ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS DO PACIENTE COM DORSO CURVO POSTURAL
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- Gabriel Alves Padilha
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1 Artigo Original/Original Article/Artículo Original ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS DO PACIENTE COM DORSO CURVO POSTURAL ANALYSIS OF MUSCULOSKELETAL CHANGES IN PATIENTS WITH POSTURAL ROUNDBACK ANÁLISIS DE LAS ALTERACIONES MUSCULOESQUELÉTICAS EN PACIENTES CON DORSO CURVO POSTURAL Débora Pinheiro Lédio Alves 1, Vera Lúcia dos Santos Alves 1, Osmar Avanzi 1 RESUMO Objetivo: Analisar as alterações clínicas e radiográficas do paciente com dorso curvo postural. Métodos: Foram estudados 30 pacientes com diagnóstico de dorso curvo postural, sendo 22 do sexo masculino e oito do feminino, com idades entre 10 e 20 anos, encaminhados pelo ambulatório do Grupo de Cirurgia da Coluna da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, SP, Brasil. Os pacientes foram submetidos à avaliação da postura, a testes especiais para verificar as retrações musculares e a exame radiográfico para mensurar as curvaturas da coluna vertebral pelo método de Cobb. Resultados/Conclusão: Concluímos que no dorso curvo postural existe um aumento moderado da cifose torácica; as curvaturas lombar e cervical não aumentam como mecanismo compensatório; a cabeça apresenta-se anteriorizada e os ombros anteriorizados e rodados medialmente; as retrações musculares estão presentes nos músculos isquiotibiais, flexores do quadril, peitoral menor e adutores do ombro; a mobilidade da coluna lombar está preservada e não existe relação entre a magnitude da curvatura torácica e a retração dos músculos isquiotibiais. Descritores: Dorso; Cifose; Lordose; Postura; Musculoesquelético. ABSTRACT Objective: To analyze the clinical and radiographic changes in patients with postural rounded upper back. Methods: 30 patients diagnosed with postural rounded upper back were studied, being 22 male and eight female, aged between 10 and 20 years, referred by the outpatient clinic of the Grupo de Cirurgia da Coluna of the Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, SP, Brazil. Patients underwent assessment of posture, special tests to check for muscle retractions and radiographic examination to measure the curvatures of spine using the Cobb method. Results/Conclusion: It is concluded that in the postural roundback there is a moderate increase of the thoracic kyphosis; the lumbar and cervical curvatures do not increase as a compensatory mechanism; the head appears anteriorized and the shoulder is also anteriorized and medially rotated; muscle retractions are present in the hamstrings, hip flexors, pectoralis minor and adductors of the shoulder muscles; the mobility of the lumbar spine is preserved and there is no relationship between the magnitude of thoracic curvature and the retraction of the hamstring muscles. Keywords: Back; Kyphosis; Lordosis; Posture; Muscle, skeletal. RESUMEN Objetivo: Analizar las características clínicas y radiológicas del paciente con dorso curvo postural. Métodos: Se estudiaron 30 pacientes con diagnóstico de dorso curvado postural, siendo 22 hombres y ocho mujeres, con edades entre 10 y 20 años, encaminados por el ambulatorio del Grupo de Cirurgia da Coluna da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, SP, Brasil. Los pacientes se sometieron a la evaluación de la postura, pruebas especiales para detectar las retracciones musculares y examen radiográfico para medir las curvaturas de la columna vertebral por el método de Cobb. Resultados/Conclusiones: Se concluye que en el dorso curvado postural hay un aumento moderado de la cifosis torácica; las curvaturas lumbar y cervical no aumentan como mecanismo compensatorio; la cabeza se presenta anteriorizada y el hombro también es anteriorizado