Negociação de enquadres na produção de humor em um talk show
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- Orlando Neto Rios
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1 Negociação de enquadres na produção de humor em um talk show Krícia Helena Barreto 1 RESUMO: Objetivamos analisar a co-construção/negociação de enquadres, sob o enfoque da Sociolinguística Interacional, ao longo de uma entrevista humorística. A noção de enquadre (frame) liga-se à noção de esquemas, ou seja, de expectativas cognitivas que trazemos para as interações. Não existe atividade que não seja enquadrada e os participantes de um encontro social estão continuamente reenquadrando a conversa, modificando a interação em andamento. Na entrevista, constataram-se várias mudanças de enquadre tendo como efeito a produção de humor. A regularidade e coerência entre essa meta comunicativa e a construção de enquadres no curso da interação foram o foco desta análise. PALAVRAS-CHAVE: Sociolinguística Interacional; Frames; Pistas de Contextualizaçao; Humor ABSTRACT: This work aims to analyze the co-construction/negotiation of frames, from the point of view of Interactional Sociolinguistics, throughout a comic interview. The notion of frame is linked to the notion of schemas, i.e., cognitive expectations brought to interactions. There is no activity that is not framed and participants in a social encounter are continuously reframing the conversation, thus changing the interaction in progress. In the interview, it could be verified several shifts of frame aiming to produce humor. The regularity and consistency between this communicative goal and the construction of frames in the course of interaction were the focus of this analysis. KEYWORDS: Interactional Sociolinguistics; Frames; Contextualization Cues; Humor Introdução A noção de enquadre (frame) está bastante ligada à noção de esquemas, ou seja, de expectativas cognitivas que trazemos para as interações. Os frames organizam nosso conhecimento de mundo, de modo que, ao entrar em cena, nós já temos nossas expectativas pré-estabelecidas em relação, por exemplo, ao que esperar dos participantes, do tom da troca interacional, do grau de formalidade do encontro, do assunto, do comportamento padrão, etc (ressalvando, contudo, que essas expectativas operam na forma de hipóteses sobre a situação, podendo ou não ser confirmadas e/ou modificadas). 1 Mestranda em Linguística pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Contato: kriciabarreto_@hotmail.com
2 Todas as nossas ações são organizadas em esquemas, e a grande importância da noção de frame, em uma perspectiva interacional da linguagem, é a de que não existe atividade que não esteja enquadrada, ou seja, as ações nunca ocorrem fora de um enquadre, e os participantes de um encontro social estão continuamente reenquadrando a conversa (uma vez que, ao longo de uma atividade de fala, vários frames podem entrar em jogo, como veremos mais adiante) e modificando, assim, a interação em andamento (RIBEIRO & ROYLE, 2002, p. 38). Este trabalho tem por objetivo analisar uma entrevista feita em 25 de junho de 2009 pelo jornalista Jô Soares em seu programa na Rede Globo com o ator, humorista e apresentador Marcelo Adnet. Por se tratarem de dois comediantes (tanto o entrevistado quanto o entrevistador), puderam ser constatadas várias mudanças de enquadre ao longo do evento principal (entrevista), com o objetivo de realizar o humor. O foco deste trabalho será dado justamente à co-construção/negociação de enquadres, com a intenção de verificar se há regularidade e coerência entre essa meta comunicativa, a de produzir o humor, e a construção de enquadres no curso da interação. Além disso, será verificada, através da observação da reação dos interlocutores e da plateia do programa, a necessidade de conhecimento contextual prévio partilhado por todos os presentes, bem como pelos telespectadores do programa, para a correta compreensão dos enquadres criados pelos participantes, entrevistador e entrevistado. 1. Pressupostos Teóricos Deborah Schiffrin (1994), ao revisitar os trabalhos de Gumperz (1982) na antropologia e Goffman (1974) na sociologia, reafirma a importância de forças sociais e culturais na linguagem. A Teoria Geral da Comunicação Verbal de Gumperz liga linguagem, cultura, sociedade e self ao conceito de Pistas de Contextualização, que seriam os aspectos de linguagem e comportamento (sinais verbais e não-verbais) que relacionam o que é dito ao conhecimento contextual que contribui para as pressuposições necessárias para a inferência pretendida. E é exatamente porque as pistas de contextualização são aprendidas durante longos períodos de contatos próximos, face a face, é que várias pessoas nas sociedades modernas, culturalmente diversas e socialmente heterogêneas têm a possibilidade de interagir ainda que possuam poucos benefícios ou pistas partilhadas (SCHIFFRIN, 1994, p ).
