PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2009
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- Márcio Anjos Caldas
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1 PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2009 Altera os arts. 2º, 3º, 27, 49, 56, 64, 65, 71 e 83 e acrescenta art. 69-A à Lei n o , de 9 de fevereiro de 2005, para prever que as disposições que tratam da falência se aplicam a instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores; definir principal estabelecimento do devedor; excluir dos efeitos da recuperação judicial o credor fiduciário de direitos sobre coisas móveis ou de títulos de crédito; permitir o suprimento pelo juiz da concordância do devedor quanto a alterações do plano de recuperação judicial; possibilitar o afastamento do empresário ou do sócio controlador por decisão da assembléia-geral de credores; permitir a revisão do plano de recuperação judicial no caso de crise econômica superveniente; aumentar o prazo de parcelamento do plano especial das microempresas e empresas de pequeno porte, e dá outras providências. O CONGRESSO NACIONAL decreta: Art. 1º A Lei nº , de 9 de fevereiro de 2005, passa a vigorar com as seguintes alterações: Art. 2 o Esta Lei não se aplica a empresa pública ou sociedade de economia mista. 1º As disposições desta Lei que tratam da recuperação extrajudicial e da recuperação judicial não se aplicam a instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano
2 2 de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. 2º As disposições desta Lei que tratam da falência se aplicam às entidades citadas no 1º, as quais não podem ter a sua falência decretada a pedido dos credores ou por requerimento próprio. (NR) Art. 3 o... Parágrafo único. O principal estabelecimento é aquele em que o devedor concentra o maior volume de seus negócios. (NR) Art I g) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando necessário, auxiliá-lo no exercício de suas funções....(nr) Art o Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de credor fiduciário de direitos sobre coisas móveis ou de títulos de crédito, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o 4 o do art. 6 o desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial....(nr) Art º O plano de recuperação judicial poderá ser alterado na assembléia-geral, desde que haja concordância do devedor, podendo
3 3 esta ser suprida pelo juiz, e em termos que não impliquem diminuição dos direitos exclusivamente dos credores ausentes....(nr) Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o empresário, o sócio controlador e os administradores serão mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, salvo se qualquer deles:... VII tiver seu afastamento aprovado em assembléia-geral de credores....(nr) Art. 65. Quando do afastamento do empresário ou do sócio controlador, nas hipóteses previstas no art. 64 desta Lei, o juiz convocará a assembléia-geral de credores para deliberar sobre o nome do gestor judicial que assumirá a administração das atividades do devedor, aplicando-se-lhe, no que couber, todas as normas sobre deveres, impedimentos e remuneração do administrador judicial....(nr) Art. 69-A. No caso de crise econômica superveniente, o devedor poderá pedir a revisão do plano de recuperação judicial, observando-se o procedimento de que trata este Capítulo. Parágrafo único. Caso a revisão do plano de recuperação judicial não seja aprovada, permanecem em vigor as disposições do plano de recuperação judicial anteriormente aprovado. Art II preverá parcelamento em até 48 (quarenta e oito) parcelas mensais, iguais e sucessivas, corrigidas monetariamente pelo Índice Geral de Preços do Mercado IGP-M da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ou índice que venha a substituí-lo e acrescidas de juros de 9% a.a. (nove por cento ao ano);...(nr) Art
4 4 I os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 200 (duzentos) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;...(nr) Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. JUSTIFICAÇÃO O presente projeto de lei tem por objetivo alterar a lei de recuperação de empresas nos seguintes itens. A) Aplicação das regras da falência à instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. As instituições financeiras e as demais entidades estão sujeitas à intervenção e à liquidação extrajudicial (Lei nº 6.024, de 13 de março de 1974), procedimentos que substituem a recuperação extrajudicial e judicial prevista na lei de falências. Isso se dá por razões de interesse público, haja vista o risco sistêmico que pode ser deflagrado com a quebra dessas entidades. O art. 2º na sua redação atual afasta a aplicação da lei de recuperação de empresas às instituições financeiras e equiparadas, sem qualquer ressalva quanto à falência dessas entidades. A única referência consta do art. 197, que dispõe que a lei de recuperação é aplicada subsidiariamente, no que couber, enquanto não forem aprovadas as respectivas leis específicas, aos regimes previstos no Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, na Lei nº 6.024, de 13 de março de 1974, no Decreto- Lei nº 2.321, de 25 de fevereiro de 1987, e na Lei nº 9.514, de 20 de novembro de O objetivo do legislador, a nosso ver, foi o de afastar a aplicação da lei de falências às instituições financeiras, deixando a solução da crise econômico-financeira dessas empresas sob a competência exclusiva do Banco Central do Brasil, conforme regras a serem aprovadas em lei específica que
