A REDEPARTAMENTALIZAÇÃO E REESTRUTURAÇÃO ORGANIZACIONAL DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS: CONTEXTOS E PERSPECTIVAS.

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1 A REDEPARTAMENTALIZAÇÃO E REESTRUTURAÇÃO ORGANIZACIONAL DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS: CONTEXTOS E PERSPECTIVAS. Josiléia Curty de Oliveira, Larice Nogueira de Andrade, Simone Aparecida Fernandes Anastácio. Universidade Federal do Espírito Santo/Campus de Alegre, Alto Universitário, s/n, Alegre-ES, Brasil, josileia.oliveira@ufes.br, lariceandrade@gmail.com, simonef.ufes@gmail.com Resumo - Este artigo discute as perspectivas futuras de inovação e implantação de novos modelos de estrutura administrativa e acadêmica das universidades federais brasileiras, buscando identificar os novos modelos de estrutura organizacional e as principais características trazidas pela adoção do modelo sem departamentos acadêmicos. O universo desta pesquisa compreendeu o total de 63 universidades federais brasileiras. Foram realizadas visitas online em cada sítio institucional e a análise de estatutos, regimentos e organogramas, a fim de verificar quais a universidades possuem departamentos acadêmicos em sua estrutura organizacional instituído pela Resolução nº 5540/1968 (BRASIL, 1968) e quais instituições foram criadas sem departamentos ou que realizaram uma reestruturação organizacional após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/1996 (BRASIL, 1996). Os resultados apontam que o modelo com foco nos colegiados de cursos tem sido considerado como o que mais se adequa à indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão e aos desafios enfrentados pelas universidades na sociedade contemporânea. Palavras-chave: Educação Superior, Gestão Pública, Gestão de Universidades, Estrutura Organizacional, Inovação. Área do Conhecimento: Ciências Humanas Introdução As Universidades Federais Brasileiras (UFBs) vivem um momento que exige mudanças capazes de torná-las mais flexíveis e transparentes. Nesse sentido, a gestão universitária precisa adotar novos métodos administrativos que atendam à necessidade de uma sociedade baseada no conhecimento, permitindo cumprir sua função social com efetividade. Vieira e Vieira (2004) ressaltam a importância de as universidades públicas tornarem-se abertas à inovação, à reestruturação e à mudança de comportamento, de modo que estabeleça notoriamente a garantia da produção do conhecimento e da informação. Entretanto, as UFBs ainda são geridas a partir de estruturas organizacionais burocráticas, devido, entre outras características, à sua multiplicidade estrutural (faculdades, institutos, centros, programas, decanatos, colégios, comissões, coordenações, núcleos, fundações, secretarias e outros) ocasionando um cenário de conflitos na tomada de decisão, de baixas energia e sinergia funcionais e de uma burocratização pouco eficiente (FALQUETO; FARIAS, 2012). Por esse contexto, a exclusão do sistema departamental da estrutura organizacional da Universidade vem sendo tratada em estudos sobre essa temática como um dos aspectos importantes flexibilidade e inovação da gestão universitária após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB /1996) (PINHEIRO, 2011). Este artigo discute a estrutura organizacional das UFBs e a perspectiva futura de inovação estrutural e, principalmente, a implantação de novas formas de organização acadêmico-administrativa. Essas perspectivas, se concretizadas, serão capazes de gerar novo impulso à eficiência e, consequentemente, estabelecer novo padrão de funcionalidade que se refletirá no desempenho de qualidade das instituições federais de ensino superior (VIEIRA e VIEIRA, 2003). 1

