A LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO EM FACE DOS NOVOS PROJETOS LEGISLATIVOS

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1 A LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO EM FACE DOS NOVOS PROJETOS LEGISLATIVOS William Matheus Marins Vitt Mestrando em Direito, com ênfase em Direitos Humanos. Bolsista pela FAPERGS UNIRITTER Fabiano Tacachi Matte Mestrando em Direito, com ênfase em Direitos Humanos UNIRITTER Resumo: A presente pesquisa visa analisar os recentes projetos legislativos que versam sobre a liberdade de manifestação. Após os protestos de junho de 2013, eclodiu no Brasil uma série de projetos legislativos que versam sobre a temática, possuindo desde um caráter mais genérico a questões mais específicas. O mais comum é atribuir crimes a certas condutas de manifestantes, proibir objetos que dificultem a identificação, tais como: máscaras, capuzes, tintas, etc. A tensão surge quando os direitos fundamentais colidem no caso concreto. A liberdade de manifestação (expressão e reunião) em face da segurança, ordem pública entre outras garantias fundamentais. Não se pode negar, que a união de direitos humanos e das manifestações públicas faz surgir uma bandeira clara e possível no Estado Democrático de Direito, uma vez que a participação popular fortalece a democracia. A partir dessas exposições o presente trabalho pretende fazer uma análise conjunta dos projetos de lei federal e do direito fundamental a manifestação do pensamento com o intuito de resolver o problema posto. Para isso será feita a compatibilidade dos projetos legislativos à luz da Constituição Federal e dos Direitos Humanos. A metodologia utilizada será a dialética e a técnica será a bibliográfica e a análise de legislação. 1 Introdução As manifestações políticas de junho de 2013 no Brasil trouxeram como consequência inúmeros projetos de leis com caráter autoritário, abusivo e tendencioso no que concernem as liberdades fundamentais, principalmente no direito a liberdade de reunião. Os protestos de junho de 2013 trouxeram à cena a problemática do direito de reunião em face do anonimato e do uso de artefatos que possam dificultar a identificação o uso de fogos de artifícios, bem como como a proibição de trancar as vias públicas.

2 Diante desse cenário, surgem os seguintes questionamentos: podem os projetos legislativos restringir em excesso a liberdade de expressão e reunião? Em que medida elas podem ser restringidas? O presente estudo visa pensar essas questões mediante o uso da ponderação e da compatibilidade dos projetos de lei de acordo com os preceitos constitucionais. 2 Desenvolvimento A pesquisa utiliza a metodologia dialética e o modelo qualitativo e as técnicas que partem da pesquisa bibliográfica até a análise legislativa. O direito a manifestação do pensamento constitui-se das principais garantias de um Estado Democrático de Direito. Onde o direito de opinar e receber informações, bem como o de reunir-se para reivindicar e exigir providências do Estado não podem ser abolidas ou cerceadas. No cenário jurídico é mister destacar que a comunicação entre as pessoas pode ter duas nuances e com proteções diferentes um ligado a faculdade de comunicar-se, e outra a forma pública de exercer a comunicação, e expressar o pensamento. Assim sendo, a primeira considera o relacionamento íntimo de cada indivíduo. Já na segunda, considera-se a faculdade de interação com as demais pessoas. (MANETTI, Michela, 2012, p. 65) A liberdade de expressão possui proteção no âmbito internacional em tratados, nos quais o Brasil ratificou, tais como: declaração universal dos direitos humanos, A liberdade de expressão na Constituição Federal de 1988 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; (BRASIL. Constituição Federal, 1988).

3 Outra forma de manifestação prevista pelo texto constitucional é o direito de reunião O direito de reunião no Brasil é tutelado pelo artigo 5º da Constituição Federal de 1988 que prevê e elenca os direitos fundamentais. O dispositivo 5º inciso XVI da Carta Magna dispõe XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; (BRASIL. Constituição Federal, 1988). O direito de reunião pode ser definido como a forma comunitária de exercer o direito a liberdade de expressão. Trata-se de garantias fundamentais positivadas no elenco do Art. 5º da nossa Lei Fundamental. Quando a Carta Magna fala em armas ela não tipifica o que é de forma precisa, pelo entendimento da doutrina entende-se que compreende tanto armas de fogo como armas brancas, ou ainda qualquer artefato que possa servir para agredir alguém (SARLET, Ingo Wolfang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel, 2012, p. 519). Nesse sentido, devem ser interpretados os projetos de lei que tramitam a nível federal, o presente estudo destacará os seguintes. O PL 5964/2013 da autoria do Deputado Rogério Peninha Mendonça (DEM/SP), proíbe o uso de máscaras ou objetos do gênero que burlem a identificação em locais públicos. Deve-se ressaltar que o projeto traz algumas exceções ao tipo penal que merecem ser explicitadas. Art. 2º É vedada a utilização de objeto ou substância que dificulte ou impeça a identificação do usuário em local público, tais como máscaras, capuzes, coberturas, disfarces, pintura da face ou uso de substância ou outro recurso que lhe altere o contorno. 1º Ressalva-se do disposto no caput, a utilização de objeto ou substância em qualquer das seguintes situações: I durante festejo cívico, popular, folclórico ou religioso em que tais práticas sejam tradicionalmente adota Das pelos participantes; II durante representação artística ou desportiva, em que o uso por artista, atleta ou espectador seja inerente ao espetáculo; III durante prática desportiva ou atividade profissional, quer pela sua natureza, quer para fins de segurança própria ou de terceiro, proteção à saúde ou melhora do desempenho do usuário; IV integrando ação tática coletiva de força pública, como parte da indumentária;