y con rotación medial; las retracciones musculares están presentes en los músculos isquiotibiales, flexores de la cadera, pectoral menor y aductores del hombro; la movilidad de la columna lumbar se conserva preservada y no hay relación entre la magnitud de la curvatura torácica y la retracción de los músculos isquiotibiales. Descriptores: Dorso; Cifosis; Lordosis; Postura; Musculoesquelético. INTRODUÇÃO Existem diversas alterações do aparelho locomotor em crianças na idade escolar, entre as quais destacamos a retração da musculatura isquiotibial e o desalinhamento da coluna vertebral no plano sagital. Tais alterações aparecem principalmente nas etapas de crescimento associadas à falta de exercício físico apropriado que mantenha o alongamento e a tonicidade muscular suficientes para protegerem a coluna vertebral e a postura corporal adequada. 1 A fase pré-puberal e a puberdade são períodos da vida nos quais a postura passa por ajustes e adaptações devido não só a mudanças corpóreas, mas também aos fatores psicológicos. 2 Fatores intrínsecos e extrínsecos podem influenciar a postura, como a hereditariedade, as condições físicas e socioeconômicas em que os indivíduos vivem, os fatores emocionais e alterações fisiológicas devido ao crescimento e desenvolvimento corpóreo. Além disso, os hábitos e o tipo de atividade também podem afetar a postura. A criança com maior estatura, por ser maior que os colegas ou por ser censurada, adota uma postura de ombros curvos e 1. Faculdade de Ciências Médicas, Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. O trabalho foi desenvolvido no Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Correspondência: Av.Cassiano Ricardo 101, apt. 113 B. Jd Aquarius. São José dos Campos, SP, Brasil debpfisio@gmail.com Recebido em 13/02/2014, aceito em 01/08/
2 ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS DO PACIENTE COM DORSO CURVO POSTURAL 189 voltados para baixo, arqueando as costas e o pescoço com intuito de se tornar menor. A adolescente com os seios exageradamente grandes tende a assumir uma postura inclinada para frente na tentativa de escondê-los e, deste modo, molda uma postura que pode persistir por toda sua vida tornando-se fixa. 2,3 Dentre as diversas alterações na coluna vertebral que podem estar presentes na infância e adolescência, destacamos o desalinhamento do plano sagital, em especial o aumento da cifose que muitas vezes é negligenciado e chamado de má postura. Tal aumento pode ser estrutural e importante, como na cifose de Scheuermann. 3 O dorso curvo pode ser encontrado em duas formas clínicas: o postural e a cifose de Scheuermann, também conhecido como cifose juvenil. Ambos podem frequentemente ser detectados na adolescência. 3,4 O postural é representado por aumento moderado da cifose torácica e da lordose lombar, autocorrigíveis, sem retrações musculares e manifestações dolorosas, além de não serem encontradas alterações radiográficas dos corpos ou discos intervertebrais. 3-5 Esta deformidade é caracterizada radiograficamente por um aumento do valor angular da cifose torácica geralmente maior que 45º. 3,6-10 Já a cifose de Scheuermann é representada por um aumento acentuado da cifose torácica, acompanhada de alterações radiográficas como o encunhamento de pelo menos 5 o de uma ou mais vértebras, placas terminais irregulares e estreitamento dos discos intervertebrais. Clinicamente também se evidencia um aumento da lordose lombar e cervical como mecanismo compensatório, além de contraturas musculares principalmente dos músculos isquiotibiais e peitorais. 3-4,9 Vários estudos são encontrados na literatura no que diz respeito a cifose de Scheuermann e sua repercussão clínica, 9-11 porém pouco é conhecido e descrito quanto ao dorso curvo postural. Desta forma, o objetivo deste estudo é avaliar as alterações clinicas e radiográficas presentes no paciente com dorso curvo postural. CASUÍSTICA E MÉTODO Foram incluídos neste estudo 30 pacientes com diagnóstico de dorso curvo postural, caracterizado por aumento da cifose torácica clínica e radiograficamente acima de 45 o, flexível e sem alterações radiográficas. 