização de línguas em formato de dicionários e gramáticas, Auroux (1992, p. 65) chama de gramatização 24, considerando esta ter sido uma das grandes revoluções tecnológicas que propulsionaram a formação dos Estados-Nação e o concomitante processo de identificação nacional através da unidade linguística. Além disso, segundo Buescu (1969, p.19), as gramáticas portuguesas dos 22 Embora o Antidoto da Lingua Portugueza (1710) de José de Macedo não esteja paginado, o trecho citado pode ser encontrado nas páginas primeira e segunda do Prologo ao Leitor. 23 Diz Hue (2007, p. 32), que o diálogo é um gênero que possibilita o debate das ideias: um gênero híbrido, de fronteira, que não se enquadra nos gêneros tradicionais estabelecidos no século XIX. Poderia ser aproximado, por sua forma, à ficção narrativa ou ao teatro, mas, ao contrário destes, se desenrola em torno de uma questão teórica ou prática. 24 A respeito da gramatização, Auroux (1992, p. 65) a defini como o processo que conduz a descrever e a instrumentar uma língua na base de duas tecnologias, que são ainda hoje os pilares de nosso saber metalinguístico: a gramática e o dicionário.

32 32 séculos XVIII e XIX tinham dois propósitos: o primeiro codificaria a língua e o segundo a dignificaria. A gramatização não só contribuiu para a padronização dos vernáculos, mas também culminou numa rede de conhecimentos metalinguísticos, cada vez mais estruturada, com o acréscimo de cada região descoberta, ou conquistada, e coincidiu com o momento histórico em que os reinos europeus estavam em processo de afirmação enquanto Estados nacionais. Por isso, a constituição das nações europeias suscitou uma situação de luta entre elas, institucionalizando, consequentemente, uma concorrência entre as línguas. O foco não mais no passado, mas sim no futuro, com o dito uma língua, uma nação movendo as transformações implementadas pelo Estado, fazendo da aprendizagem e do uso de uma língua oficial, uma obrigação para os povos (AUROUX, 1992, p. 49). Assim, para Auroux (1992, p. 44), o dicionário e a gramática não são vistos como objetos naturais, inatos, hereditários, mas sim como instrumentos que prolongam a competência dos locutores. Partindo-se desta definição, essas tecnologias tiveram, segundo o autor, papel preponderante no processo de formação e estabilização das nações, com o trabalho de aprimoramento do vernáculo tendo sentido e relevância para além das questões meramente linguísticas. 1.4 O Período Pombalino O século XVIII trouxe consigo mudanças em diversos campos da sociedade, os quais marcaram a história do mundo ocidental. O Iluminismo fez desabrochar na sociedade um olhar mais crítico sobre as crenças religiosas e uma valorização da racionalidade e da ciência. Tal movimento de ilustração pelo qual passou a Europa propagou-se pelo continente através do intercâmbio entre as Academias localizadas nos grandes centros irradiadores das ideias iluministas Inglaterra, França, Itália e Alemanha chegando aos países periféricos, como afirma Falcon (1993, p ), através dos intelectuais chamados de estrangeirados Termo originado da ideia de estrangeiramento, que Falcon (1993, p. 204) chama de fenômeno, definindo-o como sendo o produto de uma cisão entre aqueles que, viajando e conhecendo outras realidades, ou, entrando em contacto com os que vinham de fora, militares e diplomatas de outras nações, puderam mudar suas maneiras de ver e sentir, e os demais que, insulados, ficaram impermeáveis a tudo que viesse do estrangeiro. Os estrangeirados exerceram papel essencial durante o Iluminismo português.

33 33 O Iluminismo português, entretanto, teve uma coloração diferenciada do inglês, francês ou alemão, por ter seguido um viés pedagógico, não sendo de cunho antirreligioso, e, sobretudo, serviu ao projeto de governo. Como afirma Carvalho (1978, p ), o espírito que geria os preceitos do iluminismo português era de Reformismo e Pedagogismo. Portugal estava ainda muito preso à influência da religião e não acompanhava o desenvolvimento intelectual dos reinos polidos da Europa. O reino português encontrava-se estagnado filosoficamente, preso às amarras eclesiásticas que insistiam em continuar com a Inquisição, acarretando no exílio de vários cristãos-novos em terras onde o Iluminismo florescia. Isso significou um prejuízo no campo econômico e a escassez de mão-de-obra qualificada (AZEVEDO, 2004, p. 96). Enquanto França e Inglaterra se desenvolviam e estavam abertas para as descobertas das ciências naturais, Portugal encontrava-se governado intelectualmente pelo tradicionalismo eclesiástico, sob o comando dos jesuítas. Dessa forma, mudanças em Portugal não seriam possíveis se não houvesse uma a ruptura com o poder eclesiástico, com a ideologia desse poder. 26 Incumbido de reerguer o reino dos escombros do fatídico terremoto (1755) e, ao mesmo tempo, de alavancar o país a uma posição de destaque no cenário europeu da época, Sebastião José de Carvalho e Melo ( ), conhecido como Marquês de Pombal, foi enviado pelo rei como diplomata na Inglaterra, esteve também na Áustria, e por influência do que experienciou em terras estrangeiras buscou modernizar o país em diversas áreas, sobretudo no comércio, educação, exército e marinha. Sua experiência como diplomata foi de grande valia e possivelmente influenciou a escolha do rei D. José I ( ) para o cargo de Primeiro Ministro (AZEVEDO, 2004, p.125). Seu trabalho iniciou-se com a incumbência de reconstruir a capital portuguesa do cruel terramoto de 1755 e estendeu-se à tentativa de modernização da sociedade do reino, que tanto necessitava de mudanças por causa das amarras da dominação eclesiástica. A fim de elevar o nível social e econômico no reino, conforme já se observava em outros países da Europa, era imprescindível uma reforma geral. Contudo, não poderia Pombal agir sozinho. O então Primeiro Ministro contou com a colaboração ou foi influenciado pelos seus vários amigos ilustrados e expatriados portugueses, cujas ideias estavam em consonância com os movimentos iluministas que tomavam o continente. Foram eles: Antônio Nunes Ribeiro Sanches ( ), cristão novo e 26 Cf. FALCON, 1993, p. 226.

34 34 que fugiu da Inquisição em 1726, Martinho de Mendonça de Pina e Proença ( ), que quem trouxe para o país as ideias de Locke ( ), Newton ( ) e Leibniz ( ), e Luís Antônio Verney ( ), autor da obra Verdadeiro Método de Estudar (1746), na qual tratou de diversos assuntos, entre eles a gramática e a ortografia (MAXWELL, 1996, p. 12). Entre as muitas preocupações demonstradas por Verney, no tocante à educação em Portugal, estava a questão do ensino de gramática latina, questão essa já observada por Barros em sua Gramatica (1540). No século XVI, o humanista propôs uma reforma no ensino do latim, o qual levava bastante tempo e era entediante. Uma das dificuldades para tal fito era o ensino de latim diretamente pelo latim. Com o surgimento de fortes políticas linguísticas autoconscientes 27 e a ascensão dos vernáculos no século XVIII, as ideias de Verney se floresceram em terreno fértil. Muito provavelmente inspirado em sua própria experiência de vida 28, Verney propunha em seu Verdadeiro Método de Estudar (1746) uma reforma, sugerindo que a língua latina deveria ser ensinada através do vernáculo, diferentemente da prática pedagógica de então. Por esta razão, sugeriu a confecção de uma gramática da língua portuguesa que dessa conta da proposta supracitada, uma vez que o primeiro principio de todos os estudos deve ser a gramatica da propria lingua (VERNEY, 1749, p. 8-9). O autor do Verdadeiro Methodo criticava veementemente os moldes do ensino inflexível dos inacianos, alegando que isso contribuía para o atraso intelectual do reino e suas colônias. O caráter utilitário de seu método estava de acordo com as exigências da vida moderna de seu tempo. Verney descreve em detalhes as aulas de Gramática, deixando claro quão enfadonho era o método dos inacianos, com inúmeros cartapácios e artes : As declinacoes de verbos e nomes estudam [os alunos] pela Grammatica Latina, a esta se segue um cartapacio Portugues de Rudimentos; depois outro para Gêneros e Pretéritos, muito bem comprido; a este um de Sintaxe, bem grande; depois um livro a que chamam Chorro (de Bartolomeu Rodrigues Chorro), e outro que chamam Prontuario, pelo qual se aprendem os escolios de nomes e verbos (VERNEY, 1949, p. 135). 27 Anderson (2008, p. 77) aborda a existência de políticas linguísticas autoconscientes dos dinastas oitocentistas, diante do crescimento de nacionalismos linguísticos que culminarão no uso da língua como instrumento de centralização administrativa. 28 Verney, aos seis anos, foi instruído pelo pedagogo eclesiástico, Pe. Manuel de Aguiar Paixão, o qual tratou de iniciá-lo na Gramática Latina e nas línguas castelhana, francesa e italiana. Estudou Gramática Latina e Retórica durante vários anos no Colégio de Santo Antão, que estava, na época, sob aadministração dos inacianos (ANDRADE, 1966, p ).

35 35 A questão educacional era um dos principais pilares que deram sustentação ao projeto elaborado por Pombal, visando à modernização do país. Motivado pelas ideias dos intelectuais de sua época, Sebastião de Carvalho e Melo atuou no cenário português a fim de livrar Portugal do ensino metodologicamente atrasado e livresco dos jesuítas, dando maior ênfase ao ensino da língua portuguesa e regulamentação da profissão docente, bem como ao ensino de línguas estrangeiras (vivas) e aos métodos adequados para tais fins. Assim, fica bastante evidente, no discurso das leis pombalinas, que se pretendia a recuperação econômica através da educação (CARVALHO, 1978, p. 42). Tal era o projeto pombalino, o qual propunha, além da mudança metodológica adotada pelos inacianos, uma reestruturação das disciplinas a serem ensinadas e de materiais didáticos compatíveis com a nova filosofia que se estabelecia. No tocante à língua pátria, percebe-se que ela foi a grande beneficiada desses planos pombalinos, no sentido de que, à medida que se dava atenção ao que precisavam as áreas socioeconômicas do país, o português ganhava espaço para sua normatização, o que contribuiu enormemente para a efetiva consolidação do status de língua digna, dentro e fora de Portugal, inclusive por se observar seu caráter prático e funcional, atendendo às necessidades da época. Percebendo a importância da língua vernácula como instrumento de imposição cultural e dominação territorial, decreta Pombal em 03 de maio de 1757 o Diretório dos Índios, o qual determinava a expulsão dos jesuítas de Portugal e seus domínios e a erradicação da língua geral ou da costa, falada entre os colonos e índios no Brasil, colocando em seu lugar a Língua do Príncipe. Como afirma Garcia (2003, p.73), o número de mamelucos e índios deve ter contribuído para que a língua geral fosse mais usada do que a portuguesa. Foi uma estratégia, que embora não tenha conseguido resultados imediatamente, ajudou a assegurar a posse das terras brasileiras. Apesar da forma brutal pela qual os jesuítas foram expulsos de Portugal e domínios, e que se tenha pretendido o apagamento de todo o processo de ensino de línguas pelos religiosos, a lei de 1757 contribuiu essencialmente para a consolidação do português como língua nacional. Ao mesmo tempo em que caminhava para sua própria formação enquanto nação, Portugal não esqueceu a questão imperialista, reafirmada pela imposição da Língua do Príncipe. De acordo com o texto da Lei do Diretório, Sempre foi maxima inalteravelmente praticada em todas as Nações, que conquistaram novos Dominios, introduzir logo nos Povos conquistados e seu

36 36 próprio idioma, por ser indisputavel, que este he hum dos meios mais efficazes para desterrar dos Povos rústicos a barbaridade dos seus antigos costumes; e ter mostrado a experiência, que ao mesmo passo, que se introduz nelles o uso da Lingua do Principe (PORTUGAL, 1830, p. 508) Buscava-se, assim, preparar Portugal para uma nova fase em sua história, tendo como consequência a valorização do seu vernáculo. A língua portuguesa havia se espalhado pelo planeta a partir do século XV, através dos descobrimentos portugueses, e tornou-se aliada da coroa no processo de expansão territorial, cultural e religiosa. No projeto pombalino de recuperação econômica do reino português, a língua também teve seu papel na imposição da cultura aos povos que habitavam o Brasil. De acordo com o legislador, no trecho transcrito da lei de 1757, confirmada em 1758, assim como fizeram os primeiros conquistadores ao estabelecer o uso da língua nas terras conquistadas, era um dos principais cuidados dos Diretores: [...] estabelecer nas suas respectivas Povoacoes o uso da Lingua Portugueza, não consentindo por modo algum, que os Meninos, e Meninas, que pertencem as Escolas, e todos aquelles Indios, que forem capazes de instrucao nessa materia, usem da Lingua propria das suas Nacoes, ou da chamada geral; mas unicamente da Portugueza, na forma que sua Magestade tem recommendado em repetidas Ordens, que ate agora nao se observaram com total ruina Espiritual, e Temporal do Estado (PORTUGAL, 1830, p ). Para Pombal, o atraso cultural e os males da economia do reino português eram atribuídos aos jesuítas, que pouco tiveram interesse comum à sociedade portuguesa. Além de donos de uma fortuna em ouro e terras, agiam como se pouco se importassem com a formação da ideia de nação portuguesa. Preocupavam-se apenas com a conversão dos infiéis, em qual língua fosse. Assim o fizeram no Brasil, como dissemos, escrevendo a Arte de grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil (1595) 29, pela qual foi gramatizada a língua geral, oportunizando e privilegiando o aprendizado daquele vulgar. Ainda segundo o Marquês, os jesuítas à frente da educação, preocupavam-se mais em formar eclesiásticos, enquanto o reino encontrava-se carente de mão-de-obra qualificada nos setores do comércio. Com o reinado de D. José I, os jesuítas perdem espaço, e a preparação da burguesia e dos filhos da burguesia para os negócios tornou-se prioridade deu-se início ao projeto de formação do nobre comerciante 30. De acordo com o texto do 29 Arte de grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil (1595), por José de Anchieta. 30 O nobre comerciante foi um termo originado das reformas pombalinas a partir das ações de nobilitação da camada burguesa. Os termos nobre comerciante e nobre militar correspondem à ideia de perfeito comerciante e perfeito militar, respectivamente.

37 37 legislador, em diversos Alvarás, estava claro o caminho que se iria percorrer para resgatar tanto a cultura portuguesa quanto sua economia. Depois do Alvará de 1757, outros foram assinados, os quais abordavam várias questões, entre elas, a institucionalização das Aulas de Comércio e Militares, a criação de concursos públicos para mestres e a autorização para a publicação de obras, com a criação da Real Mesa Censória em Interessam-nos, de acordo com a proposta de nossa pesquisa, aqueles que tratam da língua portuguesa. Depois que o Estado recuperou o poder sobre a educação do reino e colônias, outra medida foi tomada visando à reestruturação econômica através da reformulação dos estudos. O Alvará de 1759 determina a criação de aulas régias de Latim, Grego e Retórica, e nele estão as Instruçoens 31, que explicam, por exemplo, os procedimentos do método a ser adotado para se aprender os preceitos de gramática. Nas Instruções, o legislador condenava o uso de gramáticas muito complexas, de teor enciclopédico, escritas em latim, e recomendava, portanto, a confecção de compêndios gramaticais claros e simplificados, entretanto, sem que fosse ignorada a elegância língua portuguesa. No VI e VII parágrafo das Instruçõens, deveriam os mestres oferecer aos alunos noções básicas sobre a língua materna antes que eles fossem apresentados à língua latina, apontando a semelhança da primeira com a segunda, objetivando capacitá-los para definir ou reconhecer os Nomes, Verbos, e as Partículas. Em seguida, quando julgassem que seus alunos estavam bem estabelecidos nestes rudimentos, os lentes deveriam apresentar os autores cuja escrita era considerada clara e fácil de compreender. Além disso, preocupou-se com a correção do uso da ortografia, dando importância à composição, e pensou-se na utilização de dicionários práticos, dessa forma proibindo o uso da Prosódia (1723), de Bento Pereira ( ). A intenção desses procedimentos metodológicos era propiciar aos discentes huma boa copia de termos, e frases da Lingua, e alcançar o modo de servir della, portanto era aconselhável que se ensinasse a ler corretamente, para em seguida, tentar o exercício da escrita, com o auxílio de compêndios de regras claras e breves, deixando para a consulta dos lentes, obras mais aprofundadas como a Minerva de Francisco Sanches ( ), e a Grammatica pelo Epitome do Methodo de Port-Royal (1660) (ANDRADE, 1966, p. 336). Com a modificação do método de ensino do latim, a partir 31 Instruçoens para os Professores de Grammatica Latina, Grega, Hebraica, e de Rhetorica, datadas de 28 de junho de 1759, como Suplemento da dita lei, orientavam os mestres das disciplinas quanto à duração das aulas, às formas mais agradáveis de ensinar e aprender, às horas de classe ou aos procedimentos a serem adotados com relação à indisciplina (OLIVEIRA, 2010a, p. 75).

38 38 dos conhecimentos da língua materna, deu-se início as primeiras tentativas de inclusão da língua portuguesa no programa educacional português. O Alvará de 30 de setembro de 1770 é uma peça legislativa que trata da oficialização do ensino de gramática portuguesa 32. Nele, está determinado que os lentes deviam introduzir os alunos primeiro no conhecimento de seu vernáculo, deixando o ensino do latim para quando eles tivessem sido expostos ao ensino da gramática portuguesa por seis meses. O legislador ainda autoriza a Arte da Grammatica da língua Portugueza, de Antonio Jose dos Reis Lobato provável pseudonimo do Pe. oratoriano Antonio Pereira de Figueiredo ( ), também autor do Novo Methodo de grammatica latina parao uso das escolas da Congragação do Oratório, em dois volumes (1752 e 1753). No texto da lei, observamos claramente o papel do Estado no processo de escolarização, desde a regulamentação dos materiais didáticos até o método a ser adotado: Sou servido ordenar que os Mestres da Lingua Latina, quando receberem nas suas Classes os discipulos para lha ensinarem, os instruirao previamente por tempo de seis mezes, se tantos forem necessarios para a instruccao dos Alumnos, na Grammatica Portugueza, composta por Antonio Jose dos Reis Lobato, e por Mim approvada para o uso das ditas Classes, pelo methodo, clareza, e boa ordem, com que he feita (PORTUGAL, 1829, p. 497). A lei de 1770 concebe a língua portuguesa como patrimônio nacional, privilegiando o ensino da língua pátria e indo em direção contrária ao que diziam alguns eruditos que achavam desnecessário institucionalizar o ensino do português, pois ele podia ser aprendido facilmente com o contato com outros interlocutores (BARBOZA, 2011, p. 86). O texto da lei em questão, além de retomar o discurso em defesa da língua nacional, acima de tudo, torna-a uma questão política. De acordo com o legislador, privilegiar-se-ia o ensino do vernáculo, pois: [...] sendo a correcção das linguas Nacionaes hum dos objectos mais attendiveis para a cultura dos Povos civilizados, por dependerem della a clareza, a energia, e a magestade, com que devem estabelecer as Leis, persuadir a verdade da Religião, e fazer uteis, e agradaveis os Escritos [...] (PORTUGAL, 1829, p. 497). O Alvará de 1770 objetivava não só o ensino de língua materna nas escolas, mas também a aprendizagem pelos alunos da língua por princípios e não por mero instinto e hábito. Isso os tornaria capazes de conhecer outras línguas, uma vez que estariam 32 Mais conhecido como o Alvará de que oficializa a Arte da Grammatica da língua Portugueza de Antonio José dos Reis Lobato, a primeira gramática oficial da língua portuguesa.

