JOGO DE FIAR: FICÇÃO OU AUTOBIOGRAFIA? UMA ANÁLISE SOBRE A VIDA E A OBRA DE PATRICIA BINS

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1 JOGO DE FIAR: FICÇÃO OU AUTOBIOGRAFIA? UMA ANÁLISE SOBRE A VIDA E A OBRA DE PATRICIA BINS Luciana de Carvalho Chaves 1 Biografia, autobiografia, autor e protagonista Desde Plutarco (aprox. 50 d.c.) estuda-se as biografias e suas implicações no contexto literário. Ele era considerado o pai da biografia, escrevia com a convicção de que seu afazer tinha uma importância gigantesca, já que considerava tais estudos como um espelho ante o qual procuro de certo modo compor e assemelhar minha vida às imagens que se me apresentam. (CAVALHEIRO, 1943). Gostava de expor seus personagens tanto às características boas quanto às ruins, já que gostava de criar uma discussão ética e moral na sociedade. Segundo Cavalheiro, é com o declínio do valor humano na sociedade moderna, onde o indivíduo é isolado cada vez mais, seja pela quantidade ascendente de pessoas no mundo, dando a impressão de que não há mais espaço para ninguém e que devemos ser concorrentes; seja pelas características da sociedade tecnológica que facilita a forma de contato virtual em detrimento ao contato físico, que encontramos compensação nas reconstituições históricas e críticas dos grandes personagens. Começa então a fazer sentido o desenvolvimento de autobiografias. Em princípio as biografias, escritas por outrem, eram as mais comuns. Porém, as autobiografias surgem com força nesta era moderna, e nos deixam uma dúvida a mais: afinal, qual a diferença entre personagem e autor? Em poucas palavras, o autor é uma pessoa, um cidadão. Ele tem carteira de identidade, fica doente e paga Imposto de Renda como qualquer outra pessoa. Já o protagonista pretende ser uma pessoa. O romancista usa de uma porção de massas verbais (FORSTER, 1974) descrevendo de certa maneira a si mesmo, fazendo com que esse outro eu comporte-se de maneira convincentemente verossímil. Sua natureza, segundo Forster, está 1 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul Brasil.

2 condicionada pelo que o romancista acredita sobre outras pessoas e sobre si mesmo, e, além disso, é modificada por outros aspectos de seu trabalho (FORSTER, 1974). Le Goff (LE GOFF, 1998, p. 261), diz que é possível estabelecer nexos entre os elementos narrativos próprios aos relatos de vida com o mundo histórico no qual as ações dos protagonistas ocorriam. Isto porque a ação narrativa do indivíduo não pode ser dissociada de sua sociedade, de sua cultura e de seu contexto, pois não há oposição entre indivíduo e sociedade, mas uma permanente interação entre eles. Na obra de Patricia Bins, Jogo de fiar, essa dificuldade de dissociação é um tanto percebida pelo leitor que tem algum conhecimento sobre a história desta autora. Foi pensando nessa proximidade, que será exposto um estudo comparativo entre a vida e a obra Jogo de fiar, de Patricia Bins. Breve biografia de Patricia Bins No dia 24 de julho de 1928 (registrada em 29 de julho), na maternidade do Stranger s Hospital, no Rio de Janeiro, nasce a escritora brasileira contemporânea Patricia Bins. Dona de uma sensibilidade absoluta, não só para as letras como para a vida. Incentivada pelos pais Iris Holliday e Andor Ströh, cresce em um reduto estrangeirizado e intelectual. Sua mãe era o que se pode chamar de inglesa de alma. Veio para o Brasil acreditando que seria temporário e negou-se a conhecer a cultura brasileira. Iris frequentava o British Club, jogava bridge e jamais aprendeu o idioma do país em que viveu e morreu. Em sua casa os hábitos eram europeus, das comidas à literatura, o que fizeram de Patricia Doreen Bins, então Patricia Doreen Ströh, uma lady. Seu pai, Andor, chamado de Andrew por sua esposa, era um amante da aventura. Falava diversos idiomas, adorava fazer amizades e, ao chegar ao Brasil em 1927, foi rapidamente contratado pela companhia de derivados de milho Refinações Milho Brasil; uma empresa norte-americana, a qual chegou a ser diretor. Patricia inicia seus estudos aos 5 anos com as irmãs inglesas Dunstan em Belo Horizonte. Com elas aprendeu, além do básico, dança, música e literatura inglesa.

