PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA Assessoria Criminal

Tamanho: px

Começar a partir da página:

Download "PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA Assessoria Criminal"

Benedita Frade Pacheco
8 Há anos
Visualizações:

1 PROTOCOLO MP/PR Nº /2015 AUTOS DE INQUÉRITO POLICIAL Nº ORIGEM: 1ª VARA CRIMINAL DE CURITIBA INDICIADO: (...) OBJETO: ART. 28 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL EMENTA: TENTATIVA DE FURTO. CRIME IMPOSSÍVEL. INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO. ARQUIVAMENTO. EXCELENTÍSSIMA SENHORA SUBPROCURADORA-GERAL DE JUSTIÇA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS: 1. RELATÓRIO Os presentes autos de Inquérito Policial foram inaugurados mediante prisão em flagrante para apurar a prática, em tese, do delito capitulado no art. 155, 4º, inciso I 1, c/c o art. 14, inciso II, ambos do Código Penal (tentativa de furto qualificado) atribuído ao indiciado (...). Na oportunidade, dia , o indiciado (...), no interior da Loja Centauro do Park Shopping Barigui, localizado na Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, nº 600, Bairro Mossunguê, Curitiba-Pr., subtraiu 06 (seis) camisetas da marca Nike, avaliadas em R$ 889,96 (oitocentos e oitenta e nove reais e noventa e seis centavos). 1 com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa. 1

EXCELENTÍSSIMA SENHORA SUBPROCURADORA-GERAL DE JUSTIÇA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS: 1.

2 Consta que o indiciado teria, por rompimento de obstáculo, consistente na retirada dos alarmes antifurtos dos produtos, tentado sair do estabelecimento comercial com os objetos dentro de uma sacola, sendo detido por segurança do shopping que posteriormente acionou a equipe policial militar. (cf. auto de exibição e apreensão de fls. 11/12, auto de entrega de fls. 16 e auto de avaliação de fls. 33). Após ultimação da instrução policial, sobreveio a promoção de arquivamento de fls. 41/48, elaborada pelo Promotor de Justiça (...), contendo, com relação ao furto fundamentação dirigida ao reconhecimento da atipicidade da conduta com base no princípio da insignificância (ofensividade mínima da conduta). Exercendo controle jurisdicional de 1º grau, o Juiz de Direito (...) proferiu a decisão de fls. 49/51, discordando da promoção ministerial de arquivamento, ao argumento de que não se aplica, no caso, o princípio da insignificância com relação ao furto das peças de roupa, pois observa-se na conduta do indiciado a expressividade da lesão jurídica provocada, visto que foi tentado subtrair objetos avaliados em R$ 889,96 (oitocentos e oitenta e nove reais e noventa e seis centavos) (...) valor superior ao salário mínimo vigente à época dos fatos, também, pelo furto ser qualificado pelo rompimento de obstáculo e, ainda, levando-se em consideração o prejuízo causado à vítima com a retirada dos alarmes que estavam nas camisas e que foram rasgadas, demonstrando maior reprovabilidade de conduta. Nestes termos, determinou o encaminhamento dos autos a esta Procuradoria-Geral de Justiça, aos fins do disposto no art. 28 do CPP. Eis o relatório do autuado. 2. FUNDAMENTAÇÃO O objeto de análise e valoração aos presentes autos, por parte desta Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do disposto no art. 28 do Código de Processo Penal, direciona-se à operação de ratificação ou discordância quanto ao conteúdo do pronunciamento ministerial de fls. 41/48, que promoveu o arquivamento 2

33). Após ultimação da instrução policial, sobreveio a promoção de arquivamento de fls. 41/48, elaborada pelo Promotor de Justiça (.

3 dos autos por reconhecimento da atipicidade de conduta, com fundamento no princípio da insignificância. Preliminarmente à análise acerca da pertinência da promoção de arquivamento, faz-se necessário exame dos elementos informativos carreados aos autos. asseverou que: O segurança do Shopping, Renan Peterson da Silva, às fls. 07/08, Viu que a pessoa que sabe agora se chamar (...) ficou muito tempo dentro do provador, sendo que, ao sair, o depoente viu que o mesmo escondeu seis alarmes que são colocados nas mercadorias, os quais ele escondeu atrás de uma mochila que Rafael, ao sair do provador, devolveu as três camisetas que ele havia pego antes de entrar, sendo que outra seis ele tinha colocado numa sacola que estava com ele que ao encontrar os alarmes, o depoente acionou os seguranças do shopping para fazer a abordagem a Rafael fora da loja, pois tem orientação para não fazer a abordagem dentro da loja que o depoente acompanhou Rafael até o piso inferior, onde fez a abordagem ao mesmo, com os seguranças do shopping, inclusive ele chegou a correr, mas foi detido que Rafael foi levado para uma doca do shopping, onde foram encontradas seis camisetas da loja, marca Nike, as quais já estavam sem as etiquetas da centauro (...) que todas as camisetas foram danificadas quando foi tirado o alarme. prestou a seguinte declaração: O funcionário da loja Centauro, Paulo Rogério Alves, às fls. 13/14, Viu que um rapaz que havia saído do provador com três camisetas tinha saído com algumas camisetas da seleção brasileira, dentro de uma sacola que o segurança Renan acompanhou o rapaz e viu que o mesmo colocou os alarmes atrás de uma mochila e logo saiu da loja, 3

asseverou que: O segurança do Shopping, Renan Peterson da Silva, às fls. 07/08, Viu que a pessoa que sabe agora se chamar (.