39 39 adotando, conscientemente ou não, princípios comuns de aprendizagem linguística. Obrigar os professores a ministrarem suas aulas em vernáculo, por pelo menos seis meses, dá à aprendizagem do vernáculo em Portugal uma conotação evidentemente nacionalista e não só cultural. Afirma el-rey, na pessoa do Marquês de Pombal, no Alvará de 1770, o seu desejo de adiantar a cultura da língua Portuguesa nestes meus Reinos e Domínios, para que nelles possam haver Vassallos uteis ao Estado. Esse trabalho não vislumbra nenhuma apologia à figura do Marquês de Pombal. Sabemos dos seus métodos violentos para imposição do poder. Pretendemos interpretar suas ações referentes à educação, em especial à língua portuguesa. Portanto, não ignoramos a relevância da legislação elaborada por ele e seus assessores, e também a consequente frutificação de seus atos no tocante à produção de compêndios. As leis e provisões, prescritas por Pombal, unem-se em ações pedagógicas, através das quais o Estado toma para si a responsabilidade educacional do país. Um breve olhar sobre essas leis, provisões e alvarás que, como afirma Oliveira (2006, p. 18) tinham força de lei, sobre instrução pública, ao indicarem método ou compêndio, são verdadeiras sentenças quando adotados por determinada matéria, representando, dessa maneira, a força do Estado sobre o futuro da instrução pública de uma nação. Determinar o término do chamado Período Pombalino é tarefa complexa para os historiadores, visto que suas ações não pertencem apenas ao período em que D. José I esteve no governo. Mesmo após sua deposição 33, o ideário pombalino se fez presente nos governos posteriores, tendo sua extensão até o Brasil, mesmo quando já independente. Como conclui Falcon (1993, p. 225), o período pombalino solda-se historicamente não com aquilo que o precede, mas com o que vem depois. É a longevidade da obra político-pedagógica elaborada por Pombal o centro de nossas pesquisas. Ao tornar a língua portuguesa oficialmente parte integrante do saber escolar, a legislação pombalina contribuiu para a construção da ideia de língua nacional, reconhecendo que isso culminaria na escolarização da língua, mas também na sua expansão, já que através dela seria transmitida a ideologia do governo. Nesse sentido, os colonizados serviriam como instrumento essencial para o funcionamento e recuperação da máquina do Estado português, o qual agiu para insuflar em seus súditos o espírito de nacionalidade e pertença. 33 Pombal foi deposto assim que D. Maria I assumiu o trono português, em 13 de março de 1777, e outros Secretários de Estado foram nomeados.

40 40 Figura 1 - Folha de rosto da Arte da Grammatica da Língua Portugueza de Antonio José Reis Lobato, oferecida a Sebastião José de Carvalho e Melo. 2. PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA: INTERCÂMBIO COMERCIAL 2.1 O interesse pelo Português: expansão linguística Através da trajetória percorrida pela língua portuguesa, é possível perceber a representação que a língua teve e suas implicações no contexto sociocultural português. A expansão territorial portuguesa e a consequente difusão da língua da metrópole foram paralelamente acompanhadas pela composição de um aparato didático para a transmissão linguística, a qual servia a diferentes propósitos, políticos e religiosos. De acordo com Orlandi (2001, p. 36), não há política linguística sem gramática e, em sentido inverso, a forma da gramática define a forma das políticas linguísticas (a relação com a língua/a relação com as línguas). Os dicionários e gramáticas surgiram em grande número a partir do Renascimento, uma vez que a expansão territorial colocou o homem da Europa em contato com outros povos, impondo-lhes sua língua (FÁVERO, 1992, p. 30).

41 41 O português difundiu-se nos séculos XVI e XVII, quando Portugal estabeleceu seu Império colonial e comercial, que se estendia desde o Brasil a Goa, incluindo outras partes da Índia, a China, ao Timor e a cinco países africanos que constituíam o grupo dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa 34. O português foi usado como língua franca exclusiva no Sri Lanka (colonizado pelos portugueses no século XVI) há mais de trezentos e cinquenta anos. Não foi usada apenas para administração colonial, mas para comércio entre os residentes locais e europeus de várias nacionalidades (JAYASURIYA, 2008, p. 29). Além disso, a união matrimonial e os esforços missionários da Igreja Católica contribuíram consideravelmente para sua expansão. Durante a era dos descobrimentos, os reinos encontravam-se ainda sujeitos aos dogmas da Igreja, mas a partir do Iluminismo a visão do Estado e da sociedade revestese da ideia de progresso, o mesmo servindo para a língua (THIELEMANN, 2007, p. 130). Não se trata apenas da conquista de territórios e povos considerados bárbaros, mas sim da divulgação da fé cristã (católica) como o meio para a realização do sonho português: a internacionalização de sua língua, nos moldes do império romano, e que fariam de Portugal uma nação com prestígio global. No final do século XV, o rei D. Manuel I ( ) criou um Estado Português no Oceano Índico, o qual não se limitou apenas às províncias marítimas, mas expandiu suas possibilidades comerciais e de inserção da língua portuguesa. Sabe-se que a partir de 1504 já estavam sendo enviados livros ao Congo, Goa, Canonor e Malaca, os quais eram de natureza religiosa, e quase sempre acompanhados das Cartinhas, ou Cartilhas. A jornada teve início, na verdade, em 1488, com a expedição do Mestre Álvaro, dominicano e pregador régio de D. João II ( ), encarregado da tarefa de converter infiéis, que com ele foram seus livros eclesiásticos e morais. Logo depois, alguns livros e dois impressores são enviados ao Congo, para então, entre 1504 e 1514, registrarem-se Mestres de Ler e muitos livros indo ao Congo, caixotes de cartilhas remetidos a Cochim e 2000 cartilhas enviadas a Negus, concluindo Telmo Verdelho (2001, p. 80) que as cartilhas tornaram-se frequentes e poderão mesmo ter constituído os primeiros best-seller do negócio editorial português. Como nos conta Hue (2007, p. 17), Em 1515, cerca de duas mil cartilhas portuguesas foram enviadas para a Abissínia. As cartilhas portuguesas, na África, no Oriente e na América, 34 Atualmente são seis os países que compõe o grupo Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo-verde e São Tomé e Príncipe.

42 42 ensinam português com textos religiosos, com os mandamentos da madre Igreja, como diz o título da cartinha de João de Barros. A alfabetização operaria também uma conversão dos povos colonizados. O Império pretendia se solidificar não apenas comercialmente, ou na conquista bélica dos territórios, mas também com a expansão da língua, com alfabetização em português, e com a conversão dos povos ao catolicismo. Dessa forma, na segunda metade do século XVI, o português já se encontrava espalhado ao longo da costa africana e asiática, desde Cabo Verde a Cantão e Molucas, como uma língua franca, conforme nos confirma Jayasuriya (2008, p. 4) 35. Por ser o português uma língua essencialmente representante do Cristianismo, a catequização era um dos motivos pelos quais se ensinava o idioma. Para sintetizar esse primeiro momento de expansão da língua portuguesa, Jayasuriya refere-se ao renomado linguista alemão, Hugo Schuchardt, estudioso das línguas creolas. Segundo ele, A história das conquistas territoriais portuguesas é equivalente à história da expansão da língua portuguesa. Atividades missionárias engrandeceram sua expansão, uma vez que era considerada a língua do Cristianismo por excelência. O conhecimento acerca do Português era tido como referência da cultura europeia (apud JAYASURIYA, 2008, p. 4). 36 Além dessa razão catequética, aponta ainda a autora supracitada que a escassez de mulheres portuguesas nas regiões da África e Ásia contribuiu para que se criasse um método de miscigenação, o qual resultaria numa geração de mestiços bilíngues capazes de intermediar a transmissão de traços culturais portugueses aos nativos, e foram, portanto, as vozes da troca comercial entre o Oriente e o Ocidente. Ao longo do tempo, observa-se que a necessidade de dominar os vernáculos, por razões já mencionadas, provavelmente fez da aprendizagem de língua estrangeira o motivo para a gramatização das línguas, por isso os dicionários nasceram bilíngues. Com o advento da imprensa, no século XV, e a escolarização das populações, dicionários e gramáticas começaram a ser produzidos em maior escala, diminuindo assim o seu custo e tornando-se mais acessíveis. Segundo afirma Verdelho (2000, p. 16), 35 Do original: From the second half of the sixteenth century, the Portuguese spread their language, mostly in pidginised and creolised forms, as a lingua franca along the coasts of Africa and Asia, from the Cape Verde Islands to Canton and the Moluccas. Dra. Shihan de Silva Jayasuriya é pesquisadora Senior do Institute of Commonwealth Studies, da Universidade de Londres, preocupa-se em investigar as trocas migratórias, comerciais e culturais portuguesas. Além disso, é membro do Comitê Científico Internacional da UNESCO. 36 Original: Schuchardt pointed out that the history of the discovery of the Portuguese conquests is likewise the history of the spread of the Portuguese language. Missionary activities enhanced the spread of Portuguese, which was considered the language of Christianity par excellence. A knowledge of Portuguese was looked upon as an index of European culture (JAYASURIYA, 2008, p. 4).

43 43 O simples desenvolvimento do exercício da escrita não podia deixar de suscitar uma necessária reflexão gramatical e uma consequente produção metalinguística, com natural relevo para a elaboração de tipo lexicográfico. Juntamente com a emergência da escrita vernácula, o confronto com o latim, muito especialmente na instância escolar, deve ter provocado imediatamente o aparecimento de glossários e outros materiais de apoio à intercompreensão das duas línguas, exercitando a sua equivalência lexical. Apesar de a expansão ultramarina ter sido um ponto forte para o reino de Portugal, dentro do país havia convergências sobre o valor da língua portuguesa. No confronto com o latim e mesmo com o castelhano, sustentado principalmente pela carência de normatização ortográfica do português, alguns autores portugueses se engajaram no movimento humanista de defesa deste vernáculo, como vimos no capítulo anterior. Todavia, o confronto com o latim não foi uma reação apenas para que o vernáculo fosse elevado ao nível de língua de cultura simplesmente, mas uma alteração advinda principalmente de um surto da burguesia, nomeadamente a comercial, que não dominava a língua dos varões doutos e que cada vez mais redigia textos em vulgar, provando que o latim continuaria como língua de prestígio, mas que fora das instituições educacionais não funcionaria de forma plena (THIELEMANN, 2007, p. 132). Uma vez colocada no mesmo patamar das outras línguas de cultura, e com a interferência da camada burguesa, a língua portuguesa transcende suas fronteiras e é também ensinada como língua estrangeira. No que tange à expansão e uso do português, Hue (2007, p. 32) esclarece que: O português foi usado como língua intermediária no Oriente, servindo para entendimento entre europeus e asiáticos e, ainda hoje, permanece no vocabulário de muitas línguas da região. No Brasil, ao longo dos séculos da colonização, falava-se uma língua geral tupi, e, posteriormente, o português foi instituído como língua oficial através do decreto de Interessante é observar que durante o movimento de defesa em favor da língua portuguesa, além dos argumentos para ressaltar a sua beleza e pureza, o discurso de persuasão para aprendê-la como língua estrangeira já tomava conta das obras publicadas na época. Muitas das obras do século XVI são escritas em forma de diálogo. Nesse modelo, destacaremos a obra de João de Barros. Suas Cartinhas, editadas em 1539, 37 Na realidade, o ensino da língua portuguesa no Brasil iniciou-se em 1757, através da Lei de três de maio de 1757, conhecida como Lei do Diretório dos Índios, uma vez que impunha aos nativos do Brasil o uso da língua portuguesa, instituindo-a como língua oficial da colônia (PORTUGAL, 1829, p. 508).

44 44 estão entre algumas das primeiras (se não a primeira de que se tem conhecimento) das obras que exploram o português como língua estrangeira: [...] a Cartinha situa-se na esteira de outras cartinhas, tentativas de dar aos meninos o primeiro leite de sua criação, primeiro livro para aprendizagem da língua materna e para ensino da língua portuguesa aos povos de outros continentes não-latinizados (FÁVERO, 1996, p. 34). É em sua Grammatica da Lingua Portugueza (1540), que Barros deixa evidente sua visão quanto à expansão da língua 38. Durante o diálogo entre o pai e o filho, aquele propõe: Certo é que não há aí glória que se possa comparar a quando os meninos etíopes, persas, indos d quém e d além dos Gandes, em suas próprias terras, na força de seus templos, e pagodes, onde nunca se ouviu o nome romano, por esta nossa arte aprenderem a nossa linguagem, com que possam ser doutrinados em preceitos da nossa fé, que nela vão escritos (apud HUE, 2007, p. 58). Evidentemente, a língua portuguesa era vista por Barros como língua imperial, e poderia servir como excelente medidor da fé cristã. Portanto, a expansão do português só ajudaria na disseminação da fé e do catolicismo. Como dito anteriormente, o ensino de língua estrangeira não pode ser pensado sem a ideia de imperialismo e propagação da fé cristã, esta realizada principalmente nos séculos anteriores à Era das Luzes, em que a língua torna-se o mais indispensável instrumento para alcance desses objetivos. À medida que a visão socioeconômica dos reinos se modifica, as línguas passaram a despertar interesse de forma e em lugares diferentes. No processo de ascensão do português, o idioma obteve destaque como língua estrangeira mesmo antes do Inglês, em Portugal 39. A própria obra de Barros indica apreciação do idioma fora do país. Outro exemplo disso é um dicionário de 11 línguas publicado em 1617, Guide into Tongues, de John Minscheu ( ), que insere o português, em perfeita paridade com o espanhol, o Inglês, o Francês, etc. (TORRE, 1985, p. 9). Em 1662, James Howell publicou em Londres sua A New English Grammar prescribing certain Rules as the Language Will bear for Foreners to learn English...also another Grammar of the Spanish or Catilian toung with some special remarks upon the Portuguese dialect, a qual dedicou à D. Catarina de Bragança. As observações do autor sobre o Português 38 Embora tenhamos falado sobre João de Barros no capítulo anterior, retomaremos o seu trabalho mais uma vez, uma vez que o escritor se insere tanto no momento em que se iniciou o debate acerca da magnitude do latim e dos vernáculos, quanto foi também um percussor e visionário no tocante à expansão da língua portuguesa. 39 O inglês despertou interesse dos portugueses apenas no início do século XVIII (TORRE, 1985, p. 10).

45 45 fazem parte de um pequeno texto de quatro páginas, que complementam um dicionário trilíngue (11 páginas apenas) Inglês-Português-Espanhol 40. É uma obra semelhante à que Bluteau ( ) publicou no século seguinte, no tocante ao aspecto contrastivo entre o português e espanhol, mas muito aquém quanto ao conhecimento linguístico de Bluteau e à clareza de critério de sua obra (ROGELIO & DUARTE, 2005, p. 380). 41 A gramática foi o meio pelo qual o ensino se deu, por vezes numa abordagem contrastiva das línguas, nos cruzamentos linguísticos e culturas. Por esta razão, o latim ofereceu aos manuais a sistematização de tradição teórica aplicável à gramatização das línguas seguida pelo ensino além-fronteiras, quando dicionários e diversas cartilhas foram elaborados. Como a gramática latina serviu de referencial metodológico para os compêndios vernaculares, ela também se tornará o modelo sistemático para aprendizagem de língua estrangeira (TORRE, 1985, p. 6). Até este momento, reconhecem-se os primeiros passos para a construção e dilatação do saber linguístico acerca do português como língua estrangeira. Dessa forma, este saber linguístico se constitui num modelo pedagógico sistemático, ainda que seu conteúdo e estruturação estivessem longe de serem considerados didáticos e de fácil entendimento. Em 1672, é publicada a Ars Grammaticae pro Lingua Lusitana addiscenda Latino idiomate proponitur, in hoc libello, velut in quadam academiola divisa in quinque classes, instructas subselliis, recto ordine dispertitis, ut ab omnibus tum domesticis, tum exteris frequentari possint 42 (Lugduni), do jesuíta Bento Pereira ( ). Autor mais conhecido pela sua lexicografia e ortografia, o padre jesuíta deixa bem claro nesse título qual é sua meta ao tratar de uma gramática do português. Escrita em latim, a obra contém trezentas e trinta e cinco páginas e é direcionada aos aprendizes estrangeiros 43, como afirma: Este meu livro chama-se Arte de Gramática da língua dos 40 Dicionário intitulado A Short Dictionary or Catalog of such Portuguese Words That have no Affinity with the Spanish, parte de A Grammar of the Spanish or Castilian Toung (ROGELIO & DUARTE, 2005, p. 375). 41 Referimo-nos ao seu Vocabulario de Vocabularios Portuguezes, Castelhanos, Italianos, Franceses, e Latinos, com a noticia dos tempos, e lugares, em que foraõ impressos, parte do suplemento II do seu Vocabulario Portuguez, y Latino (1721, p ), onde, para o primeiro par de línguas, refere obras de Bento Pereira, Jerónimo Cardoso, Agostinho Barbosa, Amaro de Roboredo, Duarte Nunes de Leão, Francisco Sanches, Ambrósio Calepino e Thoma de Luce, e embora não se tenha registro de que Bluteau (inglês por nascimento) tenha tido ou não conhecimento da obra de Howell, pode-se observar uma semelhança estrutural entre os trabalhos, conforme observaram Rogelio e Duarte (2005, p. 380). 42 Tradução do latim feita por Gonçalo Fernandes (2009, p. 4): A Arte da Gramática para se aprender a língua portuguesa publica-se no idioma latino, por este livro, assim como em qualquer escola, dividida em cinco classes, ordenadas pelos graus, distribuídas pela ordem correta, para que possam ser frequenta das por todos, tanto os nativos como os estrangeiros. 43 Seu primeiro alvo eram os estrangeiros, mas não descartava a possibilidade de sua Arte servir aos portugueses: [...] a Gramática de Língua Portuguesa, que te ofereço, se fores estrangeiro, para que a

46 46 Portugueses para ser aprendida pelas nações estrangeiras 44. Com isso, o autor pretendia transmitir o conhecimento da língua portuguesa para fins tanto religiosos quanto comerciais, porque era um idioma essencial para a comunicação global. Em seu Prefácio ad lectorem, traduzido por Fernandes (2009, p. 1), evidencia-se claramente sua intenção: Como não se me esfria o amor da pátria, embora se arrefeça a idade, mas mais e mais se incendeia, sobretudo neste tempo, em que vejo Portugal, depois que lutou venturosamente, está em paz, que concedeu de bom grado, e estabeleceu o comércio com toda a nação que está sob firmamento, e glorifica com o nome de Cristo, dói-me muito que os portugueses careçam de uma arte com a qual apresentem a sua língua aos estrangeiros para ser aprendida. É, pois, evidente que, quer no espiritual quer no laico, se espera um maior proveito na facilidade de aprender a nossa língua, para que quer os comerciantes estrangeiros nos enriqueçam com seus bens e se enriqueçam com os nossos, quer os pregadores vão até aos confins da terra ou do império lusitano, onde as nações bárbaras se enriquecem com os bens verdadeiros do Evangelho. Além do teor religioso, Bento Pereira demonstra que sabia da importância da elevação do português, pois Portugal acabara de se desvincular da Espanha. Havia, porém, a necessidade de Portugal se estabelecer economicamente diante dos outros reinos que também lutavam pelo seu status de destaque no cenário europeu. Pereira propunha o surgimento de uma disciplina que pudesse ensinar o idioma materno aos portugueses (fato que em Portugal apenas acontecerá com o decreto de 1770) e aos estrangeiros, ao mesmo tempo em que apontava a ausência de obras que pudessem sistematizar o processo de ensino-aprendizagem. Bento Pereira foi revisor geral da Companhia de Jesus e Reitor do Seminário dos Jesuítas Irlandeses em Lisboa, tendo, dessa forma, que conviver com muitos estrangeiros, o que pode ter contribuído para a produção de uma obra para o ensino de português como estrangeira. Bento Pereira dividiu sua gramática em cinco partes, todas baseadas na organização da gramática latina. Além disso, elaborou uma parte em que estavam distribuídas frases bilíngues sobre virtudes e vícios para aquisição de vocabulário e, evidentemente, para a formação religiosa e moral. Assim, o gramático dispõe diversos temas de formação moral, primeiro em português, em seguida as traduz para o latim. A aprendas, se nacional, a corrijas. Prefácio, ad lectorem, traduzido do latim por Gonçalo Fernandes (2009, p. 5). 44 Tradução de Gonçalo Fernandes (2009, p. 1): Meus iste líber nuncupatur Ars Grammaticae pro Lusitano rum lingua ab exteris nationibus addiscenda.

