Jovens em busca da vocação e da felicidade

Transcrição

1 NA ERA DA FORMAÇÃO GLOBAL Jovens em busca da vocação e da felicidade Uma das fases mais interessantes da vida costuma ser, também, sinônimo de muita ansiedade e dúvidas para os jovens que estão entrando na fase adulta. A escolha da profissão a ser seguida pelo resto da vida ganha ares de decisão absoluta e intransferível como se a vida pudesse ser assim, permeada de tanta certeza. Tão irreversível e definitiva aos 16/17 anos. Escolher uma profissão nem sempre é fácil. Nesta época gostamos muito de muitas coisas ao mesmo tempo. De repente carreiras tão diferentes como arquitetura e medicina nos parecem tão próximas e ao mesmo tempo tão distantes... E o que dizer da repercussão financeira que essas escolhas representarão em nossas vidas Gosto muito desta atividade, mas tenho dúvida se poderei me sustentar com ela. Provavelmente não. É melhor optar por outra coisa, diz Luiza, uma jovem aspirante a publicitária que de vez em quando acalenta o sonho de ser atriz. Foi se deparando com dilemas como o de Luiza que as psicólogas Sílvia Gusmão e Eliene Rodrigues criaram o projeto Acerte o Rumo, há três anos. O Acerte o Rumo é uma tentativa de oferecer aos estudantes do ensino médio ferramentas que facilitem a escolha da profissão, a partir do contato com profissionais bem sucedidos em suas áreas, com seus sonhos, rotinas de trabalho, conquistas e frustrações. A idéia veio muito forte a partir das conversas que elas tiveram com os jovens no consultório da Trajeto Con- 2 > > julho Palestras com profissionais ajudam jovens a fazer opção por cursos sultoria, onde oferecem orientação de carreira para jovens profissionais e procuram ajudar os alunos do ensino médio a identificar melhor seus desejos e vocações. Trazemos profissionais destacados para falar de sua experiência, dos desafios que enfrentam, dos salários, das perspectivas do mercado. Acreditamos que esses momentos além de tirar dúvidas favorecem uma escolha mais segura, afinal, estamos falando do projeto profissional dos jovens, enfatiza Sílvia. O Acerte o Rumo está na terceira edição este ano e se depara com algumas novidades interessantes para os jovens. Uma economia nova, que desafia inclusive os conhecimentos forjados na universidade, que não tem fronteiras geográficas, nem de mercado. Um cenário animado pelas perspectivas de crescimento da economia pernambucana, pela globalização de mercados e onde os limites praticamente não existem mais. A formação é generalista, sem incorrer no erro fatal da superficialidade. As titulações de administradores, jornalistas, sociólogos, publicitários, engenheiros e arquitetos, entre tantas outras, não significam mais o exercício ao pé da letra. O administrador pode ser um gestor ou atuar na área de relações internacionais. Com o engenheiro pode se dar a mesma coisa. Além das construções e funções específicas nas áreas de mecânica, química e civil, os engenheiros estão sendo requisitados para trabalhar no mercado financeiro, nos bancos e balcões da bolsa de valores. Uma revolução em menos de 10 anos, talvez tão ou mais rápida que a própria revolução da informação.