3 Gumperz ressalta, ainda, que as características individuais da linguagem afetam não somente a qualidade expressiva, mas também os sentidos básicos dos enunciados. Dessa forma, o conceito de competência comunicativa para a Sociolinguística Interacional inclui o conhecimento de convenções linguísticas e comunicativas que os falantes devem possuir para criar e sustentar uma cooperação conversacional. Schiffrin ainda trabalha com o conceito de frame de Goffman, através do qual as pessoas estruturam experiências. O trabalho do sociólogo enfatiza como a organização da atividade de enquadramento é socialmente situada. Tanto Gumperz quanto Goffman postulam que as pistas de contextualização podem alterar toda a estrutura da fala, não somente do significado de uma mensagem. (SCHIFFRIN, 1994, p. 105). Para ilustrar, podemos citar o fato de intenções diferentes poderem ser expressas através de pequenas mudanças no modo como as elocuções são apresentadas. Em seu trabalho, Schiffrin denomina esquema de participação como sendo, resumidamente, a maneira como o falante e o ouvinte se relacionam com suas enunciações e um com o outro. Outros autores que trabalham com a noção de frame são Ribeiro e Royle (2002), que assim o definem: O conceito de frame refere-se a estruturas de expectativas que afetam a forma como interpretamos (ou reinterpretamos), lembramos, categorizamos aquilo que conhecemos. Capta também o que dizemos, como intencionamos dizê-lo, a maneira como é percebida pelo ouvinte, e como construímos atos (linguísticos ou de outra natureza) em conjunto com o interlocutor. (p. 36) As autoras reforçam a idéia de expectativas trazidas com a estrutura do frame: nós prevemos como serão novas experiências e relações e as interpretamos de acordo com nosso conhecimento prévio. Bateson (1972 apud Ribeiro & Royle, 2002, p. 38) afirma que todos os movimentos comunicativos são enquadrados através de mensagens implícitas sobre como o conteúdo deve ser interpretado, e define as seguintes premissas comunicativas e psicológicas através das quais os participantes definem uma atividade de fala: a) Qualquer sinal pode ter mais de uma interpretação; b) Uma interpretação exclui outra; c) Não há comunicação sem metacomunicação (mensagens não podem ser entendidas a não ser que estejam enquadradas); d) Os frames estão embutidos uns nos outros; e) A atividade de enquadrar é dinâmica.
