Tema: Vulnerabilidade da população rural: exposição a riscos ocupacionais e ambientais

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1 Resumen 2- Congreso Salud y Ambiente Tema: Vulnerabilidade da população rural: exposição a riscos ocupacionais e ambientais Resumo: Este trabalho teve o objetivo de verificar na literatura científica os riscos ocupacionais e ambientais aos quais está exposta a população rural. Utilizou-se o método de revisão integrativa da literatura. Foram incluídos estudos publicados entre 1990 a 2012 com o cruzamento dos descritores riscos ocupacionais e riscos ambientais e população rural. Foram encontradas 11 artigos, dos quais foram identificados cinco eixos temáticos: produção rural e saúde; agrotóxicos; uso de Equipamentos de Proteção Individual; percepção de riscos e condições de trabalho de atividades rurais específicas. Os estudos apontam que os riscos ocupacionais e ambientais aos quais os trabalhadores rurais estão expostos demonstram forte relação com o uso de agrotóxicos, agravados pelo não uso ou utilização inadequada dos equipamentos de proteção individual, pelo desconhecimento quanto às formas de intoxicação e pela fragilidade da percepção de riscos. No entanto, capacitações específicas para essa população e sensibilização quanto à percepção do risco no meio rural podem potencializar a prevenção de agravos à saúde e amenizar, especialmente a vulnerabilidade programática, evidenciada na população rural. Introdução O conceito de risco surgiu na epidemiologia nos anos 1920 e foi se modificando ao longo do tempo conforme o enfoque epidemiológico dado aos fenômenos epidêmicos que eclodiram em determinados momentos históricos. No século XX o risco assumiu um papel especulativo e quantificado, passando a indicar chances probabilísticas de suscetibilidade, conferidas a um indivíduo de uma população específica, delimitados pela sua exposição a agentes agressores ou protetores de interesse técnico ou científico (AYRES, 2008). Ribeiro (2008) considera que o termo risco no ambiente de trabalho remete a probabilidade de ocorrer um prejuízo à saúde do trabalhador. Sobre vulnerabilidade Sánchez; Bortoluzzi (2007) apontam que após a década de 1980 o termo se apresenta na literatura científica associada à epidemiologia e ao conceito de risco com caráter individualizante; na contemporaneidade conceito de vulnerabilidade abrange aspectos individuais, coletivos. Os riscos ocupacionais da população rural abordados na literatura estão vinculados na sua maioria àqueles caracterizados pelo uso de agrotóxicos (DOMINGUES, 2004; SILVA et al., 2005; 1

2 LINARES, 2005). Alguns autores associam esse risco à falta ou uso incompleto dos equipamentos de proteção individual (EPI) preconizados, especialmente para o manuseio dos agrotóxicos (BEDOR, 2009; MENEGAT; FONTANA, 2010). Quanto aos riscos ambientais relacionados ao trabalhador rural a literatura menciona (BORTOLUZZI, et al., 2006); MARQUES, et al., 2007; GRUTZMACHE, et al., 2008; SILVA, et al., 2009; MOREIRA, et al., 2012) aspectos associados à contaminação de águas da chuva, águas superficiais, de poços artesianos e de mananciais por agrotóxicos. Em relação aos riscos ocupacionais e ambientais, dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológica demonstram que no ano de 2010 houve casos de intoxicação humana no Brasil, sendo por agrotóxicos. Das intoxicações por agrotóxicos, 24% se deram por acidente ocupacional e 2% por acidente ambiental (BRASIL, 2012). Conhecer os riscos que a população rural se expõe qualifica os profissionais que atuam nesse espaço/território e podem promover educação em saúde, prevenir agravos à saúde da população e ao meio ambiente, bem como formar redes de apoio ao trabalhador. Pergunta de estudo: O que a literatura brasileira, publicada entre os anos de 1990 a 2012, trazem sobre exposição a riscos ocupacionais e ambientais dos trabalhadores rurais? Objetivo Este estudo teve o objetivo de verificar como a literatura científica aborda os riscos ocupacionais e ambientais aos quais está exposta a população rural. Metodologia O método utilizado consistiu de uma revisão integrativa da literatura com abordagem qualitativa baseada na proposição de Ganong (1987). As etapas envolveram a escolha da pergunta de pesquisa, definição de critérios de inclusão e exclusão, seleção da amostra. Foram incluídos estudos publicados nos anos de 1990 a 2012 no formato de teses, monografias e artigos originais, escritos em português, inglês e espanhol, disponíveis na forma completa e gratuita. As estratégias de busca foram realizadas com base nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) na base Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) cujos descritores foram: riscos ocupacionais e população rural; riscos ambientais e população rural. Resultados e discussão 2

