PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Limeira, em que são agravantes FER CORR EMBALAGENS LTDA., LUIZ FERNANDO FERRARI, BEATRIZ APARECIDA PINARELLI DE ARAÚJO FERRARI e MILTON FERRARI NETO, é agravado ATHENABANCO FOMENTO MERCANTIL LTDA. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 23ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores SÉRGIO SHIMURA (Presidente sem voto), SEBASTIÃO FLÁVIO E PAULO ROBERTO DE SANTANA. São Paulo, 26 de março de José Marcos Marrone Relator Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº: AGRV.Nº: Digital COMARCA: Limeira (2ª Vara Cível) AGTES. : Luis Fernando Ferrari, Beatriz Aparecida Pinarelli de Araújo Ferrari, Milton Ferrari Neto e Ferr Corr Embalagens Ltda. AGDA. : Athenabanco Fomento Mercantil Ltda. Laudo pericial - Avaliação Insurgência contra a decisão interlocutória que homologou o laudo de avaliação do imóvel objeto da matrícula nº do CRI da comarca de Santos, penhorado nos autos da ação de execução em exame Agravantes que impugnaram o laudo de avaliação, havendo sustentado que a avaliação é nula em razão da ausência de intimação das partes, nos termos do art. 431-A do CPC de 1973, bem como que o laudo foi omisso por não ter informado negócios ocorridos com imóveis do mesmo padrão e localização do imóvel avaliado - Descabimento. Laudo pericial - Avaliação Caso em que se cuida de avaliação realizada por avaliador nomeado, nos termos do art. 870, parágrafo único, do atual CPC Procedimento que deve observar as regras dos arts. 870 a 875 do atual CPC Caso em que não há de se falar em formulação de quesitos, nomeação de assistente técnico, intimação das partes para acompanhar a realização da prova Agravantes que não demonstraram qualquer erro cometido pelo perito a ensejar a realização de nova avaliação Art. 873 do atual CPC - Laudo elaborado pelo experto judicial que está devidamente fundamentado Perito que apurou o valor de R$ ,00 para o imóvel penhorado Homologação do laudo de avaliação que se mostrou de rigor - Agravo desprovido. 1. Trata-se de agravo de instrumento (fl. 1), interposto, tempestivamente, da decisão proferida em ação de execução por quantia certa (fl. 18), fundada em Escritura de Consolidação, Confissão de Dívida e Novação, com Constituição de Solidariedade e Garantia Hipotecária (fl. 20), que homologou o laudo pericial e esclarecimentos prestados pelo perito, para que produzam os seus jurídicos e legais efeitos (fl. 13). Sustentam os agravantes, executados na aludida ação, em síntese, que: o perito não indicou, expressamente, no laudo pericial ter adotado o método comparativo; juntaram documentos divergentes da avaliação do perito, que não dedicou nenhuma linha para contrapor os fundamentos do laudo divergente; o perito deve informar negócios ocorridos com imóveis do mesmo padrão e localização do imóvel avaliado, o que não ocorreu; isso poderia ter sido evitado caso tivessem sido intimados para participarem da prova; o juiz da causa não determinou que o perito se manifestasse acerca de suas alegações; o perito deve fornecer respostas conclusivas, nos termos do art. 473, inciso IV, do atual CPC; o laudo pericial não indicou qualquer pesquisa de mercado; há grande Agravo de Instrumento nº Voto nº 2

