Argentina para mosqueiros não é só Patagônia.

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1 Argentina para mosqueiros não é só Patagônia. Ambos já conhecíamos Córdoba. Um de passagem, em outra viagem de pesca onde a cidade serviu como base e o outro havia feito um workshop onde conheceu alguns bons mosqueiros da região. Nesta oportunidade, pescamos dourados no Río Dulce, numa localidade chamada Santiago de Esteros ao norte da província de Córdoba. Essa pescaria de dourados vadeando o rio foi tão incrível, e os companheiros de pesca revelaram-se tão boa-gente, que converteram a pescaria numa experiência para repetir e compartilhar com mais amigos. Nesta mesma oportunidade, o próprio pessoal de Córdoba sugeriu para voltar em outra oportunidade em que a temporada de trutas estivesse aberta para conhecer o Río de los Espinillos, um rio serrano gerido por um grupo de pescadores dos quais tais amigos fazem parte. Com estes contatos e a boa impressão que Córdoba tinha nos deixado, acabamos combinando uma nova pescaria, desta vez para conhecer as trutas da região. Saímos de Porto Alegre numa sexta direto para Córdoba no vôo das 23:30hs e aproximadamente duas horas depois desembarcávamos. Já tínhamos um roteiro préestabelecido para toda a semana, com margem para algumas alterações se fossem necessárias; nossos amigos tinham cuidado de tudo. Como combinado, assim que chegamos pegamos um taxi diretamente para a casa de Javier, grande amigo que nos esperava com entusiasmo e camas prontas para descansar um pouco antes de seguir para o rio, apesar do avançado da hora. O Javi, além de ser uma pessoa muito simples e solícita ao extremo, é grande atador e conhece o que as trutas dos Espinillos comem melhor que ninguém. Perto das 7:00hs nos levantamos e como a caminhonete já estava carregada, foi o tempo de tomar um café que Melina havia passado e preparar um mate para partir. Aqui um parêntese: Melina é a mulher de Javier e os dois se conheceram no Río Espinillos. Hoje os dois pescam e atam juntos. Uma história de amor que nasceu e persiste através da pesca com mosca para servir de exemplo para quem que não acredita que pescar e amar são conciliáveis. Viagem tranqüila, tempo de colocar assuntos em dia e fazer previsões sobre o rio e o fim de semana de pesca. No meio do caminho nos encontramos com Carlos Miti, outro grande amigo e conhecedor insigne de todos os lugares de pesca da província de Córdoba. Carlos também é uma história a parte, já que atuou como guia de pesca em Córdoba e em outros destinos importantes da Argentina, mas principalmente pelo seu comprometimento com a filosofia da pesca com mosca, que não se furta a compartilhar. Compramos uma boa tortilla no caminho em pouco mais de três horas chegávamos à cabaña. Tem uma parte de uns 20 km de estrada de chão, mas que não incomoda. Somente a última parte da estrada, já dentro da área protegida pelo grupo de mais ou menos 5 quilômetros é bastante acidentada, exigindo um veículo alto, mas vai descortinando uma paisagem incrível de serros e capões, algumas perdizes assustadas no caminho e as paredes de montanhas ao fundo que torna o caminho (pra quem não dirige) rápido.