3 Em 12 de abril de 1935 nasce Elizabeth Anne, irmã de Patricia, a quem ela amava e cuidava como se fosse filha. Patrícia era carente de amigas, pois havia um muro erguido por sua mãe entre a família e as pessoas que estavam fora da cultura européia. O nascimento da irmã quando ela tinha 7 anos de idade foi uma alegria, e Patricia tinha agora uma bonequinha para brincar. Em 1940 a família vai para Porto Alegre, e Patricia Bins começa a frequentar pela primeira vez uma escola regular. Matriculada no Colégio Americano, na 4ª série do ginasial, logo se destaca pelas boas notas e pelo ótimo inglês. É neste mesmo ano que recebe o prêmio Joyce Almeida, uma graça rara concedida aos melhores alunos que recebiam: o uniforme completo do colégio, o abono das mensalidades por um ano e a exposição do nome do vencedor em um quadro pendurado na parede do colégio. Foi nesta época que Patricia escreve seu primeiro poema intitulado O beijo. Aos 14 anos começa a dar aulas particulares de inglês em sua residência, aos 17 é convidada pelo diretor do Instituto Cultural Brasileiro-Norte Americano para dar aulas de inglês e aos 18 ingressa na Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ainda neste ano de 1946 que Patricia conhece a pessoa que se tornaria seu parceiro intelectual, artístico e amoroso: Roberto Haraldo Bins. Roberto era professor de arquitetura da UFRGS. Em 1950 a escritora recebe o diploma de Artista Plástica e uma bolsa de estudos para a América do Norte, porém, Roberto não permite a separação e em 31 de janeiro 1952, casam-se. Roberto Bins torna-se um arquiteto de expressão na área, fazendo grandes projetos regionais e nacionais, inclusive a casa dos pais e a sua própria. A casa que tinha como pátio o rio Guaíba começa a ser habitada pela família em Patricia tem uma vida saudável, perto da natureza e dos filhos Roberto Haraldo Bins Júnior (27/01/1953) e Carlos Henrique Bins (07/02/1956). É nesta casa também que o casal Bins dava festas elegantes à sociedade porto-alegrense, e que Patricia Bins se inspira usando as experiências de mãe, esposa e mulher da alta-sociedade para escrever crônicas no jornal Correio do Povo, onde trabalhou de 1968 a 1984.

4 O casal frequenta nos meses de verão o balneário de Torres, talvez o mais requintado do estado, o qual foi cenário de diversas crônicas e do romance Sarah e os Anjos, a 3ª obra da Trilogia da Paixão. Em 8 de fevereiro de 1971 cai uma bomba, como ela mesma diz, sobre a família Bins: Roberto H. Bins sofre um derrame cerebral. Apesar de diminuir o fluxo de trabalho, Roberto não para, e em 1973 o casal abre o escritório/loja de arte Ilhantiga. Este era um lugar para fazer assessorias de arte, decoração e arquitetura, e para receber amigos, muitos deles escritores, o que fortaleceu mais ainda o interesse de Patricia pela literatura. Em 1974 outra bomba é sentida pela escritora, seu grande amigo, orientador, e progenitor morre aos 67 anos. O fato apinhou sua alma de dor e saudade, pois seu pai era a referência de um mundo sem fronteiras e anti-institucionalizado, de alegria, bom humor e amor ao próximo. Na crônica Transparência (Correio do Povo , p.48) ela escreve sobre seus sentimentos quanto à perda. Dois anos depois Patricia começa a trabalhar na coordenação do Suplemento Mulher, da Folha da Tarde, sob a direção de Edmundo Soares, trabalho em que permanece até No dia 1º de julho 1977 seu primogênito casa-se com Ivone Rizzo, e em 6 de dezembro de 1978 vem ao mundo a primeira neta, Helena Rizzo Bins, seguida por Cristiano Rizzo Bins em 16 de novembro de Neste ano nasce também o primeiro livro da autora, O assassinato dos pombos cronicontos, pela editora Metrópole, uma coletânea de 29 contos e crônicas já publicados no Correio do Povo em sua coluna desde Alguns destes cronicontos foram levados por Giovanni Pontiero aos Estados Unidos e introduzidos na International Anthology of Prose and Poetry, pelas mãos do editor Peter Glassgold em Nova Yorque. No ano de 1982 Patricia Doreen Bins assume a cadeira de número 26 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul que era de Lila Ripoll, poeta lírica gaúcha. Em Novo Hamburgo/RS recebe Menção Honrosa na Semana do Livro da cidade por seu trabalho no Correio do Povo e pela coletânea O assassinato dos pombos. O primeiro romance veio logo após, em 1983, pela editora Nova fronteira, no Rio de