3,4,6 (Figura 1) Os pacientes apresentavam idades entre 10 e 20 anos e foram encaminhados pelo grupo de Cirurgia da Coluna Vertebral do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da FCMSCSP. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética de pesquisa em seres humanos desta Instituição sob n 314/04. Não foram incluídos neste estudo pacientes com dorso curvo de outras etiologias ou com diagnóstico de dorso curvo postural associado a doenças respiratórias e/ou ortopédicas de membros inferiores, ou submetidos a qualquer tipo de tratamento ortopédico ou fisioterápico. Todos os pacientes foram avaliados por meio de exames físico e radiográfico, realizados pela fisioterapeuta da Equipe, especialista em afecções da coluna vertebral há mais de dez anos. No exame físico foi realizada análise observacional da postura no plano sagital em posição ortostática conforme recomendado por Kendall et al., 12 utilizando-se um fio de prumo e testes especiais para identificação de retrações musculares como: ângulo poplíteo, teste de Thomas, teste do músculo peitoral maior, teste do músculo peitoral menor, teste dos músculos adutores do ombro, teste de Shober modificado e teste dedo-solo. Para verificar a retração da musculatura isquiotibial usou-se o teste do ângulo poplíteo. 13 O teste foi realizado com o paciente na posição supina, com o membro a ser testado posicionado em flexão de quadril e joelho a 90 o e o membro contralateral mantido em extensão. A seguir, o joelho a ser testado foi estendido passivamente até se encontrar a primeira resistência. Nesse ponto foi mensurado o ângulo por meio de um goniômetro padrão centralizado na linha articular. Consideramos como normal, ou seja, sem retração da musculatura isquiotibial, o ângulo poplíteo maior que 157 o. 14,15 Figura 1. Avaliação radiográfica e clínica de um paciente com dorso curvo postural. O teste de Thomas foi usado para avaliar a retração em flexão do quadril. Com o paciente deitado em posição supina, o examinador flexionou os quadris em direção ao tronco até que a coluna se aplanasse na mesa de exame. A seguir o membro a ser testado foi estendido em direção à mesa, enquanto o outro permaneceu em flexão junto ao tronco. Se o quadril do membro testado não se estendesse totalmente, o teste era considerado positivo e o ângulo formado entre a mesa e o membro era medido através de um goniômetro, no qual o braço fixo permanecia paralelo à mesa e o braço móvel alinhado com o fêmur, caso contrário a mensuração era registrada como 0 o. 12,13,16 Para identificar a retração do músculo peitoral maior, peitoral menor e do grupo dos adutores do ombro foi utilizado o método descrito por Kendall et al. 12 No teste do músculo peitoral maior o paciente permaneceu na posição supina, joelhos fletidos e coluna lombar retificada sobre a mesa, o examinador posicionou o membro superior do paciente a 90 o de abdução para testar fibras superiores e a 135 o para fibras inferiores, mantendo o cotovelo estendido e o ombro em rotação lateral. Caso o membro testado não encostasse na mesa de exame era sinal de retração, o que deveria ser medido, em centímetros, usando-se uma fita métrica partindo do epicôndilo lateral até a mesa. 12 No teste do músculo peitoral menor o paciente permaneceu na posição supina, membros superiores ao lado do corpo, joelhos fletidos e coluna lombar retificada sobre a mesa. O examinador se colocou em pé na cabeceira da mesa e observou a posição dos ombros. No caso de retração, o ombro ficaria anteriorizado e não encostaria na mesa de exame. 