2 O Espinillos fica a sudoeste de Córdoba, e tem este nome por causa de um tipo de arbusto muito comum na região. É o mesmo que aqui chamamos de espinilho, aquele arbusto que tem espinhos e flores amarelas pequenas. É um rio que há um bom tempo é gerido (um tramo de 8 quilômetros) por um clube de pesca como já dissemos. Este tipo de clube é comum na Argentina, e se responsabiliza mediante concessão do governo a cuidar parte de determinado rio, com algumas obrigações. No caso do Clube do Espinillos, os sócios se encontram todas as semanas para discutir sobre pesca, atar e comer um assado. Eles comumente recebem pescadores e guias de outros lugares para falar sobre algum destino de pesca ou o passo-a-passo de uma nova mosca, etc. O Clube também tem uma escala de visitas regulares ao rio, assim, todos os finais de semana, mesmo quando a pesca é vedada, há gente cuidando da cabana e fiscalizando o rio. E este é outro ponto importante de salientar no trato do clube com o rio: O governo da província paga um guarda-fauna permanente que vive dentro da área protegida, o clube paga outro com o valor das licenças para a área e os próprios sócios têm a preocupação de controlar o que acontece no rio. Inclusive as desovas e repovoamentos são feitos pelos próprios sócios que pagam piscicultores e biólogos para a mescla genética no tramo que gerem. É um exemplo a ser seguido porque impressiona a responsabilidade e o comprometimento com que o clube administra o rio. E ao fim é por isso que o rio mantém a quantidade e a qualidade das trutas que tem... não é mágica. O Clube tem uma cabana na beira do rio onde os sócios e convidados podem ficar instalados. É onde ficamos. Essa cabana, erguida literalmente pelos sócios, é bem simples, construída com pedras do rio com dois cômodos grandes com um banheiro cada um. Um grande quarto com uns 12 beliches e outro grande compartimento de estar, com uma mesa grande para alimentação e atado com fogão e parrillera, além de um forno de barro. O banheiro tem ducha quente graça à um sistema de aquecimento por placas solares e um sistema alternativo de reservatório aquecido por fogo mesmo. Por ser um local muito afastado não há rede de luz elétrica, e a luz existente é conseguida por um gerador próprio. Apesar de bem rústica, a cabana é muito aconchegante, com um grande pano de vidro de onde se pode ver o rio, e de onde se pode vislumbrar a paisagem durante as refeições.

3 Vista de cima dos serros no caminho para o Espinillos. O grupo pronto pra ir pro rio: Javier, Jamanta, Carlos e eu. Os primeiros arremessos do Rogério. Javier camuflado para não assustar as trutas. Assim que descarregamos as coisas, pé no rio. Quer dizer, na verdade não se coloca o pé no rio... o pessoal lá não entra na água para pescar. Em alguns lugares ficamos sabendo que nem se pode para não interferir na fauna subaquática. Assim, deixamos os waders na mala e saímos em duplas para pescar. Algumas explicações já tinham sido passadas pelo caminho, como por exemplo que nessa época há uma grande quantidade de gafanhotos em toda a região, tornando-se por um curto período do ano o alimento principal das trutas. Em Córdoba são chamados de langosta ou tucura, e nossos amigos estavam extremamente empolgados para pescar com esse tipo de mosca porque com condições ideais de clima como era o deste final de semana as trutas atacam essas iscas com uma ferocidade incrível, coisa que logo podemos comprovar. A pressa para pescar depois de um longo período geralmente faz com que a leitura do rio seja superficial a ponto de o pescador menos experiente (ou mais impaciente) procurar alguma situação de rio conhecida. Neste caso a orientação dos nossos colegas argentinos foi fundamental para dois aspectos que iriam se repetir durante toda a jornada em Córdoba e que

4 são fundamentais para pesca de trutas tão ariscas: a aproximação delicada ao rio e o arremesso preciso. Coisas que qualquer pescador iniciante sabe, mas que particularmente nunca tínhamos visto interferir de maneira tão decisiva. Carlos e Javier ficaram um bom tempo somente nos indicando lugares mais propícios para pescar. O sol estava alto fazendo com que o rio ficasse dividido em áreas de luz intensa e sombra dos montes e árvores da outra margem, criando zonas propícias para a caça das trutas grandes. A mosca-chefe foi sempre a tucura porque já víamos as trutas baterem nos insetos naturais e logo deram resultados. O ataque à esta mosca geralmente é muito violento, mas nestas condições de água é muito fácil o pescador se apressar e tirar a mosca da boca da truta, coisa que repetimos muito até aprender. Um tucura desavisado na água. O famoso Tucura mais de perto. Mesmo as pequenas são bem saudáveis. Jamanta brigando com outra. Com a sabedoria de quem já pescou muito, Carlos, que só foi pescar depois que tínhamos pegado a primeira truta, depois de vários minutos observado o rio, subiu uns metros de onde estávamos e muito lentamente se aproximou por detrás de uma pedra grande. Aí foi minha vez de parar para ver como se faz. Mais alguns minutos e já havíamos notado ações na