2 Metodologia Esta pesquisa é bibliográfica e documental. Bibliográfica, porque para a fundamentação teórica deste estudo foi realizada investigação sobre a estrutura organizacional das 63 universidades federais brasileiras, a concepção dos modelos de gestão e as mudanças ocorridas na estrutura organizacional das universidades após a publicação da LDB 9394/96. A pesquisa também é documental, porque se baseou na consulta de documentos oficiais do MEC e documentos internos das Universidades Federais disponíveis em sítios institucionais, que dizem respeito ao objeto de estudo. Este trabalho visou contextualizar e identificar os novos modelos de gestão universitária presentes nas universidades federais. Para a coleta de dados, foram procedidas visitas online ao sítio institucional de cada universidade, visando identificar a presença dos departamentos, por meio da análise de estatutos, regimentos e organogramas disponíveis nas páginas oficiais das instituições. No mesmo sentido, foi realizado um levantamento de quais instituições foram criadas sem departamentos ou que realizaram uma reestruturação organizacional após a LDB 9394/1996. Os dados foram tabulados em planilha eletrônica e apresentados por meio de tabelas. Resultados A Tabela 1 apresenta a estrutura organizacional das universidades federais brasileiras com o sistema departamental. Tabela 1: Modelos de estrutura organizacional das universidades com departamentos acadêmicos Total de Estrutura Organizacional Universidades f % Administração Superior, Faculdade ou Instituto, Departamento 10 26,5 Administração Superior, Faculdade ou Instituto, Campus, Departamento 01 2,6 Administração Superior, Centro, Faculdade ou Instituto, Departamento 05 12,8 Administração Superior, Centro, Faculdade ou Instituto, Campus, Departamento 03 7,7 Administração Superior, Centro, Departamento 15 38,5 Administração Superior, Departamento, Curso 02 5,1 Administração Superior, Campus, Departamento 02 5,1 Administração Superior, Campus, Centro e Departamento 01 2,6 Fonte: Dados da Pesquisa. Nota: Elaborado pelas autoras. A Tabela 2 apresenta a estrutura organizacional das universidades com foco nos colegiados de cursos. Tabela 2: Novos modelos de estrutura organizacional das universidades. Total de Estrutura Organizacional Universidades f % Administração Superior, Unidades acadêmicas (Centros, Institutos e 04 16,7 Faculdades) e Curso Administração Superior, Faculdade e Curso 01 4,2 Administração Superior, Campus, Centros, Institutos, Faculdades e Curso 07 29,2 Administração Superior, Centro e Curso 05 20,8 Administração Superior e Curso 01 4,2 Administração Superior, Campus e Curso 03 12,5 Administração Superior, Campus, Instituto e Curso 03 12,5 Fonte: Dados da Pesquisa Nota: Elaborado pelas autoras A Tabela 3 apresenta um panorama das UFBs criadas antes e após e LDB 9394/1996 com relação ao fato de serem organizadas com ou sem departamentos acadêmicos. 2

3 Tabela 3: Universidades Federais criadas antes e após a LDB 9394/1996 organizadas ou não por departamentos acadêmicos Características Universidades Federais Brasileiras n % Criadas antes da LDB 9394/1996 que ainda adotam o sistema departamental Reestruturadas após a LDB 9394/1996 com exclusão da estrutura organizada por departamentos Criadas na nova estrutura, sem a estrutura organizada por departamentos UnB, UFBA, UFPB, UFCG, UFPE, UFC, UFMA, UFPI, UFRPE, UFERSA, UNIR, UFRR, UNIFAP, UFAM, UNIFAL, UFJF, UFLA, UFMG, UFOP, UFSCar, UFSJ, UNIFESP, UFU, UFV, UFES, UNIRIO, UFRJ, UFTM, UFF, UFRRJ, UFCSPA, UFPel, UFSC, UFSM, UFPR, UFRGS, UFRS, UFS e UFRN. UFAC, UFAL, UFG, UFMS, UFPA, UFT e FURG UFCA, UFGD, UFRA*, UFSB, UFRB, UNILAB, UNIVASF, UFOPA, UNIFESSPA, UNIFEI, UFABC, UFVJM, UFFS, UNILA, UNIPAMPA, UTFPR, UFMTS 38 60, , ,0 Criada após a LDB 01 1,6 9394/1996 com a estrutura UFCG organizada por departamentos Total ,0 Fonte: Dados da Pesquisa. Nota: *Surgida de desmembramento; f= número de universidades; %= porcentagem do número de universidades federais Discussão A reforma da educação superior no Brasil, a partir de 1996, promoveu mudanças estruturais das universidades públicas. Todavia, ainda é predominante a presença de departamentos acadêmicos na estrutura das UFBs. Grande parte das UFBs possuem a estrutura hierarquizada composta pelos Conselhos Superiores, Reitoria, Unidades Acadêmicas (Escolas, Faculdades, Institutos e/ou Centros), Departamentos e Colegiados de Cursos. Essa estrutura surgiu da LDB nº 5540/1968 (BRASIL, 1968). Nota-se também que as coordenações de cursos ou colegiados aparecem na estrutura de apenas 13 universidades das 39 listadas, isso se justifica pelo fato de os colegiados de cursos serem considerados como uma estrutura paralela aos departamentos, mantendo seus modelos tradicionais desde a Resolução de 1968, diferindo apenas para a inclusão da estrutura de Campus em algumas universidades. Segundo Nez (2016), a estrutura multicampi começou a ser instalada nas universidades com o objetivo de expandir o ensino superior para