um produtor GNR está a apanhar de 'cannabis' caseiro

Transcrição

1 GNR está a apanhar um produtor de 'cannabis' caseiro por dia Droga. Crise fez aumentar o cultivo doméstico desta planta. Polícias já prenderam 45 pessoas. Todos os dias uma plantação é desmantelada Em vasos nas varandas, nos quintais junto a flores, escondida em campos de cultivo ou em sofisticadas estufas. A plantação de cannabis está a ganhar dimensão em Portugal, "ajudada" pelo clima. Os distritos com maior incidência são Porto, Faro, Coimbra e Santarém. A GNR já apanhou 45 produtores este ano, sendo que em 2001 foram detidas 89 pessoas. Também foram detetados oito locais de produção no primeiro semestre do ano, quando em esse número foi de uma dezena. Os produtores têm entre 21 e 29 anos. A cannabis também é usada para fins medicinais e na indústria têxtil. Uma dose (um grama) da droga ronda os 2,5 euros. 150 plantas dão até oito quilos (54 gramas por planta). PAISPAGS.I4EIS

2 GNR detém todos os dias um produtor de 'cannabis' Droga. Em 201 1, foram apreendidos 3916 pés e 89 pessoas foram detidas. Este ano, o número de cultivadores apanhados já vai em 45. Desde há um mês que a GNR desfaz todos os dias uma plantação ALFREDO TEIXEIRA PAULO JULlÃO.Vianado Castelo Em vasos nas varandas, nos quintais junto a flores e outras plantas, escondidas em campos de cultivo ou em sofisticadas estufas. A crise fez aumentar o cultivo doméstico de cannabis, um fenómeno com mais expressão na área da GNR, que este ano já apanhou 45 cultivadores, sendo que no último mês todos os dias esta força de segurança desmantelou uma plantação, detendo o respetivo produtor. Dados que comparam com o ano de , em que na zona de influência da Guarda foram apreendidos 3916 pés e 89 pessoas foram detidas. No total das polícias (juntando PSP e Polícia Judiciária), as apreensões sobem para 5523 plantas em2oll. O fenómeno não é só português, e um pouco por toda a Europa as polícias deparam com um aumento do cultivo ilegal como forma de poupança face à crise. "Só nas últimas semanas tivemos casos de apreensões todos os dias", afirmou ao DN o major Gonçalo Carvalho, do Comando-Geral da GNR. Portugal tem boas condições climatéricas e este ano foi propício ao cultivo. Na origem do grande número de pés de cannabis apreendidas está uma "redobrada atenção das autoridades", mas também o fim de um ciclo de cultivo, altura em que a planta atinge a maturidade. "Quase se pode dizer que é a fruta da época", salienta Gonçalo Carvalho. Os distritos com maior incidência são Porto, Faro, Coimbra e Santarém, mas o cultivo é popular em quase todo o País. Um dos casos que mais impressionou a GNR foi a apreensão feita recentemente em Soure de 434 plantas gigantes. No Alto Minho, a GNR já apreendeu quase tanta cannabis como em todo o ano de Nesta região, nos primeiros sete meses do ano, foram apreendidos mais de 28 quilogramas desta planta, à média de mais de uma operação por mês. Aquela força compara esta quantidade, equivalente a cerca de 150 plantas, com as 25 1 do ano passado, que se traduziu em 33 quilogramas. Até esta semana, foram detetados oito locais de produção, enquanto em todo o ano de 2011 esse número somou uma dezena. A última destas operações aconteceu na terçafeira passada, com oito militares a apreenderem no Carvoeiro, Viana do Castelo, uma plantação com cinco pés de cannabisetiês quilogramas daquela droga pronta a ser consumida, indicou fonte da GNR. Durante esta operação foi ainda detido um homem, que será presente quarta-feira a tribunal para primeiro interrogatório judicial. Fonte dagnr, explicou, contudo, que "muitos dos casos detetados tiveram como alvo não só eventuais traficantes, como os próprios consumidores, os quais tendencialmente optam cada vez mais por cultivar o seu próprio produto e se possível obter daí alguns benefícios". Segundo a mesma fonte, existem plantações "em locais isolados", como o Parque Nacional da Peneda-Gerês, denunciadas pela própria população, mas "nem sempre" é possível identificar os suspeitos. Uma das maiores operações do género nos últimos anos, no Alto Minho, aconteceu em junho, na qual a GNR apreendeu 75 plantas de cannabis e identificou um jovem de 26 anos, desempregado, como suspeito de cultivar a plantação, com cerca de dez quilogramas. Na semana passada, em São Romão de Neiva, uma operação envolvendo 12 militares da GNR terminou com o desmantelamento de uma estufa de produção de cannabis, com 17 pese cerca de 15 quilogramas daquela droga. Deste total, três quilogramas estavam já secos e prontos para consumo. A facilidade na produção deste tipo de planta, em estufas artificiais, além da muito informação