2 O Acerte o Rumo está na terceira edição este ano e apresenta algumas A economia pernambucana tende a crescer a taxas maiores que a economia brasileira nos próximos 10 anos, impulsionada por novos empreendimentos como o Estaleiro Atlântico Sul e a Refinaria Abreu e Lima. Mais mudanças, portanto, à vista. Esses investimentos já começaram a movimentar a economia local em vários segmentos e estimulam a criação de novos cursos e oportunidades como o de engenharia petroquímica. Tanta novidade precisa ser melhor assimilada pelos jovens que vão concorrer ao vestibular este ano ou que estão se preparando para isso. É preciso estar atento e aberto para o novo. Decidir ouvindo o coração. Pensar na escolha da profissão não como uma atividade que potencialmente vai nos deixar ricos do dia para noite à semelhança dos sonhos que temos para a nossa economia. Os profissionais que ouvimos nesta edição são unânimes ao afirmar: tente se ver fazendo isso para o resto da vida e preste atenção se você está feliz fazendo isso. É uma dica, como muitas que os jovens recebem todos os dias nesta fase da vida. Se mesmo com tanto cuidado não der certo, podemos pegar carona no acaso e mudar o rumo. Certamente seremos mais felizes. Atentos, jovens participam do Acerte o Rumo buscando conhecer profissões Requisitos para fazer uma carreira de sucesso 1Faça uma escolha profissional afinada com o próprio perfil, com a realidade do mercado de trabalho e tendências. 2Trace uma rota a partir do que deseja e aonde quer chegar. 3Invista numa formação sólida e use o conhecimento como a principal ferramenta para enfrentar a acirrada concorrência local e global. 4Tenha versatilidade e criatividade para se mover com desenvoltura frente às mudanças constantes e aos desafios dos mercados interligados pela globalização. 5Desenvolva habilidade para trabalhar em equipes multidisciplinares, compartilhando conhecimentos e se integrando às novas formas de organização no trabalho e na sociedade. 6Adquira familiaridade com informática porque tecnologias avançadas são utilizadas em grande parte das atividades e dos serviços. 7Fale inglês e espanhol para ampliar os conhecimentos e o raio de atuação, que não está mais circunscrito ao país de origem do profissional. 4 > > julho

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4 Acerte o rumo As muitas oportunidades de um designer Ricardo Notari Peixinho designer Muita gente pensa que o profissional de design é um artista porque ele trabalha com desenho, com muitas cores e formas, mas o design é uma ciência que exige esforço e pesquisa para gerar soluções que comuniquem bem visualmente uma marca, uma embalagem, um produto. Nossa tarefa é resolver, equacionar problemas de diversas áreas, revela Ricardo Notari Peixinho, sócio-diretor da Multidesign. Por essa razão o profissional de design é multidisciplinar e trabalha em conjunto, dependendo da tarefa, profissionais de engenharia, arquitetura, área comercial e marketing só para citar algumas. O campo é diversificado. Há designers de mercado que trabalham com publicações, finalização, tipografia; designers de produto que ajudam a desenvolver objetos, embalagens, material de ponto de venda, automóveis. Ainda temos os designers de moda, de ambientes e de branding, que são as pessoas que trabalham com o gerenciamento de marcas. Como se vê, uma profissão que tem uma relação muito forte com a economia de um local pelo fato de ser constantemente acionada para buscar soluções e inovações. Em Pernambuco as atividades de designer de moda, de interiores, de móveis e de desenvolvimento de softwares e games, estão crescendo e atraindo jovens profissionais. O Centro de Estudos Avançados do Recife (Cesar), por exemplo, é um celeiro que abriga novas empresas de design, mas é preciso ter habilidade de desenho e gostar de matemática. Como tem muita área de trabalho, o design é uma profissão que facilita o empreendedorismo, explica Peixinho. Com um investimento pequeno, de até R$ 5 mil, as pessoas podem comprar os equipamentos necessários para montar um estúdio. Quem decidir trabalhar em uma das empresas do mercado pode começar a receber R$ 1,1 mil. Profissionais mais experientes e premiados ganham até R$ 10 mil. As dificuldades Existem como em todas as outras profissões. A concorrência e grande número de profissionais no mercado é uma delas, mas o desemprego ainda é baixo nesta área. Queria saber sobre a remuneração do mercado. Tudo indica que vou cursar design. É uma área que gosto e acho que tenho aptidão, mas isso não é tudo. Minha escolha vai depender muito dessa parte do retorno financeiro. Esta é a hora para pensar nisso Victor Lemos 17 anos estudante do 3º ano do ensino médio Desde criança queria ser pediatra, mas não tenho certeza se consigo passar em Medicina. Aí até pensei em fazer jornalismo... Nossa é muito sério! Tem que ler muito, não quero mais. Já publicidade achei mais legal! Também penso em fazer direito. Acho bonito defender as pessoas. Não sei... Talvez eu faça mais de um vestibular Bruna Sacramento estudante do 3º ano do ensino médio julho > > 13