4 V no caso de máscara contra gases, durante treinamento, exercício ou emergência real; VI no caso de vestimenta para a cabeça ou véu, em conformidade com crença religiosa ou costume; VII por prescrição médica; VIII para fins de proteção contra os elementos climáticos; IX durante manifestação popular pacífica; X durante festividade de caráter privado, ainda que realizada em recinto público, desde que franqueada apenas a convidados. (BRASIL. Projeto de Lei n 5964, 2013) O PL 6.198/2013 da autoria do Deputado Jorge Tadeu Mudalen (DEM/SP), acrescenta o artigo 40-A a lei 3.688/41 (lei de contravenções penais) para proibir o uso de mascaras, com o intuito de coibir o anonimato para prática de crime. (BRASIL. Projeto de Lei n 6.198, 2013). O PL 6.277/2013 da autoria do Deputado Jair Bolsonaro (PP/RJ), altera o parágrafo único do artigo 163, do Decreto-Lei nº (Código Penal), que trata sobre o crime de dano. O projeto cria duas situações agravantes ao tipo penal: se ele é cometido durante manifestações públicas e com o uso de meios que obstaculizem a identificação do agente. O PL 7.134/2014 proposto pelo Deputado Edinho Bez (PMDB/SC), disciplina o art. 5º, IV da CF, sobre o exercício ao direito de reunião, vedando o anonimato e vedando o uso de máscara. A justificativa é facilitar a identificação dos baderneiros e vândalos. O referido projeto de lei além de ter a preocupação voltada a identificação do agente que pratica ilícitos em manifestações públicas. Ao mesmo tempo, ele regulamenta o que seriam as armas que a Constituição Federal de 1988 veda no direito de reunião, tais como: fogo, brancas, fogos de artifício, artefatos explosivos, pedras, bastões, tacos e similares. (BRASIL. Projeto de Lei n 7.134, 2014). O projeto 876/2015 Regulamenta a realização de eventos, manifestações públicas, passeatas, comícios, shows e quaisquer outras atividades que provoquem aglomeração humana mediante prévio aviso e comunicação às autoridades que menciona, e à população. O projeto 6.268/2009 acrescenta: o art. 312-A à Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro, a fim de tipificar o crime de obstrução indevida de via pública. (BRASIL. Projeto de Lei n 6.268, 2009). No Senado Federal, também tramitam dois projetos de lei sobre a questão, envolvendo manifestações públicas e o uso de máscaras, são eles: o PL 404/2013 e o PL 451/2013, sendo na mesma linha dos projetos da Câmara dos Deputados.

5 3 Considerações finais O presente estudo ainda encontra-se na fase de desenvolvimento, logo não se tem respostas concretas ou definitivas. A técnica da ponderação será utilizada a fim de chegar a uma resposta que melhor atenda aos preceitos constitucionais e aos direitos humanos. A proibição ao uso de máscaras não impede a realização dos direitos à liberdade de expressão e reunião. O uso se dá por conseqüência dos direitos e isoladamente não constituem um direito. Isso restou comprovado pela exposição feita acima o estudo precisa se aprimorar para chegar uma resposta se a proibição genérica ao uso de máscaras não se configura um excesso legislativo e uma restrição demasiada a um direito fundamental. Por outro lado, se em nome da segurança, ordem pública ou possíveis ocorrências de crimes possam embasar uma norma com esse caráter repressivo. Se, objetivando proteger interesses coletivos posso privar alguns grupos da sua expressão. Esses apontamentos serão objeto da continuação do presente estudo. Referências ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. São Paulo: Malheiros, ALVES, Waldir. As manifestações públicas e as liberdades de expressão e de reunião. Revista dos Tribunais, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo n. 953, p , mar BRASIL. Constituição Federal de Promulgada em 5 de outubro de Disponível em < Acesso em: 30 ago BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 6.268/2009. Disponível em: < 010&filename=Parecer-CVT >. Acesso em: 28 de ago de 2015.

6 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 6.198/2013. Disponível em: < 2397&filename=Tramitacao-PL+6198/2013>. Acesso em: 28 de ago de BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 6.277/2013. Disponível em: < 6448&filename=Tramitacao-PL+6277/2013>. Acesso em: 28 de ago de BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 7.134/2014. Disponível em: < 6165&filename=Tramitacao-PL+7134/2014>. Acesso em: Acesso em: 29 de ago de BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 876/2015. Disponível em: < 3084&filename=Tramitacao-PL+876/2015>. Acesso em: Acesso em: 29 de ago de DIAS, Roberto; LAURENTIIS, Lucas de. Liberdade de Reunião e democracia: reflexões a ártir das experiências brasileiras e alemãs. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais. Belo Horizonte: Fórum v.8, n.30, set/dez MANETTI, Michela. A liberdade de manifestação do pensamento. Direitos Fundamentais & Justiça: Porto Alegre: HS v.7, n.23, abr/jun SANSON, Alexandre. JUNQUEIRA. Michelle Asato Junqueira. Liberdade x segurança: ponderações acerca da vedação do uso de máscaras em manifestações públicas. Amazônia em Foco. Ed. Especial: Temas Contemporâneos de Direitos Humanos, n. 2. pgs , nov SARLET, Ingo Wolfang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.