4 Frame consiste, portanto em princípios de organização que governam eventos ao menos aqueles denominados sociais e nosso envolvimento subjetivo com eles (GOFFMAN, 1974 apud RIBEIRO & ROYLE, 2002, p. 38). Do ponto de vista interacional de frame, temos que o contexto é inseparável da interação. Frame é um princípio organizador que depende de pressuposições contextuais (conhecimento prévio), os participantes acionam apenas aquilo que é relevante para o contexto, e este, por sua vez, nunca é dado a priori, mas sempre emerge da interação. Os interactantes ajudam a criar o contexto no qual eles agem; eles remodelam dinamicamente o contexto que fornece organização para suas ações dentro da interação (GOODWIN & DURANTI, 1992 apud RIBEIRO & ROYLE, 2002, p. 39). As autoras chamam atenção, ainda, para a noção de tópico discursivo, como sendo um componente essencial na definição de fronteiras contextuais e parte da definição de uma situação interacional: O tópico afeta e é afetado pelo frame interativo. Na análise da conversação, descobrir qual é o tópico, por que ele é relevante e quais participantes o desenvolvem, ajuda a entender como enquadramentos específicos são criados e sustentados. Se falantes evitam tópicos controversos como religião ou política, é para evitar reenquadrar sua fala como discussão exaltada; se estranhos conversam sobre o tempo, é para enquadrar sua fala como sociável e não-ameaçadora. (RIBEIRO & ROYLE, 2002, p. 40) A interrelação entre frame e tópico tem implicações na coerência de uma enunciação: a coerência é atingida quando ambos os participantes dividem um entendimento de uma conversa/atividade em curso, seus propósitos e formas de interação (Ribeiro, 1994 apud Ribeiro & Royle, 2002, p. 41). Há, ainda, a noção de Footing, trazida por Goffman (1981), que diz respeito ao alinhamento que nós assumimos para nós mesmos e para os outros presentes como expresso na maneira como conduzimos a produção ou recepção de um enunciado; tem a ver com a maneira como o falante se relaciona com seu enunciado, como ele se posiciona em relação à informação. Footings e mudanças de footing são constituídos e evidenciados em grande parte através de mudanças no sistema de participação da fala, uma complexa relação entre falante, ouvintes e enunciados (Goffman, 1981 apud Ribeiro & Royle, 2002, p. 41). Temos, assim,
5 que o frame é construído através de participantes sinalizando seu próprio footing, reconhecendo e ratificando o footing do outro. Tannen e Wallat (1998) fizeram a distinção entre esquemas de conhecimento (entidades cognitivas que consistem nas expectativas dos participantes em relação a pessoas, objetos, eventos e ambientes no mundo; são as mensagens calcadas na informação pressuposta, compartilhada ou não pelos interagentes) e enquadres interacionais (referem-se às maneiras como as pessoas sinalizam e interpretam qual atividade estão co-construindo; são as mensagens calcadas nas múltiplas relações que os participantes co-constroem em um encontro face a face). Quando esquemas de conhecimento não são compartilhados, o fluxo de troca pode ser interrompido e o enquadre interacional do momento pode vir a ser modificado. Os enquadres interativos sinalizam o contexto de fala ou seja, o contexto no qual o discurso é construído (aqui, a noção de contexto deixa de ser apenas a descrição fixa dos participantes - quem fala para quem -; dos tópicos - sobre o que -; do cenário - em que lugar -; do momento - quando - e passa a ser, sobretudo, a forma como os interlocutores criam e negociam, a cada instante, um contexto interacional através do discurso) (cf. GOFFMAN, 1974). Tais enquadres interacionais referem-se à definição do que está acontecendo em uma interação, sem a qual nenhuma elocução (movimento, ou gesto) poderia ser interpretada. Para compreender qualquer elocução, um ouvinte (e um falante) deve saber dentro de qual enquadre ela está inserida. A noção interativa de enquadre refere-se à percepção de qual atividade está sendo encenada, de qual sentido os falantes dão ao que dizem. Dado que este sentido é percebido a partir da maneira como os participantes se comportam na interação, os enquadres emergem de interações verbais e não-verbais e são por elas constituídos (TANNEN & WALLAT, 1998, p ). Os esquemas de conhecimento, por sua vez, referem-se às expectativas dos participantes acerca das pessoas, objetos, eventos e cenários no mundo. Mesmo o significado literal de uma elocução só pode ser entendido em relação a um modelo de conhecimento anterior. A única maneira de alguém compreender qualquer discurso é através do preenchimento de informações não proferidas, decorrente do conhecimento de experiências anteriores no mundo.