5 água... Em apenas dois arremessos num remanso da outra margem e com uma deriva muito delicada (os falsos-arremessos não são feitos sobre a direção da truta, nem de forma a fazer sombra na água) Carlos brigava com uma truta forte na corredeira. Eles, diferentemente da gente não pesam a truta, eles sempre comparam o seu tamanho. Essa tinha de 35/40 cm e era muito saudável. A esta altura já havíamos nos separado visualmente do Jamanta de do Javier, mas há pouco tinha visto o Jamanta tirar outra da água alguns metros mais acima de onde estávamos. Depois das devidas fotos, Carlos novamente me indica outro poço onde tinha notado uma truta que parecia grande comendo. Minha aproximação foi lenta e em poucos casts colocava a mosca ao alcance da truta. Em alguns segundos a truta subia para tomar o gafanhoto e de novo me apresso na fisgada, assustando-a. Carlos me consola dizendo que a truta era realmente grande (o óculos que eu usava não era polarizado e eu não tinha uma boa visão de toda a movimentação) e que eu tinha conseguido o mais difícil que era enganar a truta e essas coisas que a gente entende, mas que mesmo assim não adianta muito depois de ter perdido a vigésima fisgada do dia. Enquanto ele me explica que dificilmente ela continuará caçando no mesmo lugar, vi outra movimentação pouco mais abaixo. E tentando retribuir todos os ensinamentos convenci o Carlos que essa era sua vez. Baixamos uns passos acocorados e vimos novamente a truta comendo. Carlos ficou um tempo observando o rio e eu a ele. Depois entendi que as trutas têm (geralmente) um circuito de alimentação e que dá para prever a provável rota da truta em busca de alimento. Já sabia disto, mas é que os fatores que interferem nesse circuito não são bem claros pra mim e variam muito com as condições do dia, do tipo de alimento e do porte da truta como me explicou Carlos mais tarde. E assim Carlos lançou o gafanhoto poucos metros adiante, cerca da margem num lugar com menos de 30 centímetros de água onde o gafanhoto praticamente não se mexia com a inexistência de correnteza. Foi impressionante. Pouco tempo depois, a truta aparece apurada e engole um gafanhoto natural que se debatia a uns trinta centímetros da margem. A pouca profundidade fazia a nadadeira da truta denunciar seu trajeto. Por sorte (ou porque Carlos tinha lido o roteiro da truta com clareza) a mosca estava próxima do último ataque e a truta estava virada diretamente para ela, o ataque era iminente e os segundos que se passaram foram de silêncio e expectativa. A truta percorreu aquele metro e meio numa linha reta, como um torpedo marcando a superfície quieta d água, confiante da recente caçada e atacou a mosca com determinação. Não sei quem estava mais sorridente, eu que tinha acompanhado todo o processo que se desenrolava e em poucos minutos sentia que tinha aprendido muito, ou o Carlos que lutava com a truta no poço. Tenho um pedaço dessa briga filmado; só assim pra ter uma ideia da força do bicho.

6 Carlos mandando o tucura pro outro lado do rio. E a bonita truta de recompensa. Aqui a briga violenta de outra truta para escapar. Foi vencida mas logo voltou pra água. Meia tarde a Melina nos acha no rio. Ela trazia bolo e mate para distrair a fome sem sair do rio. A tarde segue com algumas trutas e mais algumas lições. Jamanta consegue faturar algumas e eu sigo a sina de perder quase todos os piques. Subimos o rio até um grande poço e de cima de uma parede rochosa bem inclinada em uma das margens buscávamos ações na água. Vimos uma truta caçando, mas visivelmente a atividade tinha diminuído. Com o fim da tarde os gafanhotos não se movimentavam tanto e depois de um dia inteiro comendo grandes insetos as trutas já estavam mais satisfeitas. Mesmo assim insisti. O arremesso de cima era complicado mas consegui posicionar a mosca num local do itinerário da truta. De cima e com sombra sobre a água eu podia ver bem sem ser visto. Alguns minutos de espera e o gafanhoto chama atenção com alguns toques bem leves para simular um inseto se debatendo. A truta subiu e diferentemente dos outros ataques abocanhou a mosca com sutileza. Outra vez tirei a mosca da boca da truta; e dessa vez doeu porque tinha visto o tamanho da oponente. De novo aquela conversa de que tinha feito o mais importante e tal... Mas estava inconsolável depois dessa, imaginava o conjunto #3 sofrendo com aquela truta.