5 Janeiro. Jogo de fiar é também o primeiro livro da Trilogia da Solidão. Nele é evidente traços de sua biografia pessoal, sua infância dentre estrangeiros, as crises psicológicas e existenciais na busca pelo autoconhecimento e a dificuldade de viver uma relação a dois. Antes que o amor acabe, segundo romance da Trilogia da Solidão, também editado pela Nova Fronteira, vem em seguida, em Nele a autora desenvolve um pouco mais o tema relacionamento amoroso e o cenário de uma praia, assim como em Sarah e os Anjos, é presente. No período entre o segundo e o terceiro romance da Trilogia da Solidão Patricia escreve contos em coletâneas, jornais e revistas. Janela do Sonho, também lançado pela Editora Nova Fronteira, traz uma personagem infeliz e vaidosa, que espera a morte chegar inventando vidas para os transeuntes da rua que passam por sua janela. Com essa obra a autora recebe o Prêmio Afonso Arinos, concedido pela Academia Brasileira de Letras (ABL), e recebe também Menção Especial da União Brasileira de Escritores (UBE) no Rio de Janeiro. Em 1987 chega o mais novo membro da família Gabriel Rizzo Bins, o terceiro neto. O acontecimento deu-se no Hospital Moinhos de Vento em 12 de junho. Julieta de Godoy Ladeira publica em 1988 uma coletânea chamada Memórias e Hollywood onde o conto Narcisa é editado. Um ano depois surge a Trilogia da Paixão. O romance Pele nua do espelho, um dos mais difíceis de escrever segundo a autora, foi dramatizada no Teatro Renascença, pela atriz Dinorah Araújo foi um ano um tanto tumultuado para Patricia. Muitos acontecimentos importantes e mudanças marcaram sua vida, como a morte de sua mãe no dia 12 de junho e o aniversário do neto caçula Gabriel. Patricia e Roberto fecham o escritório de arte Ilhantiga. Sérgio Lacerda, diretor da editora Nova Fronteira falece e Patricia assina contrato com a Bertrand Brasil, uma tradicional editora portuguesa, com sucursal no Rio de Janeiro. A professora Marjorie Agosin, originalmente do Chile (e que, por questões políticas, refugia-se com seus familiares nos Estados Unidos), publica na coletânea de contos Landscapes of a New Land o conto de Patricia Destination