4 sendo seguido pelo segurança da loja que a abordagem o declarante não presenciou que foi constatado que o autor do furto, que sabe agora se chamar Rafael Thomaz Aquino, arrancou os seis alarmes das camisetas, as quais ficaram danificadas, pois foram rasgadas, que a loja não dispõe de sistema de gravação de imagens por câmeras que a loja Centauro tem interesse que Rafael Thomaz Aquino responda pelos danos nas camisetas, pois as roupas perderam o valor de mercado e a loja vai ficar no prejuízo. Analisando-se o conjunto probatório amealhado aos autos, verifica-se que o indiciado estava, o tempo todo, ininterruptamente, sob vigilância, de modo que o meio eleito para a prática do delito é absolutamente inidôneo para a sua concretização, pois a vigilância sobre o noticiado por seguranças tornou impossível a consumação do delito. Trata-se de hipótese em que a constante vigilância de funcionários e da segurança do estabelecimento comercial sobre a ação do indiciado, efetivamente, tornaria impossível a consumação do delito de furto, tanto é que, logo em sequência, a vendedora da loja viu que um rapaz havia saído do provador com algumas camisas da seleção brasileira dentro de uma sacola. Paralelo a isso, o segurança da loja monitorou o rapaz e o observou quando o mesmo colocou os alarmes atrás de uma mochila e logo saiu da loja, sendo, em seguida, abordado pelos seguranças do Park Shopping Barigui. A hipótese traz, realmente, a figura da tentativa inidônea ou crime impossível, na modalidade de ineficácia absoluta do meio, prevista no art. 17 do Código Penal, 2 sequer sendo cogitável, neste sentido, a punição do delito de furto em sua forma tentada, vez que não haveria a mínima possibilidade de consumação do delito em referência, por parte do indiciado. 2 Art Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 4

pelos danos nas camisetas, pois as roupas perderam o valor de mercado e a loja vai ficar no prejuízo.

5 Com este norte de concepção, a jurisprudência contemporânea de Tribunais pelo país, em situações análogas: APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO QUALIFICADO TENTADO E CORRUPÇÃO DE MENORES EM CONCURSO FORMAL. Furto qualificado tentado. A prova produzida nos autos atesta que o segurança do supermercado detinha pleno domínio da ação da ré, tornando impossível (modo absoluto) a subtração dos bens, que jamais saíram da sua esfera de vigilância, daí a atipicidade da conduta imputada a ela na denúncia. Caracterização de crime impossível pela absoluta ineficácia do meio. Corrupção de menores. Reconhecida a atipicidade do fatosubtração imputado à ré, não há falar-se em crime de corrupção de menores, pois não subsiste a elementar do tipo penal previsto no art. 244-B, da Lei 8.069/90. Absolvição. APELO PROVIDO. 3 Este conjunto de argumentos e categorias legitima a promoção de arquivamento dos autos no pronunciamento Ministerial encartado às fls. 41/ CONCLUSÃO Ante ao exposto, no exercício das atribuições previstas no art. 28 do CPP, entende-se pela ratificação da promoção de arquivamento de fls. 41/48, elaborada pelo Promotor de Justiça (...), porém, com base em outra fundamentação (crime impossível art. 17 CP), com a consequente devolução dos autos ao juízo de origem, para as baixas e comunicações necessárias, inclusive no que se refere à cientificação da Agente Ministerial em referência. Curitiba, 27 de agosto de Reginaldo Rolim Pereira Procurador de Justiça Assessor 3 TJ-RS - Apelação Crime Nº , Sexta Câmara Criminal, Relator: Aymoré Roque Pottes de Mello, Julgamento em 30/04/

A prova produzida nos autos atesta que o segurança do supermercado detinha pleno domínio da ação da ré, tornando impossível (modo absoluto) a subtração dos bens, que jamais saíram da sua esfera de

Documentos relacionados

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0025401-51.2009.8.19.0205

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0025401-51.2009.8.19.0205 Apelante : Ministério Público Apelado : FABIO DE SOUZA MESQUITA Relatora : Desembargadora Maria Angélica G. Guerra Guedes APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO TENTADO.