12 Para o exame do grupo dos adutores de ombro (redondo maior, grande dorsal e romboide), o paciente permaneceu na posição supina com membros inferiores em flexão. Os ombros foram flexionados até o final da amplitude mantendo a coluna lombar retificada sobre a mesa. Caso houvesse retração, a articulação do ombro não seria completamente flexionada e os membros superiores não encostariam à mesa de exame. Esta retração foi medida pela distância entre o epicôndilo lateral e a mesa de exame por meio de fita métrica. 12 O teste de Shober modificado por Macrae e Wright, 17 em 1969 foi usado com a finalidade de avaliar a flexibilidade da coluna lombar Para o exame, o paciente permaneceu na posição ortostática, e em sua coluna marcou-se, com caneta, um ponto na espinha ilíaca
3 190 postero-superior. Uma segunda marca foi realizada 10 cm acima e uma terceira cinco centímetros abaixo. Solicitou-se ao paciente que flexionasse o tronco o máximo possível mantendo os joelhos estendidos e mensurou-se a distância entre a segunda e a terceira marca. A diferença entre esta mensuração e a inicial correspondia à flexibilidade da coluna lombar. Considerou-se normal o resultado igual ou maior que sete centímetros O teste dedo solo avalia a flexibilidade dos músculos eretores da espinha e isquiotibiais. Para sua realização o paciente flexionou o tronco buscando tocar o solo com a ponta do dedo médio mantendo os joelhos totalmente estendidos. A distância entre a ponta do dedo médio e o solo foi mensurada com fita métrica. O valor considerado como normal foi de até 5 cm Para avaliação radiográfica foi realizada radiografia panorâmica de perfil da coluna a uma distância de 1,5 metros utilizando um filme de 35x91cm. O paciente permaneceu em posição ortostática com membros superiores elevados a 90 o apoiados em um suporte e foi instruído a manter a cabeça ereta e o olhar para frente. Foram mensurados os ângulos da lordose cervical, cifose torácica e lordose lombar pelo método de Cobb. 22 A lordose cervical foi medida tendo como referência a placa terminal inferior de C2 e C6 e adotamos como normal o valor de 34 o. 23 Acima deste valor foi considerada hiperlordose e abaixo de 5 o foi considerada retificada. Para a mensuração da cifose torácica foram usadas, como parâmetro, a placa terminal superior de T3 e a placa terminal inferior de T12 sendo considerada como normal a cifose torácica entre 20 o e 45 o segundo método de Cobb. 3,6-8 A lordose lombar foi mensurada utilizando a placa terminal superior L1 e a placa terminal inferior de L5, considerando-se como normal os valores entre 20 o à 60 o. 8,10 Análise Estatística Foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences) na versão 17,2. Foi aplicado o teste de Wilcoxon para avaliar possíveis diferenças entre os lados direito e esquerdo das variáveis ângulo poplíteo, teste de Thomas e adutores do ombro e análise de correlação de Spearman para verificar a relação entre as variáveis. Adotamos o nível de significância de 5% (α=0,050). RESULTADOS Na caracterização da nossa amostra tivemos 30 pacientes avaliados, sendo 22 do gênero masculino (73%) e oito do feminino (27%). A média de idade foi de 14 anos e sete meses (DP=dois anos e sete meses). Em relação às alterações posturais avaliadas no plano sagital encontramos 29 pacientes com a cabeça anteriorizada; 13 apresentaram a região cervical com hiperlordose e 11 com posicionamento normal; 28 com ombros anteriorizados e rotação interna; 23 com hiperlordose lombar; 23 com anteversão da pelve e 20 dos pacientes apresentavam joelhos na posição normal. (Tabela 1) Ao avaliar a igualdade entre os lados direito e esquerdo das variáveis: ângulo poplíteo, teste de Thomas e adutores do ombro, não encontramos diferenças estatisticamente significantes entre os lados, o que possibilitou a análise estatística ser realizada com o valor médio das mensurações do lado esquerdo e direito. As medidas resumo e