47 47 mesma técnica é observada em várias obras destinadas ao ensino-aprendizagem de línguas. A luta do português para se destacar como uma língua digna se fez também para contrastar-se com o castelhano, por ter sido considerada filha deste. Escritores como José Macedo ( ), sob o prisma purista de reformar a língua por ser ela o espelho do latim 45, pretendiam consideráveis neologismos a partir da formação de palavras por derivação. Macedo, sob o pseudônimo de Antônio de Mello da Fonseca, defendeu a pureza da língua como forma de elevá-la: Antigamente dizíamos Romaons e Castellanos: e parece-me, que ninguém dirá, que não foi boa a mudança, com que farão alteradas estas palavras. Se nisto me não engano, que fundamento pode haver, para que se entenda, que se a nossa industria chegasse a fazer em outras o mesmo, que só a pura contingência tem efeito nestas, experimentaríamos nisso algum detrimento? (FONSECA, 1710, S.N.) Até esse momento, não encontramos obras sobre o português que interessassem aos espanhóis e que pudessem servir de aproximação entre os dois povos da Península, excetuando a publicação do Diccionario Castellano y Portuguez para facilitar a los curiosos la noticia de la lengua Latina, con el uso del Vocabulario Portuguez, y Latino (1721), de Rafael Bluteau ( ). Esta obra visava facilitar o acesso dos espanhóis ao português e compunha o volume III do seu Vocabulario Portuguez, y Latino. Com este dicionário, Bluteau rompe um ressentimento histórico entre as nações da Península Ibérica. A sua é a primeira obra com o formato de dicionário, tendo como antecedentes lexicográficos apenas Porta de Línguas (1623), de Amaro Roboredo (? ), e a Prosódia in vocabularium trilingue latinum, lusitanum et castellanum digesta (1634), de Bento Pereira. Esta obra não ambiciona assumir o estatuto de manual didático, mas sim o de consulta sobre o latim e o português, sendo o português, na verdade, o meio pelo qual o acesso àquela se torna mais fácil na leitura de seu Vocabulario Portuguez y Latino. Em seu texto Methodo breve, y fácil para entender Castellano y la lengua portuguesa, é possível notar o conhecimento do português como mediador para o aprendizado do latim pelos falantes do castelhano 46, trazendo uma proposta de compreensão parcial da escrita: 45 Como fora considerada na obra de Contador de Argote Regras da língua portugueza: espelho da latina (1725). 46 Apesar da produção de gramáticas de língua portuguesa para o ensino desta como estrangeira, observamos em nossas pesquisas que foi mais comum uma prática lexicográfica dos jesuítas imbuída de um projeto catequético. A partir daí, as línguas seriam instrumentalizadas para a conversão dos infiéis. É o caso, por exemplo, dos jesuítas no Japão durante os séculos XVI e XVII em que o povo japonês,

48 48 [...] Desea mi curiosidad introduzirme en los Reynos de Castilla, no ya con la pretension de que los Castellanos aprendan a hablar Portuguez, mas con el intento, que los curiosos de lenguas lo entiendan, para aprovecharse del nuevo Vocabulario, Portuguez, y Latino, se està acabando de imprimir (BLUTEAU apud LEÓN & DURTE, 2005, p. 379). No início do século XVIII, a ideia de simplificação das obras destinadas ao ensino das línguas pela conversão ao vernáculo ganha força e, a partir deste momento, compêndios serão produzidos em grande escala. Sempre tomando como modelo de organização latina, os compêndios dão menos vazão à ideologia religiosa do ensino de língua, preocupando-se mais com o caráter utilitário que preenchia as exigências da época. Com isso, Couto (2004, p. 3) nos diz que: A preocupação do Iluminismo português e europeu retoma as ideias de reforma pedagógica já existentes na Europa do século XVI e manifesta-se na época pombalina numa crítica radical do ensino jesuítico e dos seus procedimentos, baseados na filosofia aristotélica, no comentário textual, na disputatio entendida como simples exercício mecânico de habilidade lógicoformal e numa casuística arbitrária e probabilística. Como vimos, seguindo este pensamento, reformas político-educacionais foram propostas em Portugal, institucionalizando o ensino e legislando compêndios que veiculasse o ideal prático e técnico em conformidade com a demanda por sujeitos qualificados para as áreas do comércio, mediante orientação de métodos simples, claros, mas também elegantes de descrever e explicar as línguas. Não só os que estavam em Portugal contribuíram para a ascensão do país e sua língua, como também os ilustrados que beberam das correntes fora de seu país, sejam eles os expatriados ou estrangeirados. culturalmente civilizado, tem sua língua gramatizada pelas tecnologias da tradição latina e da vernacular portuguesa, o que Auroux (1992, p ) classifica como um processo de endogramatização. Outros compêndios onde a língua portuguesa deve ter agido como mediadora do conhecimento entre línguas são: Dictionarium Latino Lusitanicum, ac Iaponicum ex Ambrosii Calepini (1595), usado no Japão e o Dictionnarium annamiticum, lusitanum et latinum (1651), na China.

49 49 Figura 2 Folha de rosto da Ars Grammaticae pro Lingua Lusitana (1672) Figura 3 Folha de rosto do Diccionario Castellano, y Portuguez (1721) 2.2 O Contexto Anglo-Português A relação de convívio entre Portugal e Grã-Bretanha, desde tempos remotos, tem sido registrada na história. O reino britânico esteve ao lado de Portugal em momentos decisivos, reforçando inclusive a sua segurança. Embora tenham sempre dialogado nas relações comerciais, a história nos mostra que essa relação não era igualitária, uma vez que os vários acordos e tratados assinados entre ambas as nações trouxeram mais benefícios à Grã-Bretanha que à Portugal A aliança luso-britânica foi firmada em vários acordos. O Tratado de Windsor celebra a união entre as coroas portuguesa e britânica, devido ao enlace matrimonial do rei de Portugal, D. João I ( ), com D. Filipa de Lencastre ( ), legitimando a dinastia de Avis ( ). Em 1640, o reino britânico reconhece a restauração da independência de Portugal, com a extinção da União Ibérica. As

50 50 Todavia, no tocante aos longos anos de intercâmbio luso-britânico, é relevante analisar os elementos dessa relação sob a luz da língua. A história dessa aliança só vem a evidenciar a importância mediadora que as línguas tiveram para a sua longevidade. Ao término do estatuto do latim como língua internacional, os vernáculos inglês e português têm, então, a chance de obter a sua maioridade. Não obstante, esses vernáculos não tardaram a receber o prestígio que mereciam no campo das relações internacionais, sobretudo, no âmbito comercial, e a transitar lado a lado, frequentemente na presença de outras línguas europeias, em compêndios multilíngues (TORRE, 1990, p. 214). Enquanto esses vernáculos se encontravam em processo de ascensão, vários intelectuais engajaram-se em compilar gramáticas e dicionários, com um intuito também de beneficiar as relações internacionais entre as nações. Isso explica a maneira como alguns autores irão selecionar e organizar os conteúdos, focalizando o saber linguístico como forma de atender as necessidades práticas da sociedade. Até meados do século XVII, as línguas portuguesa e inglesa surgiram, de acordo com Torre (1990, p. 215), [...] num conjunto de outras línguas, sem merecerem tratamentos claramente específicos. Em muitos casos é mesmo visível uma certa incompetência dos autores, especialmente no que se refere ao correcto emprego da língua portuguesa. Mas a situação vai mudar, sem que tal signifique que a qualidade linguística deixe de merecer reparos, manifestando a Inglaterra interesse pelo estudo do português antes de Portugal se interessar pelo estudo do inglês. A união das coroas pelo enlace matrimonial também esteve presente na história da relação luso-britânica. Um, em particular, gerou a produção de duas obras que supunham atenderem aos públicos dos dois países. Em 1662, a Infanta Catarina de Bragança casa-se com o então rei Carlos II, da Inglaterra, momento em que a Índia passa a pertencer à Inglaterra por meio do dote real. Para auxiliar a nova rainha, foi enviado de Portugal o Dr. Russel 48, incumbido de ensinar-lhe o inglês. Em seguida, James Howell (1594?-1666) homenageia a rainha com a sua New English Grammar, prescribing certain Rules as the Language will bear; for Forreners to learn English also another Grammar of the Spanish or Castilian toung with some speacial remarks upon the Portuguese dialect (1662). Em seguida é a vez do francês, Monsieur relações luso-britânicas renovam seus laços firmando acordos comerciais e econômicos, são os casos dos Tratados de Paz e Aliança, firmado em 1654, e o Tratado de Methuen, de Dr. Russel foi um padre católico, formado no College of Saints Peter and Paul, um seminário inglês fundado em Lisboa, em 1622, e que haveria de ficar popularmente conhecido durante séculos por Colégio dos Inglesinhos (TORRE, 1990, p. 216).

51 51 De La Molliere, capitão nos exércitos do rei D. João IV, pai de D. Catarina, homenagear o rei, Carlos II. Dedica-lhe a sua Portuguese Grammar: or, Rules shewing the True and Perfect way to Learn the said Language. Newly Collected in English and French, for the Use of either of each Nation that desire to Learn the same. Quanto às suas metas, o autor chama a atenção para a necessidade de aprender o português também pelos mercadores ingleses, que chama de Gente do Trato, justificando o conteúdo de sua obra como um facilitador até quando necessitarem de mediação com espanhóis, já que uma pessoa que entende o Português, pode com facilidade entender o Espanhol, enquanto que os Espanhóis podem com grande dificuldade entender os Portugueses 49. Além disso, Molliere notifica a existência da demanda de gramáticas portuguesas pelo público londrino, fato que, de acordo com Torre (1990, p. 218), mais uma vez, denuncia o interesse que os britânicos despertaram pela língua dos portugueses. Uma rainha portuguesa pode ter contribuído para o interesse, mas não menos provável seria o interesse de ordem comercial. No contexto luso-britânico, o caráter instrumental desses compêndios de língua ganhará força a partir do século XVIII, quando da explicitação dos objetivos de manutenção das relações entre Portugal e Grã-Bretanha pela mediação desses saberes linguísticos. O período oitocentista simboliza um momento áureo na lexicografia interlingue, quando se publicam diversos vocabulários didáticos e de termos técnicos. O mesmo acontece nos manuais de gramática, sobre os quais a busca por um método científico repercutirá, fazendo-os formular seu conjunto de regras em número reduzido, baseando-se nas observações factuais que permitem tanto a postulação de regras particulares da língua-alvo quanto discorrer sobre regras gerais de língua (COUTO, 2004, p. 7-8). Em 1762, confirma Teles de Menezes em sua Gramatica ingleza ordenada em portuguez que, [Os Inglezes] tem diferentes gramáticas da língua Portugueza; quazi todos a aprendem, especialmente aqueles (e he a mayor parte a nação) que se aplicam ao comercio (apud SANTOS, 2010, p. 117). Comerciantes ingleses já estabelecidos primeiramente em Portugal e depois no Brasil, com a chegada de D. João VI e sua corte em 1808, tinham a necessidade de aprender o idioma português, tão importante para os negócios entre os dois países. Por conta da histórica relação comercial entre Portugal e 49 Tradução nossa de: Person that understands the Portuguez Tongue, can with ease understand the Spanish, whereas the Spaniard doth with great difficulty understand the Portuguez (MOLLIERE apud TORRE, 1990, p. 218).

52 52 Inglaterra e também dinástica a aprendizagem de inglês pelos portugueses e de português pelos ingleses era mais que natural. Era, pois, útil o aprendizado das línguas em vias duplas. Verney, indiretamente, recomendara, em 1746, o aprendizado de línguas estrangeiras, quando afirmava que: Antigamente, entendiam os doutos que era necessário saber Latim para saber as Ciências, mas o século passado e neste presente, desenganou-se o mundo e se persuadiu que as ciências se podem tratar em todas as línguas [...]. Os Ingleses, os Franceses, Holandeses e Alemães etc, começaram a tratar todas as ciências em vulgar. Esta é a moda. Os melhores livros acham-se escritos em vulgar (VERNEY, 1746, tomo I, p. 122). Não é raro encontrar, nos prefácios das gramáticas, discursos que demonstram a completa consciência de que o comércio entre essas duas nações havia se tornado uma questão importante, e que o conhecimento da língua portuguesa pelos ingleses era-lhes muito relevante. Apesar de ser indispensável o estudo do inglês pelos portugueses, se levarmos em conta o que disse Teles de Menezes, quando afirmou que os ingleses são uma gente que temos tão dentro de casa, observava-se a ausência de gramáticas inglesas escritas em português. Quanto aos ingleses, dizia ainda Menezes, quase todos se iniciavam, especialmente aqueles que se aplicavam ao Comércio (OLIVEIRA, 2006, p. 42). Se olharmos de volta no tempo, em 1655, a língua portuguesa surge na Inglaterra como autônoma, quando Richard Fanshawe ( ) faz a tradução de os Lusíadas para a língua inglesa 50. Não menos relevante é observarmos a passagem de grandes homens cultos pela Inglaterra, a saber, Sebastião de Carvalho e Melo, a serviço da coroa portuguesa, e João Jacinto de Magalhães 51 ( ). Ao abordar a expansão territorial iniciada em Portugal, Luiz Francisco Midosi ( ) justifica a Part I Portuguese de sua New Grammar (1832) pelo fato de os ingleses possuírem uma relação comercial frequente com os habitantes das colônias portuguesas, tornando indispensável o conhecimento sobre o português: Os portugueses, tendo sido os primeiros a se aventurarem a navegar pelas águas do Cabo da Boa Esperança e descoberto uma porção da América do Sul, espalhou sua língua, não só pelos Brasis, África e suas ilhas, mas também ao longo da Península da Índia, adjacente arquipélagos, Malaca e outras partes [...]. A importância, pois, do conhecimento deste idioma para os ingleses, que têm muitos estabelecimentos lá, parece óbvio a qualquer indivíduo. Pelo Português, as relações com os nativos podem ser bastante 50 Gonçalves Rodrigues aponta que A literatura como fonte de deleite estético só virá a ser descoberta com a versão de os Lusíadas levada a cabo com grande aparato crítico por William Julius Mickle em 1776 (apud ESCRIBANO, 2006, p. 110). 51 Autor de Novo epitome da grammatica Grega de Porto-Real: composto na lingoa Portugueza para uzo das novas escolas de Portugal (1760). Mudou-se para a Inglaterra em 1764.

53 53 facilitadas, sendo a língua portuguesa comumente entendida e falada lá, assim como o Francês na Europa (MIDOSI, 1832, p. vi). 52 Os textos nos Prefácios, Cartas ao Leitor, geralmente expressam os interesses que cada público tem quando do estudo da língua-alvo. Estão escritas na língua materna do público alvo e nem sempre são traduções daquilo que foi escrito na primeira parte e vice-versa (no caso das obras bilíngues), isto é, podemos encontrar ideias e informações diferentes entre as cartas de cada parte, a depender dos objetivos e concepções do autor sobre o ensino daquela língua. Além disso, nem sempre a língua escolhida para estar na primeira parte indica que a ela foi dada maior destaque. Observamos que, naqueles compêndios 53 destinados ao ensino tanto do português como do inglês, a língua portuguesa é mais expressivamente exaltada por seu valor linguístico e pela sua competência para a expressão cultural, bem como por sua enorme utilidade para as relações comerciais enquanto que a atenção destinada ao inglês é menor, haja vista o desenrolar do discurso, até mesmo a extensão dos textos em cada parte A Compleat Account of the Portugueze Language (1701) Finalmente, no início do século XVIII, surge um dicionário que marca a tradição dos estudos portugueses na Inglaterra. Publicado em Londres, sua autoria é desconhecida, uma vez que o autor apenas se identificou através da iniciais: A.J.. Foi intitulado A Compleat Account of the Portugueze Language. Being a Copious Dictionary of English with Portugueze, and Portugueze with English (1701) 54, destinouse ao ensino de língua portuguesa aos ingleses e consistia em um dicionário bilíngue 52 Referimo-nos ao prefácio de sua obra A New Grammar of the Portuguese and English Languages in two parts, adapted to both nations, arranged on a Philosophical System, containing a list of verbs and nouns spelt alike, but differently pronounced; and also na useful apêndix (1832). Original traduzido do inglês pela autora deste trabalho: The Portuguse, having been the first European people who ventures to weather the Cape of Good Hope and discovered a portion of South America, have spread their language, not only through the Brazils, Africa, and its island, but also very widely throughout the Peninsula of India, adjacent Archipelago, Malacca, and other parts [ ]. The importance, therefore, of a knowledge of it to the English, who have so many estabilhments there, must be obvious to every one. By tis means an intercourse with the natives may be much facilitated, the language being as commonly understood and spoken there as the French in Europe. 53 Referimo-nos as obras de A.J. (1701), J. de Castro (1731), Antonio V. Transtagano (1768), Luiz F. Midosi (1832), que se dispõem ao ensino de português e inglês apenas, os quais serão abordados a diante. 54 Título completo: A Compleat Account of the Portugueze Language. Being a Copious Dictionary of English with Portugueze, and Portugueze with English. Together with Easie and Unerring Method of its pronunciation, by a distinguishing Accent, and a Compendium of all the necessary Rules of Construction and Orthography digested into Grammatical Form. To which is subjoined by way of Appendix their usual Manner of Correspondence by Writing, being all suitable as well to the Diversion and Curiosity of the Inquisitive Traveller, as to the Indispensable Use and Advantage of the more Industrious Trader and Navigator to most of the known Parts of the World.

54 54 Português-Inglês e Inglês-Português, com extensão razoável, mas sem paginação. O dicionário é seguido por uma parte, intitulada A Compendium of all the necessary Rules of Construction and Orthography digested into a Grammatical Form, a qual lembrava ser uma Grammatica Anglo-Lusitanica (TORRE, 1985, p. 12). Semelhantemente às gramáticas dos séculos XVII e XVIII (modelo que se perpetuará até o século XIX), ordenada em inglês, composta por secções sobre a fonética (explanação detalhada), morfologia e sintaxe, partes do discurso com definições e exemplificações, sem fazer uso de diálogos ou frases bilíngues. Num apêndice descritivo dos gêneros textuais de caráter comercial, como cartas e documentos, o autor demonstra o uso dos pronomes de tratamento usados em correspondências escritas em português e oferece vários modelos de cartas (mais de vinte), colocadas em colunas primeiro modelo em Português, ao lado, a tradução em inglês. Na secção Ao Leitor, não paginada, o autor relata que não foi sua intenção inicial escrever o Compleat Account, o qual afirma ser mais um amaranhado de dados que ele registrou em beneficio próprio, do que uma obra planejada para vir à luz, por isso teria sido ído ao túmulo com ele, não fosse a persuasão de alguns amigos. Assim como outros autores, A.J. fez honrosa defesa da língua portuguesa, tratando-a como filha do latim e dando-lhe elementos de superioridade em relação ao italiano e ao castelhano, pois nela, exclusivamente, estão as graças existentes em cada uma das línguas supracitadas. Quando exalta a pátria portuguesa, por seu poder tanto comercial quanto pelo domínio territorial, justifica, como uma obviedade, a necessidade e esperada aceitação do seu Compleat Account pelo público inglês (A.J., 1701). Para o autor não é novidade que o português [...] espalhou-se com sucesso pelas Quatro Partes do Mundo, nas quais os Portugueses se tornaram famosos para toda a Posteridade pelas suas Descobertas e Conquistas; e até mesmo agora onde sua Espada descansou seu terrível poderio, a Língua se estabeleceu como padrão, sendo até os dias de hoje admirada e considerada como o veículo por todos aqueles Territórios e Domínios das Partes Orientais e Sudoeste do Mundo, além de ser muito celebrada e referida até esta data por todas as Nações para o Comércio (A.J., 1701, To the Reader) Tradução nossa do original: [...] hath successfully spread it self through all the Four Parts of the World, in which the Portugueze have so famed themselves to all Posterity for their early Discoveries and Conquests; and even now where their Sword hath laid aside its awful Power, the Language hath set up its Standard, being at this day look d upon as the most useful and safest Convoy through all those vast Tracts and Dominions of the Eastern and South-west Parts of the World, so much celebrated and resorted to in tis Age by all Nations for Trade and Commerce.