6 (Destinação), sob a White Pine Press de Buffalo, New York. Mais tarde, Patricia Bins vem a traduzir dois livros de poemas de Marjorie Agosin, Noite estrelada e Chuva no deserto. Pele nua do Espelho recebe o Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras, e no mesmo ano é lançado o livro Theodora, o segundo livro da Trilogia da Paixão. Em 1993, portanto dois anos depois, sai a terceira obra da trilogia, Sarah e os anjos. Essa obra rendeu à escritora o Prêmio José de Alencar, da Academia Brasileira de Letras, (ABL) e Theodora o Prêmio José Alexandre Cabassa, concedido pela União Brasileira de Escritores (UBE). Neste ínterim vários trabalhos são escritos sobre a vida e a obra de Patricia, assim como, são publicados alguns de seus contos em livros e revistas de literatura é, além do ano do lançamento da Trilogia da Sedução, com Caçador de memórias, o ano das homenagens. A autora vai a Buenos Aires para o lançamento de La piel desnuda del espejo, uma tradução oficial de Danilo Alberto Vergara, incentivada pela embaixada do Brasil na Argentina. Lá, Patricia recebe o Prêmio Personalidade Cultural Internacional da UBE pela tradução de seu livro na Feira Internacional de Buenos Aires, sendo ela a única escritora brasileira a representar o Brasil. A Associação das Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB) propõe o Ano Patricia Bins, que é conferido anualmente a uma mulher de projeção nas letras. Hilda Agnes Hübner Flores escreve um longo artigo sobre Patricia Bins e seu trabalho literário sob o título: Patricia Bins: escritora de nosso tempo (Correio do povo, p ). Patricia Bins escreve em 1996 seu primeiro livro infanto-juvenil O dia da árvore. O lançamento que ocorreu na 42ª. Feira do Livro de Porto Alegre, durante uma linda tarde de sol e trazia uma novidade: quem autografasse o livro recebia uma muda de árvore. No ano posterior lança o segundo livro infanto-juvenil Pedro e Pietrina, pela Editora Bertrand Brasil. O lançamento não elimina a dor da perda ocorrida no início do ano. Vítima de complicações de uma pneumonia e de uma úlcera perfurada morre, em 29 de janeiro de 1997, seu marido Roberto H. Bins.

7 Patricia resolve fazer um livro em que autores dariam receitas gastronômicas e receitas de como criar. Sai, então, em 1998 o livro Brasil: receitas de criar e cozinhar organizado conjuntamente com a amiga e Dra. em literatura Dileta Silveira Martins. Também neste ano Patricia é homenageada como patrona da 44ª Feira do Livro de Porto Alegre, evento este que conta com as mais altas personalidades literárias do país e do exterior. Em 2001, agora sob total organização de Patricia o volume II do livro Brasil: receitas de criar e cozinhar. Instantes do mundo é o último livro da autora e também o único que há um final explicito. Lançado em 1999, o segundo livro da Trilogia de Eros tem um arremate final, uma história que finda, diferente de todas as outras em que a história segue em aberto, dando a impressão ao leitor de que há ou haverá uma continuação. Para nós, leitores, a continuação de sua belíssima obra acaba no dia 4 de Janeiro de 2008, quando Patricia Doreen Bins, aos 79 anos, marca um encontro com seus anjos e vai ao encontro deles. Resumo de Jogo de fiar Jogo de fiar conta a história de A., uma personagem que tenta se enquadrar num mundo que é diferente do seu, que sofre crises psicológicas e existenciais, e que, frente ao espelho, tenta encontrar sua própria imagem entre as três que refletem sua não-imagem. O romance é constituído de 3 partes: Terra, Desmemória e Elegia. Em terra inicia-se o fio que tece a vida da protagonista. Na terrina quebrada no centro da sala começa a rememorar o passado. É neste momento que é contada a infância e a préadolescência da personagem; a vida em família, o ciúme da irmã, o susto da primeira menstruação. Em Desmemória a protagonista que é também a narradora conhece seu futuro esposo Daniel. A. agora passa a contar da dor que sentia em conviver com alguém que mal conhece e que mal a conhece também.