os municípios do interior, visando atender às demandas regionais dos estados brasileiros. Conforme Sousa (2015), essa descentralização caracterizou-se pela representatividade do poder nos órgãos de deliberação superior dos campi universitários e não de unidades acadêmicas, conforme modelos tradicionais. Como a questão estrutural das universidades federais se configura por meio do ambiente acadêmico, existe todo um suporte administrativo de apoio muito extenso, burocrático e normativo, ao qual é conferida prerrogativa de poder (VIEIRA; VIEIRA, 2004). Isso muitas vezes torna o processo lento e pouco flexível. Essa estrutura departametalizada é alvo de críticas por muitos autores, pois se entende que o departamento promove pouca interação com as demais unidades acadêmicas, o que também contribui para uma comunicação interna deficiente. Entretanto, observa-se que novas estruturas foram redesenhadas a partir da LDB 9394/1996, sem a presença do departamento acadêmico implementado na Reforma Universitária de 1968, dando-se maior relevância aos cursos, entretanto, observa-se a mesma estrutura hierárquica de Conselhos Superiores, Unidades Acadêmicas (Centros, Institutos ou Faculdades) e Colegiados de Cursos. A importância de as universidades públicas tornarem-se abertas à inovação, à reestruturação e à mudança de comportamento, de modo que estabeleça notoriamente a garantia da produção do 3

4 conhecimento e da informação vêm sido discutida no meio científico e isso tem levando muitas universidades a repensarem as suas estruturas organizacionais. Nota-se que a estrutura organizacional das Universidades com foco nos colegiados de cursos possui menor número de unidades administrativas (Tabela 2). A presença de mais camadas hierárquicas na estrutura das universidades é devido à herança de modelos tradicionais, principalmente das universidades que tem se reestruturado a partir das últimas décadas. Muitas delas ainda mantêm as unidades acadêmicas e outras apresentam a estrutura de Campus. A estrutura de Campus está presente em três modelos, dois deles acompanhados das unidades acadêmicas e apenas um como uma unidade entre a administração superior e o curso. Entretanto, já se observa a presença de estruturas mais flexíveis com a presença apenas da Administração superior, faculdade e do Curso; da Administração Superior, Centro e Curso; da Administração Superior e Curso; da Administração Superior, Campus e Curso. Nesses modelos não aparecem mais a estrutura de departamentos como unidade administrativa para as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Essa estrutura dá lugar aos colegiados de cursos no que se refere às atividades acadêmicas, por isso, em alguns modelos, os cursos são ligados a centros de ensino ou áreas do conhecimento, ou em um número maior de faculdades, ou vinculados à administração de um campus ou diretamente à administração superior (LOPES E BERNARDES, 2005). Nesse sentido, a ideia de decisões isoladas é eliminada, tendo em vista que as decisões devem ser tomadas coletivamente, pelos colegiados de cursos, muito diferente do sistema departamentalizado, em que a tomada de decisão fica somente a cargo da câmara departamental. Assim, os assuntos relacionados aos cursos passam a ser de responsabilidade dos colegiados de cursos e a parte administrativa dos antigos departamentos fica a cargo de unidades maiores denominadas Unidades Acadêmicas (UAs). Sendo que, percebe-se a necessidade de fortalecimento da coordenação dos colegiados de cursos para que os problemas relacionados aos conflitos de interesse internos ao meio universitário não interfiram na dinâmica e na integração curriculares dos cursos de graduação. Dessa forma, a estrutura organizacional departamentalizada vem sendo redesenhada de forma autônoma pelas universidades, de forma que a estrutura colegiada tem ganhado mais destaque pelas legislações e diretrizes vigentes pelo MEC. Sendo assim, a proposta de extinção da estrutura departamental como unidade administrativa nas universidades federais vem se consolidando na estrutura organizacional das universidades, pois 11,1 % das universidades federais fizeram a transição para o novo modelo de gestão após a LDB 9394/1996 e 27,0% foram fundadas com uma estrutura sem departamentos para atender a ampliação do sistema de ensino superior das últimas décadas, ou seja, 38,1 % das