55 55 A.J. não só entendia que era importante o estudo da língua portuguesa para facilitar as relações desenvolvidas com os portugueses, como lembrava os leitores ingleses, que em seu caso, isso era ainda mais indispensável: Uma vez que a Correspondência em Inglês no Comércio do o Reino de Portugal tem continuado por tantos Anos, e é mesmo no presente considerável, e nossa Navegação para todas aquelas Partes onde aquela Nação ainda tem grandisos Terriotórios e Domínios em sua Posse, e onde eles deixaram as pegadas de suas primeiras conquistas [...] o presente Trabalho não pode deixar de ter Aceitação desejável pelo Público (A.J., 1701, To the Reader). 56 Pode-se presumir que o autor não tenha sido um português, em virtude do que disse ainda no Prefácio sobre a pronúncia: É sabido quão difícil tal Pronunciação das Línguas Modernas é para nossos climas do Norte 57. Considerando a citação acima, é possível pensar que ele tenha sido um inglês, tendo em vista as expressões nossa Navegação, aquela Nação, suas Possessões, eles deixaram. Levantou-se a suspeita de que o autor do Compleat Account teria sido um jesuíta, já que as letras A. J. poderiam ser interpretadas como A Jesuit. Podia-se achar verossimilhança nessa hipótese ao comparar a segunda parte, o Vocabularium Lusitano-Anglicum, com o Tesouro da Língua Portuguesa (1647), de Bento Pereira foi integralmente transcrita (VERDELHO, 2011, p. 16) 58. É possível que a urgente demanda de obras direcionadas à preparação dos ingleses na língua portuguesa tenha contribuído para as reedições do Compendium 59, separadamente, em 1702, em Londres, e em 1705, em Lisboa, esta última com acréscimos dos Diálogos Familiares. 56 Tradução nossa do original: And since the English Correspondence in Trade with the Kingdom of Portugal, hath been for these many Years, and is at this time so very considerable, and our Navigation to all those Parts where that Nation hath yet in their Possession very large Territories and Dominions, and where they left the remaining Footsteps of their earliest Acquests[ ] the present Design cannot miss of a desirable Acceptance from the Publick. 57 Tradução nossa do original: It is well known how uneasie the due Pronunciation of the Modern Tongues is to our Northern climates. 58 Luís Cardim, um professor da Faculdade de Letras do Porto, foi quem cogitou a hipótese de que o autor deste dicionário fosse um jesuíta, para depois descartá-la, achando mais plausível que se considerasse a autoria de um sacerdote irlandês, formado no Colégio dos Inglesinhos (TORRE, 1990, p. 223). Para esclarecer brevemente o leitor quanto ao dito Colégio, na verdade foi um Seminário destinado a receber e formar os meninos católicos irlandeses, fugitivos da perseguição religiosa. 59 Secção que segue o Compleat Account.

56 56 Figura 4 Folha de rosto do Compleat Account (1701) Grammatica Lusitano-Anglica ou Portugueza, e Inglesa, a qual serve para instruir aos Portuguezes no idioma Inglez (1731) Quase trinta anos depois do Compleat Account, publica-se, em Londres, a Grammatica Lusitano-Anglica ou Portugueza, e Inglesa, a qual serve para instruir aos Portuguezes no idioma Inglez, de J. de Castro. Publicada em várias edições, a primeira data de A gramática de Castro possui duas partes, a primeira destina-se à 60 Foi publicada em várias edições tanto em Londres quanto em Lisboa, sofrendo alterações na titulação. A edição a qual tivemos acesso é a segunda edição, de 1751, intitulada de Grammatica Anglo-Lusitanica

57 57 instrução dos Inglezes que desejassem alcançar o conhecimento da Lingua Portugueza e a segunda, ao uso dos Portuguezes que tivessem a mesma inclinação a Lingua Ingleza 61. Com sua obra, o autor pretendia valorizar as relações comerciais entre as nações inglesa e portuguesa através da língua. No Prefácio escrito em inglês, consta que a obra objetivava dar ao português, voz de língua digna de atenção dos ingleses, fazendo uma trajetória histórica de sua ascensão desde a ocupação romana. É também outra obra que contrastará o português com o castelhano, argumentando que se os mesmos povos habitaram tanto a Espanha quanto Portugal, a língua portuguesa poderia ser no mínimo irmã do castelhano e não filha. É válido ressaltar que, por questões de ordem comercial, ao negociante inglês era mais interessante conhecer o idioma português do que o espanhol. Castro defendia que o português era mais fácil ao inglês do que o castelhano, além de ser considerado língua franca nas costas índica e africana, pois lá havia se estabelecido o império português, onde negócios com diversos povos eram feitos, como dito anteriormente (CASTRO, 1751, p. iii-iv). A parte gramatical destinada aos ingleses possui 162 páginas. Em seguida dá-se lugar ao Vocabulário English-Portuguese, onde se veem listas de palavras divididas em grupos: adjetivos, números, cores, verbos necessários. Trazia diálogos familiares, convertidos nas duas línguas, mas por haver maior incidência do português e uma maior disposição à defesa deste na obra deste autor, Santos (2010, p. 108) sugere que seu objetivo maior era o ensino de português como língua estrangeira a parte sobre o português contém 240 páginas e a inglesa De acordo com Torre (1985, p. 14), a gramática em questão fará parceria com as duas partes componentes de A Compleat Account Vocabularium Anglo-Lusitanicum e Vocabularium Lusitano-Anglicanum para formar um conjunto de tecnologias utilizado para o aprendizado de inglês pelos portugueses. É evidente que poderiam servir para o aprendizado de inglês pelos portugueses por estar escrita nas duas línguas. Entretanto, não se deve dispensar a & Lusitano-Anglica: or a New Grammar, English and Portuguese, and Portuguese and English; Divided into Two Parts. 61 Tradução nossa do que se explica na capa deste compêndio. Ver fotografia no final dessa secção. 62 Elaine Maria Santos foi a primeira integrante do GPHELB a estudar aprofundadamente os compêndios de língua inglesa no recorte temporal do período pombalino, entre eles está o de J. Castro. Consultamos seu trabalho, bem como os de Torre (1985; 1990) e Oliveira (2006) em busca de mais dados sobre a obra de Castro (além da própria fonte). Ressaltamos que o objetivo de abordar a Grammatica Anglo-Lusitanica se dá pelo seu propósito de ensino do português como língua estrangeira em uma das partes, especialmente para poder fazer uma comparação à obra de Antonio Vieyra Transtagano (1768), foco maior de nossa pesquisa.

58 58 possibilidade de, pela mesma razão, também servir ao aprendizado do português como língua estrangeira. Este último argumento nos leva ao que Santos (2010, p. 148) sustenta em sua pesquisa: Castro produziu um compêndio preocupado não só com o ensino do Inglês, mas também com o fortalecimento da imagem da Língua Portuguesa e sua aceitação como língua estrangeira nobre a ser estudada e respeitada. Em meio a um ambiente totalmente propício ao surgimento de novas aulas [...]. Novamente as relações comerciais irão mobilizar o estudo das duas línguas. Na Grammatica de Castro, os homens de negócio terão suporte quando oferecidos modelos de cartas comerciais, de documentos como as procurações, apólices, recibos, etc. Destaca-se também o uso das letras de câmbio, mercadorias e seus preços, forma de negociar e de transportar (TORRE, 1990, p. 224). Embora postada no modelo latino, a Grammatica de Castro é mais um compêndio que irá defender que se aprenda primeiro o português, para que se possa ter boa assimilação do latim, retomando, dessa forma, aos preceitos trazidos nos Diálogos de Barros, e aqueles postos em lei, posteriormente, pelo Marquês de Pombal, em A Grammatica Anglo-Lusitanica inicia o momento de interesse pelo inglês gerado em Portugal (HOWATT, 1988, p. 66).

59 Figura 5 Folha de rosto da Grammatica Anglo-Lusitanica e Lusitano-Anglica (1751) 59

60 A Formação do Perfeito Comerciante No início do século XVIII, Portugal encontrava-se atrasado em relação às chamadas nações de cultura, a saber, Inglaterra e França, no que se refere à economia e à educação. No tocante à economia, Portugal havia perdido seus principais mercados na Ásia e na África por conta da união das coroas, em Com a morte de D. Sebastião I ( ) no continente africano, e este não tendo deixado um príncipe herdeiro, D. Felipe II, de Espanha, reivindicou o trono português por ser o parente mais próximo, tornando-se D. Felipe I, de Portugal. A chamada união das coroas durou sessenta anos, trazendo, em consequência, muitos malefícios ao reino português, entre eles a animosidade existente entre os reinos de Espanha e França, de um lado, e da Inglaterra, do outro. Portugal e Inglaterra haviam sidos parceiros militares e comerciais há séculos; a união das coroas fez com que a outrora parceira se tornasse uma de suas maiores inimigas. Após a restauração da coroa portuguesa, em 1640, Portugal buscou manter-se em constante neutralidade nos conflitos entre as nações europeias mais potentes da época (França, Inglaterra e Espanha). O método utilizado pelo reino português para manter-se longe dos conflitos trouxe muitos prejuízos para a nação portuguesa no campo comercial. Portugal fez vários acordos prejudiciais ao seu Tesouro, sendo um dos mais famosos o chamado Tratado de Methuen, assinado em 1703, no qual se estabelecia que Portugal venderia toda a sua produção vinícola do Alto Douro em troca da importação dos tecidos britânicos. Ocorre que tal tratado foi muito mais vantajoso para a coroa britânica, uma vez que os agricultores lusos abandonaram outras culturas acreditando ser esse um grande negócio. Com a escassez de alimentos em Portugal, como resultado desse acordo, boa parte do alimento passou a ser também importado da Inglaterra, agravando mais ainda a situação financeira do país. Quanto à educação, esta esteve entregue aos jesuítas desde 1539, durante a governação de D. João III. O método escolástico adotado pelos clérigos da Companhia de Jesus não mais preenchia as lacunas existentes no ensino de Portugal, o que, nas palavras de Azevedo (2004, p ), muito colaborou para o atraso mental da nação. Vários foram os pensadores portugueses, os chamados estrangeirados, que reclamavam da defasagem intelectual entre a sua nação e as chamadas nações de cultura europeias, entre eles, citamos D. Luiz da Cunha ( ), que reclamava a D. João V do excessivo número de igrejas e mosteiros existentes em Portugal, além de tantos outros

61 61 edifícios que pertenciam à Igreja. Antônio Ribeiro Sanches ( ), por sua vez, famoso médico lusitano médico particular da rainha Catarina, da Rússia criticava de forma jocosa a maneira pela qual se ensinava os moços portugueses o processo de dissecação de cadáveres usando-se pernas de carneiro 63. Não foi, porém, apenas um atraso metodológico dos jesuítas o fator principal no atraso das mentalidades em Portugal. A intolerância religiosa, marcada pelas perseguições da Inquisição, muito contribuiu para que os chamados cristãos-novos, profissionais especializados em suas áreas, fugissem de Portugal, buscando abrigo em terras estrangeiras. Esses cristãos-novos, além de serem especialistas, detinham bens de raiz e geravam empregos. Ao deixarem o país, tudo se perdeu. Ao assumir o ministério da fazenda, em 1750, Sebastião José de Carvalho e Melo ( ) deparou-se com o estado calamitoso no qual a nação se encontrava. Dessa forma, não tardou o ministro de D. José I ( ) a tomar as medidas necessárias para a alavancagem do país. Como apresentamos no capítulo inicial, Pombal tomou algumas medidas ligadas à política linguística, uma de suas primeiras foi o estabelecimento da Lei do Diretório dos Índios (1757), a qual determinava, entre outras coisas, o uso da língua portuguesa de forma oficial em sua maior colônia, o Brasil. O objetivo de tal medida foi claramente tomar posse deste território, uma vez que os jesuítas que aqui haviam estado, por quase 210 anos haviam se tornado muito poderosos, representando assim, uma ameaça ao projeto de revigoração da saúde econômica do reino. Não menos importantes foram as leis de 1759 e a de 1770, as quais repercutiram no ensino do português corroborando a valorização da língua nacional. Isso explica, por exemplo, porque a [...] maioria dos preâmbulos das peças legislativas pombalinas assume um caráter de recuperação econômica, política, literária etc. de um tempo perdido. O período eleito e o século XVI, época da formação dos Estados nacionais, da revolução científica, das reformas religiosas, da colonização, da ascensão dos vernáculos, da gramatização e da escolarização (OLIVEIRA, 2010a, p ). Todavia, não bastaria para Pombal apenas a retomada da sua maior fonte econômica o Brasil se não houvesse no reino a necessidade de uma máquina burocrática qualificada, não somente no campo técnico, mas também intelectual, 63 Os jesuítas não permitiam fazer uso de cadáveres humanos para este tipo de estudo (TEXEIRA, 1999, p ).

62 62 estando em consonância com ideário iluminista do período, que preconizava o ensino destituído do verbalismo do método jesuítico. O Real Colégio dos Nobres, antigo Colégio das Artes, foi inaugurado em 1766, gerenciado pelos jesuítas, teve seus Estatutos confirmados no Alvará de Visava atender aos filhos da burguesia em ascensão, a formação do perfeito militar e perfeito comerciante, de acordo com as qualificações exigidas para a época. Em termos mais claros, deveria o comerciante manter a contabilidade em ordem, saber lidar com o câmbio, e principalmente saber lidar com os estrangeiros. A questão intelectual também era essencial, uma vez que necessitaria conhecer as Humanidades, entre elas as línguas vivas (francês, inglês e italiano), para o bom andamento das negociações. Observou-se que Portugal deveria não só preparar bons comerciantes, mas também perfeitos militares, que pudessem proteger a costa marítima e garantir a integridade da nação contra as possíveis investidas de inimigos estrangeiros. Por esta razão, os Estatutos do Real Colégio dos Nobres estavam baseados na Escola Militar de Paris (1751), cujas influências tocavam na dissolução da ociosidade da nobreza portuguesa, como afirma Ribeiro Sanches: Parece que Portugal esta hoje quazi obrigado, nao so a fundar uma Escola Militar, mas de preferila a todos os estabelecimentos litterarios, que sustentam com tao excessivos gastos. O que se ensina e tem ensinado ate agora nelles e para chegar a ser Sacerdote e Jurisconsulto; e como ja vimos, nao tem a Nobreza ensino algum para servir a sua patria, em tempos de paz nem de guerra (SANCHES, 1922, p. 132). O texto do legislador, nos Estatutos, afina-se bastante com a idealização do ensino aos nobres de Ribeiro Sanches. Ambos defendem a formação de profissionais aptos para servir à nação portuguesa nos diversos campos estratégicos, a saber, nos Negócios Internacionais, no Direito Econômico, na Marinha Mercante e no Exército (OLIVEIRA, 2006, p. 36). A nobreza serviria a seu país, diminuído os gastos de seu oneroso ócio. O Real Colégio dos Nobres estabelece-se com a meta de capacitação de burguesia, a partir da união de seus conhecimentos de homens das letras às competências necessárias ao bom soldado. Sintetiza Ribeiro Sanches a proposta da criação de uma escola preparatória tal qual a criada por Pombal: Antes que se usasse da polvora, e que se fortificassem as Prazas pelas Leis da Geometria e Trigonometria, nao necessitava o General do exercicio das Mathematicas e de alguas partes da Physica: a forca, o animo ouzado e a valentia ja nao sao bastantes para vencer, como quando faziamos a guerra expulsando os Mouros da patria. A Arte da guerra hoje he sciencia fundada

63 63 em principios que se aprendem e devem aprender, antes que se veja o inimigo: necessita de estudo, de applicacao, de attencao e reflexao; que o Guerreyro tome a penna e saiba tao bem calcular e escrever, como he obrigado combater com a espada e com o espontao: o verdadeyro Guerreyro he hoje hum misto de homem de letras e de soldado (SANCHES, 1922, p. 125). A atenção dada ao ensino das línguas é justificada pela importância do acesso do conhecimento científico da época, e atendia aos propósitos de instrução militar, uma vez que as grandes e atualizadas fontes para as aulas no Colégio estavam dispostas em compêndios escritos em francês ou inglês (OLIVEIRA, 2006, p. 37). Dessa forma, a reformulação do currículo do antigo Colégio das Artes incluía as disciplinas científicas, como a Matemática, Astronomia e Física, bem como estavam recomendadas as Aulas de Línguas Vivas (francês, italiano e o inglês), conforme explica o legislador: Nao sendo conveniente que os Collegiaes antes de acabarem a Rhetorica, e de se acharem preparados com as Nocoes que deixo ordenadas, se embaracem com differentes applicacoes; nem que sejao privados da grande utilidade, que podem tirar dos muitos, e bons livros, que se acham escritos nas referidas Linguas: Ordeno que o Collegio pague tres Professores para as ensignarem: e que os Collegiaes depois de haverem passado as classes de Rhetorica, Logica, e Historia, aprendam pelo menos, as Linguas Franceza, e Italiana; ainda que sera muito mais util aos que forem mais capazes, e estudiosos procurarem possuir tambem a Lingua Ingleza (PORTUGAL, 1829, p ). A mudança do currículo suscita a produção e aquisição de compêndios, especialmente os de ensino de línguas. Em 1768, foi publicada em Londres, a New Portuguese Grammar in Four Parts, de Antonio Vieyra Transtagano ( ), que fora do domínio português, objetivava oferecer subsídio linguístico aos ingleses.

64 64 3. ANTONIO VIEYRA TRANSTAGANO: CONTRIBUTOS PARA O ENSINO DO PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA 3.1 Antonio Vieira Transtagano ( ) É durante o século XVIII, período de efervescência cultural portuguesa, que se conhece o trabalho desenvolvido pelo professor português, o estrangeirado Antônio Vieira Transtagano ( ), alentejano emigrante na Inglaterra, e mais conhecido por duas obras, escritas em inglês, que fizeram tradição no ensino de língua portuguesa como estrangeira: A New Portuguese Grammar in four parts (1768) e A Dictionary of the Portuguese and English Languages, in two parts; Portuguese and English, and English and Portuguese (1773). 64 Pouco se sabe sobre a vida deste autor. Obtivemos breves indícios biográficos através do Diccionario Bibliografico Portuguez (1858), tomo primeiro, de Innocencio Francisco da Silva 65 ( ). Nele consta que o sobrenome Transtagano deve ser um apelido 66 denotando evidentemente que fora natural da província do Alentejo e o distingue de outro Antonio Vieira ( ), mesmo que este tenha pertencido aos setecentos. Segundo Silva (1858, p. 293), Transtagano seguira a vida eclesiástica, mas não tinha a certeza de que ele tenha sido um clérigo secular, ou professo em alguma ordem monastica. Possivelmente sofreu alguma perseguição da Inquisição, e não falta quem diga que chegara a ser preso, e que conseguiu depois evadir-se dos carceres. Continua Silva com a hipótese de que certamente teve de expatriar-se, e passou a Inglaterra. Silva registra os rumores de que Transtagano havia se convertido ao protestantismo e residiu em Dublin, onde exerceu cargo de magistério na qualidade de Professor Regio das linguas ingleza, hespanhola, italiana, arabia e persa, no Collegio da Santissima Trindade 67, e foi Sócio da Academia Real das Ciências da Irlanda. Relata Innocencio da Silva a dificuldade que teve em obter informações mais detalhadas sobre Transtagano. Todavia, a maneira como Silva tece a breve biografia de Transtagano 64 Encontramos diferentes ortografias para o nome de Transtagano: Antonio Vieyra Transtagano ou Anthony Vieyra Transtagano, como ele mesmo costumava assinar em suas obras. 65 Innocencio Francisco da Silva foi um renomado bibliógrafo lusófono que reuniu um amplo registro sobre autores de língua portuguesa até meados do século XIX. Sua grande obra intitula-se Dicionário Bibliográfico Português, publicada em vários tomos, e continuada após a sua morte por outros escritores. 66 Por apelido, entenda-se sobrenome em Portugal. 67 A instituição referida por Silva (1858, p. 293) é conhecida na Irlanda sob o nome de Holy Trinity College Dublin.

