ALBERTO R. GONZALES PROCURADOR GERAL E SECRETÁRIO DE JUSTIÇA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. RIO DE JANEIRO, BRASIL SEXTA-FEIRA, 9 DE FEVEREIRO de 2007

Transcrição

1 ALBERTO R. GONZALES PROCURADOR GERAL E SECRETÁRIO DE JUSTIÇA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA RIO DE JANEIRO, BRASIL SEXTA-FEIRA, 9 DE FEVEREIRO de 2007 Associação Brasileira da Propriedade Intelectual - ABPI Versão final anterior ao pronunciamento 1

2 Boa tarde. Estou feliz por estar aqui com vocês no Rio de Janeiro e pela oportunidade de, ontem e hoje, ter conversado com meus colegas brasileiros sobre as muitas questões que ligam nossos países. Esta é minha primeira viagem a esta cidade única, e no pouco tempo que estou aqui comecei a entender como esta cidade ganhou reputação por sua beleza espetacular. Nos últimos dois dias tive conversas proveitosas e francas com autoridades do governo e líderes da sociedade civil, e estou satisfeito por termos o mesmo entendimento sobre tantas questões importantes para o povo do Brasil e dos Estados Unidos. Uma dessas questões, sobre a qual estou hoje aqui para falar, é a proteção dos direitos de propriedade intelectual. Como todos aqui presentes sabem, a proteção da PI é inegavelmente uma preocupação internacional. Ela exige cooperação e parceria que unam distâncias culturais e geográficas para a execução de metas comuns para nossos cidadãos e nossas economias. E estou aqui para dizer que essa parceria precisa incluir um compromisso mútuo para fazer valer os direitos de propriedade que constituem a base de nossa economia global dinâmica. Quero falar um pouco hoje sobre a natureza dessa questão sob meu ponto de vista: o que, a nosso ver, está funcionando, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos; e o que juntos podemos fazer a seguir. Estamos em um momento crucial na história da aplicação internacional dos direitos de PI. As mudanças globais, tanto econômicas quanto tecnológicas, criaram desafios sem 2

3 precedentes para essa tarefa. É, portanto, da maior importância que continuemos a trabalhar juntos para proteger a propriedade intelectual. A PI ajuda a conduzir nossas economias e tem um efeito enorme na saúde e na segurança de nossos cidadãos, não podendo, portanto, ser ignorada. As pessoas ao redor do mundo aproveitam os frutos do trabalho árduo de nossas comunidades criativas no cinema, na música, em softwares comerciais, jogos de computador, roupas, peças automotivas ou até mesmo remédios. A tecnologia moderna dá aos detentores de PI oportunidades sem precedentes para distribuir suas obras para um público internacional. Mas na medida em que a demanda por esses produtos aumenta, os criminosos tentam lucrar com o trabalho árduo e a criatividade de terceiros. E a mesma tecnologia que possibilita a legítima distribuição disseminada aos consumidores também tornou relativamente fácil e barato vender produtos pirateados e falsificados em todo o mundo. Criminosos engenhosos podem usar a internet para violar as leis que protegem marcas comerciais e direitos autorais, criando e vendendo produtos, como softwares, que parecem ser legítimos, mas não são. E as organizações criminosas que se beneficiam do roubo de PI tornaram-se mais sofisticadas e organizadas. Elas se escondem nas sombras da economia para explorar qualquer deficiência dos nossos esforços de fiscalização, e depois usam os resultados de seu roubo para financiar outros negócios ilícitos. Embora crimes como roubo de PI possam parecer inofensivos para alguns, a realidade pode ser terrível. Os criminosos que produzem e vendem mercadorias falsificadas podem 3

4 representar risco substancial para a saúde e a segurança de nossos cidadãos. Imaginem um paciente cardíaco passando por uma cirurgia de emergência em um hospital que, sem saber, comprou equipamento cirúrgico falsificado abaixo dos padrões. Ou um motorista de caminhão que compra pastilhas de freio falsificadas que comprometem sua capacidade de evitar um acidente. Ou, pior ainda, um mecânico de avião que, inconscientemente, compra peças falsificadas para consertar um motor a jato. Nossa preocupação é mais do que hipotética. Em um caso em setembro passado, o Departamento de Justiça anunciou o indiciamento de 11 pessoas e de uma empresa sediada em Atlanta, acusadas de participar de um esquema para vender medicamentos falsificados pela internet. Segundo a denúncia, os indiciados nesse processo comercializavam aproximadamente 24 drogas diferentes por meio de anúncios em s não solicitados. Enquanto os consumidores acreditavam obter versões genéricas seguras e autênticas desses medicamentos vitais, obtinham, ao contrário, falsificações adulteradas que haviam sido grosseiramente feitas em uma casa em Belize, sem as devidas condições sanitárias. Temos visto as conseqüências reais e tangíveis do roubo de PI quando os criminosos praticam esse delito contra empresas de comerciantes honestos, enganam consumidores inocentes e enfraquecem nossos valores de concorrência e criatividade. Essa economia subterrânea custa, às empresas legítimas, bilhões de dólares todos os anos e causa prejuízo significativo para as economias tanto dos Estados Unidos quanto do Brasil. O que podem fazer nossas autoridades responsáveis pela execução das leis para resolver esse problema? Em minha 4

