Apelo. Rio de Janeiro, 27 de Abril de 2011

Transcrição

1 Rio de Janeiro, 27 de Abril de 2011 Apelo Profª Margarida Thereza Nunes da Cunha Menezes, licenciada em Educação física em 1945 pela então Escola Nacional de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil. - Aos 86 anos de idade, inconformada sobre o aterramento da piscina do Campus da Praia Vermelha, faço um apelo a autoridades ligadas ao Ministério Público, ao IBAMA e a Universidade Federal do Rio de Janeiro para que após os motivos relacionados a seguir, reflitam e sustem o citado aterramento. - Ingressei na Escola em Fevereiro de 1943, nesta ocasião as aulas práticas de Educação física e desportos, eram realizadas no Fluminense Futebol Clube, exceto as de lutas, ginástica e dança, e as teóricas, no hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos. - Nossa Escola fundada em 1939, sem sede própria, sobrevivia através de uma série de cessões de instalações, especialmente as necessária para a prática da natação, quando contávamos com os clubes Guanabara, Botafogo, Forte da Urca e do Leme, inclusive a praia da Urca. - Em 1949, graças à doação efetivada pela família Guinle, e ao nosso Reitor, Prof. Pedro Calmon, o palácio e toda área ocupada pelo antigo Asilo de Alienados foi destinada a Universidade do Brasil, durante a gestão do Presidente Getúlio Vargas. - A Reitoria, que funcionava na Rua do Ouvidor, foi a primeira a instalar-se no palácio. A seguir, a Escola de Educação Física que recebeu grande área aberta e uma ala do palácio onde hoje funcionam a Faculdade de Educação e a Escola de Comunicação. - Logo foram construídos ginásios, campos de futebol, quadras de tênis, pistas de corrida ao redor do campo de futebol, quadra de vôlei (que tinha as árvores seculares como cobertura), quadras externas de tênis, basquete e uma imensa quadra polivalente coberta, cuja estrutura de ferro foi doada pela Siderúrgica Nacional. Desta forma, foram dadas condições para a realização de atividades desportivas, isto é, vôlei, basquete, tênis, handball, futebol de salão, assim como todas as provas de atletismo, (pistas de corrida, área para saltos, arremesso de pesos e lançamento de disco e dardos) compatíveis com as regras oficias de cada desporto.

2 - No Palácio foi adaptado um grande ginásio para dança, outro para lutas e outro para ginástica em aparelhos. No térreo, existia também o departamento médico, salas de fisioterapia, laboratório de pesquisa em fisiologia, centro acadêmico, banheiros e etc. - No primeiro andar, funcionavam o gabinete do diretor, secretaria, coordenação de ensino e salas para realização de aulas teóricas. - Pelo então regimento, existiam dois departamentos, um de ginástica e dança e outro de desportos. - Único problema: não existia a piscina e a natação, pólo aquático e natação sincronizada (balé aquático) continuavam sempre na dependência de clubes e outros setores militares, para realização das aulas. Com vistas a por fim ao único problema para que a Escola Nacional de Educação Física realizasse, em toda sua plenitude, todas as disciplinas do currículo, seria construir uma piscina que atendesse as necessidades do programa da Licenciatura em Educação Física e Desportos. Houve uma longa espera para que isso acontecesse, inclusive para superar o problema do local mais adequado para sua construção. - Primeiro foi levantada a hipótese de construir a piscina em uma das áreas descobertas, do interior do palácio. O campo de esportes denominado Praça de Esportes Prof. Ernesto Santos foi descartado, tendo em vista a ocupação necessária daquela área para lançamento de disco e dardo, o que colocava em risco a segurança dos alunos. - Finalmente, a escolha recaiu na parte de trás do palácio, que em nada comprometia sua belíssima construção. - Para que fosse permitida a construção naquele local, teria que ter aprovação dos órgãos superiores da Universidade e aprovação pelo IBAMA. Nada foi contestado em todas as instancias. - O Escritório Técnico da Universidade, com certeza, tem informações que confirmam o que por mim foi relatado. Enfim a construção da piscina, tão desejada e necessária, e que também em nada feria qualquer construção de época. - O ETU acompanhou toda construção da obra, cujas características não se encontram em nenhuma outra piscina do Rio. Entre elas, paredes revestidas de pastilhas e fundo boleado, o que favorece a prática da natação e saltos sem acidentes. - Sua profundidade permite também, a prática de saltos em trampolim, pólo aquático e natação sincronizada. Inclusive nossa escola foi pioneira, ao incluir esta disciplina em seu currículo. Enfim, desfrutamos dessa perfeita construção durante

