Autos com (Conclusão) ao Juiz em 12/08/2013 p/ Sentença S/LIMINAR *** Sentença/Despacho/Decisão/Ato Ordinátorio Tipo : A -

Transcrição

1 Autos com (Conclusão) ao Juiz em 12/08/2013 p/ Sentença S/LIMINAR *** Sentença/Despacho/Decisão/Ato Ordinátorio Tipo : A - Com mérito/fundamentação individualizada /não repetitiva Livro : 1 Reg.: 1056/2013 Folha(s) : RelatórioO Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional interpôs embargos às execução fiscal acima relacionada, movidas em seu desfavor pelo MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE, com a finalidade de ver desconstituídas as CDAs representativas dos créditos tributários objeto do executivo fiscal.sustentou a embargante preliminar de falta de interesse de agir. No mérito, discorreu sobre a regra do art. 730 do CPC e aduziu que há inconstitucionalidade e ilegalidade na cobrança na forma em que posta na CDA, pois goza de imunidade recíproca. Discorreu também sobre sua natureza e sobre a inexistência do débito, por conta da imunidade. Juntou documentos (fls. 32/57). A inicial foi emendada com a juntada de novos documentos (fls. 110/120).Os embargos foram recebidos para discussão às fls O Município de Presidente Prudente apresentou impugnação de fls. 125/126, rebatendo os argumentos dos embargos. Réplica às fls. 129/157. O Município requereu o julgamento antecipado da lide (fls. 204) e o Conselho restou silente.é o relatório. Decido. 2. Fundamentação.O feito comporta julgamento no estado em que se encontra, nos termos do artigo 330, inciso I, do CPC.Inicialmente faz-se necessário delimitar a lide. Pois bem. Pelo que consta dos autos resta demonstrado que as CDAs em execução se referem a imposto e taxas incidentes sobre imóvel do Conselho neste Município de Presidente Prudente/SP.A matéria atinente à imunidade recíproca confunde-se com a questão de mérito, razão pela qual com ele será enfrentada. Passo a analisar, então, as demais questões preliminares.imunidade RecíprocaQuanto à alegação de que a cobrança é obstada por estar abarcada pela imunidade recíproca, entendo que a tese é parcialmente procedente. Confira-se o que diz a CF em matéria de Imunidade:"Art Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:[...] VI - instituir impostos sobre:a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;[...]." Não há controvérsia nos autos a respeito de se beneficiarem as autarquias da imunidade prevista no art. 150, VI, "a", da Constituição, mas o

2 Embargante ressalta que só faria jus à benesse se comprovada a subsunção aos requisitos do 2º do mesmo artigo.diz a norma imunizadora em foco:" 2º - A vedação do inciso VI, a, é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes."a questão é de análise dos requisitos instituídos pelo referenciado 2º do art. 150 da CR/88, quais sejam, manutenção deles pelo Poder Público, e vinculação do patrimônio, renda e serviços às suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.no que se diz respeito ao custeio, é de ver primeiramente que esse requisito não se refere às autarquias, mas exclusivamente às fundações. Observe-se que a própria leitura do dispositivo leva a essa conclusão, dado que diz "extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas", restando claro, pelo uso do artigo definido (as) após a conjunção (e), que o predicativo ("instituídas e mantidas pelo Poder Público") se refere somente a estas e não àquelas. Senão, o texto seria: extensiva às autarquias e fundações instituídas..."não fosse pela interpretação literal, também o sentido da diferenciação levaria à mesma conclusão. É que as autarquias são entes públicos por natureza, ao passo que as fundações podem ser públicas ou privadas, a depender da fonte de sua manutenção; daí a razão de ter a Constituição especificado que só são imunes as primeiras ("instituídas e mantidas pelo Poder Público", ou, por outras palavras, as públicas) e não as segundas (instituídas e mantidas por pessoas e entidades privadas, as fundações privadas). Enfim, quanto às suas atividades essenciais, todas as autarquias são imunes a impostos, assim como todas as fundações públicas - e não o são as fundações privadas.quanto à destinação do patrimônio, renda ou serviços que se pretendem imunes às suas finalidades essenciais, ou às delas decorrentes, o ônus de provar o não enquadramento na imunidade neste caso é do ente tributante, considerando que a utilização dos bens imóveis de propriedade das autarquias para fins outros que não suas finalidades essenciais é a exceção. A imunidade é a regra, de modo que não há que se exigir da autarquia requerimento de sua aplicação relativamente a cada imóvel de sua propriedade, cabendo ao credor tributário, evidentemente, o direito de efetuar o lançamento na hipótese de constatar o não cumprimento da condição.da Natureza dos Conselhos e da Possibilidade de Cobrança por meio da Execução Fiscal Pois bem. O art. 58 da Lei nº 9.649/98, o qual atribuiu aos conselhos de

