A DEMOCRACIA E A GUERRA AO TERROR NO M ÉDIO ORIENTE[1]
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- Luca Vilanova Carvalhal
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1 2011/03/17 A DEMOCRACIA E A GUERRA AO TERROR NO M ÉDIO ORIENTE[1] Bush tentou ser o grande activista da promoção da democracia por todo o mundo. Em 2005, enviou Condoleezza Rice ao Cairo para reafirmar o apoio americano a reformas democráticas na região, o que pretendia marcar o fim da política de exaltação da estabilidade à custa da democracia[2]. Por essa altura o seu livro de cabeceira, que aliás gostava de recomendar frequentemente e que discutiu com o autor, Natan Sharansky, era The Case for Democracy. The Power of Freedom to Overcome Tyranny &Terror. Bush mostrava-se convencido de que a expansão da democracia seria, a longo prazo, o antídoto para o cancro do terrorismo, sendo que este era o produto de políticas não democráticas. A guerra contra o terror só seria vencida através de mudanças sociais e políticas no mundo islâmico. Era a chamada agenda da liberdade que aliás os europeus olhavam com cepticismo; prevalecia, neste lado do Atlântico, o receio de que a cruzada de Bush a favor da democracia poderia degenerar facilmente em regimes ainda piores ou em anarquia violenta. François Heisbourg alegava que os EUA, embora esperando fazer do Iraque um farol do Médio Oriente para a democracia, tinham acabado inadvertidamente por o transformar numa «fábrica de jihadismo». Um diplomata britânico alertava que «se os EUA se libertassem da Casa Real Saudita, não tardariam, em questão de meses, a pedir o seu regresso». No entanto, para Bush, a sobrevivência da liberdade nos EUA estava cada vez mais dependente do sucesso das liberdades em outros países («The survival of liberty in our land increasingly depends on the success of liberty in other lands»). Subjacente a esta ideia, estava o conceito de que a democracia é o regime que melhor assegura que países democráticos não entram em guerra uns contra os outros («the reason I m so strong on democracy is democracies don t go to war with each other», uma de várias frases de Bush que correspondem quase integralmente a passagens do livro de Sharansky, página 76 neste caso). Brzezinski, na mesma linha dos europeus, criticou esta política de Bush por considerá-la perigosa; defendia que, em alternativa, faria muito mais sentido promover uma política de direitos humanos. Parte do caminho que Bush queria ver seguido ficou agora percorrido com as saídas dos Presidentes Ben Ali da Tunísia e Mubarack do Egipto a que, tudo indica, se seguirá brevemente a deposição de Kaddafi, mas com uma diferença essencial: o movimento surgiu de dentro, não foi imposto de fora, confirmando mais uma vez que os regimes não se mudam do exterior. Para o Ocidente acabou-se o dilema de ter que escolher entre estabilidade e democracia. Deixaram de haver dúvidas sobre o que fazer. Não resta senão apoiar o processo democrático, mesmo não sabendo o que vem atrás, como defendia recentemente Luís Amado em entrevista ao jornal Diário de Notícias. Falta, no entanto, percorrer a segunda parte do caminho que é também a mais difícil: fazer com que o acesso às liberdades, agora à vista nos países em questão, tenha sucesso. Bush nunca esclareceu o que significaria sucesso neste campo. Para os países da região, ter sucesso significará certamente uma transição rápida e ordeira para uma nova ordem; está à vista que, pelo menos no curto prazo, não vai ser assim porque as respectivas economias não vão dar resposta à impaciência gerada por falta de emprego e dificuldades sociais. Se a economia era má, nos próximos tempos vai ser pior com a necessidade de pagar a factura da crise, as paralisações de trabalho, as novas reivindicações, a quebra geral do turismo, etc. Para o Ocidente, ter sucesso significará não perder parceiros que estrategicamente têm sido favoráveis aos seus interesses, quer quanto à paz na região, quer quanto à estabilidade social; também está à vista que não vai ser esse o desfecho. Luís Amado diz que a Europa tem de estar preparada para apoiar os processos democráticos e aceitar os respectivos resultados, quaisquer que sejam. O que pode significar isto na prática? Apenas a continuação da canalização da maior parte da ajuda externa da UE para a região ou também um envolvimento directo na protecção do processo democrático, incluindo, se necessário, o emprego da vertente militar? Está a UE preparada para intervir em caso de eventual catástrofe humanitária, sendo que se trata de uma área de interesse directo, ou vai continuar a esperar que os
2 EUA resolvam a situação? [1] Texto originalmente publicado no Blog Raia Diplomática. Mal grado algumas considerações então feitas estarem ultrapassadas pelos acontecimentos admite-se que continue a ter interesse para análise e reconstituição dos acontecimentos. [2] Discurso na Universidade do Cairo em Junho de 2005: «For 60 years, the Unites States pursued stability at the expense of democracy in this region here in the Middle East and we achieved neither». 68 TEXTOS RELACIONADOS: 2012/09/20 UM MUNDO MAIS PERIGOSO 2012/08/26 EGIPTO. DA PRIMAVERA ÁRABE PARA A PRIMAVERA ISLÂMICA 2012/07/22 A PRIMAVERA ÁRABE NO EGIPTO 2012/07/02 UM GOVERNO DE TRANSIÇÃO PARA A SÍRIA? 2012/06/12 INTERVIR MILITARMENTE NA SÍRIA? 2012/05/31 A ENCRUZILHADA EGÍPCIA 2012/02/20 O QUE PODE SALVAR ASSAD NO CURTO PRAZO 2011/12/21 A TURQUIA E A ARÁBIA SAUDITA PERANTE A CRISE SÍRIA 2011/11/16 QUE DEVE SER FEITO EM RELAÇÃO AO IRÃO? 2011/10/14 A NATO E A PCSD DA UE, NO PÓS LÍBIA 2011/09/23 PALESTINA, O ESTADO 194º DAS NAÇÕES UNIDAS? 2011/09/10 O 11 DE SETEMBRO DEZ ANOS DEPOIS. UM BALANÇO 2011/08/29 LÍBIA. FALTA FAZER O MAIS DIFÍCIL. 2011/08/22 A LÍBIA PÓS KADHAFI
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