3 divergência entre os valores apontados no laudo e os preços de mercado; deve ser determinada a manifestação do perito para que preste os esclarecimentos necessários (fls. 5/11). Houve preparo do agravo (fl. 12). Não foi concedido o efeito suspensivo ao recurso oposto, ante a ausência de perigo de dano irreparável ou de difícil reparação (fl. 231). Foi apresentada resposta pela agravada (fls. 237/239). É o relatório. 2. A preliminar de não conhecimento do recurso em relação à coagravante Ferr Corr Embalagens Ltda., arguida pela agravada em sua contraminuta (fl. 237), deve ser repelida. Cuidando-se de litisconsórcio passivo, o recurso interposto por um dos litisconsortes, ou seja, por um dos coagravantes Luis Fernando Ferrari, Beatriz Aparecida Pinarelli de Araújo Ferrari e Milton Ferrari Neto, a todos aproveita, nos termos do art do atual CPC. Ainda que assim não se entendesse, para que o recurso fosse inadmitido em razão da ausência de procuração (fl. 235), far-se-ia necessário, primeiramente, aplicar o art. 932, parágrafo único, do atual CPC, conforme determina o 3º do art do mesmo diploma legal, o que não foi feito. merece prosperar. 3. O reclamo manifestado pelos agravantes, de outra banda, não Explicando: 3.1. Por meio da carta precatória expedida para a Vara Distrital de Bertioga, foi determinado que se procedesse à avaliação, por perito, do imóvel matriculado sob o nº do CRI da comarca de Santos, mais precisamente, do apartamento nº 73, localizado no 7º andar do Condomínio Edifício Varandas da Riviera, situado no nº 217 do Passeio das Caravelas, no loteamento Riviera de São Lourenço (fl. 58). Para a realização do ato, foi nomeado pelo juízo deprecado o perito Walmir Pereira Modotti (fl. 67), que elaborou o respectivo laudo (fls. 70/101), tendo avaliado o imóvel em questão no valor de R$ ,00 (fl. 100). Instada a se manifestar sobre a devolução da carta precatória (fl. 105), a agravada concordou com a avaliação do imóvel, havendo requerido a sua adjudicação, já que o seu crédito era superior ao valor do bem (fl. 107). Antes de apreciar o pedido, o ilustre juiz de origem determinou que os agravantes fossem cientificados do laudo de avaliação (fl. 110). Os agravantes, então, apresentaram impugnação ao laudo de avaliação, havendo sustentado que: a avaliação é nula em razão da ausência de intimação das partes, nos termos do art. 431-A do CPC de 1973 (fl. 118); o laudo foi omisso por não ter informado negócios ocorridos com imóveis do mesmo padrão e localização do imóvel avaliado (fl. 118); nova perícia deve ser realizada (fl. 123). Após a manifestação de ambas as partes (fls. 171/175, 189/191), o juiz a quo determinou a intimação do perito para que se pronunciasse a respeito da impugnação (fl. 200). Apresentadas as considerações pelo perito, que, diga-se de passagem, não foram anexadas pelos agravantes, sobreveio a seguinte decisão: Agravo de Instrumento nº Voto nº 3

4 Considerando os esclarecimentos do perito às fls. 341/402 e tendo em vista o perito nomeado ser de confiança do juízo, não havendo qualquer vício que macule o laudo de fls. 227/282, homologo o laudo pericial e esclarecimentos apresentados, para que produzam os seus jurídicos e legais efeitos (fl. 13). Contra essa decisão insurgiram-se os agravantes Sem razão, no entanto. Primeiramente, há de se esclarecer que não se trata de produção de prova pericial, mas de avaliação que foi realizada por avaliador nomeado pelo juízo, nos termos do parágrafo único do art. 870 do atual CPC. Logo, o procedimento a ser adotado é aquele definido pelos arts. 870 a 875 do atual CPC, não havendo de se falar em formulação de quesitos, nomeação de assistente técnico, intimação das partes para acompanhar a produção da prova (fls. 7/8). Ademais, diversamente do que afirmaram os agravantes (fl. 7), a vistoria realizada no imóvel questionado foi acompanhada pelo patrono deles, Dr. Rodrigo Quirino Pontes, conforme mencionou o experto judicial em seu laudo (fl. 150) Quanto ao laudo de avaliação do imóvel, não se vislumbra qualquer das hipóteses previstas nos incisos do art. 873 do atual CPC a justificar a realização de nova avaliação. Os agravantes não lograram demonstrar qualquer erro na avaliação, não se prestando para tanto a juntada de duas declarações firmadas por corretores de imóveis (fls. 197/199), a ponto de que fossem infirmadas as fundamentadas conclusões do perito. Note-se que o laudo de avaliação, realizado com a adoção do Método Comparativo Direto (fl. 80), está amparado nas normas técnicas do IBAPE/SP (fl. 82), havendo levado em conta, para fins de comparação com outros imóveis, a semelhança de localização, tipo de imóvel, dimensões, padrão construtivo, idade e data da oferta (fl. 80). Segundo constou do laudo: para a coleta de dados de mercado para a determinação do valor unitário básico de área útil que reflita a realidade mercadológica imobiliária da região avalianda, pesquisaram-se junto a diversas empresas imobiliárias, bem como no próprio Condomínio, os valores ofertados para a venda de imóveis na mesma região geoeconômica e negócios efetivamente realizados (fl. 89) (grifo não original). Os dados dos imóveis paradigmas foram descritos de maneira pormenorizada no laudo (fls. 90/95). Depois de realizados os cálculos devidos, o experto judicial apurou o valor de R$ ,00 (dois milhões de reais) para o imóvel em análise (fl. 99). Como assinalado na decisão hostilizada, não havendo qualquer vício que macule o laudo (fl. 13), a sua homologação era medida de rigor. Prescindível, pois, a intimação do perito para que prestasse esclarecimentos (fl. 10). Aliás, embora os agravantes alegassem que o perito não dedicou uma linha sequer de contraposição aos fundamentos do laudo divergente (fl. 6), eles deixaram de anexar os esclarecimentos apresentados pelo experto, os quais também Agravo de Instrumento nº Voto nº 4

5 serviram de base para a homologação do laudo (fl. 13). 4. Nessas condições, nego provimento ao agravo contraposto, mantendo a decisão impugnada (fl. 13). JOSÉ MARCOS MARRONE Relator Agravo de Instrumento nº Voto nº 5