3 fiscalização de profissões regulamentadas a personalidade jurídica de entidades de direito privado, foi retirado do mundo jurídico com o julgamento pela procedência da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº /DF, cuja decisão tem efeitos ex tunc.retirado então do mundo jurídico o art. 58, o que equivale dizer que nunca surtiu efeito algum, tem-se que o status quo ante da natureza jurídica dos Conselhos Regionais restou inalterado, ou seja, continuaram, como até hoje continuam, a ser tidos por autarquias federais, segundo o que foi claramente abordado no voto do Excelentíssimo Senhor Ministro Relator da ADIn em questão. Assim, tem-se por patente a natureza de autarquia federal do embargante.alega o Embargante seria incabível a execução fiscal contra a Fazenda Pública, razão pela qual o Embargado haveria de promover a execução nos termos do art. 730, do CPC.De fato, a Lei nº 6.830/80 silencia a respeito da execução de dívida ativa contra a Fazenda Pública, o que leva a muitos a declarar incabível o processamento por meio de execução fiscal. Com efeito, de acordo com a LEF, o devedor será citado para pagar ou nomear bens para garantir a execução num prazo de 5 dias, seguindo prazo de 30 dias para embargos estando formalizada a penhora. Todavia, é prerrogativa estatal, até pela impenhorabilidade de bens, que a execução contra si ajuizada se faça por meio de precatório (art. 100, Constituição da República).Mas, por outro lado, também é prerrogativa estatal a constituição de seus créditos através de inscrição em dívida ativa que, uma vez realizada, passa a gozar de presunção de certeza e liquidez (art. 3º da LEF). E não há por que privilegiar a prerrogativa de um ente estatal em detrimento de prerrogativa de outro ente estatal.assim, tenho que se deva aplicandar as disposições da LEF combinadas, no que couber, com as disposições do CPC. É aliás a LEF expressa nesse sentido: "Art. 1º. A execução judicial para cobrança da dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas autarquias será regida por esta lei e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil".Desnecessário, assim, que se promova, por exemplo, prévia ação de conhecimento para a constituição do crédito; a dívida ativa, como título executivo extrajudicial que é, pode ensejar processo de execução. Até porque o art. 730 do CPC também silencia a respeito de referir-se exclusivamente a título judicial, sendo há muito aceito por doutrina e jurisprudência o cabimento de execução de título executivo extrajudicial. Não obstante, observa-se que na Execução Fiscal proposta promoveu-se a citação do Embargante na forma do art. 730, do CPC, não havendo