65 65 levanta a suspeita de que ele possivelmente não teve fontes seguras. É o que se pode perceber em parece que soffrera alguma perseguição da Inquisição, e não falta quem diga que chegara a ser preso, ou em Dizem que ahi [Inglaterra] abraçara o protestantismo. Confessa, ao menos, que ignora as datas de nascimento e óbito de Transtagano e admite terem sido improdutivas todas as tentativas de descobri-las 68. Sabemos que em 1774, John Hely-Hutchinson ( ) tornou-se diretor da Trinity College e, em uma de suas primeiras reuniões com o Conselho, sugeriu que seria de grande utilidade ter Professores de línguas modernas estabilizados na Faculdade. Em menos de um ano, contratou-se o Rev. Antonio Vieyra Transtagano, um imigrante português residente em Londres, reconhecido como professor de Latim e Línguas Românicas, juntamente com o Árabe e Persa e um amador em filologia comparada 69 (Hermathena, 1968, p. 54). Em seguida, é confirmada a presença de Transtagano na reunião de janeiro de Era pago ao professor a quantia de 100 ao ano. Além disso, sabe-se que ele persuadiu o Conselho a investir 40 guinés para cobrir os custos da impressão dos resultados de sua pesquisa sobre as afinidades do latim, italiano, francês, espanhol, português e inglês com o árabe e o persa 70. Nos históricos oficiais da Faculdade, consta que Antonio Vieira Transtagano foi professor na Trinity College Dublin, entre 1776 e 1797 (McDOWELL & WEBB, 1982, p ) 71. As minutas de reuniões, das quais tivemos notícia, apontam Transtagano como professor pesquisador na Faculdade 72. Em 15 de janeiro de 1777, Antonio Transtagano aparece como professor de espanhol e italiano 73, para em 18 de julho de 68 As referidas datas, utilizadas neste trabalho, são provenientes do registro sobre o autor na Biblioteca Nacional de Portugal, disponível em: d=49%3aaquisicoes&itemid=260. Acessado em 02/10/ Tradução nossa de: teacher of Latin and various Romance languages together with Arabic and Persian and a dabbler in comparative philology. As partes da Hermathena (1968), em que Transtagano foi mencionado, nos foram enviadas via pela bibliotecária assistente da Trinity College Dublin, em 27 de julho de É possível ler partes do texto em: vieyra+transtagano&hl=pt- BR&ei=g_NFTIaeK4Gclge_rcS1BA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=4&ved=0CDUQ6AEw Azgo 70 De acordo com a equipe da Trinity College Dublin, as informações sobre os honorários, bem como a pesquisa desenvolvida por Transtagano estão registrados na Revista Hermathena (1968), edições Conforme apresentamos na Introdução deste trabalho, as informações acerca da presença do português Antonio Vieira Transtagano foram obtidas com a ajuda dos funcionários dos setores: Manuscripts & Archives Research Library e Duty Library da Trinity College Dublin. 72 São elas: TCD MUN/V/5/3, março de de dezembro de 1783, p , TCD/MUN/V/5/3, 4 de agosto de 1774, p. 297, TCD MUN/LIB/10/209, 18 de julho de 1796 e TCD MUN/LIB/10/214a. 73 Fonte: TCD MUN/V/5/3, p

66 , constar o seu testamento, no qual é doada à Faculdade sua biblioteca particular 74. Não sabemos se ele faleceu neste ano, é possível pensarmos que um ano depois ele possa ter falecido, conforme é sugerido pela Biblioteca Nacional de Portugal. Antonio Vieira Transtagano, embora residente no estrangeiro, não esteve desligado das questões da língua e cultura portuguesas. Nas palavras de Innocencio da Silva (1858, p. 293), foi um sábio portuguez, que ainda em paiz extranho honrou a sua pátria, e a serviu com seus escriptos. Com suas produções ajudou a colocar o português no mesmo patamar do inglês, francês e italiano o português deixou de ser uma língua secundária e passou a estar igualado às línguas de cultura da época. No tocante à instrumentalização de pessoas para as diversas necessidades de intercâmbio entre portugueses e ingleses (e vice-versa), Transtagano produziu dois compêndios, que se complementam, uma gramática e um dicionário, e que adquiriram tradição, publicados e reeditados várias vezes, chegando a servirem de referência a outros escritores quando da produção de suas obras. Suas produções são de fundamental importância, pois são compêndios voltados para o ensino do Português como língua estrangeira, escritos em inglês, e serviram para estreitar as relações entre Portugal e Inglaterra, e podem ter sido usados inclusive pelos portugueses. Em seu Prefácio da New Portuguese Grammar, afirma ser a utilidade da língua portuguesa tão bem conhecida por todos os mercadores ingleses que fazem negócios em geral nas diferentes partes do mundo conhecido, e, portanto será desnecessário utilizar-se de quaisquer argumentos aqui para prová-lo (TRANSTAGANO, 1768, p. v) 75. Quanto ao estudo da língua inglesa pelos portugueses ele o justifica pela relação econômica, bélica e mercantil que Portugal sempre teve com a Inglaterra. Nesse sentido, foi com o intuito não só de facilitar o acesso às grandes obras inglesas e portuguesas, das quais se poderia aprender em prol do progresso, mas principalmente para promover este progresso e facilitar a manutenção das relações comerciais entre os dois países, como explica em seus Prefácios de seu Dictionary of the Portuguese and English Languages (1773), intitulado To the Reader, na primeira parte, destinada aos ingleses, e Ao Leitor, na segunda, voltada para os portugueses A New Portuguese Grammar in four parts (1768) 74 Fonte: TCD MUN/LIB/10/ Tradução do original: As the usefulness of the Portuguese language is so well known to all English merchants, who carry on a general trade with the different parts of the known world, it will be needless to use any arguments here to prove it.

67 67 Durante o século XVIII, temos notícias de duas obras destinadas ao ensino de português como língua estrangeira, publicadas na Inglaterra respectivamente, um dicionário, o Compleat Account (1701), e uma gramática, a Grammatica Lusitano- Anglica ou Portugueza, e Inglesa (1731). Não só estão destinadas ao ensino do português como língua estrangeira, como também o conteúdo encontra-se explicado na língua materna de seu público alvo, os ingleses. Apesar de todo esforço para a publicação delas, percebe-se que essas obras não foram suficientes para atender à demanda de material didático prático e confiável para o aprendizado de português, a não ser aqueles que serviam aos próprios portugueses no aprendizado de sua língua materna. Aponta Castro (1731, p. vii) que não se tem notícia de outra obra do português, para ingleses, em Londres, a não ser aquele Compleat Account, cujo trabalho foi feito em tão confuso método. Passados quase quarenta anos, viu-se publicada em Londres a New Portuguese Grammar in four parts (1768), de Antonio Vieyra Transtagano ( ). O autor, residente na Inglaterra, apresenta-se em sua gramática, como Teacher of the Portuguese and Italian Languages. Para ele, a ausência de obras que pudessem auxiliar os ingleses com a aprendizagem de língua portuguesa era um grande inconveniente e razão pela qual ele mesmo decidiu trazer à luz duas obras que se complementam, uma gramática e um dicionário. Relata o autor que, tendo muita dificuldade em encontrar livros portugueses naquele país, achou-se obrigado a oferecer parte de sua coleção particular aos Cavalheiros a quem teve a honra de assistir no estudo da língua portuguesa 76 (TRANSTAGANO, 1768, p. vi). Com essa afirmação Transtagano desconsidera a existência de qualquer obra escrita em inglês que valha a pena ter como referência para o aprendizado de português como idioma estrangeiro. Por esta razão, afirma Torre (1985, p. 19), que: Embora destinada ao ensino de Português, esta gramática deve ter exercido bastante influência nas gramáticas ulteriormente publicadas e destinadas a portugueses, particularmente no que toca aos diálogos familiares que apresenta em versão bilíngue, o português e o inglês lado a lado na mesma página, na parte final da gramática. Quase sessenta anos mais tarde estes diálogos eram ainda transcritos ipisis verbis em gramáticas inglesas publicadas em Portugal por diferentes autores. 76 Adaptação de: Having found a great difficulty of procuring Portuguese books in this country, I have been commonly obliged to furnish with part of y private collection those Gentlemen whom I have had the honour of assisting in the study of this language, during my residence here (TRANSTAGANO, 1768, p. vi).

68 68 As várias edições de sua gramática relevam que a sua obra atendeu ao público durante muito anos, tendo sido referência para outros gramáticos, como o Pe. Peter Babad ( ), em cujas mãos fortuitamente caiu 77 a New Portuguese Grammar, e John Laycock (1811?-1885?), o qual afirmou parecer-lhe imensurável que nenhuma outra, exceto a de Transtagano devia ter surgido na Inglaterra, para assistir-nos na aquisição de tão útil língua 78, ao apontar o pequeno número de portugueses fluentes no inglês (LAYCOCK, 1825, p. iii). Para ambos os gramáticos, as obras de Transtagano merecem destaque pelos fins a que se prestaram. A elaboração da New Portuguese Grammar foi motivada pela relação existente entre Portugal e Inglaterra e a necessidade de se estreitar os laços entre as duas nações pela disposição de termos úteis às áreas do Comércio, Navegação e Guerra, como está explicitado no próprio título da obra. Diante da escassez de obras, fazia-se urgente a elaboração também de um dicionário, o qual anuncia o autor estar a sua primeira adiantada e a caminho do prelo, no momento em que se publica a sua gramática. Por essa razão, justifica a alocação do discurso sobre a relevância de se aprender português para o Prefácio do seu A Dictionary of the Portuguese and English Languages, in two parts; Portuguese and English, and English and Portuguese, a ser publicado em 1773, e se põe breve para dizer que é bem conhecida a todos os mercadores ingleses, que negociam com diferentes partes deste mundo (TRANSTAGANO, 1768, p. vi). Dessa forma, o autor reserva o seu Prefácio, com duas breves páginas, para explicar e justificar as partes nas quais está dividida a sua gramática. Na primeira, consta o que é essencial para a compreensão do todo. Ao final da segunda parte, há uma explicação completa das Partículas, às quais foram dedicados mais tempo e labor, porque este assunto tem sido até o momento muito negligenciado. Na terceira, encontra-se uma coleção ampla do que até o momento foi publicado sobre os termos do COMÉRCIO, GUERRA, NAVEGAÇAO, &c, que para a presente relação entre as duas nações rendem utilidade particular. Por fim, a quarta parte oferece algumas passagens selecionadas dos melhores autores para não só proporcionar o contato com a 77 Sobre a gramática de Transtagano, encontramos no Prefácio da Gramática de Peter Babad [...] very fortunately fell into the hands of the editor, whe his work was half done; and here he candidly confesses that he is very much indebted to this celebrated author and grammarian for the improvement of this grammar (BABAD, 1820, p. vi). 78 Tradução nossa: [ ] it seems unaccountable that but one grammar, that of Vieyra [ ] should have appeared in England, to assist us in the acquirement of so useful language.

69 69 literatura em português, mas também facilitar a leitura de seus mais eminentes Historiadores, como Goes, Barros, Pinto, etc, cuja ortografia difere da moderna 79. As três primeiras partes dividem-se em capítulos. São abordados nas secções da primeira parte: o alfabeto português e a maneira de pronunciar cada letra separada, bem como as letras combinadas em sílabas, os artigos, substantivos, pronomes e verbos, os particípios, os advérbios, preposições, conjunções e interjeições, como também algumas abreviações usadas no português. A última consiste apenas na cópia de extratos retirados dos clássicos escritos em português. A Parte I consiste na exposição que o autor considera como a base de tudo. Inicia-se com a apresentação das letras do alfabeto português e como geralmente são pronunciadas isoladamente (de A a Z). Sua explicação fonológica se dá na sequência: a) letra e b) som correspondente ao inglês. Há muita cautela do autor em ilustrar os sons dessa forma, já que não dispunha dos alfabetos de transcrição fonética, ao contrário do que encontramos em Castro (1751, p. 3), cuja mesma estratégia pode tê-lo levado a alguns erros, como quando tentou explicar a maneira de pronunciar o nosso nh. Para este mesmo som, Transtagano não imprime nenhuma tentativa de criar uma pronúncia para o inglês, prefere referir-se a outras línguas como o italiano ou francês, evitando cometer imprecisões em sua New Portuguese Grammar. Explica, N antes de h tem o mesmo som que gn em Italiano, ou nas palavras Francesas Espagne, Allemagne (TRANSTAGANO, 1768, p. 6) 80. O som das vogais dentro das sílabas, explica-os tentando ilustrá-los com um correspondente em inglês, seguido de exemplos de palavras portuguesas com aquele som para o som da letra e, afirma existirem dois sons diferentes, um próximo ao ay em dayly e outro, ao e em mellow, respectivamente encontrados nas palavras fé e rede (TRANSTAGANO, 1768, p. 3). Dá-se a mesma sequência expositiva com as consoantes. Quanto ao som do C, suas argumentações são comuns ao que dizia Verney, em O autor propunha uma reforma ortográfica ç : Gostaria que os letrados em Portugal seguissem a Real Academia de Madri, expurgando a cedilha, e substituindo-a pelo s, já que existe em ambas as 79 Tradução do original: in the Fourth Part I have given some passages selected out of the best Portuguese Authors, and which will, at the same time, facilitate the reading of their most eminent Historians, such as Goes, Barros, Pinto, etc, whose Orthography differs considerably from the more modern (TRANSTAGANO, 1768, p. vi). 80 Do original: N before h has the same sound as gn in the Italian, or in the French words Espagne, Allemagne.

70 70 línguas o mesmo som sibilante, que frequentemente causam grande confusão quanto ao seu uso correto (TRANSTAGANO, 1768, p. 4). 81 Finalizando as lições sobre o modo de pronunciar, o gramático aborda os sons dos ditongos. Dessa vez, não parte da tentativa de achar um som correspondente no inglês. Muito simples e breve é a exposição dos ditongos em colunas de um lado a lista dos ditongos, seguida de um exemplo em português, e finalmente a tradução daquela palavra para o inglês. Pede ao leitor que atente apenas para a necessidade de pronunciar distintamente cada uma das vogais 82. Por algumas vezes é possível observar a semelhança com o modelo da gramática latino, quando da explicação do conteúdo da primeira parte. Na secção dos artigos, por exemplo, expõe a declinação dos cinco casos (nominativo, acusativo, ablativo, dativo e genitivo), embora, não abrangendo o caso vocativo, como fez Castro 83. A maneira como dispõe os conteúdos tanto é visualmente mais limpa quanto mais didática. Está bastante distanciada da forma dos conteúdos do Compleat Account, menos teórica e proporciona exemplos relevantes. 84 Não parece ser objetivo do autor dar noções de gramática, como era o formato das gramáticas até aquele tempo, mas apresentar as estruturas pertinentes à língua portuguesa numa gramática de forma mais prática. Portanto, ele procura ser bastante didático nas disposições dos conteúdos. Nesse sentido, basta para o autor explicar que os artigos concordarão em gênero, número e caso. Faz apenas uma ressalva ao comparar o artigo definido do inglês com os do português, muito relevante ao seu público aprendiz: Observe, o Português tem um artigo para cada gênero, tanto para o singular quanto para o plural 85. Por fim, em duas colunas, uma para o singular outras para o plural, ele declina os artigos e os nomes que os precedem no masculino, e em seguida faz o mesmo para o feminino. 81 Tradução de: I could wish the learned in the Portugal would follow the resolution of the Royal Academy of Madrid, by expunging such dash, and placing the s in its stead, since they have in both languages the same hissing sound, which frequently occasions great confusion in the proper use of them. 82 Antonio Transtagano, Op. Cit., p As primeiras partes da New Portuguese Grammar ensinam as partes morfológicas da língua, as quais estão organizadas ao modo do pensamento dos gramáticos de Port-Royal, com algumas noções de gramática geral, e ainda buscando demonstrar a estrutura do português a partir das declinações semelhantes ao latim, como também é visto na Grammaire générale et raisonnée (1660). 84 Segundo Auroux, (1992, p. 43), Falar da constituição em rede do conhecimento linguístico no processo massivo de gramatização é mais do que uma simples imagem. É esta estrutura que torna eficaz o acúmulo de conhecimentos ou se quisermos a acessibilidade generalizada de todos os pontos (alemão, inglês, espanhol, francês, italiano, português) que têm entre si uma relação fortemente conexa, ou, mais simplesmente, para aqueles que conhecem o latim. 85 Antonio Transtagano, Op. Cit., p. 9.

71 71 Explicar os artigos por meio dos casos de declinação do modelo latino pode ser interessante quando falamos do ensino de português aos ingleses e vice-versa. Há entre as duas línguas em questão diferenças estruturais que, ignoradas pelo ensino, fazem com que o aprendiz seja impreciso por influência da gramática de sua própria língua. Com isso dizemos, por exemplo, que é relevante chamar a atenção para o seguinte: O acusativo deste artigo não é expressado em inglês: exemplo, Eu conheci a seu pay, I knew his father; eu conheci a sua may, I knew his mother. O artigo indefinido pode ser também colocado antes de infinitivos, e significa to; como, he tempo de falar, de dormir, &c. it s time to speak, to sleep, to read, &c. eu vou a ver, a falar, I am going to see, to speak (TRANSTAGANO, 1768, p. 10) No primeiro caso, não saber da necessidade da omissão que fazemos do artigo ao expressar Eu conheci a seu pay em inglês, poderia nos levar à quebra da norma. No processo de code switching 86, sem a comparação entre as estruturas das duas línguas, incorreríamos no erro no segundo caso também, já que geralmente de é traduzido como of, e, portanto seria contra a regra dizer It is time of speak. Isso nos dá evidência da percepção linguística do autor quanto à dinâmica das línguas. Os vários ensinamentos em sua gramática não se distanciam da consciência de que essa obra destina-se aos falantes de língua inglesa, e que logicamente se faz necessária a exposição dos mais particulares casos para que o aprendizado aconteça claramente. É possível observar que o autor atém-se muito mais a colocar em evidência as particularidades do português, em contraste com o inglês, do que enxerir regras pouco significativas e entediantes em sua gramática. Transtagano fazia parte de um contexto em que o debate sobre o que ensinar e, principalmente, como ensinar estava em efervescência. Contemporâneo de figuras como Verney, Sanches, Castro, e mesmo Sebastião de Carvalho e Mello, Transtagano possivelmente acompanhou o debate das ideias dos pensadores de sua época. A reavaliação e reforma em Portugal não pertencia àquele país apenas. Na verdade, seus intelectuais beberam em fontes estrangeiras e trouxeram os conhecimentos para sua terra natal. Sabe-se que as ideias do iluminismo circulavam pela Europa, nas Academias, nas reuniões e encontros entre os intelectuais da época. À medida que o tempo passava, podia-se observar uma maior preocupação didática com os conteúdos nos compêndios metalinguísticos, desde a própria seleção do que se ensinar, 86 Mudança de um código para outro.

72 72 preconizando a simplificação das explicações e conceitos, e assim tornando-os mais claros e concisos, até a disposição visual dos mesmos. Enquanto na Grammatica Lusitano-Anglica ou Portugueza, e Inglesa os conhecimentos acerca dos artigos encontram-se dispostos em três páginas, com bastante ênfase nas declinações latinas, Transtagano o faz em duas páginas, e com mais cuidado em demonstrá-los particularmente ao público-alvo. Para ilustrarmos, diz Transtagano, quando explica os substantivos, que eles têm vários tipos de terminação, apenas dois gêneros, o masculino e o feminino, não têm variação de casos, como o Latim, e é apenas o artigo que distingue o caso 87. Para conhecer os substantivos, basta saber que haverá variação de casos e que apenas os artigos irão se diferenciar, e, portanto não se faz nada a não ser mudar o artigo de acordo com seu gênero 88. Explica ainda o gênero dos substantivos a partir de suas terminações: a, e, i, o, u, y. Embora com estilo mais simples e conciso, a New Portuguese Grammar fornece subsídios concretos para o bom aprendizado do português. Ela tem caráter normativo, ensina as regras, tentando se distanciar do enciclopedismo: Nomes terminados em a são geralmente do gênero feminino; como rosa, a rose; janela, a window, etc. Deve-se excetuar dia, a day; planeta, a planet [...]. Observe, que o plural dos nomes terminados em a é formado pela adição da letra s ao singular; o mesmo serve para o plural de todos os nomes que terminam em vogais (TRANSTAGANO, 1768, p. 12) Dessa forma, importa-nos saber que a letra a indica o gênero feminino e que com a letra s se faz o plural dos substantivos terminados em vogais, excluem-se aqui as explicações do porquê e o raciocínio em torno da regra. Se houve uma melhor organização dos conteúdos na Grammatica de Castro, em relação ao Compleat Account, houve ainda mais na gramática de Transtagano. Em termos práticos, a obra de Transtagano tem grandes chances de ter sido usada, principalmente por ser menos cansativa do que aquelas disponíveis na época. Essa pode ter sido uma das razões para que sua obra tenha alcançado uma tradição, visto que foi publicada em várias edições até final do século XIX e reeditada, evidentemente, para adaptar-se às exigências e às modificações feitas na própria língua em cada época 89. A exposição dos conteúdos da New Portuguese Grammar se faz por vias menos teórica, 87 Cf., Antonio Transtagano, Op. Cit., p Cf., Antonio Transtagano, Op. Cit., p A última edição da gramática data de 1813, mas esta obra encontra-se até hoje reimpressa. Encontramos impressões de 2010 à venda em: acessado em 18/03/2012.