3 Foram encontradas 11 artigos científicos e estes apontaram para cinco eixos temáticos: agrotóxicos (45%), percepção de riscos (18%), condições de trabalho (18%), produção rural e saúde (9%) e uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) (9%). Os estudos categorizados no eixo temático agrotóxicos trazem a relação do uso desses produtos químicos com os agravos à saúde do trabalhador. As pesquisa retomam os sintomas referidos pelos agricultores quando utilizam agrotóxicos, entre eles cefaleia, náuseas, vertigens e irritação da pele (SAVI, 2010), bem como discutem o aumento de sintomas respiratórios e fazem relação com a maior prevalência aos sintomas de asma, especialmente quando a exposição aos produtos é superior a dois dias por mês (ARAÚJO, 2007). Quanto aos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) específicos para o manuseio de produtos químicos parte das pesquisas identificou uma elevada frequência de trabalhadores que nunca utilizam os EPI (FARIA et al., 2004; DELGADO; PAUMGARTTEN, 2004; SCHMIDT; GODINHO, 2006; FONSECA et al., 2007). Estudos esclarecem que o não uso destes equipamentos se relacionam com a falta de costume, sensação de desconforto e calor durante o uso, dificulta o trabalho, alto custo e descrédito na sua eficácia (DELGADO; PAUMGARTTEN, 2004; SCHMIDT; GODINHO, 2006; FONSECA et al., 2007). A adesão ao uso de EPI pode ser facilitada com a conscientização dos trabalhadores por meio de um diálogo que propicie reflexão para apreender a importância da utilização. Além disso, a implantação de líderes com formação sobre o uso dos EPI nos grupos de trabalho pode contribuir para o aumento da adesão ao uso dos equipamentos (LUQUE, 2012) Quanto à percepção de riscos na agricultura pelos trabalhadores rurais autores (PERES, ROZEMBERG, LUCCA, 2005; FONSECA, 2007) relatam que os trabalhadores compreendem os perigos advindos dos agrotóxicos, porém, muitos negam e/ou minimizam esses riscos ao afirmar que seu corpo está preparado para manter contato frequente com o produto. A relação entre compreender os riscos e proteger-se deles nem sempre está associada, pois existe a descrença na efetividade do EPI. Essa ausência da percepção dos riscos químicos à saúde aumenta a exposição do trabalhador a agentes químicos e pode acarretar em graves problemas de saúde tanto do trabalhador quanto de terceiros que consomem o leite comercializado por esses pecuaristas. As condições de trabalho refletem na saúde dos trabalhadores, conforme explana a literatura sobre os recicladores sindicalizados e não sindicalizados da área rural (BALLESTEROS; ARANGO; URREGO, 2012). Nota-se que os trabalhadores sindicalizados possuem melhores condições de trabalho, apesar de estarem expostos aos mesmos fatores de risco dos não sindicalizados. Também estão mais satisfeitos, mais protegidos, devido seu comprometimento com 3