8 Morre Daniel e a personagem sente como se estivesse liberta, como se houvesse nascido novamente no terceiro capítulo Elegia. Jogo de fiar é, como todas as obras de Patricia, uma história intimista caracterizada pelos fluxos de consciência. Uma busca feminina interminável que Patricia Bins enredou em seu jogo de fiar. Estudo comparativo Livro Jogo de fiar O Deus intuído e as rezas mágicas, às quais me agarro como a espantar demônios, duendes, todo um vasto mundo dimensionado a partir da minha própria desproporção. (p. 16) Desde que aprendi a ler, o livro, mesmo que fosse apenas pelo seu conforto, o amigo que não tive. (p. 31) - Está ficando tão estranha. O que será? - Não ligue. É a idade. Oito, nove, dez, onze: os adultos sussurram: - Sempre fechada em si mesma, melancólica. Isabel tem bem mais personalidade. (p. 33) Intermináveis arrumações de Norah: nas tardes, retornando da escola, me espanto ante as mudanças, os móveis dos quartos e das salas, passados de uma peça à seguinte, numa incessante e angustiosa revolução. (p. 40) Resumo da entrevista A autobiografia aparece sutil, quando Patricia conta que sente a necessidade de agarrar-se em credos desde pequena, ainda que não tenha exatamente uma religião. A autora diz que dentro de si há um Deus. É bastante autobiográfico. A autora conta que como não conhecia muitas pessoas, especialmente crianças, fazia dos livros seus melhores amigos. Patricia conta que sempre sentiu muito ciúme de sua irmã caçula Elisabeth Ann, e que sua personagem Isabel foi totalmente inspirada nela. Sobre este diálogo, Patricia dia que era assim exatamente que imaginava que as pessoas se referiam a ela, como uma pessoa melancólica, enquanto sua irmã seria uma pessoa cheia de vida. É muito autobiográfico. Patsy conta que era exatamente assim que acontecia. Ao chegar do colégio a casa estava totalmente diferente. Ela diz: Quando eu chegava em casa o meu quarto não era mais o meu quarto, tava no quarto da minha irmã, e

9 vice-versa. A cama dela que estava nessa parede tava na parede de lá, e ela fazia isso sempre. Quando ela não podia viajar, era isso que ela fazia. Desperto para o sangue. Em pânico, encho a paleta de água fervendo e mergulho fundo, a me livrar, emergir, distante do grito. A água tinge-se viva. Como num ritual murmuro rezas, ladainhas, afastando essa nova traição. (p. 48) Lucas a andar por entre as tumbas e árvores e arbustos, sua face morena e ainda jovem, emocionada ante minhas indagações: - Pai, por que esse interesse pelos cemitérios? O susto de Patricia diante da menstruação não advertida traz sensações que ela conta nesta passagem do livro. A autora diz ter entendido que a falta de uma conversa prévia, que explicasse tudo isso, foi entendido por ela como uma traição, como A. conta na página 48. Patricia e seu pai gostavam de fazer passeios pelos cemitérios e, ao ser perguntado sobre o porquê de seu interesse respondia exatamente o que Patricia descreve na página Talvez por curiosidade, procuro meus rostos, meus restos nos fragmentos imaginários de outros. Ou quem sabe era apenas um espírito arqueológico que me move, a compulsão de aprender culturas passadas. A perseguição do fio vital, mortal. (p. 65) Imóvel, escuto Mozart ou sua cadência fingida através das minhas inúteis tentativas de saber. (p. 75) Os primeiros encontros nos elevadores da faculdade, a atração nos obrigando àquele silêncio pesado, um desconforto físico, uma agonia sexual desde o início. (p. 83) A autora fala da importância de Mozart em sua vida já que o pai, tocador de violino, adorava música clássica e o ouvia na eletrola. Nesta passagem Patricia conta como eram os encontros com Roberto Bins na faculdade de Belas Artes da UFRGS.

10 Eu me pergunto para onde ir e quem sou, o que faço ao lado de alguém que não conheço, que jamais me conheceu. (p. 86) Patricia conta que era este o sentimento que permeou sua vida durante muitos anos, não conhecer a si mesma e não conhecer a pessoa com quem convivia. Conclui-se com esta análise que Patricia Bins usa muito pouco da ficção para compor a obra Jogo de fiar. Fica bastante evidente que uma grande quantidade de ocorrências da obra realmente aconteceram na vida da autora. Fatos idênticos, mas não somente eles, sentimentos idênticos são percebidos e comentados pela autora durante as entrevistas cedidas a mim no ano de 2002 sob a orientação da Profª. Dr. Helenita Rosa Franco, com auxílio da FAPERGS. Referências BINS, Patricia. Jogo de fiar. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo. Ática, CAVALHEIRO, Edgard. Biografias e Biógrafos. Curitiba: Guaíra, FORSTER, Edward Morgan. Aspectos do romance. 2. ed. Porto Alegre. Globo, FRANCO, Helenita Rosa. Biografia de Patricia Bins. Disponível em Acesso em 25 de junho de LE GOFF, Jacques. Uma vida para a história: conversações com Marc Heurgon. São Paulo: UNESP, 1997.