73 73 de caráter normativo, e a exemplificação das regras constantemente leva em consideração a dinâmica da língua materna do público-alvo. A sintaxe é o foco da segunda parte, finalizada pela ortografia e etimologia da língua portuguesa. Nesta parte, receberá atenção aquilo que há muito tem sido negligenciado 90. No tocante à ortografia portuguesa, Antonio Vieyra Transtagano faz algumas observações, divididas em 11 casos, alertando o consulente para as variedades ortográficas da língua. Para o autor, poder-se-ia manter a escrita das palavras para deixar clara sua etimologia. No contexto em que a ortografia da língua portuguesa ainda está em processo de padronização, a ação do autor não é apenas de ensinar uma língua como estrangeira, mas de ajudar os próprios compatriotas a fixar a ortografia das palavras em questão, tão confusas e já apontadas por Verney em 1746, quando afirmou que mesmos os portugueses não estavam certos de sua ortografia: como alguns confundem o ch com o x, a começam com x aquelas palavras que deveriam começar com ch, considerei útil oferecer uma coleção delas 91. Ao longo dessa coleção de palavras, oferece alguns esclarecimentos quanto ao ce/se para que se perceba a questão semântica quando associada à ocorrência de homófonos em português, como é o caso em cerrar e serrar. Quanto à duplicação de letras, existe um contraponto com Verney, que pregava a remoção de uma letra, já que se escutava apenas uma letra, tendo, portanto, a ortografia das palavras que ser gerida pelo som que se pronuncia, excluindo a duplicação de letras como os dd em addicionar. Transtagano não sugere nenhuma redução, justifica apenas a ocorrência das letras duplicadas pela etimologia latina. Por esta razão, dedica um espaço, em quase três páginas na sua gramática para abordar a Etimologia Latina da Língua Portuguesa secção dividida em 21 regras. Isto se deve ao conhecimento proveniente das pesquisas que o professor desenvolvia sobre as línguas clássicas. A terceira parte consiste em uma ampla coleção dos termos do Comércio, Guerra, Navegação, &c. que até o momento se tem publicados, e que à relação atual entre as duas nações rendem particular utilidade (TRANSTAGANO, 1768, p. vi). Esta parte divide-se nos seguintes capítulos: I) As Frases mais elegantes da Língua Portuguesa, II) Vocabulário de Palavras mais usadas no Discurso, III) Uma Coleção de Provérbios Portugueses e IV) Diálogos Familiares. 90 Cf., Antonio Transtagano, Op. Cit., p. v. 91 Cf., Antonio Transtagano, Op. Cit., p. 196.

74 74 No primeiro capítulo, as frases são dispostas em duas colunas, uma com as frases em português e na outra a versão em inglês. São também organizadas por categorias temáticas, como Expressions of Kindness e To shew Civility, ou por serem construídas a partir de uma determinada palavra, geralmente indicada da seguinte maneira: The different significations of andar, to go. Essa secção assemelha-se muito aos materiais que hoje conhecemos pelo título Como dizer isso ou aquilo numa língua estrangeira. Entre essas frases, estão aquelas de uso diário e as que são úteis em situações práticas citadas como objetivo no Prefácio da gramática. Na tabela abaixo, foram selecionadas algumas e colocadas conforme estão na gramática: Frases em português Tradução Andar a vela, (p. 222) To sail. Dar or vender fiado, (p. 223) To sell upon credit. Dar no alvo, (p. 224) To hit the mark. Dar parte de hum negocio, To impart a business. Dar comsigo em algum parte, (p. 225) To cast one s self into a place, or to go to a place. Elle estava na altura do Cabo da Boa He stood off the Cape of Good Hope. Esperança, (p. 228) Fazer as vezes de alguem, (p. 231) To make any business for another. Fazer guerra, To make war. Fazer huma conta, To cast up an account. Fazer contas com alguem, To settle the account with one. Fazer dinheiro de alguma cousa, To make money of a thing, to sell it. Fazer grande negocio, (p. 232) To drive a great trade. Fazer profissão, To profess. Hir por már e por terra, (p. 238) To travel by sea and land. Come vão os vossos negócios? How go your concerns? TABELA 1 Algumas frases da coleção dos termos do Comércio, Guerra, Navegação, etc Uma das secções do primeiro capítulo intitula-se Haver, to have. Esse título nos faz entender que o autor irá tratar de frases que usam o verbo haver, cuja tradução

75 75 seria to have. Entretanto observa-se uma impropriedade, pois, em nenhum momento encontramos frases que contenham o to have como uma versão de haver 92. O segundo capítulo traz uma lista de palavras - frequentemente alocada aos compêndios gramaticais do modelo tradicional de aprendizagem de língua organizada por unidade temática. Nessa secção, o gramático tem o cuidado de oferecer grande variedade lexical que pudesse auxiliar aqueles que fariam uso do português para os fins expostos nesta gramática. Em quase 57 páginas completas, Transtagano seleciona palavras pertinentes aos negócios, profissões, guerra, navegação. Há semelhanças nas categorias temáticas entre as gramáticas de Castro e Transtagano, ambos os autores exploram o vocabulário relacionado aos animais, comidas, roupas e outros assuntos diários. Transtagano, em contraste, ilustra o vocabulário em listas temáticas mais variadas para o uso prático nos negócios, que possuem um inventário mais amplo. Castro organizou suas listas por classe gramatical das palavras (substantivos, adjetivos e verbos). Como a motivação para a elaboração de uma obra como a New Portuguese Grammar era oportunizar o estreitamento das relações entre aqueles que faziam negócio ou com Portugal, ou em local onde Portugal havia deixado suas marcas linguísticas, Transtagano termina sua secção de vocabulário com os seguintes grupos temáticos, escritos em 22 páginas: Das Cousas do Campo (Of Country Affairs 93 ), Cousas pertencentes à Guerra (Things relating to War), Navegação (Navigation), Do Commercio, e do que lhe pertence (Of Trade, and of Things relating to it), concluindo Da Moeda, ou Dinheiro Portuguez (Of the Portuguese Coin). Cabe ressaltar que a obra veio à luz em boa hora, uma vez que a essa altura já havia pessoas formadas pelo Real Colégio dos Nobres em Portugal, munidas do conhecimento específico para melhor efetuarem as negociações. Não saber a língua daquele com quem se negocia podia gerar prejuízos às partes. Se o comerciante português precisava aprimorar suas habilidades na língua inglesa, o mesmo era aplicável aos ingleses quando da negociação com os portugueses. O penúltimo capítulo da gramática oferece uma coleção dos adágios portugueses uma prática comum das gramáticas até então. Os adágios ou os ditos populares, e até mesmo os provérbios exprimem valores a partir de uma tradição oral. Podem ser 92 O verbo haver corresponde ao there to be na língua inglesa, significando existir. O verbo to have tem caráter de posse e quando traduzimos para ter, não é no sentido de existir, mas de possuir. 93 A palavra Affair pode ser melhor traduzida por negócios.

76 76 também incorporados na escrita e, ao fazerem parte das gramáticas, servem de ferramenta mediadora nas diversas situações do dia-a-dia em que o falante necessita de conselhos ou orientação. Os adágios da New Portuguese Grammar exprimem caráter moral, como é o caso em Tanta culpa tem o ladraõ como o consentidor (The receiver is as bad as the thief) e Esmolou saõ Mattheus, esmolou para os seus (Charity begins at home) 94, ou podem ser usados para aconselhar, como em Quem te faz festa, naõ soendo fazer, ou te quer enganar, ou te ha mister (He that makes more of you than he wont to do, either designs to cheat you, or stands in need of you) e Se queres saber quém he o vilaõ, metelhe a vara na maõ (Set a beggar on horse-back and he wil ride to the devil) 95. O uso que se faz de frases populares como os adágios dão ao discurso um tom de sabedoria, de propriedade porque elas podem ter se constituído a partir de experiências reais e transformadas, pela repetição do uso, parte de uma sociedade. De acordo com Oliveira (2010, p. 2613), os ditos populares: [...] são elementos que oferecem dados fundamentais sobre a organização conceptual do mundo que nos cerca. Inserem-se no dia a dia e enriquecem as relações entre o homem/mundo e o homem/homem. O falante os usa com base nas experiências adquiridas no cotidiano, dando maior expressividade à linguagem. Finalizando a terceira parte, estão dispostos alguns Diálogos Familiares, um gênero muito usado na tentativa de trazer, para a escrita, a dinâmica da língua estrangeira. Os diálogos familiares servem para subsidiar a interação entre os falantes em várias situações comunicativas, ensinando-lhes não só vocabulário, mas também como se portarem com traquejo e adequação linguísticos. Os Diálogos estão organizados em duas colunas, como o fez o autor com as partes anteriores, enumerados (são 14 ao todo) e seguidos de especificação da temática. Os temas tratados nos diálogos são simples e de ordem corriqueira, abrangendo conversas sobre o clima, comida, vestimenta, cumprimento, entre outros. Certos diálogos vão coincidir com o que fez Castro em sua Grammatica Lusitano-Anglica, seja na sequência das falas ou na titulação dos diálogos. No sexto diálogo, Para falar Portuguez, a semelhança se dá pelo conteúdo as mensagens são as mesmas, até mesmo a sequência delas no diálogo diferenciando-se na escolha das palavras, isto é, o que se diz é idêntico, apenas a forma de dizer é 94 Cf., Antonio Transtagano, Op. Cit., p Cf., Antonio Transtagano, Op. Cit., p

77 77 diferente. No nono diálogo, Para escrever, o mesmo ocorrerá. Uma diferença está na acuidade com que Transtagano cuida da conjugação dos verbos. Enquanto Castro diz: Entre em minha recamara e achara V. M. na mesa o que quizer, Selleo com as minhas armas, ou cifra 96, Transtagano prefere, respectivamente: Ide ao meu quarto, e achareis em cima da mesa tudo o que vos for preciso, Sella-o com meu sinete, ou com as minhas armas 97. Novamente observamos caso de semelhança no oitavo diálogo, Do tempo título usado nas duas obras. A sequência da conversa é muito próxima ao diálogo em Castro. Dessa vez, Transtagano distancia-se mais, pela maior brevidade com as frases. Comparemos: Grammatica Lusitano-Anglica (p ) O tempo esta temperado; nem frio nem quente. Chove? Nao, porque o ceo, efta claro (sereno ) O tempo efta mudado. Ontem o ceo estava muy nevoado, e chuvofo. Mas como o vento nao esta mudado receo teremos chuva. Nao chovera oje. Créio que avera trovoada e relámpagos. Isso pode ser (isso si); porem estou persuadido que nao nevará. New Portuguese Grammar (p ) Naõ faz frio, naõ faz calma, Chove? Naõ chove? Naõ o creyo, O vento está mudado, Teremos chuva, Hoje naõ há de chover, Chove, chove a cantaros, Está nevando, Troveja, Cahe pedra, Relampaguea, For certo; he mais provavel que ha de pedriscar. TABELA 2 Diálogos da Grammatica Anglo-Lusitanica e Lusitano-Anglica (1751) e da A New Portuguese Grammar in four Parts (1768) Neste diálogo, ambos os autores falam dos fenômenos chover, nevar, trovejar, relampejar e pedriscar. Por certo que Transtagano é mais conciso, e por sua vez, parece- 96 CASTRO, J. Grammatica Lusitano-Anglica (1731), p Cf., Antonio Transtagano, Op. Cit., p

78 78 nos até que nem se estabelece mais um diálogo, visto que as últimas frases são mais uma lista dos fenômenos ligados ao tempo que uma conversa sobre eles. Outro diálogo a possuir o mesmo título nas duas gramáticas é o Para comprar, de número dez. Todavia, desta vez, é apenas o título semelhante ao que elaborou Castro. Percebe-se, ao longo do quarto capítulo, uma abordagem extremamente funcionalista, onde a língua é apresentada da forma como ela funciona e não como um bloco lexical fora de contexto. A última parte contém Diversas Passagens úteis e divertidas, das quais a maior parte é uma coleção dos melhores escritores Portugueses, tais como Andrade, Barros, Lobo e outros. Nessa parte, o autor também seleciona textos que exprimem questões relacionadas à humanidade e suas fragilidades. Temas tais como O tempo futuro, Os Ricos, Liberalidade, Liberdade, Vingança, Maledicência, além de clássicos latinos, História de Portugal e poemas de autores consagrados, entre outros, são trazidos ao leitor. Como o título nos indica, os textos não são de autoria do gramático. Alguns trechos foram encontrados em Bluteau ( ) e outros em jornais do século XIX. Isto nos leva a crer que o plágio deveria ser uma prática comum, e na maioria das vezes acontecia como forma de valorizar a produção do outro. Os textos eleitos como bons circulavam nos diversos canais impressos. Possivelmente devido ao conhecimento do público, principalmente em relação aos clássicos, não se pensava na necessidade de citar a fonte. São vinte os trechos selecionados pelo gramático português. A busca pela autoria dos textos foi árdua, e embora alguns dos textos tenham sido encontrados em outros meios de publicação, muitas vezes esses meios também não indicavam a autoria. O texto Das Demandas, que trata de questões jurídicas, bem como o Da liberalidade e Da liberdade não possuem indicação alguma sobre quem teria sido o autor. Encontramos esses textos citados da mesma forma em um jornal brasileiro, O Espírito-Santense, de 14 de janeiro de 1875, por Basílio Carvalho Daemon 98, redator e proprietário. É bem provável que Bluteau tenha sido a principal fonte de vários textos que Transtagano seleciona sem indicar a autoria. Entre eles, foram confirmados: Da Vingança 99, Da Maledicencia 100, Do Costa 101, Da Saudade 102, podemos incluir também o Da lisonja Disponível em: 99 Bluteau, (1721), p. 498.

79 79 No intuito de dar a devida validação à sua obra, Transtagano acrescenta, à mesma, autores clássicos do passado que representam o bem falar e a erudição portuguesa: Portanto, na Quarta parte, eu acrescentei algumas passagens selecionadas dos melhores Autores Portugueses, as quais, ao mesmo tempo, facilitarão a leitura de seus Historiadores mais eminentes tais como, Goes, Barros, Pinto e etc, cuja Orthografia difere consideravelmente da mais moderna (TRANSTAGANO, 1768, p. vi) 104. Do renomado poeta português, Camões, encontram-se o Canto III, , e o Canto V, 37-40, dos Lusíadas (1572). A retomada de poemas clássicos com a publicação de dicionários e gramáticas corroboram, no século XVIII, a valorização do vernáculo, resultando na invenção da tradição nacional. Auroux (1992, p ) afirma que literarização dos idiomas e sua relação com a identidade nacional estão relacionados com o processo de gramatização. A gramática de Antonio Vieyra Transtagano não só mostrou ao estrangeiro, a beleza de língua portuguesa, pintada nas obras dos grandes escritores lusitanos do passado, mas também aproximou os comerciantes das duas nações, mediando a comunicação entre ambos e propulsionando os negócios portugueses, tão combalidos desde o Tratado de Methuen, de Bluteau, (1721) p Versão das Georgicas, feita por Leonel da Costa lusitano, referido em Bluteau (1720, p. 656), quando este explica a palavra poldro: Leonel da Costa, Livro 3, das Georgicas, tresladou a descripção, que Virgilio fez de hum potro perfeyto, com tanta propriedade, & elegância, que eu fizera escrúpulo de não fazer menção dela; diz assim, pag. 91. Disponível em: has+levanta,+e+abayxa+e+treme&source=bl&ots=qeafockhbp&sig=ciqgcwjqpqtizqjsr4 SDyn9ag_U&hl=pt-BR&sa=X&ei=jC1MT8-BFILV0QGd- MnkAg&ved=0CCMQ6AEwAA#v=onepage&q=as%20orelhas%20levanta%2C%20e%20abay xa%20e%20treme&f=false 102 Autoria de D. Francisco de Portugal, nos seus Divinos, & humanos versos, desde a pag. 111 até a pag. 124, descreve com grande elegancia os termos da Saudade, & particularmente neste Soneto (BLUTEAU, 1720, p. 512). 103 Embora tenhamos encontrados fragmentos do texto no Diccionario da lingua portugueza (1789, vol. II, p. 28), de Antonio Moraes Silva, não nos esquecemos de que este foi o compilador da obra do padre teatino, Rafael Bluteau. 104 Original traduzido anteriormente.

80 Figura 6 A New Portuguese Grammar in four Parts (1768) 80

81 A Dictionary of the Portuguese and English Languages, in two parts; Portuguese and English, and English and Portuguese (1773) A partir de meados do século XVIII assiste-se ao momento de grande efervescência na produção lexicográfica monolíngue e bilíngue em parceria com a língua portuguesa quando os trabalhos de autores como Carlos Folqman (1704-?), Antonio Moraes Silva ( ) e Antonio Vieyra Transtagano ( ), marcaram a expansão de compêndios metalinguísticos coligindo glossários de termos técnicos, vocabulários didácticos, prontuários de informação histórica e literária, e suscitando pesquisas lexicais sobre alguns dos mais importantes escritores que preenchem o cânone clássico do patrimônio textual português (VERDELHO, 2011, p. 32). Alguns elementos deram o impulso que possibilitou a fundação e consolidação da dicionarística lusa. Ao transmudar a Língua do Príncipe para o Brasil, alargou-se o espaço linguístico de maneira que não mais pode ser revertido. Observa-se também o início do processo de escolarização quando os materiais didáticos começam a ser repensados para aprimorar a efetividade do aprendizado, pela praticidade, brevidade e funcionalidade. A importância que as obras dicionarísticas tiveram estende-se até a criação do próprio corpus lexical, quando algumas palavras surgem a partir do convívio com outras línguas europeias. A lexicografia do século XVIII enriquecerá a própria língua a partir dos jargões das diversas áreas da ciência a qual avança consideravelmente nesse momento. Percebe-se, portanto, que nos dicionários do século XVI a formação de palavras pelo sufixo ismo é pouquíssimo vista, enquanto que nos dicionários do final do século XVIII, os vocábulos ultrapassam a meia centena. A partir de então, a produção lexicográfica ganha impulso até chegar à modalidade de dicionários portáteis, de formato reduzido, abreviados, disponíveis para o trânsito escolar e para a sua utilização em viagens (VERDELHO, 2011, p. 33). Quando a New Portuguese Grammar in four Parts saiu do prelo anunciava-se a iminência de um dicionário bilíngue, o qual teria sido pensado para compor as ferramentas didáticas do ensino e aprendizagem do português, requisitadas pelo público falante da língua inglesa. Referimo-nos ao A Dictionary of the Portuguese and English

82 82 Languages, in two Parts, Portuguese and English: and English and Portuguese (1773), elaborado também por Transtagano 105. Segundo o próprio autor, no primeiro volume, os objetivos da obra eram tornála abundante do ponto de vista vocabular com definições em suas diversas acepções, de maneira acurada e clara (accuracy and clearness), salientar a etimologia das palavras portuguesas, sem omissão das origens árabes e persas, garantir a inserção de vários termos técnicos, o que mostra a preocupação do autor com as questões do comércio entre as duas nações, bem como a indicação das palavras tidas como obsoletas ou que são somente poéticas nas duas línguas. Na secção que chama de To the Reader, comenta a dificuldade que teve de encontrar um dicionário português-inglês de que pudesse fazer bom uso para a compilação do seu, como o fazem todos que se engajam em um trabalho de tal categoria. Alude a um Vocabulário que, embora voltado para abordar as duas línguas, não serviu de mínimo referencial para ele. Chega a ser irônico ao se referir a tal Vocabulário, chamando-o de a thing (uma coisa): Houve, de fato, uma coisa chamada Vocabulário Português-Inglês publicada há muitos anos, da qual mal sei falar, [...]. Posso apenas dizer que, todos que a compararão com o presente trabalho, poderão estar convencidos de, digolhes a verdade, que não tem para mim utilidade alguma 106. O único dicionário português de grande valia para ele foi o do padre Rafael Bluteau. Embora tenha sido a obra de Bluteau de grande serventia em seu laborioso projeto de confecção do dicionário bilíngue, achou esta obra muito densa e pouco eficiente, assim como já havia criticado Verney, afirmando que até mesmo Bluteau não conseguira dar as devidas definições em latim para seus equivalentes em português, assim como já havia criticado Verney em 1746: O único dicionário do qual me tem sido de grande auxílio foi o do erudito e diligente Bluteau, que passou mais de 30 anos coligindo palavras, provérbios 105 O autor intitula-se como professor de Latim, Árabe, &c. nessa obra, cujo título completo é A Dictionary of the Portuguese and English Languages, in two Parts, Portuguese and English: and English and Portuguese. Wherein I. The WORDS are explained in their different Meanings, by Examples from the best PORTUGUESE and ENGLISH WRITERS; II. The ETYMOLOGY of the PORTUGUESE generally indicated from LATIN, ARABIC, and other LANGUAGES. Throughout the whole are interspersed a Great Number of PHRASES and PROVERBS. Londres, 1773, impresso por J. Nourse. Foi preparado em dois volumes e sua primeira edição data de Tradução de: There was, indeed, a thing called a Portuguese and English Vocabulary published many years ago, of which I scarcely know how to speak, left to those, who are unacquainted with it, I might appear unjust in my account. I shall only say, what every one, who will compare it with the following work, must be convinced of, I say, that is has not been to me of the smallest use (TRANSTAGANO, 1773, s.n., vol. I, To the Reader).