5 5 venha a atualizar as disposições da Lei nº 6.024, de Defendemos, entretanto, a participação do Poder Judiciário, por meio do procedimento de falência, nos casos de crise da empresa financeira, principalmente quando houver crime falimentar. Propomos, assim, a modificação do art. 2º, para tornar mais explícito que elas estão sujeitas à falência. A alteração tem sede constitucional. A Constituição, no caput do art. 46 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), dispõe sobre a conversão em falência do regime de intervenção ou liquidação extrajudicial. Em diversos dispositivos a Lei nº 6.024, de 1974, faz referência à falência da instituição financeira: a) art. 1º, parte final, dispõe que as instituições financeiras estão sujeitas à falência; b) art. 7º, alínea c, diz que a intervenção cessará se decretada a liquidação extrajudicial, ou a falência da entidade; c) art. 12, alínea d, prevê que o Banco Central do Brasil poderá, à vista de relatório ou proposta do interventor, autorizar o interventor a requerer a falência da entidade, quando o seu ativo não for suficiente para cobrir sequer metade do valor dos créditos quirografários, ou quando julgada inconveniente a liquidação extrajudicial, ou quando a complexidade dos negócios da instituição ou a gravidade dos fatos apurados aconselharem a medida; d) art. 19, alínea d, prevê que a liquidação extrajudicial cessará se decretada a falência da entidade; e) art. 21, alínea b, dispõe que o Banco Central do Brasil pode autorizar o liquidante a requerer a falência da entidade, quando o seu ativo não for suficiente para cobrir pelo menos a metade do valor dos créditos quirografários, ou quando houver fundados indícios de crimes falimentares; f) art. 34 diz que se aplicam a liquidação extrajudicial no que couberem e não colidirem com os preceitos desta Lei, as disposições da Lei de Falências (Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945), equiparando-se ao síndico, o liquidante, ao juiz da falência, o Banco Central do Brasil.
6 6 Em suma, as instituições financeiras: não podem requerer recuperação judicial ou extrajudicial; são sujeitas aos regimes previstos na Lei nº 6.024, de 1974, e não podem ter sua falência decretada a pedido dos credores ou por requerimento próprio, mas podem ter sua falência decretada a pedido de interventor ou liquidante, autorizado pelo Banco Central, na forma da Lei nº 6.024, de B) Definição do conceito de estabelecimento principal para fins de definição do foro competente para a propositura do pedido de falência. O art. 3º da lei de falências determina que é competente para examinar o pedido de falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor. O conceito de estabelecimento principal, no entanto, ainda carece de definição na lei e de um entendimento pacífico da doutrina e da jurisprudência. Utilizamos a definição de Fábio Ulhoa Coelho para incluir na lei o conceito de estabelecimento principal: é aquele em que a devedora concentra o maior volume de seus negócios. C) Possibilidade de contratação de profissionais para assessorar o comitê de credores quirografários. Nos Estados Unidos da América, o comitê de credores quirografários pode contratar profissionais para assessorá-lo, fato que não ocorre no Brasil. Esses profissionais são pagos pelo devedor, com o objetivo de colaborar para a busca da preservação da empresa em dificuldade. Assim, defendemos a possibilidade de contratação de profissionais para assessorar o comitê de credores. D) Exclusão dos créditos decorrentes de cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis ou de títulos de crédito do plano de recuperação judicial. Os empréstimos concedidos por instituições financeiras e classificados como cessão fiduciária de direitos creditórios são garantidos por recebíveis futuros da empresa valores a serem recebidos de contratos de fornecimento ou de vendas por cartões de crédito, por exemplo. Os contratos de cessão fiduciária de crédito prevêem que o depósito dos valores seja efetuado na conta da empresa aberta na instituição financeira que concedeu o crédito. O desconto das parcelas do empréstimo é feito diretamente pelo banco, sem a chance de a empresa sacar o dinheiro, mecanismo que se chama
7 7 no mercado de trava bancária. No caso de recuperação judicial, os créditos não entram no plano de recuperação e os recebíveis não podem ser utilizados pela empresa como capital de giro. A cessão fiduciária de títulos de crédito foi instituída pela Lei nº , de 2 de agosto de 2004, que alterou a Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965 (Mercado de Capitais), passando a admitir a cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis, bem como de títulos de crédito. Assim, são duas as espécies do gênero negócios fiduciários : a) a alienação fiduciária de coisa, que pode ser móvel ou imóvel; e b) a cessão fiduciária de direitos sobre coisa móvel ou de título de crédito. O contrato de cessão fiduciária tem sido uma das modalidades de empréstimo mais utilizada pelos bancos. Algumas empresas discutem na Justiça a