7 A tarde cai e voltamos por cima do serro pra casa. Hora de descansar e conversar sobre os ensinamentos do rio. Carlos infelizmente tem que nos deixar e voltar para a cidade, mas já tinha preenchido nosso dia com sua companhia agradável e seus ensinamentos de pesca. E aí aquela coisa: cerveja, carne assada, atar algumas moscas, mentir pros amigos... essas coisas que sempre fazemos quando saímos da água. Um almoço pra não perder tempo. A volta pra cabana. Hora do descanso. Atando pro próximo dia. Depois de uma noite merecida de sono, forças recobradas, uns mates e rio de novo. Dessa vez chegava para pescar com a gente outro grande amigo. Esteban é atualmente o presidente do Clube e ao chegar nos regalou broches do Clube, imediatamente colocados nos coletes. Esteban, apesar de jovem dirige com muita responsabilidade o Clube, e tem uma experiência grande de pesca em vários lugares na Argentina e fora dela. Um ótimo pescador, grande conhecedor de equipamentos e técnicas. Seguimos pro rio e novamente pudemos ver a influência determinante da técnica de aproximação. Esteban e Javier nos acompanham e nos indicam lugares promissores. Depois de alguns arremessos, diferentemente do que estamos acostumados, nos sugerem sair. A

8 movimentação da linha na água depois de 5 ou 6 arremessos, se não forem feitos com delicadeza, praticamente anula a possibilidade de captura neste local. E assim seguimos batendo em lugares determinados do rio. As vezes insistindo um pouco mais, outras muito rapidamente, até que acabamos nos separando um pouco, ficando cada um por si, com alcance visual dos outros. Até então Esteban não havia arremessado. Sobe um pouco o rio, cruza por umas pedras e sobe à outra margem para observar. Novamente depois de uma leitura exitosa, a recompensa veio e ele tira uma truta muito grande da água. Eu e o Rogério já havíamos pegado algumas trutas também, mas estávamos pasmos de ver como o exercício era mais de caçar a truta do que de pescá-la. Muitas vezes andávamos entre dois, com um na margem oposta fora do alcance visual das trutas apontando e direcionando os arremessos do outro. E assim passamos mais um bom dia de pesca, mas sem tirar da água nosso troféu, com a vontade de voltar com mais tempo pra explorar melhor o lugar. O Esteban depois de caçar a sua truta. Um regalo do presidente. Um bom assado de almoço. Deu tempo até pra brincar de arremessar.

9 Na volta nossos amigos nos deixaram no centro da cidade para descansar no hostel que havíamos reservado, com a combinação de que Esteban nos pegaria perto das 9:00hs. A missão era nos abastecermos no Federico Prato, um flyshop de primeira linha, dos maiores da América Latina, que tem tudo que se possa imaginar para pesca com mosca. Tínhamos já uma vasta lista e o objetivo de não deixar as calças lá. Mas foi em vão. A loja é realmente impressionante em quantidade e qualidade de material disponível. O prejuízo foi grande, mas também trocamos muita informação com os vendedores Juan e Gerardo, além do próprio Federico, todos eles muito bons pescadores, com vasta experiência de pesca na Argentina e fora dela. Para quem quiser ter uma ideia melhor, o site também é de primeira qualidade e pode-se comprar com cartão que eles mandam para cá: Uma cerveja pra comemorar. A fatídica visita ao flyshop. Almoçamos um típico lomito com o Esteban e ele nos deixou na rodoviária para a segunda parte da pescaria. Assim, seguimos para Villa General Belgrano, uma simpática vila de colonização alemã onde nos pegaria Patrício, o Pato, para nos levar a La Cumbrecita. La Cumbrecita é um vilarejo de montanha, com apenas 750 moradores fixos. É um lugar colonizado por alemães e suíços no início da década de 30, com uma estrutura turística de primeira e um rio com trutas que passa dentro do povoado. Nós ficamos numa cabana muito boa, com café da manhã, cozinha montada, fogão à lenha, TV e lugar para 5 pessoas por apenas 250 pesos, equivalente a 130 reais. Embora esse preço dobre em temporada alta, dividindo por 4 pescadores é igualmente barato. Nessa mesma tarde Pato, que apesar da pouca idade tem boa experiência por já ter trabalhado como guia de pesca no local, nos levou à pescar no Río del Medio, que passa a menos de 50 metros da cabana que alugamos. Ali pegamos algumas trutas bem pequenas com secas. Fechando a noite, jantamos muito bem no restaurante do Pato, o La Rock. Muito bem atendidos e com um preço muito acessível. Deixamos 70 pesos cada um para comer javali ao molho de mostarda com couve roxa e o prato alemão com salsicha bock, chucrute, batata e carne de porco e beber (provamos umas cervejas artesanais da própria vila).