83 83 e frases, de mais de dois mil volumes para o seu dicionário de Português e Latim. Todavia até mesmo neste trabalho, além de suas deficiências em muitos verbetes, minhas esperanças se frustraram. O próprio Bluteau confessou que não entendia o real significado de muitas palavras, ou que ele não conseguia encontrar a palavra em Latim que equivalesse a Portuguesa 107. As dificuldades confessadas pelo lexicógrafo português tanto tornaram sua tarefa árdua como tardou a publicação de sua obra. Sendo assim, nesta tarefa, de acordo com o que explica em seu To the Reader, empenhou-se em: fazê-la o mais copiosa possível, exemplificar as diferentes significações da mesma palavra em ambas a línguas, com tal acuidade e clareza que se possa dar ao aprendiz conhecimento perfeito e distinto de seus idiomas, além de autorizar as palavras da língua inglesa, na segunda parte, através da referência aos nomes dos principais autores do cânone inglês. Outras metas assinaladas pelo autor são: indicar a etimologia de muitas palavras portuguesas, inclusive se oriundas do árabe e persa; inserir um considerável número de palavras técnicas, e por fim, indicar palavras portuguesas e inglesas, consideradas obsoletas, porém ainda poéticas. Não surpreendentemente a obra lexicográfica de Transtagano tenha sido um [...] empreendimento marcante na história da lexicografia portuguesa este dicionário que emparceira as duas línguas, nas sequências português-inglês e inglês-português. Teve um afortunado sucesso editorial, foi muitas vezes reeditado, revisto, aumentado, e também reduzido e abreviado. Preencheu, de modo quase exclusivo, durante mais de um século, o campo lexicográfico luso-britânico, e teve ainda repercussões epigonais até ao fim do século XX (VERDELHO, 2011, p. 26). As obras de Antonio Vieyra Transtagano trazem em si muito do que se almejava para Portugal do século XVIII, aprimorar as relações de intercâmbio comercial entre as nações inglesa e portuguesa, passando principalmente pela educação como um dos principais instrumentos facilitadores. O Dictionary of the Portuguese and English Languages teve dezenas reedições 108, foi corrigido, actualizado, e modificado, em 107 Tradução nossa do original: The only Dictionary from which I have received great assistance has been that of the learned and laborious Bluteau, who spent above thirty years in collecting words, proverbs, and phrases, from upwards of two Thousand volumes, for his Portuguese and Latin Dictionary. But even in this work, besides its deficiency of many words, my hopes were often disappointed. Bluteau himself confesses that he does not understand the true meaning of many words, or that he cannot find the Latin word answering to the Portuguese [ ] (TRANSTAGANO, 1773, s.n., vol. I, To the Reader). 108 Segundo Verdelho (2011, p. 29), as reedições datam de 1773, 1782, 1794, 1805, 1809, 1813, 1827, 1840, 1851, Até a edição de 1809, não se registram mudanças tão distanciadas do original. Em 1813, seu editor J. P. Aillaud disse ser esta uma edição revista e ampliada, com novos artigos, e cuidadosamente atualizada quanto à acentuação. Ainda de acordo com Verdelho, nesta edição, encontram-se as entradas resultantes da derivação de palavras. Outra revisão destacável aconteceu em 1827, por Jacinto Dias do Canto ( ), que procedeu com novos acréscimos e reduções de entradas que não mais despertavam interesse linguístico. No tocante às edições portáteis, ainda afirma

84 84 relação à sua configuração original até chegar à última edição em 1860 (VERDELHO, 2011, p. 29). Parece-nos que a originalidade em A Dictionary of the Portuguese and English Languages era também reconhecida pelo próprio autor quando da escolha por uma epígrafe em que se diz: O verdadeiro trabalho é feito por mim, aos outros lhes resta a sorte 109. De fato, quase setenta e dois anos após a publicação do Compleat Account, a lexicografia luso-inglesa é retomada com a obra de Antonio Vieira Transtagano, que, como afirmou Verdelho (2011, p. 26), foi certamente um dos objectos mais implicados no relacionamento entre os espaços linguísticos do português e do inglês. O lexicógrafo mostra-se consciente do papel que pode exercer a língua para a aproximação das relações entre as duas nações e deixa claro o que o consulente poderá encontrar em seu dicionário. Conclui em seu To the Reader explicando que o leitor irá encontrar todas as palavras que surgiram na língua portuguesa quando da aquisição de territórios, negociação em África, Ásia e América, em particular os termos moedas, medidas, ofícios, títulos, etc., usados em tais situações e encontrados nos livros portugueses sobre viagens a Etiópia, Arábia, Pérsia e outros lugares. A obra é dedicada a Robert Clive ( ), um nobre barão ligado aos negócios e às questões do império britânico 110. A dedicatória foi escrita em duas partes, na sequência em português e inglês, cada uma está ilustrada por uma imagem que contém o emblema da Ordem de Bath, com o lema Tria Juncta in Uno 111. Não foram encontrados registros de que Transtagano já fizesse parte da Trinity College, portanto a colaboração de um mecenas foi uma questão essencial tanto para a publicação da New Portuguese Grammar, quanto do Dictionary. Não obstante, conforme os costumes da época, o autor tece um texto bastante polido sobre a razão da dedicatória em gratidão ao Verdelho (2011, p. 41) que, os dicionários portáteis eram versões abreviadas da obra de Transtagano, recebem o título de A new pocket Dictionary of the Portuguese and English languages: Abridged from the dictionary of Mr. Vieyra..., nos quais o primeiro data de 1809 e foi reeditado em Tanto Jacinto Dias quanto J. P. Aillaud fizeram suas versões portáteis, respectivamente em 1826 e A reimpressão da obra de Transtagano é vista ao longo dos anos. Encontramos uma edição de seu Dictionary, cujo título consta em português, datado de Disponível em: Acessado em 14/02/ Traduçao de verum ex me difce laborem, fortunam ex aliis", a qual Transtagano atribui à autoria de Virg, supomos que referiu-se a Virgílio. 110 Lorde Clive, Robert Clive ( ), barão de Plassey (título recebido em 1760 e em 1764 recebeu o de cavaleiro), foi o fundador do Império Inglês na Índia (VON MISES, 1966, p. 741). Disponível em: acessado em 12/02/ Significa três em um. Acredita-se que esse lema refira-se à união da Inglaterra, Escócia e França, ou à Santa Trindade. O emblema ainda traz outra frase: Audacter et Sincere (Boldy and Frankly). Sobre Tria Juncta in Uno, consultar o sitio oficial da Monarquia Britânica, disponível em: Acessado em 02/01/2012.

85 85 Lorde Clive, uma vez que foi seu patrocinador na empreitada de publicar um dicionário desta utilidade 112. Segundo o autor, Lorde Clive parecia ter um bom entendimento sobre o conteúdo de sua obra. Afirma ser o lorde perfeytamente versado na matéria que ella contem e, sendo assim, o autor não teria dúvidas de que ele ficaria muito orgulhoso que huma obra taõ procurada, e de tanta utilidade saya finalmente do prelo 113. Prossegue o autor, dizendo que ninguém melhor conhecia quanto seja preciso o estudo de ambas estas linguas em materias de guerra e commercio pellas Costas Orientaes e de todas as quatro partes do globo. Por tal afirmação, observamos também a maneira como a finalidade do estudo das duas línguas era visto. Não só destaca a necessidade que se tinha de encontrar um material que eficientemente pudesse servir ao conhecimento metalinguístico, pela sua utilidade, como dá os indícios de que tal obra, naquele momento, era requisitada, procurada. Além disso, mais uma vez Transtagano estava certo de que sua obra era única, merecedora de todas as recompensas. 114 Seu discurso indica o direcionamento de sua obra em relação ao público. O conjunto de obras pensado por Transtagano (gramática e dicionário) destina-se ao ensino de português, no caráter de língua estrangeira, aos ingleses. Todavia, diferentemente de sua gramática, que descreve o português pelo intermédio da língua inglesa e não possibilita o estudo das línguas em vias duplas, seu dicionário foi composto por dois volumes, um para exposição dos verbetes em português e o outro para os do inglês. A maneira como esses verbetes estão dispostos permite não só o estudo do português pelos ingleses, mas do inglês pelos portugueses. O autor reconhecia a necessidade dos portugueses em aprender o inglês para os fins da manutenção das relações econômicas entre os povos das duas nações. De acordo com a crítica que recebeu em 1774, Não obstante a relação comercial que há muito existe entre a Grã-Bretanha e Portugal, a presente obra é o primeiro Dicionário do Português e Inglês que até o momento se tem visto publicado neste país: um pequeno trabalho, sob o título de Portuguese and English Vocabulary, apareceu muitos anos atrás, 112 Diz o autor a seu mecenas: [...] V. S. se sérvio de fazerme no dignar-se que a prezente obra saísse a luz debaxo do seu patrocinio; não porém descuidado tem estado o meu pensamento na ponderação de meyos para encorrer, ainda mais leve sospeyta de ingrato (TRANSTAGANO, 1773, vol. I). 113 No texto escrito em ingles, diz ao seu mecena: it will be no small plesure to you, I doubt not, that a work of such utility and demand is given to the world. Percebe-se a mudança da palavra world (mundo), para prelo, escrita na parte portuguesa. 114 Diz o autor: I would not have aspired to offer it to your protection, were I not conscious that it is justly entitled to all the recompense from its readers which the unhappy nature of it will admit (TRANSTAGANO, 1773, s.n.).

86 86 entretanto foi de uma performance tão pífia que não traria vantagem nenhuma ao objetivo desejado. Este dicionário, portanto, sendo o primeiro, sua execução se deu com extraordinária dificuldade, e fomos informados de que foi um trabalho de muitos anos. Veio à luz pelo patrocínio do Lorde Clive, que é ele mesmo familiarizado com a língua portuguesa, a qual é tão necessária aos propósitos de guerra e comércio em muitas das regiões remotas, especialmente nas Índias Orientais 115. O foco utilitário de sua obra acompanha a demanda de conhecimento da época não só em relação à Inglaterra, mas estava alerta para o que poderia ser útil também à sua pátria, em consonância com a legislação pombalina referente ao ensino de línguas. Enquanto em Portugal o Marquês de Pombal propunha as reformas no ensino, para melhor servir aos propósitos de elevar a nação portuguesa a partir da reformulação do ensino do latim e da inclusão do estudo da língua nacional, criação das Aulas de Comércio e do estudo das línguas estrangeiras (Alvará de 1772), fora de Portugal havia um representante, mesmo que não oficial, do reino lusitano. Ao pensar na compilação de obras voltadas ao ensino-aprendizagem de língua portuguesa como língua estrangeira, Transtagano se afina enormemente com os propósitos defendidos por Pombal, principalmente quanto à necessidade do estudo das línguas em materias de guerra e commercio pellas Costas Orientaes e de todas as quatro partes do globo. Sendo assim, A utilidade de sua publicação não se restringirá àqueles cuja sorte os levou à Índia por interesses comercias, mas se estenderá também ao trato com a literatura, ao nos tornar familiarizados com muitos trabalhos valiosos escritos em Língua Portuguesa, dos quais fomos informados. Qualquer que contribua para a ampliação do conhecimento e mediação das relações entre diferentes nações, deve certamente encontrar o encorajamento do público; e por estas considerações esperamos, que o Sr. Anthony Vieyera Transtagano nunca tenha razão para se arrepender de ter dedicado sua atenção em tantos anos de trabalho laborioso 116. O primeiro volume, ou Parte I, do Dictionary of the Portuguese and English Languages oferece entradas de palavras portuguesas, muitas vezes demonstrando uma instabilidade ortográfica e prolongamentos desmesurados, muito 115 Crítica sobre o dicionário de Transtagano, traduzida e encontrada em The Critical Review: or, Annals of Literature. By a Society of Gentlemen, vol. 37, Londres, 1774, p Item XV, na secção de Foreign Literary Inteligence. 116 Tradução nossa de: The utility of this publication will not be confined to those whose fortune leads them into India for the interests of commerce, but will also extend to the general concerns of literature, by making us acquainted with many valuable Works which we are informed are written in the Portuguese Language. Whatever contributes to the increase of learning and facilitates the intercourse between different nations, ought certainly to meet with the encouragement of the public; and from these considerations we hope, that Mr. Anthony Vieyera Transtagano will never have reason to repent his having bestowed the attention of so many years on such a laborious work. Fonte: The Critical Review: or, Annals of Literature (Op. Cit., 1774, p. 144)

87 87 embora, ao nosso ver, alguns desses prolongamentos se faziam pertinentes quando se leva em conta que esta é uma obra voltada para o ensino de português aos ingleses. Com isso, destacamos a entrada A, na qual se encontram várias explicações e exemplos. Isso é característico de um cuidadoso dicionário servindo ao ensino de língua estrangeira. Para o inglês, que usa o the (o/a ou os/as), saber quais são os artigos definidos da língua portuguesa não é suficiente, é preciso conhecer também como aplicá-los, visto que no idioma inglês, algumas vezes podem ser omitidos, diferentemente do que acontece com os artigos em português. Outra entrada relevante é na, onde se encontram exemplos, correlacionados ao inglês: Na is sometimes rendered into English by a; as, Duas vezes na semana, twice a week Essa explicação é válida, porque em tal construção não se usa a preposição in, mas o artigo a. Não parece ter escapado à mente do lexicógrafo português que sua obra dirigia-se aos falantes de língua inglesa, diante da relevância dos exemplos que oferece. Em comparação ao Compleat Account, os verbetes do Dictionary estão mais bem distribuídos e organizados. Além das letras no topo da página, o que era comum nos dicionários para guiar os consulentes 118, as entradas estão sinalizadas em caixa alta, divididas em três colunas. O que se segue das entradas, está organizado na sequência. O dicionário ainda traz uma Addenda, com algumas palavras portuguesas, provenientes do persa e árabe, em ordem alfabética. Como o autor afirma ter abordado verbetes relacionados às moeadas e medidas, bem como profissões e títulos e pescaria, nossa pesquisa partiu dessas intenções para verificar a presença de palavras desse tipo, o que também motivou a elaboração de sua gramática COMMERCIO, GUERRA E NAVEGAÇÃO. Além de verbetes sobre o Brasil, como biariby 119, Rio de Janeiro 120, distribui palavras numa organização sequencial alfabética, expondo o máximo de variações e derivações 117 Transcrição integral do trecho. Cf. Antonio Transtagano, Op. Cit. 1773, p Os verbetes podem ser consultados pela busca de suas letras iniciais. Era comum guiar o leitor, não pelo número na página, mas por letras iniciais. Os verbetes eram organizados pelas suas três letras iniciais, colocadas no topo da página. Desse modo, se quiséssemos encontrar a entrada fronteira teríamos que observar onde as palavras começadas por FRO são indicadas. 119 Parece-nos ser uma palavra de origem indígena, que foi integrada ao português e registrada por Transtagano. Consta no Dictionary (1773): BIARIBY, f. m. so the wild people of the Brasils call roastmeat (assim os selvagens do Brasil chamam carne assada). 120 Rio de Janeiro, a captainship of Brasil, in South America. This is one of the richest provinces belonging to the Portuguese in Brasil; whence they annually import Diamonds and other germs, besides a great deal of gold and silver. Notemos como o autor, na subentrada de RIO DE JANEIRO, além de dispor informação histórica básica, uma das províncias brasileiras mais ricas pertencentes aos Portugueses, destaca também aspectos que poderiam interessar a um negociante da época, diamantes, ouro, prata e pedras preciosas (TRANSTAGANO, 1773).

88 88 possíveis, como nas palavras relacionadas às navegações, NAVES, NAVEGAÇÃM, NAVEGÁDO, NAVEGANTE, NAVEGÁR, NAVEGÁVEL, NAVÉTA, NAUFRAGÁDO, NAUFRAGÁR, NAUFRAGOU, NAUFRAGIO, NAUFRAGO, NAVIO 121, sendo muitas vezes as entradas seguidas de frases, ou expressões formadas a partir delas. Em PEIXE, constatamos a influência do Vocabulario de Bluteau para a seleção das expressões que seguem o verbete. No Dictionary, encontramos as expressões colocadas no Vocabulário, tais como peixe do mar, peixe grande, peixe de ribeira, estar como o peixe na agua, entre outras. Evidentemente, Bluteau foi muito mais compendioso quando da exposição do inventário lexical do português, oferecendo mais opções de construção de frases. No ideário do Iluminismo português, era bem visto o enxugamento da obra de Bluteau, em recopilações, tal como fez Antonio Moraes Silva ( ), em 1789, bem como associar a lexicografia aos fins práticos ou áreas específicas, distanciando-se do enciclopedismo. Por essa razão, decidiu Transtagano disponibilizar os termos de especificidade econômica. Podemos citar o verbete real, a partir do qual o autor do Dictionary expõe real branco, cem reis, onde sugere que o leitor consulte também a entrada tostam. Possivelmente, foi o que fez também Transtagano, visto que observamos a seleção daquilo que lhe pareceu mais útil saber aos ingleses e portugueses, em seus estudos linguísticos. Nem todas as expressões constam na obra de Transtagano 122. O segundo volume, chamado de Parte II, English to Portuguese, é apresentado com a mesma capa do volume I, com a ressalva de que se trata da versão de palavras inglesas para o português. Sua carta Ao Leitor Portuguez foi assinada em 25 de julho de 1773, na qual o autor discorre sobre a contribuição trazida pela nação inglesa quanto às Artes e Ciência, e que com seus rápidos progressos e gloriosas façanhas tomou proporções universais, fazendo-se presente nos lugares antes dominados pelos portugueses. Recomenda o estudo da língua inglesa como algo utilissimo, tanto ao estudante nos seus progressos, quanto ao viandante nas suas peregrinações e ao mercador nos seus negocios, já que o Estado inglês chegou ao seu universal 121 Assim como o faz no segundo volume, em SHIP ship, to ship, shipment, shipped, shipper, shipping, shipboard, ship-boy, ship-man, ship-master, shipping, to shipwreck, shipwright. 122 Observamos que muitas das correlações entre as línguas se fazem em tradução direta do termo, com vários sinônimos quando possível, e apenas com definições quando o autor parece não ter achado a versão na língua alvo. É o caso da palavra cauf, pertencente à entrada fish : caxa com buracos no tampaõ para conservar os peixes vivos n agoa. Transtagano não encontra um correspondente para a palavra cauf, mas traz sua definição. Observamos também que na edição de 1813, o verbete foi removido da segunda parte.