4 sua segurança, demonstrado pelo maior índice no uso de EPI. A condição de trabalho positiva apresentada pelo grupo de recicladores sindicalizados se deve a eles terem seus direitos resguardados pela legislação trabalhista. As condições de trabalho apresentadas por algumas atividades rurais específicas, como o corte de cana-de-açúcar, os trabalhadores são submetidos à cargas físicas, químicas e biológicas que se traduzem em dermatites, conjuntivites, desidratação, cãibras, dispneias, infecções respiratórias, alterações da pressão arterial, ferimentos e outros acidentes, cargas biopsíquicas, tensão nervosa e outros tipos de manifestações psicossomáticas que podem levar a quadros de úlcera, hipertensão e alcoolismo (ALESSI; NAVARRO, 1997). Os artigos que dissertam sobre o processo de produção rural e saúde chamam atenção para uma série de riscos à saúde envoltos na atividade rural no que se refere ao uso regular de agrotóxicos, o trabalho infantil, longas jornadas de trabalho, exposição ao sol e o ritmo de trabalho acelerado (FARIA, 2000). Nesse sentido, contextualizam um diversidade de aspectos do trabalho rural no Brasil, especialmente na região Sul, que requem intervenções e mais investigações. Conclusões e recomendações Os estudos dos últimos 10 anos apontam que os riscos ocupacionais e ambientais do trabalhador rural possuem relação com o uso de agrotóxicos, as condições de trabalho e ao não uso ou uso inadequado de EPIs evidenciando a vulnerabilidade programática da população rural a esses riscos. Quanto aos agrotóxicos, é explicitado na literatura que os trabalhadores rurais têm pouco conhecimento sobre seu uso, efeitos e riscos. Além disso, aponta que os trabalhadores rurais estão expostos a agravos à saúde e, associado a isso, a ausência da percepção dos riscos amplia a vulnerabilidade desses indivíduos e suas famílias. Diante desse panorama é preciso que os profissionais de saúde, em parceria com outros setores, promovam estratégias de enfrentamento à vulnerabilidade do trabalhador rural, principalmente em relação ao não uso de EPI e esclarecimentos sobre os efeitos dos agrotóxicos sobre a saúde humana e meio ambiente, entre outros aspectos singulares do trabalho rural. A Estratégia Saúde da Família, em franca expansão no cenário da Atenção Primária à Saúde no Brasil, em conjunto com outras instituições que atuam junto aos trabalhadores rurais, tem papel importante na educação para a saúde junto a essa população a fim de minimizar os riscos ocupacionais e ambientais que a população rural se expõe. 4

5 Referências ALESSI, N. P.; NAVARRO, V. L. Saúde e trabalho rural: o caso dos trabalhadores da cultura canavieira na região de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Caderno Saúde Pública, v. 13, p , ARAUJO, A. J. de. et al. Exposição múltipla a agrotóxicos e efeitos à saúde: estudo transversal em amostra de 102 trabalhadores rurais, Nova Friburgo, RJ. Ciências & Saúde Coletiva, v. 12, n. 1, jan./mar AYRES, J. R. de C. M. Sobre o risco: para compreender a epidemiologia. 3 ed. São Paulo : Hucitec, BALLESTEROS, V. L.; ARANGO,Y. L. L.; URREGO, Y. M. C. Condições de saúde e trabalho informal em recuperadores ambientais da área rural de Medellin, Colômbia, Revista de Saúde Pública, v. 46, n. 5, out BORTOLUZZI, E. C. et. al. Contaminação de águas superficiais por agrotóxicos em função do uso do solo numa microbacia hidrográfica de Agudo, RS. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 10, n. 4, out./dez BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas SINTOX. Registros de Intoxicações: dados nacionais Disponível em: < Acesso em: mai DELGADO, I. F.; PAUMGARTTEN, F. J. R. Intoxicações e uso de pesticidas por agricultores do Município de Paty do Alferes, Rio de Janeiro, Brasil. Caderno Saúde Pública, v. 20, n. 1, DOMINGUES, M. R. Agrotóxicos: Risco à Saúde do Trabalhador Rural. Revista Ciências Biológicas e da Saúde, v. 25, p.45-54, jan./dez FARIA, N. M. X. et al. Processo de produção rural e saúde na serra gaúcha: um estudo descritivo. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.16, n.1, p , jan./mar FARIA, N. M. X. et al. Trabalho rural e intoxicações por agrotóxicos. Caderno Saúde Pública, v. 20, n. 5, Pesticidas e sintomas respiratórios entre agricultores. Revista de Saúde Pública, v. 39, n. 6. p , FONSECA, M. das G. U. et al. Percepção de risco: maneiras de pensar e agir no manejo de agrotóxicos. Ciência & Saúde Coletiva, v. 12, n. 1, p.39-50, GANONG, L.H. Integrative reviews of nursing. Rev. Nurs Health, v.10, n. 1, p. 1-11, GRUTZMACHE, D. D. et al. Monitoramento de agrotóxicos em dois mananciais hídricos no sul do Brasil. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 12, n. 6, p , nov./dez

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