10 Material informativo de La Cumbrecita e de pesca em CBA. Uma panorâmica do rio que passa no meio da vila. Jamanta no quintal de casa. Cabana bem ajeitada. Na terça pela manhã saímos cedo. Pato nos levou de jeep até um ponto das montanhas que cercam La Cumbrecita chamado Casas Viejas, não sem antes nos indicar com desenhos pontos onde não deveríamos deixar de pescar. É o mesmo rio que passa no povoado, bem mais acima da vila, e tem lugares muito bonitos com trutas muito boas. Outro ponto que se repetiu nessa ida à Córdoba, é que para chegar às trutas grandes é necessário caminhar muito. A paisagem é sempre deslumbrante, mesclando afloramentos de rocha e montanhas, mas o terreno é difícil e o clima muda muito bruscamente. Além do frio, pegamos granizo por duas vezes na mesma jornada, e a neblina chega e toma conta do caminho tão rápido quanto desaparece. Com os ensinamentos em mente fomos à caça das trutas. Paramos num poço conhecido como Poso de las Cabras, onde vimos trutas mas tivemos pouco sucesso. O Rogério tirou uma não muito grande. Elas estavam muito quietas com o frio. Um pouco mais a frente, num trecho de rio muito estreito e bem raso, pude sacar minha primeira truta com uma pequena Hare s Hear. Seguimos adiante e, de cima, pude ver duas trutas grandes num outro

11 poço quase inacessível. Guiei o Jamanta até lá e fiquei tentando ajudar de lá de cima, mas as trutas não caíram na nossa. Eu via uma truta muito grande e outra pequena quase imóveis. O estranho é que elas estavam de frente para um paredão e de costas para a correnteza. A explicação, depois de muito tempo de observação, é que com a chuva caíam dos arbustos do paredão alguns insetos, que logo eram devorados. Chegando a Casas Viejas. Aí vamos nós sou de Cachoeira! Poso de las Cabras, dá pra ter uma ideia da neblina no local. Nosso mapa na jornada. Seguindo o desenho do Pato, acima havia outro poço, conhecido como La Laja, segundo ele um ponto especial com trutas muito grandes. Vimos fotos do próprio Pato e de amigos dele com trutas que chegavam facilmente aos dois quilos, pescadas nesse lugar. O caminho é difícil, e tempo não nos animava muito. Mas fomos e valeu a pena. O Jamanta tirou uma grande depois de observar bastante a movimentação de cima. A foto está de longe mas vale. Eu fui ao outro extremo do poço e logo tirei uma, não muito grande na caída de uma pequena cachoeira. Insistindo rio acima, bem atrás da famosa laje que dá nome ao lugar, pescava por cima desta e em seguida tirei mais duas trutas de bom porte, depois de perder um pique. O tempo estava escuro e estava e a hora de voltar já tinha passado, mas a oportunidade

12 de tirar uma daquelas não nos deixava ir embora. E foi com esse pensamento que o troféu veio. Dessa vez não perdi a fisgada, e depois de alguns segundos de luta pude ver seu lombo na superfície; mas ela foi mais esperta e acabou em seguida cabeceando e cortando o tippet nas pedras. Insisti inutilmente mais um pouco e caiu a ficha: a maior sempre escapa. Voltamos pelo caminho que acompanha o rio até a vila e ainda pescamos mais um pouco com secas no pé da nossa cabana. À noite nova orgia gastronômica no La Rock: cazuela de cazador, um pão redondo recheado com carne de cervo levado ao forno e uma pasta também recheada com carne de cervo pra mim, sempre com acompanhamento das cervejas típicas do lugar. Nessa noite ainda pedi uma sobremesa de creme com frutas do bosque. Só provando mesmo! Conhecemos outro amigo de Patrício, o Pedro, também pescador que nos passou seu contato e muitas dicas de pesca ao redor de Córdoba e no sul onde sempre vai. O terreno é difícil, mas a paisagem compensa. Jamanta sofreu pra chegar... Mas valeu a pena. O La Rock é indiscutível. No outro dia saímos cedo para pescar ao pé do serro mais alto de Córdoba: El Champaquí. Este serro tem 2600 metros de altitude e dois importantes rios com trutas. Num