89 89 commercio, pella industria dos seus laboriosos habitadores, pella multidaõ das suas naos, e pella perfeição das suas numerosas Manufacturas. Estava bastante evidente para o autor que saber a língua das nações com quem se negociava era de suma importância, visto que se podia evitar um grave prejuizo quando do uso de intérpretes (os Línguas). Por esta razão, não tardaríamos a ver a composição de dicionários e gramáticas da língua vernacular para efeito de a aprenderem e fugirem dos inconvenientes, e obstaculos, que sem o conhecimento della seriaõ no commercio inevitaveis. Para efeito de iltração sobre o grave prejuízo de não conhecer a língua em que a negociação se dá, refere-se à região da costa da África, sob o domínio português, indagando: Com effeito, que fidelidade podemos nos esperar, v. g. na costa de Africa, de hum Negro que sirva de Lingua a hum Negociante, de hum negro, torno a dizer, que, vendose em nosso poder, se obstina, emperra, bebe (como vulgarmente dizemos) o vento, e das taes voltas a negrada lingua, que suspendendo o folego, desesperadamente se suffoca e estoura? 123 Com efeito, tendo em vista tal situação de dominação, quão prestativo e fiel acreditar-se-ia ser o Lingua? Em prol do benefício e segurança das negociações, era imprescindível que se tivesse o conhecimento da língua do negócio na região. Essa foi a razão, ainda segundo o autor, que levou a nação Ingleza a compor grammaticas da lingua Persiana 124, por exemplo. Dessa forma, a segunda parte vem à luz tão somente Para facilitar por tanto a intelligencia das obras scientificas escritas na lingua Ingleza: para fazer agradavel e proveytoza a peregrinação pella Gram Bretanha e suas conquistas: e, finalmente, para promover o bem publico e adiantar o commercio entre as duas naçoens Ingleza e Portugueza. Ao dirigir-se ao leitor português, o autor explica que no primeiro tomo tentou indicar as raízes arábicas das palavras da nossa língua, visto que esta tem conservado grande quantidade de palavras Arabicas. Tirariam proveito do conhecimento sobre o árabe até mesmo os que estivessem curiosos da língua portuguesa. Afirma também, no segundo volume: Tenho para mim que os estudiosos da nossa naçaõ tirariaõ muytos proveytos da aplicaçaõ âquella lingua. Oportunizar o conhecimento do árabe, em sua obra, serviria para explicar a etimologia das palavras da própria língua, como já 123 Em Ao Leitor Portuguez (TRANSTAGANO, 1773, vol. II, s.n.). 124 Transtagano, em nota de Ao Leitor Portuguez, refere-se a uma gramática do persa, uma das mais methodicas e copiosas, elaborada pelo celebérrimo senhor Jones membro do Collegio da Universidade de Oxford, como também das Reas Academias de Londres e de Coppenaguem, primeiro publicada em inglês, em 1771, em Londres. Logo depois foi traduzida para o francês.

90 90 afirmara, mas ajudaria também aos geógrafos, porque claream os nomes de diversas povoações e edificações (TRANSTAGANO, 1773, vol. II, s.n.). Para a segunda parte, explica Transtagano (1773): [...] enxeri nella grande numero de phrases; exemplifiquei muyto a miudo as varias sigificações das palavras com as authoridades dos mesmos authores que nomeo, e indiquei as palavras que saõ antiquadas, pouco usadas, ou somente poeticas. Naõ toquei porem a etymologia dellas, como fiz na primeyra parte, por que quem tiver essa curiosidade podera satisfazella com prover-se dos Diccionarios da lingua Ingleza de Johnson, Bailey, e outros authores Inglezes que tem esquadrinhado a parte etymologica da sua lingua (TRANSTAGANO, 1773, vol. II, s.n.). Apesar de o autor ter composto um dicionário que servisse ao leitor em vias duplas, português-inglês, inglês-português, percebemos que uma maior erudição foi demonstrada no primeiro volume. A tentativa de elucidar o conhecimento metalexical, oferecendo a etimologia das palavras pelo árabe, tem possívelmente uma forte ligação com o trabalho desenvolvido pelo autor como membro da Trinity College, demonstrando também o pensamento de que, ao apresentar a etimologia da língua, estaria contribuindo para explicações significativas sobre a constituição do português, além de deixar mais evidente que elaborou suas obras realmente focado em atender ao público inglês. Sabe-se que Transtagano dedicava-se à pesquisa acerca do persa e do árabe, sob a hipótese de próxima ligação com a língua portuguesa. Tal fato deve explicar um maior esmero do autor em explicar as palavras do português, julgando-se inclusive ser o primeiro autor a trazer à luz uma obra dessa magnitude. Em contrapartida, na língua inglesa, um trabalho que incluia informações etimológicas já havia sido iniciado por renomados autores como Johnson e Bailey, sendo esse esforço dispensável, pois, foi intenção maior de Transtagano oportunizar o conhecimento metalinguístico voltado para o ensino do português como língua estrangeira. Entretanto, o segundo volume, inglês-português, poderia ser usado também pelos ingleses, quando necessitassem saber o correspondente de uma palavra de seu idioma na língua portuguesa. No tocante ao propósito pragmático de fornecer subsídio linguístico para mediação das relações comerciais, na segunda parte, o autor distribui termos de diversas áreas da economia, englobando vocabulário sobre moedas, negócio, profissões, e em alguns casos, explica como usar os verbetes. A qualidade percebida neste trabalho faz do Dictionary of the Portuguese and English Languages uma ferramenta essencial ao ensino e apredizagem das linguas portuguesa e inglesa.

91 Figura 7 A Dictionary of the Portuguese and English Languages in two Parts (1773) 91

92 Transtagano como Referência no Ensino do Português como Língua Estrangeira A gramática de Antônio Vieyra Transtagano teve na 9ª edição a sua penúltima reprodução em 1813, e, possivelmente, em 1827, a décima e última edição, tendo passado por alguns poucos ajustes e correções por parte de seus editores. Apesar disto, a sua New Portuguese Grammar continuou servindo aos propósitos inicialmente pensados pelo autor, sendo inclusive, modelo para a compilação de outras gramáticas de língua portuguesa, escritas em inglês e francês 125, por exemplo. As principais alterações aplicadas à gramática de Transtagano referem-se a questões fonéticas, uma dificuldade observada já nas primeiras edições, e só corrigidas após a morte do autor. Os aspectos de ordem prosódica da língua portuguesa, até então negligenciadas, foram devidamente reparadas, como se lê no texto Advertência a esta Nova Edição, escrita pelos editores: Esta nova Edição da Grammatica do Sr. Vieyra foi, não só corretamente marcada com os acentos apropriados para facilitar a Pronuncia e a Inteligencia da Lingua, mas também materialmente alterada no corpo deste trabalho. A acentuação é uma questão de tamanha importancia na Lingua Portuguesa, que um acento utilizado no lugar de outro frequentemente muda o significado de uma palavra completamente, como por exemplo, as palavras Avô e Avó; a primeira, quando marcada com um circunflexo, significa grandmother, a segunda, quando marcada com um acento agudo, significa o seu masculino, grand-father. Este aspecto interessante, o qual fora tão deficientemente tratado em todas as edições anteriores (tendo sido usado apenas o acento agudo), foi cuidadosamente corrigido na presente Edição (TRANSTAGANO, 1813, p. vi-vii). 126 O problema recorrente do som do ch, apresentado como pronunciado igual ao inglês /ʧ/, ao invés de /ʃ/, também foi tratado pelos editores da edição de Além disso, houve um acréscimo considerável no que tange ao vocabulário, com a substituição das passagens antigas por trechos modernos (à época), cujo intuito era manter a obra atualizada no respeitante à evolução do idioma: 125 Encontramos a obra Portuguese and English Grammar (1820), do padre francês Peter Babad, e a Nouvelle Grammaire Portugaise (1810), de A. M. Sané. 126 Tradução nossa de: This New Edition of Mr. Vieyra s Grammar, has been not only accurately marked with the proper accents to facilitate the Pronunciation and the Intelligence of the Language, but even materially altered in the body of the Work. The accentuation is a matter of so much consequence in the Portuguese Language, that one accent used in the room of another, often changes entirely the signification of the word, as for instance in the words Avó and Avô; the former, when marked with an acute, meaning grand-mother, the latter with a circumflex, meaning grand-father. This interesting part, in which all the former Editions have been so deficient, (using only the acute) has been scrupulously corrected in the present one.

93 93 A pronúncia do ch, erradamente explicada em outras edições, está aqui nesta colocada em seu som verdadeiro. Novas Passagens de melhores Escritores Modernos substituem algumas dos Antigos, de forma a permitir que os aprendizes possam formar uma ideia das variações e dos progressos da Língua, até ao presente. Um novo Vocabulário de palavras Militares de Comando e uma tradução recente de Cartas Comerciais foi também inserida nesta Nova edição (TRANSTAGANO, 1813, p. vii). 127 Com as alterações sofridas, a 9ª edição passou a ter cerca de 35 páginas a mais do que aquela de Nota-se claramente, nas palavras dos editores, a preocupação com a língua, no que se refere à sua dinâmica interna, proporcionando ao consulente e ao estudioso a oportunidade de acompanhar a evolução da mesma 128. As reedições anteriores praticamente não sofreram qualquer tipo de modificação, fato que, no entanto, não impediu a sua longevidade. Apesar de sua inegável riqueza temática, apresentando uma grande e abrangente variedade lexical, bem como inovações no que se refere a questões propriamente gramaticais e quando falamos de inovações, referimo-nos às obras de J. Castro e ao Compleat Account a New Portuguese Grammar in four parts, de Transtagano, assim como as outras duas anteriormente citadas, não era exatamente vocacionada ao ensino escolar. É sabido, ao se ler os prefácios de sua gramática e de seu dicionário, que o autor ministrava aulas de língua portuguesa em caráter particular, lançando mão do que tinha disponível em sua biblioteca pessoal 129. A necessidade de ter algo mais específico para as suas necessidades e de seus alunos, tudo indica fez com que o ilustre professorpoliglota desenvolvesse sua gramática de língua portuguesa. O próprio título denuncia essa carência ao chamá-la New Portuguese Grammar. Em 1820, surge a obra Portuguese and English Grammar, compiled from LOBATO, DURHAM, SANÉ and VIEYRA and simplified for the use of STUDENTS. By a Professor of the Spanish and Portuguese Languages, in St. Mary s College. O autor 127 Tradução nossa de: The Pronunciation of the ch, wrongly explained in the other Editions, is here in this, brought to its real sound. New Passages from the best Modern Writers, have been substituted for some of the Ancient ones, to enable the learners to form a proper idea of the variations and progress of the Language, down to the present time. A new vocabulary of the Military Words of Command and a fresh translation of the Commercial Letters have also been inserted in this Edition. 128 Vale a pena salientar que neste mesmo período a segunda edição (1813) do Diccionario da Lingua Portugueza, de Antonio de Moraes Silva ( ), estava sendo publicado no Brasil, através da Imprensa Régia, fundada por D. João VI, em 13 de maio de Isto mostra que a língua portuguesa encontra-se, já no início do século XIX, em pé de igualdade com as outras grandes línguas europeias, sendo o seu dicionário totalmente monolíngue produzido e consumido nos dois lados do Atlântico aumentando ainda mais seu status de língua internacional. A obra de Antonio Vieyra Transtagano, em sua reedição de 1813, veio contribuir grandemente para a consolidação desse status. 129 Na verdade, Antonio Vieyra Transtagano fora professor de espanhol, italiano, inglês, árabe e persa, na Holy Trinity College, não encontramos vestígios de que tenha ministrado aulas de língua portuguesa em ambiente escolar.

94 94 da obra em questão chamava-se Peter Babad ( ), um clérigo francês que, após várias viagens pela América Central e do Norte, finalmente se estabeleceu nos Estados Unidos por cerca de vinte anos. Durante este período, começou a escrever sua gramática de língua portuguesa, tomando inicialmente como base a gramática de Reis Lobato. Utilizou-se de outros autores para o desenvolvimento de sua obra, mas foi o trabalho de Antonio Vieyra Transtagano que realmente lhe serviu como fonte principal de sua gramática: A obra inteira é compilada a partir dos melhores gramáticos da língua portuguesa que chegaram às mãos do editor. Tais são eles: Lobato, Durham, Sané e Vieyra. Na verdade, a maior parte foi copiada da última edição (1813) da gramática de Vieyra, a qual, mui fortuitamente, caiu-me em minhas mãos, quando este trabalho já estava no meio do caminho [...] (BABAD, 1820, p. vi). 130 Como o próprio título da obra de Babad nos indica, sua gramática deveria ser destinada ao ensino de língua portuguesa para alunos regulares do Colégio Saint Mary, em Baltimore, nos Estados Unidos. A justificativa que o autor francês dá para a produção de tal obra é bastante parecida com aquela apresentada por Transtagano, pouco mais de cinquenta anos antes: a expansão comercial [americana] e a tradição nesta área que Portugal ainda detinha, principalmente após a elevação do Brasil à posição de Reino Unido a Portugal e Algarve. Assim dizia o padre francês em seu Prefácio: Como é um fato muito conhecido que nas Índias Orientais, desde o Cabo da Boa Esperança até Macao, assim como no Brasil e no continente português a língua portuguesa é geralmente usada pelas pessoas e pelos mercadores nas transações de negócio, como o Castelhano é no continente espanhol e nas colonias espanholas, e o italiano ao longo da costa do Mediterrâneo [...]. Ocorre que os Estados Unidos, cujos negócios se estendem com cada país do mundo comercial, um conhecimento da língua portuguesa não pode deixar de ser importante e útil como as outras línguas utilizadas para o fim comercial. Além disso, a grande quantidade de obras que têm servido para enriquecer e ilustrar a literatura portuguesa por vários séculos, pelo menos desde a época do celebrado Camões, mostrará aos nossos letrados da América a importância de tal conhecimento (BABAD, 1820, p. v) Tradução nossa de: The whole is faithfully compiled from the best Portuguese grammars, that have reached the hands of the editor; such as those of Lobato, Durham, Sané and Vieyra. Indeed most of it has been copied from the last Edition of Vieyra s grammar, which very fortunately fell into the hands of the editor, when his work was half done [ ].Como dissemos anteriormente, a edição de 1813 era a última quando Babad escrevia a sua obra. 131 Tradução nossa de: As it is a well-known fact, that in the East Indies from the Cape of Good Hope, down to Macao, as well as in the Brazils [sic] and Continental Portugal, the Portuguese is as generally used in the transaction of business as the Castilian in the Continental Spain and in the Spanish colonies, and the Italian along the coast of the Mediterranean [ ]. It follows that in the United States, whose trade extends to every country in the commercial world, a knowledge of the Portuguese tongue cannot fail to be as important as useful as that of other languages used for the purpose of the trade; besides the many and

95 95 Como se pode perceber através das palavras do autor, o reconhecimento do valor da língua portuguesa não se atribuía somente por conta de sua pujança comercial, historicamente construída e consolidada, ao longo dos séculos, como resultado das conquistas ultramarinas do reino português, mas também pela sua tradição literária, perpetuada com as obras de Camões e de outros grandes escritores e que foram traduzidas em diversas línguas. É interessante que se observe, também, uma grande semelhança do texto do autor com o discurso pombalino em busca de um mito fundador da tradição e cultura portuguesas, justificadas pelos grandes feitos de Portugal, tanto por meio das armas quanto pelas letras. Fica evidente, como podemos notar no Prefácio da obra de Babad, que tal tradição de fato não se limitara aos domínios portugueses, não ficara registrada apenas nas obras dos grande escritores castiços e de bom tempo, como diria Moraes Silva (apud SOUZA, 2011, p. 164), e destinadas apenas ao público lusitano: elas transcenderam os limites geográficos portugueses e encontraram grande acolhida nas bibliotecas e academias de diversas nações, tornando a língua portuguesa objeto de interesse e estudo. A Portuguese English Grammar, de Peter Babad, teve como inovação a retirada de tudo aquilo que o autor considerava excessivamente gramatical e abstrato. Para se ter uma ideia de tal depuração, a obra de Antonio Vieyra Transtagano, em sua primeira edição de 1768, tinha pouco mais de 380 páginas; a de Babad não chegava a 235. Logo de início, ao compararmos as duas obras, observamos que Babad elimina completamente a IV parte da gramática de Transtagano, aquela que apresenta As Varias Passagens dos mais aprovados escritores, modernos e antigos, com vista a facilitar a leitura dos mais antigos e valiosos livros da lingua Portuguesa (TRANSTAGANO, 1768, p. i). Babad justifica tais reduções ao dizer que: Esta gramática, excluindo as definições sistemáticas e científicas, comumente encontradas em obras deste gênero, está simplesmente destinada à tarefa de arrumar os artigos, os substantivos, os pronomes, verbos, advérbios etc da língua portuguesa correspondendo àqueles do idioma inglês, tendo sido acrescentado ao final de cada ítem algumas poucas regras, determinadas pelo uso comum, além de exemplos que ajudam elucidar tais regras (BABAD, 1820, p. v-vi). 132 excellent works which have enriched and illustrated the Portuguese literature for many centuries, at least from the age of the celebrated Camoens, will prove a great acquisition to our American literati. 132 Tradução nossa de: This grammar, therefore, excluding the scientific and systematic definitions, commonly met with in works of this kind, is merely confined to the task of arranging the articles, the nouns, pronouns, verbs, adverbs, etc, of the Portuguese Language corresponding to those of the English idiom; to which are subjoined a few rules, which common use has determined, together with a few examples, which elucidate these rules.

96 96 Assim como apontavam os editores da New Portuguese Grammar in four parts, na 9ª edição de 1813, no tocante às questões acentuais, Babad também atentará para esse aspecto da língua portuguesa, tratando-o com interesse, pelo menos no discurso, como fica claro em seu Prefácio: Uma das maiores dificuldades sob as quais o editor tem trabalhado surgiu da necessidade de se marcar os acentos, os quais servem para denotar tanto a pronúncia quanto a quantidade de sílabas; em uma língua a beleza e a perfeição da qual depende tanto da harmonia e da melodia resultante de sua prosódia e quantidade. Mas como consequência dos acentos faltantes, não estando em uso nas obras impressas neste país (Estados Unidos), o editor tentou suprir a falta deles pelas regras estabelecidas neste Prefácio (BABAD, 1820, p. vi). 133 No entanto, ao compararmos as duas obras, percebemos que o autor francês também reduzira, e muito, as explicações atinentes à acentuação e à distribuição das sílabas das palavras portuguesas. As regras em Peter Babad resumem-se a oito itens, não tomando mais do que meia página; as explicações em Transtagano, ao contrário, são detalhadamente apresentadas, tendo seu início na página 213 e término na página 218. Nas páginas seguintes trazemos, a título de ilustração para o leitor e mesmo para aqueles que não tem familiaridade com a língua inglesa, tal percepção é bastante clara as Regras de Acentuação explicitadas, primeiramente por Babad e em seguida por Transtagano. Não será necessário, no entanto, a exposição das cinco páginas em Transtagano, bastando apenas uma para que se tenha uma ideia da diferença entre as duas gramáticas. 133 Tradução nossa de: One of the greatest difficulties under which the editor has been laboring, arose from the necessity of marking the accents, which serve to denote both the pronunciation and quantity of syllables, in a language, the beauty and perfection of which depends so much on the harmony and melody resulting from its prosody and quantity; but in consequence of the accents wanted, not being used in works printed in this country, the editor has endeavored to supply the want of them by the rules laid down in this Preface.

97 Figura 8 Regras de Acentuação em Peter Babad (1820) 97

98 Figura 9 Regras de Acentuação em A. V. Transtagano (1768). 98

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