6 2. Análise dos dados Tannen e Wallat (1998) observaram que uma discrepância nos esquemas (de expectativas) pode gerar mudança de enquadres. As pessoas identificam os enquadres em interação pela associação de pistas linguísticas e paralinguísticas e na interação entre enquadres e esquemas. É importante ressaltar que todos os participantes em qualquer interação colaboram para a negociação dos enquadres, e estes, por sua vez, ocorrem através do que se chama laminação, ou seja, simultaneamente, sem interrupções na mudança de um enquadre para o outro. Tendo as noções acima em mente, foram selecionados alguns segmentos da entrevista com o humorista Marcelo Adnet para a análise de mudanças de enquadre. Cabe lembrar que, para uma análise mais precisa dos elementos linguísticos e metalinguísticos, fez-se indispensável a observação do vídeo da entrevista. A primeira análise diz respeito à seguinte conversa: JÔ: Aprendeu o alfabeto cirílico. MARCELO: O alfabeto cirílico. JÔ: Cê aprendeu o alfa...alfabe... MARCELO: Aprendi, rapidinho. É fácil, isso aí...você que está em casa [para a câmera] também pode...aprender também... O entrevistado, em sua última fala, realiza uma mudança de alinhamento com o assunto corrente da entrevista à medida que se dirige para a câmera e, através do tom de voz e do conteúdo de sua fala, cria um novo enquadre, saindo da entrevista padrão, passando para uma imitação de um vendedor em um comercial para a televisão. Era requerido que os ouvintes pudessem identificar o script de um programa de propaganda televisivo para captar o novo frame: apresentadores de tais programas frequentemente dizem que o produto à venda é muito fácil de ser utilizado para incentivar seus clientes a comprá-lo. E era nesse novo frame que se encontrava a ironia do segmento e seu consequente humor. O segundo segmento observado foi o seguinte: JÔ: E você jogava [no jogo do bicho]? MARCELO: Jogava, jogava, jogava...bom, num vo...é porque, é crime isso? JÔ: Eu vou...é...não...é...é contravenção. MARCELO: Ah, então tudo bem. (risos) MARCELO: Crime é que é problema. JÔ: Cê sabe o que é...o que é...uma contravenção, não é isso?
7 MARCELO: Uma contravenção é um nome mais bonito que crime, né? JÔ: É, pois é. Você põe um vaso na janela... MARCELO: Sim. JÔ:...o vaso cai, cai na cabeça de uma pessoa, mata essa pessoa. MARCELO: Que bacana!(risos) JÔ: É. É uma contravenção. MARCELO: Não é um crime? JÔ: Não. Porque você só...você só botou o vaso, num tem, num... MARCELO: É só o dono do vaso, eu não sabia, é. JÔ: Agora se você pegar o vaso, esperar a pessoa chegar... JÔ: Pá! Aí é crime. Neste momento, a mudança de enquadre ocorre por parte do entrevistador, que quebra as expectativas em relação ao seu papel discursivo nesse evento. Em vez de continuar fazendo perguntas, incitando o outro a dar informações, ele age como um tutor, explicando o significado da palavra contravenção. A mudança de alinhamento ocorre também com o entrevistado, que passa a fazer perguntas ao entrevistador. Essa mesma movimentação do enquadre ocorreu no trecho a seguir, no qual o entrevistador, em vez de incitar o convidado a responder questões, apenas abre espaço para que ele mesmo dê informações ao convidado: JÔ: Agora, qual é a maneira de você evitar de jogar no bicho e evitar de sofrer caso aconteça isso de... MARCELO: han... JÔ: Quer dizer...esse número não pode dar de nenhuma maneira. MARCELO: Ah, evitar? É jogar baixo, né? Num jogar muito alto... JÔ: Nãao. MARCELO:...porque se não o cara não vai...não vai querer...qual é a maneira então? JÔ: É jogar nos dias que corre a loteria federal. Que nesses dias... MARCELO: Vale pro Brasil inteiro... JÔ: É... MARCELO: Exatamente. Aí o Jô é um bicheiro de primeira. (risos) JÔ: (risos) MARCELO: Sabe tudo, claro. JÔ: No dia que corre...não, eu nunca joguei no bicho. De pura... MARCELO: Claro, eu também não. JÔ: (risos) MARCELO: Cultura geral. JÔ: Por curiosidade...porque eu já escrevi livro falando do jogo do bicho... No quarto exemplo, ocorre algo semelhante com a negociação de enquadres e reenquadres do primeiro trecho selecionado. O entrevistado, ao perceber que o assunto sobre o jogo do bicho está se estendendo muito, brinca com o fato, alinhando-se novamente à