5 opinião, nosso trabalho deve prosseguir em várias frentes. Precisamos fortalecer nossos esforços globais de fiscalização, garantir leis severas de propriedade intelectual, aumentar os recursos destinados à aplicação das leis de PI e trabalhar para aumentar o número de operações conjuntas entre os EUA e o Brasil. Sei que todos aqui entendem a importância desses esforços e gostaria de elogiar o governo brasileiro e, em especial, o CNCP por seu trabalho árduo e pela dedicação ao combate ao crime de propriedade intelectual. Melhorar a fiscalização, aumentar a conscientização e mudar a percepção e os comportamentos da população são medidas que demandam tempo e perseverança. Há muito trabalho para ser feito, mas estou animado com os progressos alcançados até agora. Tem sido grande o número de apreensões, nas fronteiras, de materiais que infringem os direitos autorais; são inúmeros os seminários públicos sobre a conscientização antipirataria: a capacitação continua e há cada vez mais cooperação entre as autoridades responsáveis pela aplicação da lei em âmbito federal e estadual. Estou especialmente feliz por constatar a cooperação substancial entre os setores privados de direito autoral e o CNCP. Tudo isso é sinal de um governo que leva a sério a aplicação da lei. E temos exemplos de trabalho conjunto de fiscalização entre os Estados Unidos e o Brasil. Esforços recentes de cooperação destacam como, trabalhando juntos, podemos desmantelar organizações criminosas envolvidas no crime de propriedade intelectual nos dois continentes americanos. Durante uma operação, o FBI descobriu que um cidadão brasileiro estava ilegalmente copiando e disponibilizando pela internet o software de uma pequena empresa americana. 5

6 Utilizando contatos com órgãos de aplicação da lei no Brasil, desenvolvidos durante consultas bilaterais sobre PI, o Departamento de Justiça e o FBI puderam fornecer informações detalhadas que resultaram em batida, busca e prisão do cidadão brasileiro. Esse tipo de operação conjunta de aplicação da lei ajuda a enviar uma mensagem clara de que nem o Brasil nem os Estados Unidos tolerarão crimes de propriedade intelectual em qualquer lugar do mundo. Nos Estados Unidos, também estamos trabalhando com muito empenho nessa questão. Há muito tempo reconhecemos a importância de preservar os direitos de PI e fizemos de sua proteção uma prioridade da aplicação da lei. Estamos empenhados em promover uma campanha incisiva e exitosa contra os crimes de propriedade intelectual em várias frentes. Como a tecnologia aumentou os riscos, reagimos criando uma Força-Tarefa de Propriedade Intelectual em Essa forçatarefa inclui autoridades do alto escalão e está encarregada de analisar como o Departamento aplica a lei e protege os direitos de PI. Em conseqüência do trabalho dessa força-tarefa, aumentamos nossa capacidade de abordar o roubo de PI e preservar os direitos dos detentores de propriedade intelectual de várias maneiras. Aumentamos em todo o país o número de promotores especialmente treinados para lidar com crimes de PI. No ano passado, isso resultou em aumento de 98% no número de réus processados judicialmente por delitos contra a propriedade intelectual. E trabalhamos com nosso Congresso para preencher lacunas em nossas leis de PI e reforçar as penalidades para os infratores. 6