13 deles iríamos pescar. Pegamos um café no meio do caminho e tomamos a estrada em direção à Yacanto. Desta vila subimos em direção à Tres Árboles e lá deixamos o carro, numa espécie de armazém de beira de estrada. Saída cedo com nosso guia Patrício. Paisagens bonitas na subida... E em cima do Champaquí. Local onde deixamos o carro. Havíamos viajado em estrada asfaltada mais ou menos 3 horas já, mas o difícil ainda estava por vir. A caminhada é pesada mesmo. Impressionante a força de vontade do Jamanta que mesmo acima do peso acompanhou bem. A gente se estrepou na verdade, porque caminhamos quase duas horas pra chegar no Río Tabaquillos. O Tabaquillos também tem seu nome por causa de uma árvore que tem o tronco em camadas muito finas. (foto) É um rio que também é regido por devolução obrigatória, fruto da insistência dos Clubes de pesca de Córdoba. A paisagem e a possibilidade de pescar boas trutas (também tínhamos visto fotos de trutas muito grandes deste rio) nos impulsionavam. O Pato nos acompanhou todo o tempo desta vez e levou seu material. Foi ele quem, primeiro, pegou uma truta. Víamos a toda hora como é fundamental ser cauteloso na aproximação ao rio e preciso nos arremessos, sem estardalhaço na água e essas coisas que acabamos fazendo pela excitação do momento.

14 Agora é que começa de verdade. A árvore que dá nome ao rio. O caminho é longo. A paisagem impressiona. Ás vezes nos separávamos, cada um pescava como lhe convinha, o que foi bom para testar nossos instintos. As trutas do Tabaquillos são muito selvagens e ariscas pelo simples fato de que é um rio de muito difícil acesso. Entraram algumas boas, mas as maiores vimos mesmo que fugiam assustadas. O Jamanta perdeu uma e eu outra, coisa que fez nosso guia desistir da gente. Mas a jornada foi bem positiva com várias trutas, sempre bem fortes. Eu tirei uma de uns 40cm num arroio com menos de um palmo d água. Tudo ia bem até que deixei cair a máquina na água. Como o Jamanta tinha trazido uma máquina fotográfica estragada, a partir deste momento quase não temos fotos. Enfim, um monte de motivos para retornar... à cavalo obviamente, porque depois de voltar mais duas horas nesse terreno, tendo pescado o dia inteiro foi pra matar. Uma boa reportagem sobre o lugar pode ser lida no site do Federico: Nessa noite nem fomos jantar. Tomamos uma cerveja em casa mesmo e fomos dormir porque no outro dia iríamos à outro lugar muito recomendado. A proposta era ir à cavalo até um ponto em cima da serra

15 chamado La Lagunita, e tínhamos uma expectativa muito grande do lugar também pelas fotos e histórias que ouvimos. Pato com a primeira truta do dia. Jamanta perdeu uma grande nessa corredeira. Pausa pro almoço. Trutas bem coloridas e saudáveis. (*última foto da máquina) Para nossa infelicidade choveu forte durante boa parte da noite e nossa esperada aventura estava inviabilizada. Mais um motivo para voltar outra hora... Antes do Pato nos levar de volta até General Belgrano, aproveitamos para dar um passeio rápido por La Cumbrecita, comprar uns chocolates e alfajores típicos da região e até mesmo algumas compotas caseiras. De General Belgrano para Córdoba e de Córdoba para Marull visitar nossa amiga Sílvia. Essa visita veio a calhar para recobrar forças. Na outra tarde voltamos à Córdoba, onde Esteban nos esperava para nos apresentar um amigo atador, Luca Echenique. Luca nos recebeu muito bem, nos contou de pescarias no sul e nos mostrou moscas que faz e materiais que revende a muito bons preços. O planejado para o último final de semana era ir até Santiago de Esteros pescar dourados. Com o rio muito cheio seria impossível pescar vadeando e a flotada não era o que buscávamos por inviabilizar o acampamento e nossa volta em tempo, sem contar que sairia