possibilidade de liberação dos créditos no caso de cessão fiduciária. Os bancos são contra e alegam que os contratos, por terem a natureza de alienação fiduciária, estão fora da recuperação, conforme previsto no 3 do art. 49 da Lei de recuperação de empresas. As empresas afirmam que a cessão fiduciária não foi expressamente mencionada, não se podendo concluir, seja por analogia ou por extensão, que ela está inserida no conceito de alienação fiduciária de bens móveis ou imóveis, esta sim prevista na lei. Cumpre destacar que a lei de recuperação de empresas é de junho de 2005, posterior, portanto, a agosto de 2004, data da criação da cessão fiduciária, não se justificando a eventual omissão não intencional na elaboração da lei. No Tribunal de Justiça de São Paulo, há decisões favoráveis aos bancos. Há uma recente decisão do Tribunal de Justiça do Espírito Santo favorável a uma empresa. Defendemos a explicitação na lei da exclusão dos créditos decorrentes da cessão fiduciária de títulos de crédito no plano de recuperação judicial, haja vista que a inclusão desses créditos no plano de recuperação judicial dificultaria a obtenção de empréstimos pelas empresas e colaboraria para o aumento da inadimplência e para a elevação da taxa de juros. E) Permitir que a concordância do devedor quanto às alterações do plano de recuperação judicial procedidas em assembléia-geral seja suprida pelo juiz. O objetivo da modificação é inibir o veto abusivo do devedor à reorganização da empresa. Pela regra atual, o juiz não pode superar o
8 8 eventual veto imposto pelo devedor à aprovação do plano de recuperação, ainda que essa rejeição se mostre contrária aos demais interesses em jogo. F) Modificação da expressão afastamento do devedor para afastamento do empresário ou do sócio controlador. Alteramos o caput do art. 64 para substituir a palavra devedor pelas palavras empresário e sócio controlador. O afastamento das atividades não é da sociedade empresária, mas do sócio controlador, permanecendo os sócios não controladores defendendo seus legítimos interesses no procedimento de recuperação da empresa. Sendo assim, alteramos também o caput do art. 65. G) Afastamento do sócio controlador por decisão da assembléiageral de credores. De acordo com a redação atual do art. 64, o empresário é mantido na condução dos negócios durante a recuperação a não ser que tenha cometido algum dos atos previstos nos incisos do seu caput. Com exceção do Reino Unido, que prevê a nomeação desde logo de um administrador judicial, dando excessiva proteção aos credores e podendo levar a liquidações prematuras, essa é a sistemática prevista na maioria dos países. Incluímos, no entanto, mais uma hipótese de afastamento do empresário: no caso de aprovação do afastamento em assembléia geral de credores. Essa medida pode ser essencial para a aprovação do plano de recuperação, principalmente quando os credores não confiam na competência ou na probidade do empresário responsável pela condução da empresa. H) Possibilidade de revisão do plano de recuperação judicial no caso de crise econômica superveniente. As empresas que firmaram acordos de pagamento antes da crise econômica estão atualmente tendo dificuldades para honrar seus compromissos. Essa dificuldade é agravada pela ausência na lei de falências de um mecanismo que possibilite a revisão dos acordos. Estima-se que grande parte das empresas terá que pedir renegociação. O descumprimento do plano de recuperação judicial pode dar ensejo à decretação da quebra da empresa, ainda que a inadimplência tenha se dado em virtude de uma crise superveniente e transitória. Assim, propomos a inclusão na lei de um
9 9 dispositivo que permita a revisão do plano de pagamentos no caso de crise econômica superveniente. I) Aumento do prazo do plano de recuperação de microempresas e empresas de pequeno porte de três para quatro anos, definição do IGP-M como índice de correção monetária e redução dos juros de 12% para 9% ao ano. O objetivo da alteração é dar maior possibilidade de recuperação às microempresas e empresas de pequeno porte. Elas utilizam pouco o instituto da recuperação com as exigências atualmente impostas. O Instituto Nacional de Recuperação Empresarial (INRE) informa que, das 932 empresas em recuperação judicial atualmente, apenas 105 são de pequeno porte. A lei atualmente não indica o índice de correção monetária a ser empregado para corrigir as parcelas do plano especial de recuperação. Sugerimos a aplicação do IGP-M, com a finalidade de evitar discussões quanto ao índice a ser empregado e eventuais objeções do devedor ou dos credores. J) Aumento do limite dos créditos trabalhistas de 150 para 200 salários-mínimos. A limitação dos créditos trabalhistas na lei de falências é importante instrumento para que se evitem fraudes, mediante incremento da remuneração dos administradores, que acarretam sérios problemas para a massa falida. Isso não impede, contudo, a defesa do aumento do limite atualmente previsto para esses créditos, dada a sua natureza alimentar, prestigiando com essa iniciativa os direitos da dignidade humana. Diante do exposto, contamos com o apoio dos dignos Pares para a aprovação deste projeto de lei. Sala das Sessões, Senador VALDIR RAUPP
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