7 Em um caso importante em agosto passado, desbaratamos uma operação envolvendo um site de pirataria de software na Flórida. As vendas ilegais no site resultaram em prejuízos de quase US$ 20 milhões para os proprietários de direitos autorais. Após declarar-se culpado em tribunal federal, o chefe do esquema foi condenado a seis anos de prisão e ao pagamento de uma indenização de mais de US$ 4 milhões. Além disso, a operação confiscou uma variedade inacreditável de bens comprados com os lucros desse crime, inclusive três aviões, um helicóptero, um Lamborghini e outros carros esporte, um barco e uma ambulância. A sentença severa nesse caso serve de aviso para esses piratas dos tempos modernos de que levamos a sério o combate a esses crimes. Organizamos conferências com as vítimas para informar ao público sobre os modos de buscar ajuda do governo; e estamos visando à juventude americana para garantir que entendam bem que roubo de PI é danoso e ilegal. Mas a rigorosa aplicação da lei e capacitação em âmbito interno não são suficientes para combater de modo eficaz essa ameaça global cada vez maior. É imperativo que os países trabalhem em conjunto para garantir a aplicação rigorosa da lei no mundo todo. Não deve haver abrigo seguro para transgressores das leis de propriedade intelectual. Com essa finalidade, nossa Divisão Criminal trabalhou com promotores em âmbito nacional e internacional para proteger os direitos de detentores de PI e aplicar a lei. De fato, somente no ano passado, os promotores do Departamento de Justiça prestaram assistência técnica e forneceram capacitação em investigações e processos referentes a PI para mais de promotores, investigadores e juízes estrangeiros em 107 países. E estamos dando capacitação a mais pessoas todos os dias. 7

8 Além disso, durante os últimos dois anos, o Departamento de Justiça encabeçou com sucesso as duas maiores ações internacionais de aplicação da lei já realizadas contra a pirataria de software on-line. A Operação FastLink e a Operação Site Down juntas envolveram mais de 16 países nos cinco continentes, inclusive o Brasil. Essas operações dirigidas pelos EUA realizaram de forma sincronizada 200 mandados de busca, o confisco de centenas de computadores e centrais ilegais de distribuição on-line e a retirada de mais de US$ 100 milhões em software, jogos, filmes e músicas de canais de distribuição ilegal. Como resultado dessas duas operações, mais de 80 réus nos EUA foram condenados por crimes de violação de direitos autorais, e nossas ações continuam. A lista de países que participam desses esforços é longa e, com base nesses resultados, comprometemo-nos a conseguir cada vez mais cooperação global no futuro. Na economia global cada vez mais conectada, somente a aplicação da lei coordenada em âmbito internacional será suficiente. Desenvolver ações transnacionais exige uma rede de contatos com órgãos locais de aplicação da lei. E nós percebemos o enorme benefício de se posicionar um promotor altamente capacitado em PI em um país parceiro para trabalhar com seus colegas estrangeiros responsáveis pela aplicação da lei e prestar-lhes assistência nos aspectos complexos e singulares relativos à proteção da propriedade intelectual. Com o objetivo de formar equipes internacionais para travar essa batalha, enviamos um promotor federal experiente para o Sudeste da Ásia para servir como Coordenador de Fiscalização da Propriedade Intelectual (IPLEC) e mandaremos outro promotor para a Europa Oriental nos próximos meses. 8

9 Estamos agora analisando modos de colocar outro coordenador na América do Sul no futuro próximo para se concentrar em atividades de aplicação da lei de PI em toda essa região. A nosso ver, ter essa espécie de promotor experimentado na região seria um grande benefício... como recurso para nossos governos e como ligação vital, à medida que continuamos nossos esforços de cooperação para aplicação da lei. Ontem prometi trabalhar com meus pares aqui no Brasil para que dêem continuidade a seus esforços de liderança visando à região da tríplice fronteira. Nos Estados Unidos, nosso aviso aos criminosos que procuram lucrar com a propriedade intelectual de cidadãos e empresários honestos e trabalhadores é claro: os Estados Unidos estão dedicando mais recursos de aplicação da lei inclusive promotores e investigadores do Departamento de Justiça do que jamais antes para fiscalizar os direitos de PI. Durante esta viagem, incentivei meus colegas responsáveis pela aplicação da lei no Brasil a fazer o mesmo. Individualmente, tanto os Estados Unidos quanto o Brasil devem ter regimes severos de aplicação da lei em âmbito interno, e eu aplaudo os esforços do Brasil em aumentar sua capacidade nessa área. Mas não podemos e não devemos trabalhar sozinhos. Nossos órgãos responsáveis pela aplicação da lei devem trabalhar em conjunto para impetrar processos em casos de pirataria internacional. A era digital criou um mundo sem fronteiras para grandes conspirações criminosas portanto, nossos esforços de aplicação da lei também devem ser globais e sem fronteiras. Todo membro da economia global tem a responsabilidade de manter produtos falsificados fora do mercado. 9

10 Ao dar andamento aos nossos esforços bem-sucedidos de cooperação, podemos virar o jogo no combate aos crimes de propriedade intelectual e às organizações criminosas que lucram com eles. E podemos ajudar a garantir um futuro justo e próspero para o Brasil e os Estados Unidos. Mais uma vez agradeço a oportunidade de estar com os senhores hoje. 10