O Design Instrucional e suas etapas
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- Isabela Lopes Carvalhal
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1 O Design Instrucional e suas etapas Régis Tractenberg 1. Definição O Design Instrucional, ou DI, é o processo sistemático e reflexivo de traduzir princípios de cognição e aprendizagem para o planejamento de materiais didáticos, atividades, fontes de informação e processos de avaliação (Smith e Ragan, 1999). Essa metodologia se distingue de outras formas de criação de materiais e projetos educacionais pelo seu caráter metódico e cuidadoso aplicado aos processos de análise, planejamento, desenvolvimento e avaliação. Sua prática orienta-se por resultados de pesquisas principalmente nas áreas de Educação, Psicologia e Comunicação. Trata-se de uma abordagem sistêmica, que pondera múltiplos fatores que influenciam a implementação de uma iniciativa de educação ou de treinamento. Mais adiante serão analisados alguns desses fatores. O DI possui quatro propósitos básicos: a) Criar processos e materiais didáticos efetivos, isto é, que atinjam seus objetivos pedagógicos. b) Estes materiais e processos devem ser eficientes e consumir o menor tempo possível. c) Devem ser agradáveis para os aprendizes. d) Precisam ser viáveis em seu custo-benefício. Segundo Smith e Ragan (1999), as vantagens do DI incluem: Situar o foco do processo de ensino-aprendizagem no aluno. Integrar o trabalho de designers instrucionais, designers gráficos, instrutores, gerentes e outros profissionais por meio de um processo de trabalho sistemático. 1
2 Facilitar o desenvolvimento de soluções alternativas às práticas usuais em um determinado campo de ensino. Levar à convergência dos objetivos, atividades e avaliações. O DI pode ser utilizado por qualquer pessoa que precise criar alguma forma de instrução. Sua prática não está restrita aos designers instrucionais, profissionais especializados em todas as etapas dessa metodologia. É essencial também a professores, coordenadores de cursos, gerentes de projetos educacionais, editores, especialistas na produção de mídias, profissionais de RH, dentre outros. 1.1 Aprendizagem, educação, instrução e treinamento Existem muitas definições para o que seja aprendizagem, conforme a filosofia educacional ou a teoria adotada. Em DI a aprendizagem costuma ser definida como o processo pelo qual um organismo muda seu comportamento em função de suas experiências, ou ainda o processo da experiência sendo transformada em conhecimento. São exemplos de aprendizagem: uma criança que toma um choque na tomada e nunca mais coloca seu dedo lá; ou um jovem que viaja pelo mundo, adquire novos conhecimentos e muda sua forma de pensar e agir perante povos de outras culturas. No quadro a seguir, Romiszowski (1999) situa a instrução entre outras formas de aprendizagem: Existem procedimentos e materiais para favorecer a aprendizagem? Existem objetivos de aprendizagem específicos? Sim Não Sim Não Instrução Aulas, cursos, livros, CD-ROMs etc. Projetos Estágios, pesquisas Visitas a museus, teatro, biblioteca etc. Aprendizagem incidental Quadro 1. Uma definição de instrução. Romiszowski,
3 Por educação entendem-se todas as experiências criadas para que as pessoas aprendam. Isso inclui a instrução, e as formas de aprendizagem em que não há objetivos claros e predefinidos. Quando existem objetivos predefinidos e um método para alcançá-los, chamamos isso de instrução, que toma a forma de cursos e materiais didáticos em geral. O termo instrução não é sinônimo de treinamento. A instrução pode ter finalidades acadêmicas ou de capacitação profissional e adotar abordagens didáticas as mais diversas. As outras formas de aprendizagem também têm valor: estágios ou visitas a ambientes educativos ampliam a cultura e favorecem a aprendizagem diversificada, que dificilmente poderia se dar em contextos estruturados. A aprendizagem incidental (ou informal como tem sido chamada atualmente), por sua vez, representa o modo pelo qual desenvolvemos novos conhecimentos em boa parte da vida, isto é, sem qualquer planejamento ou intenção educativa, fora de contextos especiais e sem materiais didáticos. Todos os tipos de aprendizagem são importantes e precisam estar presentes na vida de uma pessoa. Instrução é apenas uma categoria voltada a iniciativas focalizadas em objetivos bem definidos, que seriam alcançados de modo mais difícil ou mais lento por meios não formais. 1.2 Níveis do planejamento educacional A instrução encontra-se no plano mais elementar do planejamento educacional e diz respeito aos materiais didáticos (livros, apostilas, vídeos, tutoriais digitais), e às atividades educacionais (palestras, aulas, cursos, módulos online etc.). Os métodos do design instrucional podem ser aplicados também a propostas curriculares no mapeamento de objetivos de aprendizagem amplos. O quadro a seguir mostra a hierarquia entre os diferentes níveis do planejamento educacional: 3