3 varias décadas, sem nenhum órgão governamental constatar que ela feria o tombamento do palácio. - A partir da ditadura, nossa Universidade sofreu inúmeras investidas cruéis: a) transferência da força estudantil para o Fundão; b) o regime de crédito tirou a unidade dos cursos seriados; c) a tradicional Escola de Medicina também foi transferida para o Fundão, e a seguir, outras escolas se alinharam nessa tempestiva mudança. Em conseqüência surgem os grileiros Canecão, Associação de Servidores Civis do Brasil (ASCB) que negociou nossas instalações até para o uso de bingos e etc. - Apesar de tudo isso, as manifestações contrárias à permanência da piscina e praça de esportes surgiram a partir de Interesses ocultos dentro da própria Universidade, e o nível lastimável de conservação da Praça de Esportes Prof. Ernesto Santos, servem de justificativa para outras ações indesejadas. - A piscina sobreviveu a toda essa agonia, ajudou as comunidades adjacentes através de seus cursos de verão, colônia de férias, cursos de natação desde o ano de Com certeza, esse trabalho teve total aprovação de dirigentes da Universidade, inclusive de Reitores. - Tenho certeza que toda essa população de crianças, jovens e principalmente idosos, que se beneficia da piscina, está agora lamentando este ato selvagem de aterramento. A Escola estaria sendo submetida a um xeque-mate em uma das funções ditadas pela própria Universidade, A EXTENSÃO. - Simplesmente como professora que freqüentou dia após dia a Escola durante 51 anos e nove meses, e também como Professora Emérita desta Instituição que hoje me sustenta, sinto-me no dever de protestar contra toda essa avalanche de jogo de poder. Em meu nome, e de toda a comunidade que esteve presente, e usufruiu dos programas aquáticos e terrestres oferecidos pela nossa Escola, rogamos ao IBAMA e ao Ministério Público que reflitam quanto a péssima idéia de aterramento da piscina, procedimento inédito, absurdo e injusto, de um trabalho que sempre trouxe benefícios as pessoas. - Que Deus ajude as pessoas revestidas de poder a escolherem o caminho certo, para que não prejudiquem aqueles que necessitam da continuidade desse trabalho, isto é, crianças, jovens e idosos, assim como pacientes do Instituto de Psiquiatria, Hospital Pinel, onde já foi realizado projetos de natação com crianças altistas, e sem esquecer a realização anual das colônias de férias.

4 - Dirijo também este documento a Excelentíssima Senhora Presidente Dilma Russeff, a maior autoridade do Brasil. Que nos ajude e que encontre junto aos órgãos responsáveis, uma forma mais humanitária de fazê-los acreditar que esta piscina é uma poderosa sala de aula, que traz para seus praticantes melhor qualidade de vida, especialmente aqueles que não desfrutam de recursos para freqüentar academias. - Desculpe minha pretensão de dirigir-me a Vossa Excelência, mas minha experiência de vida na Escola que trabalhei, repito 51 anos e 9 meses, comprova que estou reivindicando clemência, para que não interrompam um trabalho que sempre acreditei e na importância que ele representa para vida das pessoas. - É impossível que uma Universidade, tão grande como a nossa, considere que as piscinas e instalações do fundão, sejam suficientes para atender as necessidades dos alunos, não somente em praticar essas atividades, mas também adquirir experiência ao ministrarem aulas como alunos mestres. - A recente transformação dos vestiários da piscina em salas de aula, sem sequer dar conhecimento ao Diretor da Escola, representa o exercício inadequado do uso do poder e evidencia a incoerência ocorrida há mais de 10 anos, quando demoliram o prédio da então Faculdade de Farmácia da UB (Universidade do Brasil) para naquele espaço, aumentar o estacionamento em 50 vagas de automóveis. Naquele prédio, existiam anfiteatros e salas de aulas, e apesar disso, destruíram uma estrutura útil para as atividades educacionais em prol de algumas vagas de estacionamento. Seria este o real objetivo de uma Instituição de Ensino? Ou apenas uma clara evidência de interesses diversos? - Outro fato que não podemos esquecer, foi a tentativa de transformar a Praça de esportes Prof. Ernesto Santos, também em estacionamento. Para tanto, com atos de vandalismo, foram destruídas arvores seculares, para que não prejudicassem os automóveis. Felizmente, após exposição da situação ao Conselho Universitário, foi considerado inadequado o uso daquele espaço para fins de estacionamento. - Diante de tudo isso, espero que decidam pelo não aterramento da piscina, que mais do que é objeto de práticas esportivas e até terapêuticas, é uma verdadeira sala de aula, sendo fundamental para que nossa Escola continue a oferecer programas para a comunidade e mantenha, consequentemente,os programas de extensão. - Enfim, por que será que o prédio da Escola de Comunicação, construído recentemente em frente à piscina, e visível desde a Rua Wenceslau Brás, não interfere no tombamento do Palácio?

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