4 qualquer nulidade a ser sanada.no mais, a questão já se encontra pacificada no âmbito da jurisprudência, no sentido de que apesar de Imunes os Conselhos de Profissão Regulamentada não tem direito a não pagar as taxas incidentes sobre seus imóveis. Confira-se a jurisprudência:constitucional. TRIBUTÁRIO. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO/SP - CREMESP. IMPOSTO PREDIAL E TERRITORIAL URBANO (IPTU). AUTARQUIA FEDERAL. IMUNIDADE. 1. Os Conselhos de Fiscalização Profissional possuem natureza jurídica de autarquia federal e, como tal, podem se valer dos benefícios da imunidade recíproca dos entes políticos, consagrada no art. 150, VI, a, da Carta Magna, conforme o 2º do mesmo artigo. Precedente: STF, 2ª Turma, RE n.º ED/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, j , DJe O ônus de comprovar que o imóvel não está afeto às finalidades essenciais ou institucionais da autarquia, excluindo-o da abrangência da regra imunizante, pertence ao poder tributante, nos termos da jurisprudência consolidada do âmbito do C. Superior Tribunal de Justiça (2ª Turma, REsp n.º /RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, j , v.u., DJe ). 3. No caso vertente, os imóveis tributados são salas comerciais ocupadas pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, nas quais a autarquia desempenha suas funções de administração, supervisão e fiscalização dos profissionais da classe médica. 4. O Conselho Regional goza da imunidade tributária definida na Constituição Federal, pelo que deve ser mantida a r. sentença de primeiro grau que, acertadamente, declarou nulos os lançamentos fiscais relativos ao IPTU nos exercícios de 2009 e Apelação improvida.(trf da 3.a Região. AC Sexta Turma. Relatora: Desembargadora Federal Consuelo Yoshida. E-DJF3 de 13/12/2012)PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. APELAÇÃO CONHECIDA EM PARTE. LEGITIMIDADE DO CROSP. TRSD. CONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº /2002. REVOGAÇÃO PELA LEI Nº / Apelação não conhecida no que se refere à inexigibilidade de recolhimento da TRSS, por não fazer parte do pedido deduzido na inicial. 2. Comprovação da legitimidade do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo - CROSP para propositura de demanda em que se pretende afastar o recolhimento da taxa de resíduos sólidos domiciliares cobrada da própria autarquia. 3. A taxa de resíduos sólidos domiciliares é tributo isntituído na Lei nº

5 13.478/2002 e vinculado à prestação de serviços de coleta de resíduos sólidos pelo Poder Público Municipal. 4. O fato imponível constitui a utilização efetiva ou potencial dos serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação final de resíduos sólidos domiciliares (residencial e não residencial), nos termos dos arts. 83 e 84 da Lei nº /2002. Trata-se de serviço específico prestado uti singuli. 5. A base de cálculo equivale ao custo dos aludidos serviços transporte, nos termos do art. 85 da Lei nº /2002 e não tem identidade com a base de cálculo do IPTU, que consiste no valor venal do imóvel. 6. Harmoniza-se a taxa de resíduos sólidos domiciliares aos dispositivos do art. 145, II e 2º da Constituição Federal e artigo 77 do CTN. 7. Também não se há falar em imunidade recíproca, inexistente à espécie, à luz do art. 150, VI a e 2º da Constituição Federal, por referir-se exclusivamente aos impostos. 8. Revogados os dispositivos da Lei nº /02 que instituiu a referida taxa e previa o custeio dos serviços divisíveis de coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos domiciliares pela Lei nº /2005. (TRF da 3.a Região. AC Sexta Turma. Relator: Desembargador Federal Mairan Maia. E-DJF3 de 13/12/2012)Assim, tenho que, no caso concreto, a Imunidade Recíproca ampara a pretensão do Conselho, mas somente em relação aos impostos e não em relação às taxas, com o que há parcial procedência dos embargos. 3. Dispositivo.Posto isso, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os presentes Embargos à Execução Fiscal, COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO, nos termos do artigo 269, inciso I, do CPC, para o fim de RECONHECER a incidência de imunidade para o pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU e os demais encargos dele decorrente (juros, multa e correção monetária), na forma do artigo 150, inciso VI, alínea "a", da Constituição da República, mantida a cobrança da CDA em relação às taxas incidentes sobre o imóvel (taxa de coleta de lixo e de prevenção de incêndio). Sem condenação em custas.sentença não sujeita ao reexame necessário. Sem condenação em honorários, em face da sucumbência recíproca.traslade-se cópia desta sentença para os autos da execução fiscal nº Cópia deste despacho servirá de Mandado para intimação do município de Presidente Prudente, na pessoa de seu representante legal.transitada em julgado esta sentença e nada mais sendo requerido pelas partes, remetam-se os autos ao arquivo, com baixa findo. Publique-se. Registre-se. Intimemse.

6 Disponibilização D.Eletrônico de sentença em 21/08/2013,pag 352/388