4 Nível de planejamento Exemplo Social Organizacional Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira; Parâmetros Curriculares Nacionais. Filosofia educacional de base construtivista, adotada no Colégio X. Curricular Currículo do Colégio X para os alunos do ensino médio / currículo de Física para o ensino médio. Instrucional Livro didático ou aula de Física em que o professor leva seus aprendizes a inferir as leis da termodinâmica. Neste curso, o TPDI, manteremos nosso foco de estudos no nível do planejamento instrucional e usaremos a definição de Gellevij (2001): Instrução é conseguir, por meio de um método, que um aprendiz, dentro de um sistema e sob certas condições, alcance um objetivo de aprendizagem pré-definido. Tal definição reflete as etapas que estudaremos a seguir. 2. Etapas do Design Instrucional O trabalho de um designer instrucional consiste em responder a três grandes perguntas: Aonde vamos? (os objetivos da instrução) Como chegaremos lá? (as estratégias e as mídias instrucionais) Como saberemos quando chegarmos? (a avaliação) 4
5 Existem muitos modelos que representam as etapas do processo de DI. O modelo ADDIE é bem simples e um dos mais utilizados. Sua sigla significa: Analize (analisar) Design (planejar) Develop (desenvolver) Implement (implementar) Evaluate (avaliar) 2.1 Analisar A fase de análise corresponde ao exame e à descrição do problema instrucional a ser solucionado. A expressão problema instrucional refere-se a uma diferença entre o desempenho atual e o desempenho desejado para um determinado público-alvo. Esse desempenho pode ser acadêmico ou profissional. É muito importante para um designer instrucional saber que o desempenho insatisfatório nem sempre se deve à falta de competências. Diversos outros fatores influenciam o desempenho humano, tais como: baixa motivação, equipamentos de trabalho inadequados ou processos de trabalho ineficientes e mal definidos. É um erro comum das organizações criar cursos ou materiais didáticos na expectativa de resolver problemas que não podem ser completamente atendidos por iniciativas de educação ou treinamento. Em muitos casos, a solução exige ações integradas de treinamento e comunicação, além de mudanças em práticas organizacionais. Quando a falta de conhecimento ou de competências é um elemento real e precisa ser atendido para o aprimoramento do desempenho, seja este profissional ou acadêmico, então isso é o que se chama de problema instrucional. 5
6 Para resumir O designer instrucional precisa compreender os problemas com que se depara e diferenciar os aspectos organizacionais e administrativos dos aspectos instrucionais. Um exemplo: O Colégio X caiu 23 posições na classificação geral do vestibular e a diretoria deseja melhorar esta situação. Após cuidadoso diagnóstico, um consultor experiente em DI identificou o seguinte: Problemas organizacionais: a) os professores estão insatisfeitos com seus salários e não se dedicam o suficiente; b) a coordenadora educacional não ouve as sugestões dos professores para melhorar o ensino no colégio; e c) os alunos, por modismo e falta de conhecimento, concentraram suas inscrições nos cursos universitários mais populares e disputados. Problemas instrucionais: a) após a saída de dois bons professores de Matemática e Física a qualidade do ensino nessas duas disciplinas se tornou deficiente. Análise Combinatória e Termodinâmica foram os assuntos que revelaram maior queda de desempenho perante as provas de vestibulares anteriores; b) os alunos também mostram pouco interesse nos estudos, pois não compreendem como tudo poderá lhes ser útil algum dia. Considere o exemplo acima. Adiantaria mudar apenas os livros didáticos ou contratar novos professores? Provavelmente não. Uma solução com chances de sucesso precisaria atender a vários elementos: um designer instrucional poderia propor mudanças na didática de Matemática e Física; um psicólogo poderia orientar melhor os alunos, permitindo-lhes dar mais sentido aos estudos; finalmente a escola poderia estudar formas de aumentar os salários e encaminhar as propostas de melhoria no currículo para atender, assim, às expectativas de seus professores. Mesmo quando existe de fato um problema que pode ser atendido por meio de instrução, é preciso que esta seja bem planejada. Outro erro comum é a implementação de medidas 6