5 Acerte o rumo Existe um mercado que nunca deixa de crescer Uma das poucas formações que ainda preserva uma espécie de reserva de mercado,a advocacia só pode ser exercida pelas pessoas que passam pela graduação e se submetem, depois de cinco anos de estudo, a prova técnica da Ordem dos Advogados do Brasil. O advogado, ou operador do direito, é legalmente constituído pela OAB para exercer a profissão e pode trabalhar em diversas áreas do mercado público e privado. Das bancas de advocacia a abertura do próprio escritório aos departamentos jurídicos de empresas, passando por funções públicas que exigem concurso como juiz, procurador e promotor. Mas a grande oferta no mercado acaba dificultando a inserção profissional dos advogados. Quando você olha para os grandes nomes, não vê o advogado comum, que é proletarizado no Brasil, acredita Pedro Henrique Reynaldo Alves, sócio da Limongi Sial & Reynaldo Alves Advocacia. Pedro Henrique Reynaldo Alves advogado Para ele, a grande procura pelos cursos de Direito está sendo impulsionada pelos altos salários das funções públicas. A questão é que por mais atraentes que sejam, estas oportunidades ainda são insuficientes para atender à grande demanda de jovens advogados. É como no futebol. Você tem um Ronaldinho, mas atrás dele milhares de jogadores mal remunerados, critica Reynaldo Alves. É sempre possível abrir um escritório próprio e tentar formar clientela. Nesses casos, o retorno começa a partir de 5 anos de atividades do escritório. Alguns profissionais optam por trabalhar em casa e reduzir custos, o que facilita a vida em alguns aspectos mas nem sempre é bem visto pelos clientes. Entre os campos mais promissores atualmente estão o Direito do Trabalho, Direito Tributário, Direito Internacional e Direito Ambiental, especialidades que estão em franco crescimento. Uma das dicas é começar a trabalhar desde o início do curso para ganhar experiência e iniciar uma rede de relacionamentos que pode ajudar o advogado no futuro. Estava realmente na dúvida e agora me decidi! Vou fazer Relações Internacionais. Foi uma surpresa porque queria fazer Direito ou Medicina. Amei o curso de Relações Internacionais. Carolina Parisi Cysneiros Nunes 15 anos Desde o ano passado resolvi fazer Direito. Vim pra cá para concretizar a minha idéia e, quem sabe, ter alguma surpresa. Thiago Schumacher 17 anos 22 > > julho

6 Acerte o rumo Genética: novos tempos para a atividade científica Em tempos de experimentos com células tronco, de melhoramento de alimentos a partir de pesquisas em laboratórios, a profissão do biólogo está em grande evidência. Especialmente os biólogos que se especializaram em genética, a ciência que estuda a forma como se transmitem as características biológicas de geração para geração. A atividade ganha ainda mais fôlego: a partir de agora, o Brasil integra o grupo de países abertos às pesquisas com células-tronco. O geneticista pode ser um biólogo especializado ou um profissional de outras áreas da saúde interessado em trabalhar com genética: médico, enfermeiro, odontólogo, biomédico ou farmacêutico, por exemplo. A gama de atividades em que o geneticista pode atuar também é grande. É uma profissão em ascensão e com aplicação prática em vários campos da vida moderna, diz o professor Marcos Morais, do Departamento de Genética da Universidade Federal de Pernambuco. A especialidade é diplomada pela Sociedade Brasileira de Genética, que confere o título e regula o exercício da especialidade. O geneticista pode ser pesquisador em institutos de pesquisa e empresas, professor, trabalhar em laboratórios clínicos, desenvolver organismos geneticamente modificados, auxiliar a investigação de crimes, desenvolver bioprodutos e atuar em empresas de base tecnológica. Os salários iniciais são de R$ 1,5 mil, mas dependendo da atividade, podem chegar a R$ 10 mil. O inglês é fundamental para a formação do geneticista. A melhor informação científica do mundo está em inglês, logo não temos como nos desenvolver nesta atividade sem a língua estrangeira. Estou encerrando agora um intercâmbio no Brasil e só devo fazer vestibular no ano que vem, quando estarei de volta ao México. Penso em fazer Engenharia porque gosto do trabalho em indústrias, mas também gosto de ajudar as pessoas e Medicina me vem como uma carreira muito adequada a esse meu desejo. Rodrigo Lopez 17 anos Marcos Morais geneticista Estou pensando em fazer Medicina, pois gosto muito de biologia. O problema é que tenho muita facilidade para exatas. Em termos salariais medicina também é uma atividade muito atraente e não dá pra pensar na profissão sem considerar esses pontos. Vou pensar mais um pouco. Eloá Azevedo 16 anos julho > > 25