o respectivo intervalo de confiança das variáveis paramétricas, testes para identificação de retrações musculares e exame radiográfico estão descritos na Tabela 2. Em relação a frequência e o percentual do exame radiográfico encontramos na curvatura cervical apenas dois pacientes (6%) apresentando hiperlordose, 27 pacientes (91%) hipolordose e um (3%) dentro dos padrões de normalidade. Na lombar, quatro pacientes (13%) apresentando um aumento da lordose lombar, nenhum hipolordose, e 26 (87%) dentro dos padrões de normalidade. Encontramos retrações musculares em 93% dos pacientes no Tabela 1. Avaliação da postura no plano sagital número de casos e porcentagem. Região Posição Frequência Percentual (%) Cabeça Anteriorizada Normal 1 3 Hiperlordose Cervical Hipolordose (retificada) 6 20 Normal Ombros Anteriorização e rotação interna Normais 2 7 Hiperlordose Lombar Hipolordose (retificada) 2 7 Normal 5 17 Anteversão Pelve Retroversão 2 7 Normal 5 17 Joelho direito Hiperextensão Normal Joelho Hiperextensão esquerdo Normal Tabela 2. Medidas descritivas dos testes de avaliação de retração musculares e exames radiográficos (em graus). Intervalo de confiança Variável n Mínimo Máximo Média Desvio- (95%) -padrão Limite inferior Limite superior T. Ângulo poplíteo T. Thomas T. músculos adutores do ombro T. de Shober modificado T. dedo-solo cervical torácica lombar teste do ângulo poplíteo, 87% no teste de Thomas, 97% no teste do músculo peitoral menor, 93% no teste dos músculos adutores do ombro, 53% no teste de Shober modificado e 93% no teste dedo-solo. (Tabela 3) Ao correlacionarmos as variáveis estudadas encontramos correlação estatisticamente significante (p= 0,011 e r= 0,456) apenas entre o teste de Shober modificado e a curvatura lombar. Para as demais variáveis de interesse nesse estudo não encontramos correlação estatisticamente significante. (Tabela 4) DISCUSSÃO Poucos são os trabalhos na literatura que descrevem as características clínicas e radiográficas que envolvem o dorso curvo postural. Por outro lado, numerosos são aqueles que abordam a cifose de Scheuermann, não só nos seus aspectos clínicos, mas também radiográficos e terapêuticos.
4 ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS DO PACIENTE COM DORSO CURVO POSTURAL 191 Tabela 3. Descrição da frequência e porcentagem de retrações musculares mensurados por testes especiais. Testes de retrações musculares n Frequência Percentual (%) T. Ângulo poplíteo T. Thomas T. músculo peitoral maior T. músculo peitoral menor T. músculos adutores do ombro T. de Shober modificado T. dedo Solo Tabela 4. Correlação entre a curvatura torácica e demais curvaturas e testes de retrações musculares usando o coeficiente de correlação de Spearman. Variável 1 Variável 2 Coeficiente de correlação Significância (p) torácica Teste do ângulo poplíteo -0,268 0,153 Teste de Thomas 0,361 0,050 Teste dedo-solo 0,236 0,209 Teste de Shober modificado -0,127 0,502 lombar 0,152 0,423 cervical 0,28 0,125 Alguns trabalhos mencionam características clínicas do dorso curvo postural como ombros encurvados para frente, projeção anterior da cabeça, abdução escapular. 24,25 Outros também citam a presença do aumento da lordose lombar. 3,4,6 Na análise observacional da postura no plano sagital do nosso estudo encontramos 97% dos pacientes apresentando cabeça anteriorizada, 93% com ombros anteriorizados e rodados internamente, 67% dos joelhos dentro dos padrões de normalidade e 33% com hiperextensão. Em relação à curvatura cervical encontramos 43% dos pacientes com hiperlordose, 37% normal e 20% com hipolordose. Na coluna lombar encontramos 77% com hiperlordose, 17% normal e 7% hipolordose. Um achado que nos chamou a atenção foi a presença de hiperextensão de joelhos em vários pacientes, fato este que não foi citado em nenhum estudo sobre o dorso curvo postural. Penha et al. 2 em seu estudo