3 disponível, sobretudo através da Internet, sobre a forma de cultivo, são alguns dos motivos que estão na origem deste crescimento. CASOS PLANTAS GIGANTES > AGNR apreendeu, há 15 dias, 434 plantas de cannabis, com mais de três metros de altura, em Alfarelos, Soure. Uma patrulha passava na rua quando avistou as plantas, a maior tem 3,73 metros. O proprietário, de 42 anos, com antecedentes criminais por condução sob efeito de álcool, foi constituído arguido e sujeito a termo de identidade e residência. CULTIVO NOS AÇORES > A PSP apreendeu, a 14 de junho, 49 plantas de cannabis, das quais 17 na ilha de São Jorge (com uma altura entre 40 centímetros e um metro) e as restantes no Pico, nos Açores, onde foi detido um jovem de 21 anos por suspeita de cultivo e tráfico de droga. As 32 plantas pertencentes ao jovem seriam suficientes para a preparação de 414 doses individuais. QUINTAL ESCONDIA > As plantas estavam estavam escondidas no meio LEGISLAÇÃO A Lei n. 30/2000 distingue o consumo e a posse para consumo do tráfico, sendo o consumo penalizado (por multas e outras medidas) e o tráfico criminalizado. A lei refere que "a aquisição e a detenção para consumo próprio das substâncias referidas no número anterior não poderão exceder a quantidade necessária para o consumo médio individual durante o período de dez dias". Quem for apanhado com até cin- da vegetação no quintal de uma casa desabitada, em SantuLhão, no concelho de Vimioso, Bragança. Foram apreendida esta semana pela GNR, que não conseguiu descobrir o proprietário. Este ano, a GNR já apreendeu 98 plantas de cannabis em todo o distrito de Bragança quase tanto (140) que em CASAL DETIDO > Um casal, com 34 e 38 anos, foi detido em agosto do ano passado em Olaia, concelho de Torres Novas, por cultivo de cannabis, após uma investigação levada a cabo pelo núcleo de investigação criminal do destacamento territorial da GNR. Na residência foram apreendidas 300 pés de cannabis, bem como material necessário à sua produção APREENSÕES e venda. PSP tipifica o crime como tráfico de droga > Na área da PSP, o número de apreensões de cannabis é menor por aquela polícia atuar em meio urbano onde o cultivo da planta é mais facilmente camuflado e tem uma dimensão menor. Produção é crime ao contrário do consumo co gramas, limite até ao qual as autoridades consideram apenas contraordenação, é notificado para se apresentar numa Comissão para a Dissuasão datoxicodependência, que define sanções, que podem ser multas, proibição de frequentar certos locais, trabalho comunitário, apresentações periódicas no posto policial ou ficar sem carta de condução. Já o cultivo é proibido. Em 2011, 329 pessoas foram detidas. Geralmente fi- Mesmo assim, a PSP atua, mas quase sempre por denúncia. Ainda recentemente foi chamada à Travessa do Carmo, em Lisboa, mesmo ao lado do Quartel-Geral da GNR, onde numa varanda um indivíduo tinha uma vaso com cannabis. O DN tentou junto da Direção Nacional da PSP obter dados estatísticos sobre a matéria. A resposta foi a de que "o sistema informático regista este tipo de crimes de acordo com a sua tipificação penal, ou seja, os ilícitos que envolvem este tipo de plantações são normalmente registados como crimes de tráfico de estupefacientes". Clima favorece o cultivo cam em liberdade a aguardar julgamento, onde será avaliado tratar-se ou não de tráfico. O crime é regulado pelo decreto-lei n. 15/93, que nos artigos 21. e 26. estipula que incorre em pena de prisão até três anos ou multa. De recordar que também na estrada quem conduzir sob efeito de cannabis (contraordenação muito grave) é sancionado com uma multa de 500 a euros.

4 proposta Bloco de Esquerda apresentou diploma com vista à legalização do consumo e cultivo e a criação de uma rede associativa A proposta foi apresentada a 1 8 de julho na Assembleia da República, mas só no final deste ano será discutida e votada. O Bloco de Esquerda (BE) pretende que o consumo de cannabis seja legalizado e regulado. Ao mesmo tempo, o projeto de lei prevê a legalização do cultivo para consumo próprio e a criação de clubes sociais de cannabis. O objetivo, como afirmou ao DN o deputado João Semedo, autor da proposta, " é retirar os consumidores de cannabis do mercado negro do tráfico e afastá- -los de outros tipos de droga". Esta batalha bloquista não énova. Já na anterior legislatura tinha sido apresentada uma proposta Legalizar o cultivo e criar clubes sociais sobre a legalização do cultivo e o uso de cannabispara fins terapêuticos. "Esta apresentada agora é diferente. Continua a defender o cultivo para consumo próprio, limitado a dez unidades por cada cidadãos, mas introduz uma nova questão, a dos clubes sociais que serão associações livres, com registo de associados com mais de 18 anos", explica João Semedo. O clube será uma forma dos associados saberem onde podem adquirir cannabis, em locais devidamente licenciados, com obrigações fiscais e com a venda e a qualidade do produto controlada pelo Infarmed. "O importante da nossa proposta é também o de pôr em causa e testar os limites do proibicionismo. Há dez anos, conseguiu-se adespenalização do consumo e os consumidores passaram a ser tratados como doentes e não como marginais", acrescentou o deputado para quem, durante estes anos, "deram-se grandes passos, embora não se tenha alterado nem o número de consumidores nem os hábitos de consumo". Até 2000, além de a cannabissei considerada ilegal, o seu consumo era considerado crime. O consumo foi finalmente descriminalizado em Portugal através da Lei n. 30/2000, que "define o regime jurídico aplicável ao consumo de estupefacientes e substâncias psicotrópicas, bem como a proteção sanitária e social das pessoas que consomem tais substâncias sem prescrição médica". João Semedo espera que a atual proposta tenha a melhor das receções junto dos deputados da AR. "Nesta matéria, quer à esquerda quer à direita há divisões que não reproduzem as fronteiras partidárias", diz.

5