8 câmera, mudando o tom de voz e criando o enquadre de uma propaganda de divulgação do jogo do bicho: JÔ:...e eu sei que tem isso...se você jogar...acho que é quartas e sábados? MARCELO: É quartas e sábados. Tamo divulgando aqui (risos) JÔ: Nesse dia...quarta e sábado (risos) MARCELO: [para a câmera] Todas as quartas e sábados, olha, às 18 horas, tá? MARCELO: A loteria federal do jogo do bicho. (risos) O exemplo abaixo ilustra o realinhamento do entrevistado, em sua fala, com a fala dos bombeiros via discurso reportado, uma vez que ele modifica sua voz para imitar o homem ao telefone. Os ouvintes, ao utilizarem seu conhecimento de mundo para perceber a mudança de alinhamento, poderiam perceber a mudança de enquadre do entrevistado, que, ao imitar os acontecimentos em vez de apenas narrá-los, realinha sua enunciação com as enunciações de sua história, de modo a produzir o humor: MARCELO: E a gente com celular lá em cima, aí os apitos foram ficando mais longe, mais longe...aí [os bombeiros] ligaram e disseram oh, os bombeiros tavam quase se perdendo também e decidiram voltar. MARCELO: Aí no dia seguinte nascendo o sol, a gente emocionado, né, fizemos muito, assim...bebendo um golinho d água a cada meia hora pra num acabar. Aí quando a gente desceu, quando a gente chegou no fim da trilha, que a gente pegou o carro, o bombeiro ligou estamos subindo. Considerações Finais O talk show é uma atividade de fala que se localiza entre as esferas do jornalismo e do entretenimento. Silva (2009) verifica que os telespectadores deste tipo de atividade o interpretam a partir do seu modo de dizer e não somente pelos seus conteúdos e ideologia. Os intercâmbios entre informação e entretenimento se expressam no modo de endereçamento e no padrão interacional das entrevistas que ocorrem nesse tipo de programa. O jornalista/apresentador media e organiza a interação e, diferentemente do que ocorre em entrevistas puramente jornalísticas, a postura [do apresentador] diante dos convidados é de uma permanente negociação por maior espaço de fala, de modo a explorar os aspectos mais curiosos e humorísticos de cada entrevistado. (...) A plateia, por sua vez, promove uma espécie de interlocução (ainda que
9 restrita) à performance do apresentador, (...) e se engaja na cena por meio de suas reações: riso, silêncio, aplausos. (Silva, 2009, p. 9) Na entrevista analisada, percebemos que as mudanças de enquadre fizeram com que o evento em questão se tornasse menos rígido em suas regras, e pudesse, por vezes, aproximarse de um bate papo informal, com ambos os participantes colaborando com informações novas, desalinhando-se das expectativas sobre os papéis de entrevistado e entrevistador. O frame principal foi o da entrevista em si, cuja estrutura é caracterizada por perguntas e respostas, sendo papel do entrevistador abrir e fechar a entrevista, fazer perguntas, suscitar a palavra ao outro, solicitar a transmissão de informações, introduzir novos assuntos, orientar e reorientar a interação; e papel do entrevistado responder e fornecer as informações pedidas (MARCUSCHI, 2003). Porém, nos segmentos analisados neste trabalho, percebemos que por vezes esse papel entre entrevistado e entrevistador foi mudado. O entrevistador mudou o frame da entrevista (segundo o qual sua função seria a de pedir