sobre as alterações posturais em estudantes de 7 à 10 anos mencionou que a hiperlordose lombar e a hiperextensão dos joelhos são alterações posturais comuns nesta faixa etária em crianças normais e que isso se deve, principalmente, à fraqueza abdominal que leva a um desequilíbrio lombopélvico. Vários autores relatam que clinicamente o dorso curvo postural não está associado a retrações musculares, 3,4,25 entretanto Bado et al. 26 em seu estudo de 800 crianças e adolescentes consideradas normais, todos aqueles com dorso curvo, funcionais ou rígidos, apresentaram retração de isquiotibiais, embora o grau de retração variava conforme a gravidade do dorso curvo. Neste estudo não é mencionado o método utilizado para avaliar a retração. O método de mensuração da retração dos isquiotibiais usado neste estudo foi o teste do ângulo poplíteo, que é um método reconhecido na literatura e bastante utilizado na prática clínica O valor de normalidade do ângulo poplíteo é variável na literatura Em nosso estudo a média foi 135 o, com um intervalo de confiança (IC) de 95% (variando de 131 a 139 o ). Constatamos que os valores considerados normais na literatura estão sempre superiores à média e ao intervalo de confiança da nossa amostra. Adotando, como normal, valores acima de 157 o27 encontramos retração dos isquiotibiais em 97% dos pacientes concordando assim com os achados de Bado et al. 26 Outro método utilizado para avaliar a retração dos isquiotibiais é o teste dedo-solo, 19 porém representa um teste menos específico pelo fato de avaliar também a flexibilidade da coluna. 20 A média encontrada em nosso estudo foi de 16 cm, variando de 13 a 19 cm (IC=95%). Nos estudos realizados em indivíduos normais os valores médios encontrados foram: 4cm 19, 5 cm. 1,21 Ao adotarmos como normal o valor de até 5 cm acima do solo, 93% dos pacientes apresentaram um teste positivo indicando segundo a literatura retração dos isquiotibiais e diminuição da flexibilidade da coluna. O teste de Shober modificado tem por finalidade avaliar a flexibilidade da coluna lombar. 17,18 A média neste estudo foi de 7 cm o que corresponde à média encontrada por Moll e Wright 18 em seu estudo em indivíduos normais. O IC de 95% variou de 6 a 7 cm, portanto o valor considerado normal na literatura faz parte deste intervalo. Assim sendo 53% dos pacientes apresentaram valores iguais ou maiores que 7 cm, o que corresponde a mobilidade da coluna lombar normal. Em nosso estudo, verificou-se por meio do teste de Shober modificado mobilidade normal da coluna lombar na maioria dos pacientes e no teste do ângulo poplíteo, retração dos isquiotibiais também na maioria dos pacientes, inferindo que o fator que impediu o dedo de alcançar o solo foi a presença da retração dos isquiotibiais. Com relação à existência ou não de retração do músculo iliopsoas no paciente com dorso curvo postural, apenas Kendall et al. 12 relata existir enquanto que Tachdjian 4 se posiciona contrariamente. Em nosso estudo a média encontrada no teste de Thomas, o qual avalia a retração dos músculos flexores do quadril, foi de 10 o (IC= 95% variando de 7,5 o a 12 o ). A média e o IC desta amostra estão acima do valor considerado normal que é de 0 o. Desta forma ocorreu presença de retração muscular nos flexores do quadril em 87% dos pacientes, o que concorda com Kendall et al. 12 Sobre os músculos peitoral maior e menor somente Iafusco 24 menciona a presença de retração desses grupos musculares. Em nosso estudo a retração do músculo peitoral menor ocorreu em 97% dos pacientes e a do músculo peitoral maior em nenhum deles. O método usado para avaliação desses grupos musculares foi qualitativo, o que o torna mais subjetivo e sujeito a erros, contudo nenhum outro método encontrou-se na literatura que pudesse expressar de maneira quantitativa o verdadeiro comprimento do músculo. Na literatura não encontramos