universidades federais utilizam a estrutura sem departamento com foco nos colegiados de cursos. E das 18 universidades que foram fundadas após a nova LDB, apenas uma instituição, localizada na região Nordeste, ainda permaneceu com a estrutura organizada por departamentos. Segundo Falqueto e Farias (2012), as UFBs ainda são geridas a partir de estruturas organizacionais burocráticas, devido, entre outras características, à sua multiplicidade estrutural (faculdades, institutos, centros, programas, decanatos, colégios, comissões, coordenações, núcleos, fundações, secretarias e outros) ocasionando um cenário de conflitos na tomada de decisão e pouca produtividade. Cabe ressaltar que, a transição do modelo de administração pública burocrático para um modelo gerencial mais efetivo tem exigido uma nova postura das universidades federais. Muitas UFBs estão buscando uma estrutura mais flexível e com menos camadas hierárquicas, visando à economicidade e à otimização dos serviços, com o objetivo de manter a qualidade do ensino. Como ressaltam Vieira e Vieira (2004), as universidades federais estão se tornando abertas à inovação, à reestruturação e à mudança de comportamento, de modo que estabeleça a garantia da produção do conhecimento e da informação. Conclusão Com este trabalho, foi possível constatar que cada universidade assume a sua forma de estrutura organizacional conforme o contexto histórico-social do país, da realidade onde está inserida e de seu desenvolvimento organizacional ao longo dos anos, adquirindo e consolidando modelos conforme as suas especificidades. Entretanto, existem princípios e condições gerais de funcionamento que decorrem da natureza e dos objetivos da universidade que a conduzem, como é o caso forma colegiada, impulsionadas pelos seus estatutos e regimentos internos. 4

5 Atualmente, o modelo discutido para inovação e flexibilidade das universidades se baseia numa estrutura com foco nos colegiados de cursos e com menos camadas hierárquicas, sendo este o diferencial encontrado nas estruturas organizacionais das universidades federais do país. As organizações evoluíram de uma estrutura tradicional para serem predominantemente, proativas e flexíveis num ambiente instável, em que se torna decisiva a sua capacidade de adaptação e envolvimento com as exigências deste. Os estudos indicaram que a implantação da nova estrutura nas UFBs, baseada em coordenações de cursos, significou a racionalização burocrática, a melhoria na comunicação interna e o aumento na transparência administrativa, trazendo melhorias significativas nos indicadores de desempenho. Portanto, o esforço coletivo é imprescindível, para que a administração universitária encontre o formato mais adequado para a sua realidade e dinamismo social e contemporâneo. Referências BRASIL. Lei n , de 28 de novembro de Fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá outras providências. Disponível em < Acesso em 20 de abril de Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: < Acesso em 22 maio FALQUETO, J. M. Z.; FARIAS, J. S. A Trajetória e a Funcionalidade da Universidade Pública Brasileira. Revista GUAL, Florianópolis, v. 6, n. 1, p , jan LOPES, L. A. C.; BERNARDES, F. R. Estruturas administrativas das universidades brasileiras. In Seminário em Administração da Faculdade de Administração da USP, São Paulo, Anais... São Paulo, NEZ, E. Os dilemas da gestão de universidades multicampi no Brasil. Revista Gestão Universitária na América Latina-GUAL, v. 9, n. 2, p , PINHEIRO, H. D. Redesenho de configurações estruturais na gestão universitária: ações derivadas da inovação e da flexibilidade na legislação pós-ldb. 360 f. Doutorado em Administração. Programa de Pós-graduação em Administração. Universidade Federal do Rio do Grande do Norte, Natal, RN, SOUSA, A. P. N. Dimensões organizacionais da Universidade Federal do Pampa: uma análise qualitativa da estrutura multicampi f. (Dissertação). Programa de Pós-Graduação em Gestão Organizacional da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, Catalão, GO, VIEIRA, E. F; VIEIRA, M. M. F. Estrutura organizacional e gestão do desempenho nas universidades federais brasileiras. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro 37(4): , Jul./Ago Funcionalidade Burocrática nas Universidades Federais: Conflito em Tempos de Mudança. RAC, v. 8, n. 2, Abr./Jun: ,