7 desproporcionais ou inadequadas ao problema. Por exemplo: um curso online com 200 telas animadas, que só podem ser acessadas diante do computador, pode ser uma solução pior que um guia impresso de consulta rápida acessível durante o trabalho. Por esse motivo é necessário analisar fatores como o contexto, as características dos aprendizes e os objetivos de aprendizagem, no intuito de fundamentar decisões a respeito de uma solução viável e com boas chances de sucesso. Uma vez definidos os problemas organizacionais e identificados os problemas instrucionais procedemos com: A análise do contexto de aprendizagem que inclui fatores como a infraestrutura tecnológica, verbas disponíveis, elementos restritivos, prazos, políticas organizacionais, cultura local etc.; A análise do público-alvo que verifica as características cognitivas dos aprendizes, seu conhecimento prévio e competências relacionadas ao assunto em questão, características sociais e motivacionais etc.; A análise dos objetivos de aprendizagem que decompõe objetivos gerais em objetivos específicos e subobjetivos, para permitir que sejam identificados os tipos de aprendizagem necessários para se criar uma solução instrucional completa sem lacunas nem excessos no conteúdo. São perguntas-chave do DI na fase de análise: Levantamento de necessidades: qual é o problema? Análise do contexto: quais as condições? Análise do público-alvo: quem são os aprendizes? Análise dos objetivos: o que os aprendizes devem se tornar capazes de fazer? 2.2 Planejar Na etapa de planejamento, determinam-se as estratégias que serão aplicadas para atender ao problema instrucional, a fim de estimular as aprendizagens identificadas como necessárias. 7
8 Nessa fase selecionam-se os mediadores (professores, tutores etc.), as mídias e as tecnologias que melhor atendem à instrução em seu contexto. No planejamento, selecionam-se ainda os métodos de ensino/aprendizagem como: presencial ou a distância, supletivo (dar informação) ou generativo (propor desafios), em grupos ou individualizado, estratégias motivacionais etc. O conteúdo é sequenciado em disciplinas, unidades, lições e atividades. As fases de análise e planejamento da solução costumam ser sistematizadas em um documento chamado projeto instrucional. Além dos aspectos educacionais, a criação de materiais didáticos ou a implementação de programas de educação ou treinamento significa bastante trabalho. Iniciativas de grande envergadura exigem projetos gerenciais que tratam de questões como o cronograma de tarefas a cumprir, a composição da equipe de desenvolvimento, orçamento, riscos etc. Com frequência o designer instrucional desempenha o papel de gerente de projeto devido à sua formação abrangente e visão de conjunto sobre o propósito geral da instrução. São perguntas-chave do DI nesta fase: Que tipos de habilidades e conhecimentos se pretende ensinar? Quais são as estratégias mais adequadas para promover os diferentes tipos de aprendizagem? Como motivar os aprendizes? Quais são as mídias e as metodologias mais adequadas? Devem ser usadas abordagens generativas e/ou supletivas? Como deve ser sequenciada a instrução? Como os aprendizes serão agrupados? 8
9 2.3 Desenvolver Na fase de desenvolvimento, os materiais instrucionais e as atividades de aprendizagem são criados. Conforme o caso, será necessário capacitar professores, comprar equipamentos ou recursos didáticos que existam no mercado. É comum fazer protótipos ou rascunhos dos produtos para fins de testes. Diversos modelos de DI enfatizam a necessidade da avaliação formativa, isto é, a avaliação dos materiais e dos métodos instrucionais ao longo de todas as etapas do desenvolvimento. Existem quatro métodos básicos para a avaliação formativa: a revisão do planejamento, a validação pelos futuros alunos, a validação por especialistas e a avaliação contínua após a implementação (Smith e Ragan, 1999). São perguntas-chave do DI nesta fase: Os produtos em desenvolvimento estão de acordo com o plano instrucional? Como podem ser melhorados antes de sua implementação? 2.4 Implementar Em seguida, a instrução é oferecida (promovida, realizada) aos aprendizes conforme definido no plano instrucional. Com a finalidade de fazer ajustes e correções, é comum oferecer a instrução a um grupo-piloto antes de aplicá-la em grande escala. É pergunta-chave do DI nesta fase: A instrução está sendo implementada corretamente? 2.5 Avaliar Por fim, os resultados da instrução são analisados em sua efetividade em face dos objetivos propostos inicialmente. Isso se chama avaliação somativa. Com tais resultados, os processos e os materiais didáticos podem ser revisados e melhorados. 9
10 São perguntas-chave do DI nesta fase: Qual a efetividade dos resultados de aprendizagem? Como melhorar processos e materiais didáticos para as próximas implementações? Referências: Gellevij. M. (2001). Disciplina Principles of learning and instructional design Universidade de Twente, (não publicado). Romiszowski, A.J. (1999). Designing Instructional Systems: Decision making in course planning and curriculum design. London: Kogan Page. Smith, P.L., & Ragan, T.J. (1999). Instructional design. (2nd ed.). Toronto: John Wiley & Sons. 10
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