estudos com relação a retração do grupo dos músculos adutores do ombro. Ao aplicarmos o teste que verifica a retração deste grupo muscular encontramos a média de seis cm e o (IC = 95%, variando de 5 a 8 cm). A média e o IC desta amostra estão acima do valor considerado normal que é de 0 cm. A presença de retração muscular dos adutores do ombro foi encontrada em 93% dos pacientes. No exame radiográfico a média da cifose torácica foi de 57 o (IC = 95%, variando de 54 a 60 o ) o que corrobora com os achados na literatura de que no dorso curvo postural o aumento da curvatura torácica geralmente é leve não ultrapassando 60 o. 3,4 A avaliação radiográfica da lordose lombar apresentou valor médio de 48 o, estando 87% dos pacientes com valores dentro dos padrões de normalidade (20 a 60 o ), 13% com hipolordose e nenhum apresentava hiperlordose, contrariando assim os achados da literatura que afirmam ocorrer no dorso curvo postural um aumento da lordose lombar como mecanismo compensatório. 3,4,10,25 É importante ressaltar que estes autores apenas citam a presença do aumento da lordose sem, em nenhum momento, detalhar de que maneira chegaram a essa conclusão. Na avaliação da lordose cervical a maioria dos pacientes (91%) apresentaram hipolordose (média da lordose cervical de 17º) quando comparamos nossos achados aos estudos realizados em indivíduos normais. 23,27 Os resultados da mensuração radiográfica apresentaram algumas diferenças em relação aos encontrados na avaliação da postura. A provável explicação para este fato talvez seja a subjetividade da avaliação postural que, apesar da utilização do fio de prumo e das referências anatômicas, ainda acaba sendo um método sujeito a erros e variações. É de extrema importância o exame físico, em especial a avaliação postural, contudo o exame radiográfico e as devidas mensurações através do método de Cobb devem sempre ser realizados. Não encontramos estudos sobre a correlação entre as curvaturas
5 192 da coluna vertebral no plano sagital do dorso curvo postural, assim como muito pouco é estudado em indivíduos normais. Hardacker et al. 27 estudando 100 voluntários normais e constatam que o alinhamento sagital torácico está fortemente correlacionado com as mudanças no alinhamento cervical e lombar, porém Vedantan et al. 28 não encontram correlação entre cifose torácica e lordose lombar. Em nosso estudo ao correlacionarmos a curvatura torácica com as demais curvaturas da coluna no plano sagital não encontramos correlação significativa. Isso indica que o aumento da curvatura torácica não levou ao aumento da curvatura lombar e consequentemente ao aumento da curvatura cervical como se esperava. Ao correlacionarmos a magnitude da curvatura torácica com os testes de retração dos isquiotibiais, como o ângulo poplíteo e o dedo-solo, não encontramos resultado significante o que não confirma nossa hipótese inicial. Provavelmente a retração dos isquiotibiais esteja relacionada à gravidade do dorso curvo no que diz respeito à rigidez da curva conforme mencionou Bado et al. 26 Correlação significante foi encontrada apenas entre o teste de Shober modificado e a curvatura lombar indicando que quanto maior a mobilidade da coluna lombar maior será a magnitude da curvatura lombar. CONCLUSÕES No dorso curvo postural existe um aumento da cifose torácica; as curvaturas lombar e cervical não aumentam como mecanismo compensatório; a cabeça apresenta-se anteriorizada e os ombros anteriozados e rodados internamente; as retrações musculares estão presentes nos músculos isquiotibiais, iliopsoas, peitoral menor e adutores do ombro; a mobilidade da coluna lombar está preservada e não existe relação entre a magnitude da curvatura torácica e a retração dos músculos isquiotibiais. Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo. REFERÊNCIAS 1. 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