16 bem mais caro. Não pode-se dizer que foi ruim porque voltamos, agora com um grupo maior de companheiros sócios do Clube para Los Espinillos no sábado pela manhã. Foi muito bom poder voltar ao rio e pescar com mais calma nos lugares onde deixamos as trutas que escaparam. Também foi muito importante a troca de informações que o grupo maior proporcionou. Anotamos ali uma série de possíveis destinos de pesca na Argentina comendo um bom assado. Esteban ainda nos ensinou um bagre que iria usar no Limay para pegar marrons migratórias, que nos deu vontade de testar com os dourados numa outra oportunidade. No outro dia saímos cedo para nos despedir do rio. Acho que pela situação de retorno nem voltei para almoçar. Nesse final de semana estava mais afinado e quase não perdia mais fisgadas, mas o troféu ainda não aparecia. O Rogério passou o dia praticamente no mesmo poço e tirou algumas trutas. A maior vocês já sabem... E eu tive um bom dia de pesca e de leitura de rio. Lembrei de um texto que contava sobre como as trutas grandes usam a espuma para caçar sem serem vistas quando vi movimentação num remanso espumoso do rio. Com alguns minutos observando notei que era uma truta muito grande porque botava a nadadeira dorsal e a caudal fora d água para comer. Tinha certamente 50cm e comia pequenas mayflies. Não foi por falta de insistência, mas ela não quis saber nem das minhas mayflies, nem de tucura, nem de emerger e continuava comendo insetos naturais. Muito seletiva mesmo com um contra-indicado tippet 6X. Abandonei o ponto e mais abaixo achei uma saída de corredeira muito bonita onde peguei mais três boas trutas com seca. Mas aquela grande não me saída da cabeça e na volta passei para ver se ela ainda estava por ali. Nessa hora o Javier chegava para me buscar. Quando viu a truta teve que se render e ficou tentando, sem sucesso, me ajudar a pescá-la por mais de meia hora até que finalmente admitimos que dessa vez ela tinha nos ganhado. Nossa pescaria em Córdoba foi ótima, com paisagens e rios muito bonitos, trutas saudáveis e boa possibilidade de pegar grandes. Pescaria muito técnica mesmo, boa pra que quem quer adquirir ou testar conhecimentos e uma turma excelente. É um destino que certamente será incluído na agenda anual de pesca da turma. Na segunda semana de outubro abre novamente a temporada de trutas e é possível de incluir na mesma viagem uma pescaria de dourados em Santiago de Esteros, embora os dourados mereçam uma viagem exclusiva. Pra melhorar o câmbio nos favorece muito. Conseguimos comprar peso a 2x1, ou seja, pagando a metade equivalente em reais. Passagem conseguimos a 160 reais com antecedência e lá ficamos bem alojados, comemos bem e nos transportamos sem doer o bolso. Se quiserem tenho os gastos anotados por dia. Estamos pensando seriamente voltar em novembro e já iniciamos as tratativas com o pessoal de lá. Imaginamos usar o mesmo esquema de chegar e pescar no final de semana nos Espinillos e parar a semana inteira em La Cumbrecita, intercalando um dia de pesca com um dia de descanso (as saídas são puxadas mesmo). Aproveitar e conhecer com calma o povoado e tal... No outro final de semana dá pra voltar pro Espinillos, ou voltar na sexta e emendar um acampamento em Santiago de Esteros pra pescar dourados. Outra possibilidade é ir até Pampa de Achala num Parque protegido

17 chamado Quebrada del Condorito pra pescar trutas fontinalis. É um local de acesso meio complicado mas não é longe de La Cumbrecita e, embora as trutas maiores tenham, no máximo, 30cm, a quantidade é enorme segundo nos disseram. Usamos materiais leves #3 e #4. Nossos guias não recomendavam usar tippet mais fino que 4X porque existe a possibilidade de engatar trutas grandes e elas brigam muito. Com exceção do tucura, as iscas usadas foram bem tradicionais em anzóis pequenos. Eu tive muito sucesso com Hare s Hear com bead de tungstênio pra afundar, e emergers de cdc muito pequenas. A grande que cortou o tippet foi fisgada numa damsel marabou oliva anzol #14 (que nunca uso). João Paulo Schwerz & Rogério Batista.

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