informação ao entrevistado) para agir ora como tutor, explicando o significado de palavras ao entrevistado, ora como provedor de informações sobre determinada situação/realidade. Tais mudanças foram acatadas pelo entrevistado que se alinhou ao papel de receptor das informações passadas pelo entrevistado. Outra mudança perceptível em alguns trechos foi a criação de um novo enquadre por parte do entrevistado ao dirigir-se para a câmera (como se estivesse falando diretamente com o público do programa, e não mais com o entrevistador), mudar seu tom de voz e fazer uma imitação de vendedor em comerciais televisivos. Para a percepção desse novo frame (e a consequente realização do seu humor) os telespectadores deveriam ter conhecimento prévio desse gênero discursivo, de modo a entender toda a movimentação do humorista entrevistado. Os conflitos dos enquadres que ocorreram na entrevista, assim como a pressão para mantê-los, e, ainda, a rapidez e o timing para realizar os reenquadres foram os grandes responsáveis pela presença do humor nas falas dos participantes. Referências COUPER-KUHLEN, Elizabeth & SELTING, Margret. Introducing Interactional Linguistics. In: COUPER-JUHLEN, Elizabeth & SELTING, Margret (eds). Studies in Interactional Linguistics. John Benjamins Publishing Co., DURANTI, Alessandro & GOODWIN, Charles (eds). Rethinking Context: language as an interactive phenomenon, 1992, p
10 GOFFMAN, Erving. Footing. In: RIBEIRO, Branca Telles & GARCEZ, Pedro M. (Orgs). Sociolinguística interacional: Antropologia, Linguística e Sociologia em Análise do Discurso. Porto Alegre: AGE Editora, 1998, Cap. 5, p GUMPERZ, John J. Convenções de Contextualização. In: RIBEIRO, Branca Telles & GARCEZ, Pedro M. (Orgs). Sociolinguística interacional: Antropologia, Linguística e Sociologia em Análise do Discurso. Porto Alegre: AGE Editora, 1998, Cap. 6, p GUMPERZ, John J. On interactional sociolinguistic method. In: SARANGI & ROBERTS (eds). Talk, Work and Institutional Order. Berlin, New York: Mouton de Gruyter, 1999, p LEVINSON, Stephen C. Activity types and language. In: DREW, Paul & HERITAGE, John (eds). Talk at work: interaction in institutional settings. Cambridge University Press, 1992, p MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, RIBEIRO, Branca Telles & ROYLE, Susan M. Frame Analysis. In: PEREIRA, Maria das Graças Dias (Org). Interação e Discurso: Estudos na perspectiva da Sociolinguística Interacional / Áreas de interface. Rio de Janeiro: Editora Trarepa, 2002, Palavra 8: SARANGI, Srikant. Activity types, discourse types and interactional hybridity: the case of genetic counselling. In: SARANGI, S. & COULTHARD, M. (eds). Discourse and Social Life. London: Pearson, SCHIFFRIN, Deborah. Discourse and Communication. In: SCHIFFRIN, Deborah. Approaches to Discourse. UK, USA: Blackwell, 1994, Cap. 11, p SCHIFFRIN, Deborah. Interactional Sociolinguistics. In: SCHIFFRIN, Deborah. Approaches to Discourse. UK, USA: Blackwell, 1994, p SILVA, Fernanda Mauricio. Talk Show: um gênero televisivo entre o jornalismo e o entretenimento. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação: E-compós, Brasília, v. 12, n. 1, jan./abr TANNEN, Deborah & WALLAT, Cynthia. Enquadres interativos e esquemas de conhecimento em interação: Exemplos de um exame/consulta médica. In: RIBEIRO, Branca Telles & GARCEZ, Pedro M. (Orgs). Sociolinguística interacional: Antropologia, Linguística e Sociologia em Análise do Discurso. Porto Alegre: AGE Editora, 1998, Cap. 7, p TRACY, Karen. Language and Social Interaction. In: DONSBACH, Wolfgang (ed). The International Encyclopedia of Communication. Vol. VI. Blackwell, Enviado para publicação em maio de Aceito para publicação em novembro de 2011.
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